Åsne Seierstad é uma jornalista norueguesa que, a serviço
de sua profissão em Cabul, visitou uma família afegã típica e “se convida” a
permanecer em sua companhia, por três meses para conhecer os costumes, as
dificuldades e o dia a dia que todos enfrentavam.
Ela não descreve, nesses três meses como se acomodou com as mulheres afegãs da família do livreiro.
Ela não descreve, nesses três meses como se acomodou com as mulheres afegãs da família do livreiro.
Eu neste caso não posso transcrever trechos mais
significativos do livro por causa dos direitos autorais, mas vou tentar pela
lembrança de suas páginas, dizer algo mais significativo que para mim foi um
misto de perplexidade, mal estar e emoção.
Gostei do livro.
Åsne Seierstad
visitava Cabul logo após a expulsão do talibã que fora um atraso de vida para
os afegãos. Sem eles, esperavam os afegãos nova vida, mais liberdade e
progresso até mesmo na vestimenta. Mas, no tocante às mulheres, quão oprimidas
eram elas talvez ainda pelo ranço talibã pelo cumprimento radical dos
mandamentos da sharia – código de leis islâmicas.
O vendedor de livros
de Cabul, nome fictício adotado, Sultan Kahan tinha ideias importantes em
retomar a literatura, os livros de história e cultura afegã, proibidos pelo
talibã.
Nos tempos de domínio
talibã, a maioria dos seus membros analfabeta, era comum a queima de livros
ditos proibidos e até cartazes encontrados nas suas livrarias.
Livre dos talibãs, além de livreiro passara a ser editor.
E nesse objetivo
trabalhava muito.
Para manter suas
livrarias, porém, exigia, sem aceitar qualquer restrição dos filhos que eles
trabalhassem doze horas por dia sem descanso. Um dos seus filhos, de 12 anos
praticamente não via a luz do sol porque trabalhava na livraria de hotel
semidestruído, 12 horas por dia.
Para se sentir uma
mulher afegã, relata a autora que não poucas vezes usou a burca, vestimenta que
passou a odiar porque uma peça que apertava, dava dor de cabeça e se enxergava
mal através da rede bordada.
As mulheres eram de
muitas maneiras, psicológica e moralmente massacradas porque não poderiam sair
sozinhas.
Se nascesse um menino, festa na família. Se nascesse menina, a indiferença.
Se nascesse um menino, festa na família. Se nascesse menina, a indiferença.
Elas não escolhiam
seus maridos. Havia uma negociação entre a família do noivo e da noiva. Se
houvesse o acerto financeiro, isto é, a entrega de recursos à família da noiva,
o pagamento das festas, a compra de suas roupas, o acordo era fechado. Os
homens da casa mandavam.
Mesmo assim, muitos
casamentos se acomodavam, 'davam certo'. Mas o marido poderia casar uma
segunda ou terceira vez.
Um dos personagens
que aparece no livro depois de dois casamentos, já com mais de 70 anos diria
que precisaria de uma terceira esposa porque as outras duas haviam envelhecido.
O próprio livreiro,
embora bem casado, resolveu se casar com um jovem muito bonita de 16 anos,
tímida e analfabeta contrariando toda sua família e sua primeira esposa – que
depois de adaptou à situação irreversível.
Sendo o filho mais velho, órfão de pai, mantinha a família toda, incluindo a própria mãe, num regime severo.
Sendo o filho mais velho, órfão de pai, mantinha a família toda, incluindo a própria mãe, num regime severo.
Há dois episódios que
revoltam e emocionam.
O primeiro foi o do
marceneiro que roubou cartões postais com estampas diversas escolhidas pelo
livreiro.
Esse marceneiro era
muito pobre, sustentando precariamente família grande, Sultan não o perdoa e
exige que ele confesse a quem vendeu os tais cartões. Enquanto, na frente de toda
a família, seu pai o açoitava sem dó, inconformado pelo filho ladrão. Mesmo
assim toda sua família, esposa e avó imploravam o perdão, abaixando-se aos pés
de Mansur, o filho mais velho do livreiro que não pode perdoar porque o pai não
permitia.
O marceneiro, mesmo
confessando a quem vendera os cartões e se o fizesse teria a liberdade foi
preso cumprindo pena de três anos.
A outra cena que
menciona é a personagem Leila, a irmã mais nova de Sultan Kahan era tratada com
descaso pela família mesmo sendo a verdadeira criada que limpava a casa várias
vezes pelo pó em suspensão permanente em Cabul além de preparar toda a comida ansiava uma
saída para se libertar da verdadeira escravidão, numa casa pequena de quatro
cômodos.
Sempre com muito medo
tentou ser professora de inglês sem conseguir muito pela burocracia afegã e,
nesse período teve um pretendente fora do círculo familiar ou escolha de sua
família.
Tudo ficou sem
resposta quando sua mãe (Bibi Gul) brigou com o filho Sultan e deixou a sua
casa acompanhada de seus filhos, incluindo Leila que até ali nada havia obtido.
Surpreende saber que
na região da cidade de Khost a leste do país, na qual as mulheres são
trancafiadas em casa, não podendo se expor, haja a prática homossexual a ponto
de dois comandantes por ciúmes de um dos rapazes amantes, resultando em dezenas
de mortos.
Lendo o livro se
concluiu que Sultan Kahan fora um chefe de família despótico, colocando seus
negócios de livros e a segunda esposa acima de tudo e de todos.
Inconformado pelo teor do livro acionou a Autora na Noruega, em busca de reparação judicial.
Mas, por causa do livro, passou a dar folga de um dia por semana aos seus filhos.
Inconformado pelo teor do livro acionou a Autora na Noruega, em busca de reparação judicial.
Mas, por causa do livro, passou a dar folga de um dia por semana aos seus filhos.
O livro foi lançado
em 2002 e se tornou um best seller. Hoje
(2017/2018), a paz, a modernização – trocar as armas por computadores - que
contava o povo afegão, tão sofrido, vivendo num país praticamente destruído não
parece tenham obtido.
Notícias recentes
informam ataques a bombas violentos promovidos pelo talibã e EI – estado
islâmico.
As interpretações
divergentes ou distorcidas do Alcorão tem resultado em atentados que
provocam vítimas entre os próprios islâmicos
sem que haja preocupação com o modo como seguiam os mortos as doutrinas do dito
livro sagrado.
Estátua de Buda
O talibã dinamitou em março de 2001 a estátua de Buda de 1500
anos, com 53 metros de altura no Vale de Bamiyan, Afeganistão. Era considerada patrimônio da humanidade. Esse ato foi uma
afronta às crenças e cultura ocidentais.
A estátua antes e o vazio depois da
destruição.
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