Quem foi Eusébio de Cesaréia?
A despeito de todas as restrições de transcrições advertidas no livro, a contracapa da obra esclarece:
Ele nasceu não se sabe onde em cerca de 270 AD e faleceu no ano de 339 AD. Ele viveu a maior parte de sua vida em Cesaréia, na época a maior cidade romana na Palestina.
Ele era cristão fervoroso e sua obra pode ser considerada um documento ao revelar contemporaneamente o sofrimento enfrentado pelos cristãos, as implacáveis perseguições de que foram vítimas, a tortura, o "pasto" as feras esfomeados, "comedores de homens" nos três primeiros séculos. Nos primeiros anos, a violência contra os cristãos partira dos judeus e depois pelos pagãos, que não suportavam crerem (os cristãos) num Deus e em Jesus Cristo "Nosso Salvador" e não nos deuses greco-romanos.
Nas primeiras páginas do livro explora à exaustão o autor a origem divina de Jesus - o Cristo. Em todo o versículo do "Velho Testamento" em que haja referência ao um ser divino superior, ele remete à presença de Cristo ao lado do Pai, o ungido, o Messias. Isto é o Filho de Deus seria presença santa já no "Velho Testamento".
O livro traz a presença dos apóstolos após a crucificação mas não há o testemunho da própria crucificação. Ela é remetida aos Evangelhos ("as boas novas") que foram escritos pelos evangelistas segundo os relatos que ouviram.
Há a confirmação da estrela-guia que conduziu os três reis magos, como nos Evangelhos e o infanticídio por decisão de Herodes aos meninos como menos de dois anos tentando atingir Jesus com receio de que sua soberania corresse risco com o novo "rei" nascituro.
Mas, Herodes teve um fim trágico com doença incurável. Além dos "notáveis" que detivera para depois serem assassinados para que sua própria morte fosse "pranteada", a doença foi tomando seu corpo inteiro e a podridão verminosa nas suas "partes pudendas". Por fim, feriu-se com uma faca, não sem antes de morrer determinar a morte de um dos seus filhos.
Seria seu castigo por seus crimes hediondos.
Herodes morreu, segundo Flavio Josefo, no ano 4 a.C. Essa data significa que, quando da morte de Herodes ('o Grande') Jesus Cristo estaria com cerca de 5 anos de vida.(*)
Depois, aparece o nome do imperador Tibério que se emocionara ao saber de Pilatos os feitos "de nosso Salvador Jesus" sobre sua ressurreição que era confirmada de "boca em boca".
Tibério se simpatizava com os ensinamentos cristãos (**).
Entenda-se como ensinamentos cristãos, o catolicismo, "igreja de todos, universal".
Alguns relatos do livro que julguei mais expressivos, sempre lembrando as restrições impostas no tocante a transcrições:
● Quem desaprovaria os apóstolos casados? Porque Pedro e Felipe criaram filhos - Felipe deu maridos a suas filhas. Paulo também é mencionado como casado, mas há dúvidas conforme nota de rodapé;
● Tiago, irmão de Jesus, a quem os apóstolos haviam confiado o trono episcopal de Jerusalém: os judeus revoltaram-se contra ele e exigiram que ele renegasse a fé, mas ele reafirmou diante da multidão que "nosso Salvador e Senhor Jesus era filho de Deus".
Diante dessa confissão, ele foi lançado do pináculo do templo e espancado até a morte. O autor relata que somente ele foi santo desde o ventre de sua mãe, porque não bebeu vinho nem bebida fermentada, não comeu carne, não passou tesoura nem navalha sobre sua cabeça, não ungiu-se com azeite e "nem usou de banho";
● Os Evangelhos de Mateus foram publicados na língua hebraica - havia muitos hebreus cristãos, enquanto Pedro e Paulo em Roma evangelizavam lançando as bases da nova Igreja.
Os Evangelhos de Lucas, médico de profissão, companheiro de Paulo e por contatos com os apóstolos - que não foram superficiais - foram escritos com base nesses relatos e porque "deles adquiriu a terapêutica das almas". No seu escrito sobre os Atos dos Apóstolos, não foi somente o relato do que ouviu, como na caso do seus Evangelhos, mas do que viu.
Marcos se baseou nos ensinamentos de Paulo e Pedro para escrever seus Evangelhos.
João, aquele que se reclinou sobre o peito de Jesus, escreveu seus Evangelhos "enquanto morava em Éfeso da Ásia";
● Há uma dúvida colocada: se João, o apóstolo, fora realmente, o autor do livro do Apocalipse. Diferenças de estilo e gramática em relação a outros escritos do apóstolo, fazem a dúvida quanto à sua autoria do citado livro;
● O livro relata fome terrível entre os judeus, o trigo escasso, os assaltantes que invadiam casas em busca de alimentos roubando tudo o que encontravam. Havia, então, aqueles que preferiam morrer a continuar com aquele sofrimento.
Uma mulher em desespero: "a única coisa que faltava às calamidades dos judeus". E então, deu morte a seu filho, assou-o e comeu a metade. A outra metade à chegada dos rebeldes, ofereceu a outra metade a eles. Ficaram pasmos e horrorizados;
Esse flagelo teria sido a "recompensa por sua iniquidade e impiedade para com o Cristo de Deus". O livro não esclarece se os cristãos também enfrentaram ou como enfrentaram aquele período terrível de fome;
● Lá pelo ano 115 DC, no reinado de Trajano que não perseguia os cristãos, os ensinamentos de "nosso Salvador e sua Igreja" floresciam a cada dia, deu-se nova rebelião dos judeus que depois de muita luta foram derrotados, com muitas vitimas em Cirene e no Egito;
● Policarpo e o martírio junto com outros em Esmirna pela perseguição de que fora vítima: ele vivera com alguns apóstolos que haviam visto Jesus. Para escapar das perseguições refugiou-se não muito longe da cidade. Em suas orações teve a visão de que seria morto pelo fogo. Ao ser levado à presença de Herodes, deveria dizer, para salvar sua vida, que "Cesar é o senhor" ou que maldissesse a Cristo. Mas, não disse. Então, pouco tempo antes do martírio teria ouvido uma voz que o incentivava a ser forte e agir como homem. O fogo da fogueira não o atingiu, então ele foi morto perfurado por uma espada.O sangue que jorrou, apagou a fogueira;
● As torturas praticadas pelos pagãos contra os cristãos ultrapassavam qualquer limite humano. Há o relato sobre um deles de nome Santos que depois de torturas inenarráveis, seus membros "mais delicados" foram queimados com placas de cobre em brasa.
Mas, pela "graça de Cristo", ele se recuperou totalmente;
● À sombra da Igreja muito perseguida, brotavam "estranhas heresias", os "amantes do mal" e como "serpentes venenosas" conspiravam contra os homens;
● Artemon em sua heresia, dizia que Jesus era apenas um homem e que ele não teria uma origem divina antiga. Berilo, o bispo de Bostra também dizia que Jesus não preexistia antes de habitar entre os homens e que não possuía divindade própria, mas apenas a de Deus que habitava nele;
● Orígenes, oriundo de Alexandria perdera na tenra idade seu pai decapitado. Muito jovem debruçou-se sobre a filosofia grega mas apreendeu, também, os ensinamentos de Jesus Cristo e, na sua postura filosófica, tornou-se figura destacada entre os cristãos.
Consolava no cárcere aqueles cristãos condenados ao martírio e à morte. Perseguido mas sempre escapando ileso à insanidade pagã, dá a entender o livro - ou eu assim interpretei -, por ministrar ensinamentos não só aos homens, como às mulheres e, pela sua juventude, para evitar a calúnia, teria se emasculado. Mesmo com tanta participação em prol do cristianismo, ele sobreviveu a agressões e ameaças e faleceu naturalmente.
Foi sobretudo um cristão inspirado e inspirador. A formação teológica do autor do livro foi baseada na obra de Orígenes.
● Mártires cristãos que se sobressaíram em Tiro da Cilícia suportavam açoites intermináveis, a tudo resistiam e depois eram atirados à feras devoradoras de homens;
● Toda perseguição de governadores e imperadores, dos pagãos inconformados por não aceitaram os cristãos seus deuses, foi aplacada com a presença do Imperador Constantino, vencedor de guerras que não só os protegeu, mas aceitou seu Deus.
O LIVRO
Por ser um
relato o quanto possível real dos primeiros séculos do cristianismo, há trechos nos quais o autor revela até mesmo a substituição de bispos que faleciam,
o que pode parecer irrelevante, mas um modo de perenizar aqueles que
enfrentaram grandes dificuldades, naqueles tempos em manter o
cristianismo ativo, mesmo com todas as perseguições e os martírios de muitos
seguidores.
A edição que
está comigo, de 2019, com 347 páginas é difícil de ler pelo tamanho
diminuto da fonte, e mesmo pelas páginas e sermões cansativos.
São "X livros".
Então, não é
um livro fácil de ler e, pela quantidade de informações precisaria ser lido,
mesmo com essas dificuldades todas, mais uma vez, pelo menos.
Referências no texto:
(*) Flavio Josefo, nascido em 37 ou 38 d.C e falecido no ano 100. Historiador importantes dos princípios do cristianismo e das lutas dos judeus contra os romanos (Livro: "Uma testemunha do tempo dos Apóstolos")
(**) Tibério é mencionado em outros livro, "A Vida Mística de Jesus" de H. Spencer Lewis no qual é explanada sua participação direta na vida de Jesus. Acessar:
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2019/04/a-vida-mistica-de-jesus-de-h-spencer.html