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domingo, 27 de novembro de 2022

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS de Markus Zusak

 LIVRO 101




Achei o livro bonito. Quase uma fantasia.

Trata-se a edição que esta aqui comigo esmerada com 480 páginas mas pelas páginas divisórias em branco deve ter cerca de 450.

A contracapa avisa o seguinte: "Quando a Morte conta uma história você deve parar para ler."

Com efeito ela explica o modo como eram recebidas as almas que se "libertavam" do corpo físico. 

E, então, vai alertando: "você vai morrer."

"- Insisto - não tenha medo. Sou tudo, menos injusta." 

Para quem ignora tudo sobre o que se passa neste planeta das diferenças e penitências, posso discutir, porém, a justiça de muitas mortes.


PERSONAGENS


LIESEL MEMINGER

A menina que roubava livros. No trem ela vira a morte de seu irmão por crise de tosse. Ela e o irmão estavam sendo conduzidos pela mãe aos pais adotivos em Munique.

No cemitério ela "roubou" um livro caído na neve, "O Manual do coveiro". Ela guardou aquele primeiro livro como um tesouro. Depois, o segundo, junto com seu pai de criação, "roubou" um livro duma fogueira acendida por nazista na qual, as vítimas eram... livros.

E esses "roubos" tiveram a ajuda de seu amigo Rudy.

Ah, sim, a história se situa durante os horrores da Alemanha nazista. Adolf Hitler, o Fürher passou a ser seu pesadelo e o pesadelo de sua família de criação.

A obra dá a entender que a mãe de Liesel pode ter sido executada por ser "comunista". 

Foi difícil a separação de sua mãe quando Liesel foi deixada com os pais adotivos.

A cidade onde passaria a morar era pequena, Molching (fictícia), vizinha de Munique. na rua Himmel, 33 (Himmel = céu, paraíso).


HANS E ROSA HUBERMANN (Os pais adotivos de Liesel)

Moravam numa casa modesta na rua Himmel, 33 [himmel = paraíso, céu].

Rosa era uma mulher desbocada, impaciente e o marido Hans, o oposto, calmo e músico porque era exímio acordeonista. Ele que fora soldado na1ª Guerra, com o acordeão "enfeitava" a vida dura dos tempos nazistas que ia se firmando.

Ele era pintor de parede mas também obtinha algum dinheiro se apresentando com o acordeão.

E a perseguição aos judeus.

Rosa exigiu de Liesel ser chamada de "mamãe". 

O papai Hans se afeiçoara muito à menina, ensinando-a ler, lendo para ela e tocando o acordeão. A menina que roubava livros, por sua vez, em pouco tempo passou a amar os país adotivos, mesmo Rosa, com suas imprecações. 

Hans não era nazista embora tivesse pedido inscrição no partido sempre sem resposta, mas um dia houve a confirmação.

Numa "marcha" de judeus pela sua cidade, penalizou-se ao ver um idoso com dificuldades de seguir o grupo de farrapos. Tentou dar-lhe um pedaço de pão, auxiliá-lo em se aguentar nas próprias pernas. Ao presenciar a cena o militar nazista, aplicou-lhe fortes chicotadas ficando a marca do açoite. Até pensou que seria preso por essa solidariedade ao judeu idoso, mas isso não ocorreu.

Hans e Alex Steiner (pai de Rudy, amigo de Liesel) foram convocados para a guerra, mas não foram remetidos aos locais das batalhas sangrentas, na Rússia por exemplo.

Mas, um dia os Aliados bombardearam a cidade, arrasam a rua Himmel mas Liesel sobreviveu porque estava no porão lendo e escrevendo seu livro.

Seus amados pais, Hans e Rosa...

Mas, o livro de Liesel foi salvo dos escombros.


MAX

Um jovem judeu em fuga, filho de um soldado que "salvou a vida" de Hans, na Primeira Guerra. Sua família perseguida pelo nazismo não teria condescendência.

Sua mãe deu o endereço dos Hubermann e ele chegou à rua Himmel, tendo como passaporte o livro de Hitler, Mein Kamph ("Minha Luta").

Foi alojado precariamente nos porões da pequena moradia, sem sair sequer para ver o tempo lá fora, sendo alimentado pela sempre mencionada sopa de ervilhas de Rosa.

Fez amizade com a família e se tornou muito querido, especialmente por  Liesel, com quem trocava histórias a ponto de desenhar ele em páginas do livro de Hitler arrancadas e depois pintadas de branco (Hans era pintor) uma historieta na qual contava sua presença no porão, a amizade com a menina, os sonhos. 

"Agora acho que somos amigos, essa menina e eu."

Max fugiu após com medo de ser capturado pela polícia nazista após a tentativa de Hans em ajudar o idoso judeu na marcha que assistira. Hans, esperava a polícia nazista no número 33 da rua Himmel para o prender por ter se revelado "amigo dos judeus. 

Mas, tal não se deu.

A toda "marcha" de judeus presos, Liesel se aproximava para o encontrar entre as vítimas das crueldades nazistas. Um dia ela o reconhece...

Mas, ele sobreviveu... e procurou Liesel.  


RUDY STEINER 

Vizinho de Liesel, na mesma idade, era o principal amigo dela. Jogavam bola na rua Himmel, faziam travessuras, roubavam frutas e, em tudo, eram cúmplices naqueles tempos em que havia recato nas amizades.

Era briguento para alguns meio maluco.

Rudy, se inspirando no atleta americano, negro, Jesse Owens - e chegara a se pintar de preto com carvão para se parecer com o ídolo (*) - havia se tornado um atleta destacado no âmbito da Juventude hitlerista.

Ele inclusive a ajudou a "roubar" com Liesel livros da biblioteca do prefeito mas ele constatou, mais tarde, que a esposa Ilsa dele sabia dos "roubos", facilitava o acesso da menina na sala dos livros chegando mesmo a deixar, disponível, um dicionário na janela.

Sempre que Rudy fazia alguma coisa positiva à sua amiga, lhe pedia um beijo nunca concedido.

Mas, o bombardeio à rua Himmel reduzindo as casas a escombro vitimou Rudy mortalmente. Teve, então, o carinho e o beijo de Liesel.

(*) Atleta americano que participou dos Jogos Olímpicos de Verão em 1936 em Berlim, na Alemanha Nazista ganhando quatro medalhas de ouro nos 100 e 200 metros rasos, no salto em distância e no revezamento 4 x 100.


ILSA HERMANN

Esposa do prefeito.

Rosa, a mamãe de Liesel lavava e passava roupas de vários moradores da cidade, inclusive das da casa do prefeito.

Então Liesel ia frequentemente bater nas portas do prefeito.

Ilsa vira um dia Liesel roubar um livro da fogueira nazista e a convida para visitar a biblioteca.

A menina que roubava livros ficou deslumbrada e, com a aquiescência de Ilsa, ficava um tempo sentado no chão, folheando e lendo os livros que escolhia.

Até que um dia ela rompe com a mulher quando é avisada que, pelos tempos difíceis, deixaria de entregar suas roupas para sua mãe lavar e passar.

Mas, então, junto com Rudy ela resolve roubar os livros da biblioteca do prefeito pela facilidade em vencer a janela da biblioteca sempre aberta.

Claro que um dia Ilsa visita a menina na rua Himmel e lhe diz que deveria interromper esse modo de obter os livros sendo mais fácil usar a porta da casa.

Bom, após o trágico bombardeio na rua Himmel, Ilsa foi buscar Liesel que ficara sozinha. Ela era já uma adolescente com seus 14 anos. 

Mais tarde Liesel foi residir na Austrália.


Vou evitar o "spoiler"

Eu não vou prosseguir. Não vou dar os detalhes do seu epílogo, não vou revelar o final do livro nos pormenores de modo a tirar o impacto de quem não o leu ainda, mas que pretenda fazê-lo.

(*) "Spoiler" é o ato de contar episódios ou o final de um filme, uma peça, um livro a quem não assistiu nem o filme, nem a peça e nem leu o livro, estragando a surpresa e as emoções que poderiam essas obras provocar.

Eu disse que esse livro tem mais de 480 páginas. Não é pouco. As linhas acima dão uma pálida ideia do que se haverá de ler, mas quem se puser a lê-lo e eu recomendo, que relate suas próprias emoções.











terça-feira, 1 de novembro de 2022

A ILHA de Aldous Huxley

 LIVRO 100



Este livro é de 1962.

Os outros livros do Autor que li, são "Admirável Mundo Novo" (*) e "Às Portas da percepção - Céu e Inferno". (**) 

Nestes últimos o Autor relata sua experiência ao consumir LSD e a mescalina.

Na obra "Céu e Inferno" diz ele:

"O Autor, então, revela que até aquele momento se dedicara à projeção visionária bem-aventurada de sua experiência com a mescalina, referindo-se à teologia e a arte como manifestações, digamos, "celestes", desse "outro mundo".

Mas, no tocante ao inferno, a mescalina terá efeito perverso quando o paciente apresenta emoções negativas, falta de confiança, o ódio, a ira  e a maldade - "que elimina o amor" - fazem a experiência se tornar aterradora".

Nessa linha, o livro "A Ilha" vai revelar, no final, que o personagem Will - que tendo naufragado chega à ilha fictícia de Pala - "toma" o moksha, um suposta droga alucinógena.

Mas, isso é simbólico, me parece, porque a "definição" simplificada de "moksha" é esta:

Moksha ou Mukti refere-se, em termos gerais, à libertação do ciclo do renascimento e da morte e à iluminação espiritual. Na mais alta filosofia hindu, é visto como a transcendência do fenômeno de existir, de qualquer senso de consciência do tempo, espaço e causa.

Então não se trata de uma droga consumível, mas uma conquista espiritual. Mas, não ficam afastados os prazeres que a vida oferece, como o sexo. 

Maithuna é a ioga do amor. Isso significa a liberdade sexual, prática muito bem explanada por um casal de jovens amantes que explicaram ao personagem Will quando ainda hospitalizado. Busca de uma vida feliz com a prática do budismo.

Mas há, no outro extremo, o apelo à  vida virtuosa. 

O enredo do livro tem muito do uso do moksha até pelas crianças.

Frase: 

● “O conceito “Faça aquilo que gostaria de receber” se aplica em nossas relações com todas espécies de vida nas várias partes do mundo. Somente teremos permissão de viver neste planeta enquanto tratarmos a Natureza com inteligência e compaixão. A Ecologia elementar nos leva diretamente ao Budismo elementar”.


ENREDO

Will Farnaby é um jornalista inglês famoso que aporta na ilha Rendang para artigos do novo regime ditatorial, implantado pelo coronel Dipa.

A localização dessa ilha fictícia que o livro não dá as coordenadas de sua localização. A contracapa fala em "mares do Sul".

Pois bem, provavelmente explorando a área de barco, ele é vítima de um naufrágio provocada por uma tempestade.

Ele consegue chegar na Ilha de Pala, muito ferido escala um monte sendo encontrado pela menina Mary que providência o socorro de seu avô médico Dr. Robert MacPhail.

Enquanto espera o socorro ele ouve repetição da palavra "atenção" e "karuna". Era a "voz" do pássaro mainá.



   Mainá

O evento morte estará sempre presente no romance. O "horror fundamental".

Enquanto prostrado, sujo, ferido, rosto na lama, lembra-se da esposa Molly a quem traíra e de certo modo se culpando pela sua morte num acidente de automóvel.

Com grave ferimento no joelho, sua perna é imobilizada e a partir daí começa a se inteirar da cultura de Pala.

Conhece Susila, nora do Dr. MacPhail, viúva, que tendo talento em técnicas de relaxamento se aproxima do paciente Will e o conduz, nesse processo, a o afastar da realidade em algo próximo do hipnotismo:

- Flutuando sem esforço - disse para si mesmo - Flutuando sem esforço - E essas palavras lhe deram uma profunda satisfação.

E a partir daí que ele vai se inteirando da budismo praticado na Ilha.


Pala era administrada pela rami assim chamada, mãe do futuro rajá Murugan, ainda sem idade para assumir o governo.

Rami meditava no seu oratório para aumentar sua espiritualidade chegando mesmo, segundo ela a sentir a "presença" do mestre Koot Hoomi que seria um mestre espiritual. 

Tanto rami como o filho eram influenciados pelo ditador Dipa, de Rendang.

Havia, aí, interesses em reservas de petróleo em Pala e a preocupação de que o ditador a invadisse.

A ideia era promover o progresso material e tanto a rami como o filho veladamente aceitavam essa "nova" Ilha.

[Não sei, talvez até baseado nisso, mas me lembra um pouco a ocupação do Tibete pela China em 1950 - até hoje a China tem ambições expansionistas pela pressão que faz sobre Taiwan]

Murugan era filho único, mimado, com alguma vacilação sexual o que o tornava crítico de aspectos do modo de vida de sua própria Ilha. 

Me parece que, sobre a educação do futuro rajá, há uma discussão sobre o complexo de Peter Pan, exposto pelos personagens dr. Robert MacPhail e Vijaya.

Hitler teria esse "distúrbio" porque fora um fracasso na escola, incapaz de competir e de cooperar, invejando os meninos bem sucedidos, desprezando-os, um mau pintor  e quando chegou à puberdade atrasou-se sexualmente e não tinha como os jovens tinham  relacionamento com as garotas. A Humanidade pagou caro por esse perfil de Hitler.

Já Stalin seria um tipo de "homem músculo" tão cruel e incontrolável quanto Hitler mas com um perfil extrovertido de domínio, em obter o poder, rodear-se de bajuladores que muitas vezes ele não poupou. Ocupou-se em exterminar os fazendeiros, criou cooperativas, voltou-se à indústria bélica, a par de deslocar os camponeses para as fábricas. (***)

Com perfis diferentes, ambos  foram monstros, antes, durante e depois da guerra, nesse caso, Stalin que a ela sobreviveu vitorioso.


A experiência de Will "tomando" moksha

Muita intensa, "numa sucessão de revelações, a luz ficou mais intensa, a compreensão se aprofundou e o êxtase atingiu tal intensidade que se tornou insuportável".

E no seu êxtase inimaginado:

- Meu Deus! - disse para si mesmo - Oh, Deus meu!

Nesse êxtase, ao se referir à Luz, diz que ela estava nele.

A música de Bach que tocava se incorpora à sua Luz.

Mas, quando volta ao seu estado "normal", olha para o rosto de Susila, que o assistia na experiência e diz:

- Você é tão incrivelmente bela.

E já refeito Will, aproximam-se da janela e ouvem a voz de Murugan num alto-falante instalado num carro, gritando que fora constituído o Reino Unido de Rendang e Pala. 

O Primeiro Ministro desse Reino  "é o grande político e líder espiritual Coronel Dipa". Tudo pelo progresso.

Susila cobre o rosto com as mãos. Will passou o braço em volta de seus ombros. "Todo o trabalho de cem anos destruído numa noite."


FRASES

● “Sabe também que, se as preces algumas vezes são atendidas, é porque neste nosso estranho mundo psicossomático os desejos têm tendência a se realizarem, quando neles nos concentramos”.

● "Com exceção do peixe a comida e toda  budista (...) Decidimos que os peixes são vegetais, no sentido estrito do termo".

● "Que acontece quando se está doente ou quando ferido? Quem promove a cicatrização? Quem trata dos ferimentos e debela a infecção? É você".


O LIVRO

O livro é denso, tem outras abordagens, achei maçante as páginas sobre a educação infantil, há críticas contundentes sobre a educação sexual calvinista do passado, há o controle da natalidade proporcional à produção de alimentos. E por aí vai.

O livro contém 358 e penso que não seja para todos os gostos.

Mas, há muitos aspectos positivos. 


REFERÊNCIAS

(*) Acessar: ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

(**) Acessar: AS PORTAS DA PERCEPÇÃO /CÉU E INFERNO

(***) Acessar: STALIN NOVA BIOGRAFIA