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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS de Adolfo Bioy Casares

 Livro 118











O escritor é argentino. O livro é apresentado numa edição esmerada da "Folha de São Paulo".

Já o título indica qual o enredo do livro. São 14 histórias nas quais se destacam, algumas mais que outras, experiências estranhas sempre com aquele timbre fantástico. 

Digamos que o livro é eminentemente "literário". Se algum leitor se propuser a encontrar nesses contos algo para pensar de modo mais profundo, no meu modo de ver, provavelmente, não se satisfará.

Mas, a obra cumpre o papel de histórias fantásticas.

Os contos reunidos na obra foram escritos em épocas diferentes e diversos deles se tornaram roteiro para o cinema argentino.

Dos que mais gostei ou surpreendeu, posso destacar:

A TRAMA CELESTE: neste conto embora escrito em 1944, trata de um mundo paralelo no qual o personagem Morris "transita" nessa experiência desconcertante dando-se incompreensões e dúvidas até dos seus companheiros de jornada. É a "teoria da pluralidade dos mundos".

HISTÓRIA PRODIGIOSA: nesta história de 1953 um escritor ateu Lancker rejeita toda a compreensão das divindades, das religiões, insistindo em "sacrilégios e profanações", por um ofensa banal parte para um duelo de espada com o próprio diabo. Embora Lancker fosse exímio espadachim, ele é ferido mortalmente pelo diabo.

A SERVA ALHEIA: este conto de 1955 é mais uma curiosidade, partindo do princípio no qual tribos africanas conseguem reduzir cabeças humanos ao tamanho de um punho. No caso, um ex-espião Rudolf fora reduzido a meio palmo, por pigmeus africanos (?). Ele é cuidado pela belíssima Flora. A mulher  começara um relacionamento com o poeta Urbina, mas Rudolf naquele seu tamanho de um rato, era cruel e com um cetro de duas pontas cega o poeta quando ele dorme.

OS MILAGRES NÃO SE RECUPERAM: escrito em 1967 este conto do que pude concluir, trata das coincidências, e numa delas, a personagem Carmen se dissera doente para não ir aos seus compromissos profissionais para estar livre e viajar com o amante a Mar del Plata.

Eis que num momento de relaxamento, surge a diretora da Instituição para a qual Crmen trabalhava.

A diretora, sem constrangimento, ergueu o dedo indicador por duas vezes, pedindo silêncio, discrição.

Adiante, o narrador faz uma viagem à Terra do Fogo. Quando volta é informado da morte de Carmen: "o incrível da morte é que as pessoas desapareçam."

Mais tarde cansado de uma viagem ao exterior, ainda em Dakar, ouve o som do aeroporto informando da partida de avião para a Cidade do Cabo.

E olhando os passageiros dessa viagem ele divisa a lindíssima Carmen que tentava se esconder dele. Então, ela ergue por duas vezes o dedo indicador pedindo ao narrador que ele guardasse segredo. O mesmo gesto da velha senhora naquele dia em Mar del Plata.


Então, essas histórias podem revelar aspectos interessantes nalgum trecho ou mesmo nas entrelinhas. 

A linguagem é rebuscada. O tradutor, seguramente, manteve o rigor do texto original castelhano. 

O livro contém 330 páginas.  

Eu precisaria ler a obra uma segunda vez. O problema são minhas prioridades.




 







sábado, 27 de janeiro de 2024

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA de Lima Barreto

 LIVRO 117



A guisa de esclarecimentos

Confesso a pouca informação que tinha dessa obra sempre muito referida, do Policarpo Quaresma, patriota exacerbado que propusera oficialmente, retornando às tradições seculares do país que ele amava, introduzir como língua oficial, o idioma tupi-guarani.

O livro foi publicado em 1915.

Então, a obra não se refere apenas a esse tema mas avança em outros.

Gostei do que li.

Os rumos do livro

Policarpo Quaresma era um homem simples, de pequena estatura, metódico, ledor, subsecretário no Arsenal da Guerra havia 20 anos e muito patriota, pôs-se a estudar violão, um instrumento "impudico" no seu tempo e com ele aprender a tocar modinhas, "a mais genuína expressão da poesia nacional".

E seu orientador foi um certo Roberto Coração dos Outros que além de tocar muito bem o instrumento era cantor e compositor.

Era solteiro, como sua irmã Adelaide. Ele e a irmã viviam na mesma casa, sendo bem cuidado por ela que lhe questionava com delicadeza e até o aconselhava.

Era chamado de "major" mas não tinha nada com os militares.

O seu fanatismo pelas tradições patrióticas o levou a remeter à Câmara um requerimento no qual propunha adotar a língua tupi-guarani, por ser "originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir nossas belezas..."

Por causa desse requerimento foi internado num manicômio ficando lá por uns meses.

As lucubrações que faz o Autor sobre os desvios psicológicos (sobre a loucura) são interessantes.

Ao deixar o hospício comprou uma propriedade rural (a qual foi batizada de Sossego) e lá passou a trabalhar com afinco na terra fértil de seu país auxiliado pelo ex-escravo Anastácio e depois também por Felizardo, contando com a colheita de frutas tal os cuidados com as plantas e árvores que estavam abandonadas e que se empenhava em recuperar. 

O Autor pode ter tido a experiência de pouca leitura de livros no seu tempo, revelando isso nessa sua obra, no comentário do general Albernaz:

— Aquele Quaresma podia estar bem, mas foi se meter com livros... É isto! Eu, há bem quarenta anos, que não pego num livro...

Personagens

● Olga, filha de um rico italiano Colleoni, afilhada de Quaresma com quem tinha muita afinidade com o padrinho; ela se casou com o médico Armando Borges que enriqueceu ajudado pela riqueza da esposa.

● Ismênia, filha de general Albernaz e dona Maricota, que estava noiva de Cavalcante.

"A menina foi-se convencendo de que toda a existência só tendia para o casamento".

Noivado por cinco anos, o noivo partira um mês antes do Carnaval e não mais voltou. Seja por desgosto, seja por vergonha foi ela definhando até a morte.

A revolta contra Floriano

No livro de 175 páginas, há "alternativas inesperadas".

Nos capítulos que dão o desfecho da história, o Autor inclui seus personagens ficcionais num episódio real qual seja a revolta dos marinheiro contra o governo de Floriano Peixoto (presidente de 1891-1894) que perdurou por todo o seu mandato. Essa revolta reivindicava maior participação dos marinheiros no governo e menos autoritarismo.

O major Quaresma tivera um breve relacionamento com o presidente e à revolta que enfrentava o presidente, se apresentara para combater os revoltosos. 

Chegou ao presidente, apresentou um memorial propondo medidas drásticas de governo que fora desprezado por Floriano que mais tarde diria que lera o documento chamando Quaresma de "visionário".

Quaresma fora nomeado "major" sem nunca ter pego numa armas até porque era conhecido por essa título. O livro explica a origem do "major".

Participa de estratégias no quartel, é ferido em combate, se recupera.

Floriano vence os revoltosos.

Quaresma fica indignado com o tratamento dispensado aos prisioneiros e remete ao presidente um protesto veemente.

É determinada sua prisão, numa cela imunda, ele que era um homem simples, honesto, de boa índole.

O cancioneiro Ricardo Coração dos Outros que também se engajara nas tropas do "ditador" — assim qualificado no livro — sabendo da prisão do amigo faz todos os esforços para sua libertação. Todos os amigos de Quaresma, mesmo os militares se omitem, não o ajudam. Nem mesmo o general Albernaz que se disse "do governo".

Então, o cancioneiro, sem mais a quem recorrer pede a ajuda de Olga a afilhada do major. Ela corajosamente se propõe a ajudar na libertação do padrinho mas não é conduzida à presença de Floriano.

Então, serenamente refletindo foi ao encontro de Ricardo Coração dos Outros que a esperava ansioso.

...


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

OS MENINOS DA RUA PAULO de Ferenc Molnár

 LIVRO 116











EXPLICAÇÃO:

Há muito lera esse livro que dissera algo da minha infância / juventude. Nunca o esqueci totalmente. Naqueles tempos com pouca televisão, sem computador, sem jogos eletrônicos e, principalmente, sem celular as aventuras se davam pelas ruas, os jogos de taco, as peladas de futebol em terrenos baldios. Mas, a busca pelo "tesouro" escondido, se dava num barranco na Vila Bela (SP), divisa com São Caetano pelo rio Tamanduateí.  Eu também tive uma espécie de forte. Tempos memoráveis.


O livro é considerado "juvenil". Nem sei se hoje, à idade da turma que compõe a história, em torno de 14 anos, com tantos recursos, será atrativo, despertará interesse. Para mim vale a pena.

O livro foi publicado em 1906. A historia transcorre bem no final do século XIX.

A turma da Rua Paulo, na Hungria tinha num terreno ocupado em parte por um serraria e montes de lenha, um barracão, seu reduto para o jogo da péla (jogo "ancestral" do tênis), No grund — um pedacinho de terra — , a turma era organizada em termos de padrões militares.

O presidente da turma era o Boka, um jovem com talento para liderar, muito ético, de poucas palavras muito respeitado pelos demais membros do... 'pelotão'. 

O único soldado raso era Nemecsek, um loirinho franzino. Será em torno dele que a história terá seu epílogo.

Os meninos da rua Paulo tinham rivais, a turma dos "camisas vermelhas" cuja "base" era o Jardim Botânico.

Um dia, os "camisas vermelhas" resolveram declarar guerra à turma da rua Paulo porque queriam o grund para jogar péla. 

Deu-se a batalha e, numa série de escaramuças, nas quais prevaleceram as bolotas de areia molhada, os rivais foram derrotados.

Havia um traidor Géreb, que se arrependeu amargamente, pediu perdão emocionado, sendo perdoado por Boka e pelo grupo e lutando ao lado do "exército" da rua Paulo.

Nemecsek não participou da batalha porque estava muito doente. Ele caíra na lagoa ao adentrar no barco quando já em fuga com Boka e Csónakos após a invasão no reduto dos "camisas vermelhas" uma retaliação à presença de Chico Áts comandante dos inimigos que estivera desafiante no grund. A segunda vez por ordem de Chico Áts quando Nemecsek enfrentou os inimigos no seu próprio reduto e, sendo franzino o soldado raso da rua Paula, determinou que fosse ele jogado na lagoa.

Com tais "banhos" — mal recuperado do primeiro —, adveio a grave doença que prostrou na cama com febre alta o franzino soldado raso.

Chico Áts presidente - general dos "camisas vermelhas" que demonstrara princípios éticos aproximou-se da casa de  Nemecsek como uma forma de se desculpar do "banho" que ordenara, mas não teve coragem de o visitar.

Pela derrota, ele foi demovido da presidência pelos membros da turma dos "camisas vermelhas".

Mas, Nemecsek, inconformado em ser o único soldado raso do grupo, por seus atos de bravura foi promovido a capitão. E seu nome no livro de atas da sociedade do Betume (da rua Paulo),  antes escrito em letras minúsculas, passou a ser escrito em letras maiúsculas: ERNESTO NEMECSEK.

E Nemecsek em desespero ao saber do resultado da batalha e a vitória da rua Paulo, no seu estado febril, disse agitado:

— O grund é um país inteiro! Vocês não sabem, porque nunca lutaram pela pátria."

Ele não acreditava na sua promoção a capitão e o nome escrito em maiúsculas no livro nem mesmo com o Boka confirmando.

Tudo num deslinde comovente naquela família modesta com a mãe carinhosa ao filho franzino e o pai, alfaiate, não menos modesto.

Eu acho que esse livrinho de 120 páginas foi bom pelas mensagens de verdadeira amizade e lealdade da turma da rua Paulo, para as festa de fim do ano de 2023.




segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O SOL TAMBÉM SE LEVANTA de Ernest Hemingway

 LIVRO 115













O livro não deve ser a maior expressão do renomado Autor americano.

Quanto a mim não consegui situar o título do livro com o enredo da história.

Mas, foi um bom passatempo produtivo, digamos.

Os personagens são escritores, a maioria, "perdidos" em Paris e em outros recantos da França num país onde a "serenidade" de viver fora destacada pelo Autor,

A história está situada na década de 20 do século passado.

Os diálogos são curtos com bom efeito e as descrições da "fiesta", dos eventos e dos personagens, impressionam.

Nessa vida de escritores ou acompanhantes, se comportavam como desocupados, não falando em trabalho, de bar em bar, bebendo quase que sem parar a ponto de a embriaguez se constituir num ponto destacado do relato.

São personagens principais:

Jake Barnes: escritor, narrador da história que amava a França, apaixonado por Brett Aschley que, no entanto, iria se casar com Mike. Também um frequentador assíduo de restaurantes e bares, consumindo drinks em profusão.

Uma curiosidade, muito álcool e menos cigarro se se pensar nos filmes americanos nos quais a ligação de cena se dava pelo acender de cigarros. Naqueles idos!

Brett Aschley: linda, meio mundana, depressiva saíra com o judeu Robert Cohn o que o fez um ciumento doentio. Pendeu um pouco para Jake mas, por fim se apaixonou por um jovem toureiro, de beleza impar, com ele se une, mas depois volta a procurar Jake. Ficaria com ele, afinal?

Robert Cohn: boxeador, fora campeão de boxe dos pesos médios em Princeton, apaixonado por Brett com quem tivera um breve caso, ciumento, a ponto de socar Jake levando-o a "nocaute" porque não recebera dele a informação do paradeiro dela — quando ela viajou com o toureiro. Cohn era odiado pelo grupo.

Mike Campbell: falido, dependente de fundos da família seria o virtual marido de Brett mas ela tão libertina, teria evitado o casamento ao se unir ao toureiro Pedro Romero fugazmente .

Bill Gorton: faz parte do enredo, amigo leal de Jake, com ele convive nos momentos de ócio e bares. Odiava Cohn pelo modo como este se relacionava com o grupo:

"Mas, voltando a esse Robert Cohn, já estou farto dele. Pode ir para o inferno e estou contentíssimo porque vai ficar aqui. Assim não irá pescar conosco."

Essa pescaria se dera em Burgete, cidade da Espanha.

Cena "inspiradora" antes da pescaria como relata o personagem Jake:

"Na margem coberta de relva, onde a terra era mais úmida, enterrei a picareta... havia minhocas que desapareceram... Então cavei cuidadosamente e apanhei uma boa porção".

O grupo, mais tarde,  segue a Pamplona (Espanha) para a "fiesta" na qual se destacariam as touradas e a descrição de toda sua covardia, "heróis" da capa  bicolor nas quais até cavalos são vítimas dos ataques alguns fatais.

— É curioso — disse Brett —, mas a gente se torna indiferente ao sangue.

O livro conduzia para a vitória esperada do touro, mas tal não se deu.

Foi então que Brett se impressionou com o jovem toureiro Pedro Romero e com ele estabeleceu um romance. Viajou com ele. Mas durou pouco essas relações. Havia diferença de idade a considerar entre ela e o toureiro.

O livro é isso, mas não é só isso. São 260 páginas.

Foi um bom passatempo de fim de ano.


Outros livros que resenhei de Hemingway (acessar): 

PARIS É UMA FESTA

O VELHO E O MAR



terça-feira, 28 de novembro de 2023

JESUS, O MAIOR PSICÓLOGO QUE JÁ EXISTIU de Mark W. Baker

 LIVRO 114












O Autor é psicólogo terapeuta e nessa sua obra diz que seus relatos são composição de várias  histórias "e não representa ninguém em particular".

Na questão religiosa como indica o próprio título do livro, diz o Autor que Freud "considerava a religião uma muleta que as pessoas usam para lidar com seus sentimentos de desamparo". E diz o Autor, que "esta postura deu início a uma guerra entre psicologia e a religião que continua até hoje".

Neste "até hoje" aqui no Brasil, proliferam seitas nas quais os seus condutores se tornaram recitadores dos Evangelhos e, diga-se, envolvem religião, rendas e rituais que podem até dar alguma razão a Freud. Se dá uma divisão entre os Cristãos e os evangélicos dessas seitas.

Mas, o Autor nos seus inúmeros relatos justifica aplicação dos ensinamentos de Jesus, porque ele "entendia as pessoas". E acentua: "sabemos disso porque talvez ele seja quem mais influenciou a história.” 

Nestes tempos, há que reconhecer o antes e o depois de Jesus. O que seria deste planeta violento sem as palavras do Evangelho muitas vezes freando os desatinos?

E, então, “independentemente das nossas crenças religiosas ou psicológicas, todos podemos nos beneficiar dessa eterna sabedoria.”

O Autor se refere muito ao inconsciente pelo qual as pessoas se tornam infelizes ou problemáticas porque não querem abrir essa porta de más lembranças ou experiências.

Para desvendar o que está por trás dessa porta é que o Autor, como psicólogo, trabalha nas suas sessões de terapia.

Quanto a mim, tenho dúvidas se as pessoas num momento de reflexão, mais maduras, não enfrentem esse “arquivo” e passem a viver com ele “aberto”, superando os traumas que provocou.

E há pessoas que são problemáticas independentemente do que há no inconsciente, aqueles indivíduos violentos sem causa. Mas, aí se ingressa num ambiente… metafísico.

Outro ponto importante posto no livro se refere ao cultivo do relacionamento com outras pessoas, com os amigos, podendo até, o paciente, dividir com eles seus traumas como um modo de superá-los.

Claro que para isso, os amigos têm que ser Amigos.

O Autor reconhece que há os tolos.

Tanto é assim, que Jesus se deparou com os fariseus invejosos e com a traição fatal.

O livro tem duas partes: I – Entendendo as pessoas e II – Conhecendo a si mesmo.

E é a partir dessas duas partes que vai relatando experiências e no final de cada uma as inclui com os ensinamentos de Jesus.

Alguns trechos porque nessa obra há que preservar os direitos do Autor:

Jesus sabia que as pessoas não poderiam entender completamente a vida se usassem apenas o intelecto. Ele dizia: “Vou ensinar a vocês o que é a verdade”. Eu sou a verdade”;

Com essa afirmação, Jesus excluía quaisquer outras “verdades” ele se apresentando como a verdade deveria ser considerada segundo seus ensinamentos.

A autocondenação envolve a crença em uma mentira a respeito de nós mesmos;

Os terapeutas precisam ser humildes a fim de receber os tesouros que aparecem a partir de um bom relacionamento;

O bom relacionamento deve se estender aos outros porque deles precisamos.

Jesus, porém, parecia continuar a dizer às pessoas que elas precisam se relacionar com Deus;

As pessoas sábias estão sempre preparadas para mudar de ideia e de atitude; as tolas, jamais.

No caso da idolatria, as leis e os rituais religiosos se tornam a “droga” proporcionando às pessoas a ilusão de serem melhores do que realmente são;

O ódio aos outros frequentemente é sintoma de uma ferida interna em nós mesmos.

No “Epilogo” há esta frase: “Espero que você tenha se reconhecido em alguma das situações apresentadas e que tenha conseguido se conhecer melhor.”

Eu tenho que confessar, encorajado nas “Confissões” de Santo Agostinho que me “reconheci” num dos relatos, mas que superei há muito. Mas a influência daqueles idos ainda tem resquícios: o alcoolismo paterno.

Eu nunca havia lido, que me lembre, livros de autoajuda.

Penso que este tenho fortes timbres de autoajuda mas num sentido de serenidade demonstrando como tanta gente é igual a tantas outras vivendo seus traumas e os superando.

O livro é bom com relatos sobre as mais diferentes situações psicológicas, incluindo relatos de casamentos salvos pela terapia. E há muito mais.



segunda-feira, 13 de novembro de 2023

O PRÍNCIPE de Nicolau Maquiavel

 APÊNDICE: "DOS DELITOS E DAS PENAS"  de Cesare (Bonesana) Beccaria

LI VRO 113

Pondo-se a ler Maquiavel, constata-se que seu maquiavelismo eclode do texto mas ele não deixa de acentuar sempre que possível, algumas boas práticas visando a harmonia do poder embora, de regra, acentue que o príncipe deve ser mais temido do que amado.

O Autor, nasceu em 1469 em Florença, "O Príncipe" foi escrito em 1513. 

Ele explica as distinções dos modos de poder que predominavam, as monarquias — até mesmo aquelas que decorram do poder usurpado —  mas no tocante ao mandatário, fosse qual fosse, era chamado de "o príncipe".

E é quanto a este ou estes, os príncipes,  faz ele observações de garantia do poder, o modo de agir em relação aos súditos e ao seu exército — acentuando uma má prática a defesa por legião de mercenários que podem se voltar contra o príncipe na vitória.

Esses mercenários, são "soldados desunidos, ambiciosos, sem disciplina é infiéis, ousados entre os amigos, covardes perante os inimigos; não temem a Deus nem são leais aos homens."

Maquiavel em princípio não defende a violência extrema e nem propõe manobras que visem prejudicar seus súditos, embora coloque sempre meios para que o príncipe se mantenha no poder incluindo o uso da violência.

Se o Estado for conquistado pela força, "não bastará aniquilar a família do príncipe, pois permanecerão os nobres, prontos a liderar novas revoluções". E, então, "incapaz de contentá-los ou de exterminá-los, na primeira oportunidade o conquistador perderá o domínio sobre o Estado."

Maquiavel apresenta exemplos de príncipes que assassinaram nobres e senadores para garantia de seu poder.

Se o Estado for organizado por colônias, é necessário tomar casas e terras de antigos moradores que servirão para alojar os novos habitantes. E então, nessas medidas, "os que forem escorraçados, pobres e dispersos nunca poderão fazer mal ao príncipe."

E, quanto aos povos, é fácil persuadi-los  porque sua natureza é "labial". E se não mantiverem sua opinião, "por isso convém ordenar tudo de modo que, quando não mais acreditarem, se lhes possa fazer crer pela força."

"O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal". E o poder, claro.

Ao conquistador, tomado o poder, deverá ele fazer todas as crueldades desde logo, de tal maneira  a não renová-las. Feito isso seduzirá o povo que estará tranquilo, recebendo as benesses do príncipe que chegou ao poder. Se o conquistador assim não agir, estará sempre com as "armas em punho" para garantia de sua conquista.

“Quem quiser praticar sempre a bondade em tudo o que faz será fadado a sofrer, entre tantos que não são bons. É necessário, portanto, que o príncipe que deseja manter-se aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso, conforme seja necessário.” 


E se o príncipe não ganhar o amor dos súditos, então que evite o seu ódio. O príncipe deve ser temido.


O príncipe deve evitar a expropriação de bens, porque é mais fácil o povo esquecer a morte do pai do que dos bens expropriados.


E, sempre que houver oportunidade, incentivar o comércio afastando do comerciante o medo dos tributos e manter o povo entretido com festas e espetáculos, "nas épocas convenientes".


Frase: "De fato, o povo tem objetivos mais honestos do que a nobreza; esta quer oprimir, enquanto o povo deseja apenas evitar a opressão."


Sobretudo, o povo ama a tranquilidade imposta pelo príncipe, embora os soldados no seu espírito belicoso, esperam dele que seja cruel e opressor, significando que eles, os soldados, com esse modo de agir possam dobrar seus salários.

O príncipe, nunca deve abandonar os exercícios bélicos mesmo na paz, sustentndo a  ação e o estudo. Um exercício é a caça porque expõe os soldados às agruras da região.

Os fins justificam os meios:

Porque "na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra a qual não há recursos, os fins justificam os meios". Para a conquista ou a manutenção do poder, todos os meios empregados são honrosos.

E as guerras não podem ser evitadas e, adiadas, porque beneficiam os inimigos:

"... a guerra é justa para aqueles a quem é necessária; e as armas são sagradas quando nelas reside a última esperança." E quanto a Deus, ele não fará tudo para não retirar o livre arbítrio e a glória que advém da luta.

Encerrando:

O pequeno volume não explana só isso. Há muito mais maquiavelismos. O que fiz, nesta pequena resenha foi destacar entre tantos, alguns pontos nos quais Maquiavel é "maquiavélico"...

Tudo para garantia do poder ao príncipe.

Fim: Maquiavel faleceu em 1527, aos 58 anos, pobre e esquecido.


APÊNDICE

"DOS DELITOS E DAS PENAS"  de Cesare (Bonesana) Beccaria

Explicação:

Eu estava em débito com essa livro porque fora ele recomendado por professor de Direito Penal da PUC de São Paulo há décadas. Saldei meu débito, lendo-o agora, em 2023 depois de 260 anos de sua publicação.

Este pequeno livro — não tão pequeno assim — foi escrito em 1764 quando o Autor contava apenas 27 anos. Beccaria nascera em 1738 falecendo em 1794 em Milão.

Na França fora traduzido por André Morellet em 1765/1766, economista e literato. A edição francesa recebeu elogios de filósofos renomados da França pelo modo como expôs Beccaria suas ideias que explicou assim:

"Minha única ocupação é cultivar em paz a filosofia, e contentar assim três sentimentos muito vivos em mim: o amor à reputação literária, o amor à liberdade e a compaixão pelas desgraças dos homens escravos de tantos erros",

[Escravos seriam os condenados submetidos a severos castigos e privação da liberdade pela condenação].

Então, ele preconizou que as nações se preocupassem em estabelecer um corpo de leis penais que impedissem a interpretação pelos juízes, que poderiam se exceder nas penas, levando injustamente o condenado às masmorras e aos suplícios.

A pena será justa se o grau de rigor e limite desviem os homens do crime. Deve haver uma proporção entre o delito e a pena.

As penas daqueles de "alta linhagem" devem ser as mesmas aplicadas ao "ultimo dos cidadãos". 

Um acusado só ficará detido no tempo necessário para a instrução do processo.

As provas do delito só serão perfeitas se não trouxerem no seu âmago a dúvida do crime praticado. E para os abusos, o povo dirá: "Não somos escravos, mas protegidos pelas leis".

Ademias, "a moral política não pode proporcionar à sociedade nenhuma vantagem durável, se não for fundada sobre sentimentos indeléveis do coração do homem".

Claro que no seu tempo ainda sobre os horrores da inquisição há esse princípio ideal do "coração" mas se sabe que o planeta é repleto de diferenças e crueldades. (*)

Ele não aceita o julgamento tomando como base "o espírito das leis" e também rejeita delitos punidos de modo diferente em tempos diferentes pelo mesmo tribunal.

A graça dada pelo soberano a um criminoso pode soar como um aviso de impunidade geral?

Os cidadãos podem fazer tudo que não seja contrário à lei. Nulla poena sine lege.

Beccaria rejeita a tortura de modo veemente porque exige do acusado sob castigo físico que seja acusador de si mesmo e por essa violência, extrair uma "verdade" como se estivesse ela nos músculos do torturado.

Um homem honesto desarmado favorece o bandido armado. 

A pena de morte não é útil nem necessária. Ela se constitui uma 'guerra' contra o homem que a nação a impõe mas quem perde é a humanidade.

O suicídio só pode ser punido por Deus.

O verdadeiro tirano: é aquele que começa reinando sobre a opinião — quando é senhor dela comprime as almas corajosas, das quais tem tudo a temer...

CONCLUINDO:

Sempre digo que essas resenhas tentam trazer as linhas gerais da obra. Mas, o livro de Beccaria  tem mais, muito mais e, reconheça-se, que muito dos conceitos que ele defendeu há 260 anos estão consagrados em muitos códigos penais modernos, inclusive na legislação penal brasileira. De um modo ou outro ele se posicionou em "todos" os crimes mas com base na sua cultura de meados do século XVIII.

Beccaria, à frente do seu tempo, é um desses luminares que de vez em quando aportam no planeta.

Nota:

(*) No tocante à inquisição, em resposta a uma crítica, esclarece Beccaria que a ela não se referiu nem direta nem indiretamente. Mas, a leitura atenta do livro revela que há nas suas linhas e entrelinhas a condenação dos modos perversos adotados pela inquisição.



domingo, 15 de outubro de 2023

CONFISSÕES de Santo Agostinho

 LIVRO 112












Santo Agostinho nasceu em 354, apenas 41 anos depois da promulgação de Constantino do Edito de Milão, que tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano.

Tive alguma dificuldade em me concentrar neste livro pelo modo como o Autor reverência as obras de Deus, a repetição de conceitos e a insistência em resolver enigmas principalmente do Gênesis.

Há que se ter muito compreensão. O livro foi escrito em 397/398 DC. Nas partes iniciais do livro que contém 416 páginas, na verdade ele se questiona e questiona Deus sobre os mistérios da criação — pouco dos Evangelhos ele explorou.

Ele fora até 387 quando foi batizado (aos 33 anos) um homem do mundo e nesse lapso ele confessa seus pecados perante Deus...

Na juventude, o orgulho, a vaidade pelo que sua mãe, Mônica, o incentivava à vida a serviço de Deus, da castidade prevendo que seus deslizes  mundanos poderiam ser perigosos.

Mônica fora um esposa (marido Patrício, que seria infiel e rude) e mãe exemplar que teve mais dois filhos (Perpétua e Navigius), a ponto de manter a paz no lar submissa ao marido seguindo, é possível, um preceito referido por Paulo na Carta aos Efésios:

05:22 - Vós, mulheres sujeita-vos a vossos maridos, como ao Senhor.

[Por ser muito religiosa, ter conseguido converter Agostinho à religião.  Ela faleceu aos 56 anos em 387 sendo foi canonizada em 1153 pelo papa Alexandre III].

Na verdade, Agostinho conviveu por anos com uma mulher sem ser casado e dela teve um filho, Adeodato (nascido em 372), inteligente que morreu jovem, com 17 anos. Ao se referir a ele no seu próprio batismo ao catolicismo,  Agostinho o qualificaria de "o filho carnal do meu pecado". 

Esses pecados até hoje estão presentes na vida de tantos — ele relata ate mesmo maldades praticadas por colegas de estudo aos calouros, tentativas de fraude as quais não aceitou — e, especialmente, os desejos sexuais, a luxúria que envolvem o homem e a mulher dificultando a todos aqueles que buscam a espiritualidade, encontrar Deus na sua alma. 

"Ora, a luxuria provém da vontade perversa; e, se não se resiste a um habito, origina-se uma necessidade.

Mas, ele sofria com os seus pecados, inclusive relatando sonhos sensuais. Disse ele:

"Eis que em Roma, sou acolhido pelo flagelo da doença. Já ia descer ao inferno. levando comigo todas as faltas que tinha cometido contra Vós (Deus), contra mim e contra os outros,"

"Procurei o que era maldade e não encontrei uma substância, mas sim uma perversão da vontade da substância suprema — de Vós, ó Deus...

Ele faz referência à carta de Paulo em "I Aos Coríntios" de que é bom o homem não tocar numa mulher porque aqueles que não têm esposa pensam nas coisas de Deus e os casados pensam nas coisas do mundo e em agradar sua esposa. 

Lembrando a idade da infância invoca os mistérios: "Que pretendo dizer, Senhor meu Deus, senão que ignoro donde parti para aqui, para esta que não sei como chamar, se vida mortal ou morte vital?"

Por longo período, Agostinho seguiu a doutrina do maniqueismo, fundada por Maniqueu (ou Manés) foi um admirador de seus oradores, mas à medida que ia absorvendo o cristianismo, foi dela se afastando.

Os tradutores do livro expõem ensinamentos sobre o maniqueismo, mas eu fico com o que disse Agostinho sobre a doutrina, ao a criticar:

"... afirmam (os maniqueistas) que temos duas almas de naturezas diferentes uma boa e outra má. Ora, esses tais são realmente maus ao seguirem essa má doutrina. Só serão bons quando sentirem a verdade e concordarem com os homens de verdade...  para que o Apóstolo possa também dizer: "Outrora fostes trevas mas agora sois  luz no Senhor."

Agostinho teve amigos num sentido de irmão que optaram pela vida religiosa. Destaco dois: Nebrídio que converteu a família ao cristianismo e Alípio, que se tornou bispo de Tagaste (Argélia), sua terra natal e a terra natal de Agostinho e de sua mãe Mônica.

REFLEXÕES DE AGOSTINHO

Será preciso sempre lembrar que "Confissões" foi escrito em 398.

Então, sobre dois temas que ele explana à exaustão, penso ter a ver com a sua época.

► O primeiro é sobre o tempo que não existiria: o futuro não chegou e, então ele não existe; o presente num instante se torna o passado naquela fração de segundos. Assim, o passado não existe mais, salvo na memória.

Não tenho o discernimento para avançar nas dúvidas do Santo, mas no tocante ao futuro, quantas vezes há um projeção mental, uma premonição, uma intuição do que advirá e também na vida material: "daqui a tantos dias, quando acontecer isto ou aquilo ou viajo..." (mas, nesta hipótese, seria apenas expectação).

Quanto ao passado, se psicologicamente ele não existe mas na memória é ele preservado, neste mundo tão complexo, do ponto de vista material, as pirâmides do Egito, por exemplo são a memória de mais de 2.600 anos antes de Cristo. As ruínas de Pompéia...

► Outro ponto, mas do Gênesis, Agostinho "sofre" em buscar o perfeito sentido:

"No princípio, criou Deus os céus e a terra.

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o espírito de Deus se movia sobre a face das águas."

Ele discorre em muitas páginas na busca da exata interpretação desse texto.

Ele se refere aos abismos e nessa análise não menciona que também "os céus" foram criados. Parece que ele olha para a "terra" e certamente sabia que ela fazia parte dos... céus.

Se ele tivesse um telescópio e o mirasse a Marte, veria como era ainda no seu tempo, as condições inóspitas de sua superfície.

Somente muitas páginas a frente ele se refere ao Universo, suas estrelas, à Lua...

Nessa sua busca, transcreve interpretações de outros estudiosos e, nesse contexto, chega a mencionar uma questão: o que fazia Deus antes da criação? 

Não faltam mistérios que transcendem em muito a mente humana limitada.

Por fim, ele ora a Deus pedindo iluminação que confirme ou não se esse texto de Moises, no Gênesis, é verdadeiro ou tem algum outro significado. 

Agostinho em 395 torna-se bispo de Hipona (atual Annaba, na Argélia). Falece em 28 de agosto de 430 com 76 anos. Foi canonizado em 1292 reconhecido como doutor da Igreja — pelos outros vários livros que escreveu — pelo papa Bonifácio VIII.  


O LIVRO: tem muito mais do que isso, e quanto a mim exigiu muito resignação em chegar à última das 416 páginas.

Os que desejarem criticar ou esclarecer, há espaço para tanto neste blog.




sexta-feira, 25 de agosto de 2023

DOUTRINA DE BUDA de Siddharta Gautama

 LIVRO 111













Trata-se a obra explanada num volume aparentemente pequeno — apenas 195 páginas. Porém, em cada página conceitos que vão se multiplicando sobre os ensinamentos de Buddha bastante abrangentes avançando mesmo nos melhores conceitos a serem aplicados na administração pública. (*)

Mas, sobretudo, sobre a iluminação de homens e mulheres que buscam atingir esse estágio de paz e santificação seguindo os ensinamentos de Buda trilhando caminhos difíceis, de renúncia aos "apelos" da vida comum, vencendo o egoísmo,  ira, a luxúria, a corrupção... e o esforço para manter a mente desprovida de tais sentimentos e outros que atrapalhem a senda.

Mas, 

"Ó mente! Por que pairas incansavelmente assim sobre as cambiantes circunstâncias da vida? Por que me deixas tão confuso e inquieto..."

O NASCIMENTO DE BUDA E SUA ILUMINAÇÃO

O seu nascimento é, também, envolto em fenômeno místico, isto é, fora do normal dos demais seres humanos.

O rei Shuddhodana Gautama e sua esposa Maya durante 20 anos não tiveram filhos.

Ela engravidou quando num sonho viu um elefante branco entrar no seu ventre pela axila direita.

Então, ela volta para a casa dos país esperando em repouso, o nascimento de seu filho.

"Maravilhada com a beleza das flores de Asoka (...), estendeu seu braço direito para apanhar um ramo; ao fazer esse movimento de à luz um príncipe".



Entre as várias espécies esta pode ser a flor asoka, perfumada.



O pai o chamou de Siddhartha que significa "todos os desejos cumpridos".

Houve a preocupação da família real quando um ermitão, ao ver um brilho ao redor do castelo e lá chegando profetizou que, se a criança ficasse no castelo seria um rei generoso mas se dele saísse tornar-se-ia um Buda, o Salvador do Mundo.

"Buddha significa "o sábio, o iluminado, o homem que adquiriu o perfeito conhecimento da verdade e que, por causa disso, libertou-se de todo e qualquer apego à existência, revelando a todos o método de alcançar essa iluminação..."

 Siddhartha chegou a se casar, mas aos 29 anos de idade mas a vida de conforto e prazeres não o satisfaziam. 

Deixou o castelo e saiu em busca de respostas à sua "inquietude mental" decidindo-se a se tornar um monge mendicante. Foi tentando pelos demônios para voltar ao castelo e, assim o fazendo, "o mundo será seu". 

Buscou sábios para obter a iluminação, sem resultado. Permaneceu por seis anos na floresta.

Sozinho, após abandonado por seus cinco seguidores por um evento banal, empenhou-se na meditação, enfrentando os demônios, as dúvidas, as dores até que, "quando a estrela Dalva despontou" ela encontrara o caminho da iluminação. Ele tinha 35 anos.

Essa Iluminação — resultado da meditação sob a árvore (Bodhi-Ficus religosa) — se dera provavelmente no século V antes de Cristo. 

Por 45 anos Buda percorreu o país, pregando seus ensinamentos, até que, doente, postado entre duas árvores sempre ministrando seus ensinamentos, "o maior de todos os mestres" partiu adentrando ao "almejado Nirvana". (**) 

[Na ocasião da morte, o rosto de Moisés brilhou e o corpo de Buda iluminou-se. Ambos tinham chegado ao estado em que o espírito começa a brilhar de dentro e, então, morreram] (***).

"Este é o estado a que se chega quando, através das práticas e meditação baseados na Sabedoria Correta, extinguem-se  completamente toda a corrupção e paixão mundanas".

ENSINAMENTO SE DE BUDA

É bastante vasto, mas selecionarei alguns conceitos. Além desses conceitos muito claros e diretos há, ilustrando, fábulas e parábolas, uma leitura bastante atraente:

Iluminação

"O corpo de Buda é a própria iluminação!

Sendo assim, Buda jamais desaparecerá enquanto existir a Iluminação."

O esplendor de sua Verdade "se irradia para além dos limites exteriores e interiores das terras de Buda; é porque a vitalidade de sua compaixão nunca fenece através das incalculáveis vidas e eras."

"Buda é aquele que alcançou a perfeita Iluminação e a usou para  salvar e proteger toda a humanidade. O Dharma é a verdade, a essência da Iluminação e o ensinamento que a explica. A Sangha é a perfeita fraternidade daqueles que acreditam em Buda e no Dharma."

Causalidade

Todo o sofrimento humano tem a ver com os desejos humanos, a paixão, o egoísmo, distante das Verdades que transcendem dessa existência mundana.

Todo esse sofrimento é resultado do encontros de causas e condições que mudam se tais elementos deixam de existir.

"Os mais perversos dos homens, que cometem nefandos crime, aqueles cujas mentes estão cheias de cobiça, ira e estultícia; aqueles que mentem, tagarelam, abusam e trapaceiam; aqueles que matam, roubam e agem lascivamente; aqueles que estão próximos da morte, após anos de maus atos; todos eles estão destinados a longos anos de castigo, mas todos podem ser salvos."

A lei da causa e efeito. Mas, 

"A natureza de Buda não se perde nem é destruída, tão logo toda a corrupção seja removida ela sai de sua latência e reaparece."


Caminho do meio

Aqueles que buscam a iluminação devem se afastar dos extremos e seguir o "Caminho do Meio" — que leva à sabedoria e à paz da mente. E não deve alimentar tristes recordações do passado, nem se antecipar ao futuro, mas "com uma mente justa e tranquila acolher aquilo que vier." 

Paixões

A cobiça, a ira e a tolice são os "fogos do mundo". A cobiça aos que perderam a mente pela avidez, a ira aos que se perderam no ódio e a tolice aos que perderam a mente no insucesso em apreender os ensinamentos de Buda.

A luxúria é a mais intensa das paixões humanas: "é como o demônio que devora todos os atos do mundo".

À uma pergunta como podem os jovens que seguem o budismo poderem superar os desejos da luxúria? A resposta:

"Buda nos ensinou a respeitar todas as mulheres. Ele nos ensinou a considerar as velhas mulheres como nossas mães, aquelas de nossa idade, como nossas irmãs e a considerar as mais novas como nossas filhas. Com este ensinamento os discípulos  de Buda são capazes de manter puros seus corpos e mentes e não são afetados pela luxúria, embora sejam jovens,"

Embora num certo estágio dos ensinamentos é recomendado se afastar das mulheres; elas seguindo os mesmos princípios de Buda, também podem atingir a Iluminação como relatado no livro.

Outros ensinamentos

"Assim como o vento carrega o pó, a Compaixão de Buda varre a poeira do sofrimento humano."

Para manter o corpo puro "não se deve matar qualquer criatura vivente". Não se deve roubar ou cometer adultério, manter pura a fala, não mentir, abusar, ludibriar...

"Aquele que, verdadeiramente, buscam o caminho da iluminação devem controlar a mente e prosseguir com firme determinação."

"A prática da caridade afasta o egoísmo."

"A fé abranda as nossas empedernidas e egoístas mentes, dando-nos uma mente amistosa e simpática."

"A família é o lugar onde as mentes estão em contato umas com as outras." Se se amarem, o lar será tão belo como um jardim florido. E devem estar presente os ensinamentos de Buda. 

"O dever do governante é proteger o seu povo. Ele é o pai do povo e o protege por meio de leis. Ele deve despertar o povo, assim como os pais despertam seus filhos, dando-lhes roupas secas para trocar com as molhadas, sem esperar que a criança chore. Da mesma maneira, o governante deve afastar todo o sofrimento e proporcionar felicidade, sem esperar que o povo se queixe. Seu governo não será perfeito até que o povo fique em paz. O povo é o tesouro do seu país."

O Budismo começou na Índia, avançou pela China, Japão espalhando-se a muitos outros países asiáticos e no mundo todo.

O livro tem MUITO mais do que isso!

Referências

(*) As citações do livro que fizemos, são autorizadas com "créditos" a BUKKYO DENDO KYOKAI (Fundação para propagação do Budismo - Tókio - Japão)

(**) Acessar: SIDARTA de Herman Hesse

(***) Conceito Rosacruz do Cosmos de Max Heindel


TEMPLO BUDISTA ZU LAI EM COTIA - SÃO PAULO

(Zu Lai, traduzido do chinês = "aquele que foi / veio")

Esse templo é o maior da América Latina com área construída de 10 mil m2 ocupando área de 150 mil m2.




segunda-feira, 7 de agosto de 2023

K. de Bernardo Kucinski

LIVRO 110 












Diz o Autor que "tudo neste livro é invenção, mas quase tudo aconteceu".

Com efeito, quase tudo aconteceu.

A obra contém alguns capítulos com timbre de crônica mas o que destacado é o relato amargo de um pai, judeu  — que sofrera os efeitos do nazismo, na Polônia — sobre o desaparecimento de sua filha mais querida, em relação aos outros dois filhos nos tempos da ditadura militar no Brasil.

O que, afinal, acontecera com ela depois de notar, K., que sua filha estava há dez dias sem fazer qualquer contato?

K. era um literato, poeta que, com outros judeus, preservava a língua iídiche já então considerada morta, "uma língua cadáver, isso sim, que eles pranteavam nessas reuniões  semanais, em vez de cuidar dos vivos"

Com suas preocupações literárias, surpreendeu-se K. ao saber que sua filha era casada. A modesta cerimônia se dera aos parentes do noivo. Ele sequer fora informado dessa união. Seu genro também era da comunidade acadêmica — não chegara a o conhecer — e como ela desaparecido.

Para desvendar o paradeiro da filha, preocupado, vai ao Departamento de Química onde lecionava. Seus alunos de modo discreto, informaram que ela, que nunca faltava em suas aulas, estava ausente da faculdade havia 11 dias.

A partir daí, no começo de modo tímido, depois fazendo todos os contatos possíveis e até mesmo com falsos "informantes" sai em busca do paradeiro da filha. E do marido.

Conversou com militares, com religiosos e com quem mais lhe fosse indicado para alguma informação que desvendasse o desaparecimento dela.

O que nunca havia feito: procurou a Catedral Metropolitana da Sé, templo católico que nunca entrara antes e ali se uniu ao grupo de pais e parentes que, como ele, procuravam informações dos seus desaparecidos.

De rabinos supostamente influentes no meio político pouco ou nenhuma ajuda recebeu.

Já não duvidava da ação politica antiditadura de ambos. E já ia se convencendo que sua filha poderia ter sido morta nos porões da ditadura.

► Ana Rosa, a filha de K., esse era o seu nome segundo livreto 'Tag' de junho de 2023 que acompanhou o livro, "desaparecera" em 1974.  O Autor era seu irmão.

O Autor se refere ao agente Fleury que naqueles prédios clandestinos do Doi-Codi praticava a tortura e assassinatos contra os militantes capturados.

Nas páginas finais, a "transcrição" de uma carta remetida por "Rodriguez" ao "companheiro Klemente" na qual faz ele ponderações amargas por não terem parado as ações de luta à iminência da derrota do movimento, inclusive lamentando  execuções de membros que queriam deixar as células por vislumbrarem uma "guerra perdida" e, pior,  tratados injustamente como traidores.

Há o nome mencionado nessa suposta carta de um militante (Márcio) que fora executado pela célula.  Esse nome, Márcio (Toledo), é mencionado, também, por Alfredo Sirkis relatando que membros da ALN já praticamente desarticulada, o executaram na rua porque temiam que  saindo da luta, poderia denunciar os que ficaram. Um "estupido crime". (*)

Na resenha do livro "Os Carbonários" de Alfredo Sirkis:

"Num dado momento, vendo que a guerrilha perdia terreno, membros de outras siglas com o mesmo objetivo, iam sendo mortos ou presos, Sarkis resolveu deixar a VPR, descrevendo seu constrangimento perante os demais companheiros revolucionários". 

E reconhece:

"Doze meses depois, estávamos ali, dizimados, reduzidos a menos de um quarto do que fora a organização. Um pensamento sombrio me assaltou. Será que chegava ao réveillon de 71?" (*)

Kafka

Há no livro referências a Kafka (também a Milan Kundera).

"O Processo" de Kafka, de família judaica, é anterior ao nazismo, de 1925. Nessa obra  seu personagem Joseph K. acusado por um crime que desconhecia, até porque não havia crime, não se sentia culpado, tanto que busca nas teias judiciárias saber do que tratava a acusação.

O final trágico é consequência da perseguição da qual fora vítima na trama, sem descobrir do que era acusado, revelando-se cansaço psicológico, dando-se espécie de desistência, entregou-se aos algozes, algo como o suicídio.  (**)

É sempre bom cuidar que a interpretação não vá além do que pensou o autor da obra.


O livro K. contém 196 páginas e nelas há muito mais a ser conhecido.


 APÊNDICE

Naqueles idos das décadas de 60 e 70 como acadêmico de direito na PUCSP, um dia apareceu na classe José Dirceu para umas palavras sobre a oposição à ditadura (talvez em 1969). Questionei-o apontando as dificuldades, porque o lado que combatia era o Exército. Manifestação muito rápida, houve algumas vaias e aplausos.

Referência no texto.

(*) Acessar: OS CARBONÁRIOS

(**) Acessar: O PROCESSO de Kafka