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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

GERMINAL de Émile Zola

Livro 39

Querem conhecer um livro repleto de lances inesperados e até mesmo suspense em meio a tragédias? Então “Germinal” é um prato cheio.  Publicado em 1885, o livro detalha a vida inumana dos mineiros em minas de carvão, que desciam a 700 metros até o fundo dos poços. E nesse ambiente de insalubridade absoluta cavavam o carvão numa jornada exaustiva, na escuridão, enfrentando calor intenso, recebendo a água preta nos rostos que vazava de todas as frestas dos estaqueamentos.

A preocupação com o grisu um composto de metano e gás natural, uma mistura explosiva perto de chamas.

Na apresentação do livro, a informação é que Zola visitou minas, desceu ao fundos do poço, viveu num cortiço, bebeu cerveja nos botecos e, sobretudo, constatou a pobreza imensa pelos baixos salários e, nesse quadro desolador, a fome. 













O romance começa descrevendo exatamente essa pobreza, a busca por “pão”, a preocupação em alimentar toda a família, geralmente numerosa, as sopas ralas. As moradias pertenciam às usinas que cobravam aluguel, eram pequenas e todos se acomodavam como podiam, amontoados um sobre os outros, sem muito pudor na intimidade entre irmãos e irmãs.

Do outro lado, do lado do sócio-empresário de uma das minas, ele recebia dividendos suficientes para não trabalhar, viver no luxo duma mansão juntamente com sua família, servido por criados que se serviam, até, da caleça dos patrões.

Tudo era suportado, os mineiros expostos àquelas condições de trabalho degradantes e os patrões usufruindo dos lucros, até que começa a trabalhar na mina, nas mesmas condições, Etienne até então um desempregado rebelde que fora com seus superiores em outros empregos.

Num dado momento a administração da mina decidiu que os reparos no estaqueamentos não faziam parte da jornada de extração fato que reduzia os salários já minguados.

A revolta é geral. Etienne que agora residia na casa de Maheu e família, dormindo num cama num aposento minúsculo vinha se cultuado em teses socialistas e anarquistas, misturando conceitos nietzchinianos:

“Já que Deus estava morto a justiça asseguraria a felicidade humana, fazendo reinar e igualdade e fraternidade. Uma sociedade nova surgiria em um dia, como nos sonhos, uma sociedade imensa, esplêndida como uma miragem, onde cada cidadão viveria do seu trabalho e teria o seu quinhão nas alegrias comuns.”

Com essas ideias e a fome aumentando a cada dia, eclodiu a greve em todas as minas, muito forte, com o apoio, ainda que distante da Internacional e não poderia faltar até mesmo um padre que criticava os patrões acerbamente.

Os grevistas às centenas saem em passeata, gritando por “pão, pão, pão” sem que houvesse a reação dos patrões.

[Um aspecto que me chamou a atenção: havia uma usina de açúcar nas proximidades que se utilizava da beterraba como matéria prima. Ela também foi afetada pela greve. Não saberiam os grevistas que as folhas da beterraba engrossariam a sopa rala? O furto famélico das próprias beterrabas não seria aceitável? O Autor não se referiu a esse ponto. Talvez complicasse a história].

A greve resulta no confronto entre policiais armados e a massa esfomeada. Os tiros matam 14 grevistas, incluindo o aliado de Etienne, Maheu, aumentando a tragédia de sua família e o desespero de sua esposa corajosa.

O tratamento dado ás mulheres era ríspido. Meninas sem perspectiva se entregavam aos namorados e muitas engravidam e tinham filhos precocemente. A tragédia com mais destaque fora Catherine, filha de Maheu que, deflorada por Chaval, era tratada a pontapés por ele que, na história, é o vilão que morre pelas mãos de Etienne.

Com o passar dos dias, os mineiros envergonhados voltam ao trabalho, inclusive Etienne – que deixara de ser hostilizado pelos mineiros. Ele acompanhava Catherine que decidiu trabalhar para diminuir a fome da família, agora sem o pai.

Suvarin, um polonês taciturno, que ironizava os ideais de Etienne por fim desabafa falando do enforcamento de sua esposa na Rússia que explodira uma linha de ferro, atingindo um trem de passageiros e não o trem imperial como era o plano.

Suvarin: “Você nunca serão dignos da felicidade enquanto possuírem alguma coisa, enquanto esse ódio aos burgueses for apenas o desejo desesperado de serem burgueses também.”

Nessa noite o polonês sabotou a mina onde Etienne voltaria a trabalhar. Arruinara as escoras e os estaqueamentos de tal modo que a água passou a verter pelas frestas e a descer sobre o poço da mina com muita força. O desbarrancamento atingiu um riacho perto que passou a despejar água no mesmo poço enquanto não estancada.

Salvaram-se os que puderam, mas Etienne, Catherine e Chaval ficaram retidos num beco em perigo porque a água avançava. 

O ciúme de Chaval por Catherine provocou Etienne - que já haviam brigado - que o matou com uma pedra.

Duas semanas depois fora resgatado porque a turma de socorro ouvira as batidas de Etienne. Poucas horas antes Catherine falecera.

Tragédias.

Etienne, salvo, grisalho, teve que se acostumar à claridade, deixa a região rumando para Paris, chamado pelo dirigente da Internacional que o conhecia.

Mas, em sua mente não perdera a esperança de dias melhores para os trabalhadores, “crescendo para as colheitas do século futuro.”

O livro tem muito, muito mais. Gostei bastante.

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