
Livro complexo com suas
quase 300 páginas, lançado em 1925. Kafka nasceu em Praga (República Checa) em
03.07.1883.
Li o processo a
primeira vez entre aulas na Faculdade de Direito da PUC. Pela sua densidade e
desatenção, tive que o ler novamente.
Naqueles idos da década de 60/70 assistira num cine cultural em São Paulo ao filme dirigido por Orson Wells baseado no livro “O Processo”. Esse filme é de 1962.
“Que se assemelha à obra de Kafka, buscando expressar um
ambiente de pesadelo, de irrealidade, de angústia e de absurdo; diz-se do que,
no âmbito burocrático ou na civilização atual, se afasta da lógica ou da
racionalidade.”
Sim,
esse é o melhor conceito da palavra e da própria obra.
Numa
leitura minha, embora não queira necessariamente o Autor, me parece que o personagem Joseph K.
nestes tempos de modernidade seria diagnosticado com séria depressão.
E,
além disso, senti no texto todo um sentido de esquizofrenia de K. já no início da obra quando dois supostos
policiais ou agentes da lei invadem seu quarto, tomam seu desjejum, se
apropriam do quarto de outra moradora da pensão e o informam que ele está sendo
processado.
“Mas,
processado por qual crime?”
Então, Joseph K.
fora comunicado de um processo sem saber qual o crime, qual a acusação e, pior,
qual o setor da justiça onde tramitava o seu processo.
De início despreza a
acusação, porque nada de criminoso praticara. Procurador de um banco, cargo de
destaque continuou com sua vida normal, por um tempo.
Mas, o processo
passara a ser, num dado momento, uma preocupação.
Não tinha acesso a
ele, não obtinha informações, não sabia do juiz da causa, eram inacessíveis e, pior num momento dado da obra, começa a ser
indagado do processo por personagens que rigorosamente não poderiam nada saber.
Ouve que
funcionários da justiça poderiam ajudá-lo de tal maneira que
podesse ser absolvido.
Mas, absolvido do quê?
Há cenas surreais,
como o açoite aos dois agentes da justiça que em primeiro estiveram no seu
quarto, castigo que se dá numa instalação reservado do próprio banco.
Mantendo contato com
outros processados vai se aproximando de supostos personagens que poderiam ajudá-lo,
como o pintor que era contratado pelos juízes para lhes pintar o
retrato.
Saindo por uma porta
secundária do apertado atelier, após a conversa inútil, soube que ali também
era uma divisão da justiça (!).
Como se nota, há a
descrição de um ambiente opressivo, de pesadelo que vai se fechando, num dia a
dia depressivo.
E o livro caminha
nessa trilha com longos discursos, de certo modo uma crítica a procedimentos da
própria justiça, com sua burocracia e juízes inacessíveis.
Dispensa o advogado
soberbo que seu tio contratara porque ele nada fizera para resolver o processo.
O desfecho começa
com sua visita à catedral porque o banco o designara para acompanhar um cliente
italiano importante e que queria conhecer os detalhes artísticos do templo
cristão naquele momento escurecido e sem nenhum fiel.
O italiano não
aparece – fora propositado -, de maneira que K. conhecesse o padre que o
esperava na catedral. Ele é o religioso que presta serviços à justiça e diz que
seu processo é grave, estando K. em vias de ser condenado.
Por fim, numa noite,
quando K. completaria 31 anos, dois agentes sem identificação vieram buscá-lo e
num local remoto o assassinam com facadas no coração. Comentário de um dos
assassinos ao desenlace trágico:
- Como um cachorro! –
era como se a vergonha fosse sobrevivê-lo.
...
O livro é denso, não
é de leitura fácil mas o esforço compensa porque se descobre o “processo
kafkiano” sem crime.
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