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quarta-feira, 20 de abril de 2022

STÁLIN NOVA BIOGRAFIA DE UM DITADOR de Oleg V. Khlevniuk

LIVRO 91



EXPLICAÇÃO:

Com a invasão russa à Ucrânia com toda sua violência e crimes de guerra, apressei-me em ler o livro como um modo de achar alguma explicação ao desrespeito à vida que motiva Wladimir Putin e seus asseclas militares e políticos em promover essa guerra insana.

Com o livro "Stálin nova biografia de um ditador" encontrei a causa histórica da tragédia que se dá na Ucrânia - um país que decidira apenas ser europeu. Com efeito, a crise se apoia entre políticos e militares russos submissos ao ditador. Os russos que protestam ou são presos ou perseguidos. É forte a censura nos meios de comunicação.

Na biografia de Stálin encontrei infelizmente, o DNA dessa barbárie.


O livro, nas suas mais de 450 páginas é a descrição sem ressalvas do horror na União Soviética nos tempos de Stálin de 1927 a 1953. (*)

Stálin ao longo de cerca de 26 anos, ditador implacável causava medo até mesmo nos seus subordinados diretos que, dependendo do momento político ou erros os humilhava, os rebaixava publicamente e até mesmo os mandava fuzilar pela simples suspeita de traição e, em muitos casos, com falsas acusações.

Para se ter uma ideia: o livro traz uma série de fotos; em muitas delas fotografados ao  lado de Stálin estão aliados em número de 19. Dentre esses 6 foram fuzilado, um suicida e outro teve morte misteriosa.

Já no fim de seus dias, em 1953 foi vítima de um derrame, causa de sua morte. Seus guarda-costas estranharam que ele não os chamasse para nada. Tinham muito medo de aborrecer o chefe. Um guarda-costas, então, se aproximou das instalações de Stálin e o viu caído ao chão tendo vertido uma poça de urina.

Encorajou-se,  levantou Stálin e o acomodou numa poltrona. Foram, então, chamados seus principais assessores que não se encorajaram em obter ajuda médica com receio de explosões de ódio do chefe mais ainda pelo seu estado físico humilhante. E também porque havia perseguido médicos determinando que alguns deles fossem fuzilados.

Somente horas depois médicos foram chamados e atestaram sua morte.

Em vida fora ele uma tragédia humana. Até nas homenagens ao morto, tal a desorganização do local de seu corpo exposto, morreram na confusão mais de 100 cidadãos soviéticos que o tinham como salvador. 

Stálin foi o agente da morte.

Ao longo de sua ditadura e sob controle seu, absolutamente, foram fuzilados a seu mando, milhares de supostos antirrevolucionários, antissoviéticos, monarquistas, judeus...

Ele "decretou", no campo, a morte pela fome a milhões de camponeses ao converter a produção particular em fazendas comunitárias confiscando a maior parte da produção de grãos, deixando-os em estado de penúria, de abandono. E muitos que protestavam contra esse estado de escassez foram fuzilados.

"No final de 1939 , foi banida a venda de farinha e pão na área rural. Camponeses famintos correram às cidades (...) para comprar esses itens que também estavam escassos por ali."

Há referências até mesmo ao canibalismo para conter a fome.

Stálin, pela desejo de sua mãe, foi matriculado num Seminário para seguir o caminho da religião, tornando-se padre.

Mas, rebelde demais, nunca se adaptou aos estudos religiosos. 

Já jovem adulto, conheceu a obra de Marx e dela não mais se afastou.

Com a queda do tzar (imperador), já então ligado Stalin ao partido bolchevique (da maioria) aceitaria, juntamente com o partido menchevique (da minoria) apoiar um governo de transição liderado por Kerensky.

Mas, Lênin exilado chega à Rússia, defende não o apoio ao governo de transição mas a tomada do poder, implantando o socialismo no mundo todo.

Dá-se a Revolução de Outubro de 1918, os bolchevique vencem e assumem o poder e Lênin torna-se o mandatário máximo do novo governo.

"A maioria dos historiadores concorda que, sem Lênin, a Revolução de Outubro provavelmente não teria ocorrido".

Stalin se aproxima de Lênin e se torna dele um tipo de discípulo. Como diz o livro, Stalin vive à sombra de Lênin.

Stalin em Tsarítsin inicia um expurgo, promovendo milhares de fuzilamentos. Essas execuções eram do conhecimento do Alto Comando do governo, mesmo de Lênin que acabou por aceitar esses assassinatos de opositores e suspeitos.

Havia conflitos sérios no interior do poder, especialmente entre o grupo stalinista e o grupo de Trotsky.  

Com a morte de Lênin em janeiro de 1924 Stálin pela sua truculência vai assumindo poderes  e seu método de se firmar no governo, foram as execuções aos milhares, muitas com falsas acusações.

Trotsky superado pelo ditador, se exila no México onde seria assassinado em 1940 a mando de Stalin.

Nesse ano foram executados 21.857 supostos antissoviéticos pertencentes à elite polonesa.  

Temido, vai se tornando o ditador implacável. Embora houvesse órgãos governamentais, incluindo o Politburo, as ordens vinham de uma única "fonte": de Stalin.

O Autor, na fase de guerra iminente, chama esse período stalinista de "terror" tal as mortes que provocou do modo mais vil com falsas acusações.

Com os primeiros movimentos da 2ª Grande Guerra, Stalin mostrava-se inseguro e receoso da invasão alemã mas invocava, sempre, o tratado de não agressão que firmara com Hitler.

Ele somente acreditou na invasão alemã, quando ela começou e enquanto vacilava na defesa improvisada, os soldados russos iam sendo dizimados aos milhares.

A obra menciona em poucas linhas a adversidade climática enfrentada pelos alemães na Rússia que, por fim seriam derrotados pelos soviéticos, não se esquecendo que eles, os alemães, vinham sendo derrotados, em outras frentes, pelos aliados.

O êxito de Stálin foi reconhecido por Churchill (Reino Unido) e Roosevelt (Estados Unidos). 

Mas, houve apoio material pelos Estados Unidos. No final da guerra os soviéticos estavam dirigindo caminhões feitos nos Estados Unidos. De lá vieram, também, locomotivas, vagões e alimentos. Essa ajuda material foi reconhecida por Stálin: "Se não fosse pela Política de Empréstimo e Arrendamento, a vitória teria sido altamente prejudicada."

 No fim da guerra, houve alguma animosidade em dividir territórios conquistados. Stálin apressou-se em tomar a capital alemã reunindo para tanto 2 milhões de soldados. A batalha foi difícil perdendo o exército soviético 360 mil soldados.

Diz o Autor que a vitória sobre os nazistas teve como débito total,  27 milhões de vidas.

A partir de janeiro de 1953, o Gulag (espécie de campo de concentração) e colônias penais e prisões  mantinham 2,3 milhões de pessoas e em assentamentos especiais, em regiões remotas do país, 2,8 milhões, ou algo próximo de 3% da população soviética... 

A família de Stalin foi desagregada e problemática. Sua primeira esposa se suicidou em 1932. O Autor não explanou mas o gesto extremos seria divergências políticas com o marido. Seus filhos foram problemáticos e sua filha Svetlana, quando a oportunidade surgiu mudou-se para os Estados Unidos onde faleceu em 2011.

 

Referência

(*) Recomendo fortemente, sobre o mesmo tema, o livro "Rumo à Estação Finlândia" de Edmund Wilson cuja resenha pode ser conhecida, acessando: 

RUMO À ESTAÇÃO FINLÂNDIA