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sábado, 16 de junho de 2018

AGOSTO de Rubem Fonseca

LIVRO 45

Este livro inspirou série de TV.



Escrito numa linguagem direta, a obra adota linha com poucos desvios na narrativa, isto é, o Autor não deu espaço a descrições, por exemplo, de locais dos eventos, se havia sol ou não. os detalhes da beleza de uma árvore. Aquela intervenção meio poética encontrada na maioria das obras.

Assim, a narrativa avança com facilidade mesclando ficção e realidade.

A ficção se refere às ações policiais, destacando-se os atos do comissário incorruptível Alberto Mattos que começa a investigar o assassinato brutal do empresário Paulo Machado Aguiar Gomes, cuja esposa apaixonara-se pelo empresário Pedro Lomagno.

Mattos tinha uma avançada úlcera estomacal com risco de agravamento pela eclosão de hemorragia. Sofria muito com a doença.

Lomagno era casado com antiga namorada do comissário, Alice, que o abandona passando a viver nos últimos tempos no apartamento de Alberto Mattos.

Mas, este, tinha Salete que o amava, mas sustentada por outro personagem. Com o tempo, Mattos começou a reconhecer que também gostava dela e a preferia e não Alice, que tinha alguns distúrbios mentais.

As pesquisas criminológicas concluíram que o assassino do empresário Aguiar Gomes seria um homem negro.

No começo o comissário pensou que o assassino fosse o guarda-costas de Getúlio Vargas, Gregório Fortunato (personagem real, histórico para dar mais autenticidade à ficção) mas depois percebeu o engano.

Alberto Mattos, considerando as condições precárias das celas em sua delegacia, libertava no seu turno os presos recolhidos no turno anterior.

Essas celas ficaram de tal modo lotadas, muito além de sua capacidade até que, num certo dia, já decidido a deixar de ser policial para voltar a advogar, libertou todos, mesmo os já condenados.

É que as celas exalavam odor insuportável, mistura de suor, hálito e sujeira das celas.

Pelo modo como agia em suas investigações, indispôs-se com um banqueiro do jogo do bicho que, não aceitando a humilhação que a ele impusera o policial, contratou pistoleiro para assassiná-lo.

Voltou atrás por pressão de outros banqueiros do bicho, mas não conseguiu encontrar o pistoleiro.

Este chega ao apartamento do policial, mas é detido por ele e preso.

Depois, o pistoleiro seria assassinado por outro policial que não deixou vestígios do crime, somente a desconfiança de Mattos.

Mattos, na continuidade de suas investigações chegou ao senador Freitas, um homossexual exacerbado que poderia ser o mandante do crime do empresário Aguiar Gomes. Havia negociatas envolvendo o senador que o empresário sabia. Sabia demais.

Clemente, secretário do senador contrata um pistoleiro para “liquidar” o comissário.

Já não mais policial após libertar todos os presos, com o agravamento de sua úlcera, chamara Salete para levá-lo ao hospital. Nesses preparativos, batidas na porta do apartamento. Salete abre a porta e se depara com um homem negro, forte. 

Era o pistoleiro.

Antes que agisse, Mattos lhe entrega um anel com a letra F que retivera quando estivera na cena do crime do empresário Aguiar Gomes.

O pistoleiro Chicão reconhece como seu o anel de ouro e volta a colocar no dedo.

Não poupa nem o comissário e nem Salete, assassinando os dois.

Na ficção há muitos outros personagens e episódios interessantes. A leitura fácil, com capítulos bem divididos entre a ficção e a realidade, incentivam conhecer o desfecho da trama.

No trato da parte histórica, o agosto de 1954 ficou marcado pelo suicídio de Getúlio Vargas.

A origem do agravamento da crise política se dera com o atentado a Carlos Lacerda na rua Tonelero no dia 5 que recebeu um tiro no pé mas um outro fora fatal, atingindo o major-aviador Rubens Florentino Vaz. O militar fazia a segurança de Lacerda.

Lacerda, opositor ferrenho de Getúlio, pelo seu jornal, demolidor nos seus discursos não poderia continuar vivendo e criticando o presidente como fazia.

Com o atentando que resultou na morte de um militar as Forças Armadas que se mantinham acompanhando os eventos políticos, garantindo a ordem constitucional, assumiram o inquérito juntamente com a polícia.

Tudo levava a crer que o atentado partira do Catete, por ordem de Getúlio. Falava-se de um “mar de lama” no palácio.

Mas, as investigações levaram aos culpados. O plano fora estabelecido por Gregório Fortunato, fidelíssimo chefe da segurança de Getúlio que contratou alguns capengas. O 'pistoleiro', um marceneiro desempregado Alcino João Nascimento que disparou os tiros. O major Vaz foi alvejado porque avançara contra o pistoleiro, segurando a arma. E nessa ação, foi atingido por dois tivos. Envolvido, também, diretamente no atentado, um certo Climério de Almeida membro da guarda de segurança de Getúlio.

Todos foram presos e condenados.

Nesse meio tempo, porém, os militares às vezes um pouco indeciso resolveram que Getúlio deveria renunciar.

A solução fora o afastamento temporário de Getúlio, assumindo o vice Café Filho. Mas, se sabia que esse afastamento, na realidade, significava a deposição do presidente.

Getúlio dizia que só sairiam do Catete morto.

No dia 10 com um tiro no peito, praticou o suicídio.

Houve distúrbios populares, jornais depredados, vandalismos, a ação policial severa no Rio de Janeiro.

O Autor, no relato desses episódios, insere detalhes pouco explorados, como discursos a favor e contra Getúlio, tornando a leitura atraente. Afinal, aqueles episódios dos primeiros 15 dias de agosto de 1954 seriam peça de ficção bem engendrada, não fossem reais.


segunda-feira, 4 de junho de 2018

MOBY DICK de Herman Melville

Livro 44


Talvez nem sempre seja bom a releitura de livro de mais de 500 páginas como é o Moby Dick. Na edição que reli, a fonte é minúscula, gerando o desconforto de maior atenção ao texto e, assim sendo, o aumento do tédio em paginas e páginas que enfeitam a obra consagrada mas que não tem significado relevante ao enredo da história. Explico: há descrições de operações e trabalhos a bordo que são incompreensíveis. Não? Descreva como se dá um nó numa gravata... sem a gravata...


















O livro emblemático de Herman Melville foi escrito em 1850. Teria sido inspirado em afundamento verdadeiro do navio Essex por uma baleia, em 1820.

O Autor trata da matança sistemática naqueles idos do final do século 19 e começo do século 20 de um ponto de vista “profissional” embora fossem os baleeiros chamados de carniceiros:

“Mas”, disse o Autor, “não obstante o mundo nos despreze a nós, caçadores de baleia, ele nos presta involuntariamente a maior homenagem: sim, uma adoração exagerada!, pois quase todos os círios, lamparinas e velas que ardem em volta do mundo ardem, como diante de tantos relicários, para nossa glória.”

Pois o óleo obtido de cada um desses animais do mar, em grande quantidade, impropriamente chamado de “espermacete” servia principalmente para iluminação, entre lamparinas e velas.

A descrição dos métodos de abate daqueles “peixes” que e o Autor chama de Leviatãs – nome dado a peixe mitológico feroz citado na Bíblia em Jó 41 -, é de emocionar de tão cruel que é.

Mas, o Autor, em muitos momentos se resigna, como neste trecho:

“Sem dúvida o homem que matou pela primeira vez um boi foi tido como assassino; talvez tenha sido enforcado; se houvesse sido julgado por bois, sem dúvida teria sofrido essa pena, por certo merecida, se qualquer assassino a merece. Ide ao mercado de carne num sábado à noite e vede as chusmas de bípedes vivos olhando as longas fileiras de quadrúpedes mortos. Tal espetáculo não acorda o canibal? Canibal? Quem não é canibal? Digo-vos que será mais tolerável o Dia do Juízo para o fidjiano (selvagens das Ilhas Fiji) que salgou um missionário magro na despensa, para prevenir-se da fome à vista, do que para ti, meu civilizado e esclarecido guloso, que prendes os gansos ao chão e regalas-te com seus fígados inchados em teu paté de foie gras”.

O Autor descreve cada tipo da "família" das baleias.

Faz, também, verdadeira dissecação do cachalote descrevendo a sua cabeça quando decepada, os olhos, a cauda, o esqueleto...

Então, desde o embarque de Ismael e seu amigo íntimo, o “canibal” Quiqueg, exímio arpoeiro, no navio Pequod o desfecho da história se dá a partir da pagina 500.

Moby Dick é o nome dado a um cachalote branco (seria albino?) muito grande que atacava baleeiras que o agrediam com arpões na tentativa de matá-lo para as vanglórias da vitória e obter o óleo precioso.

Os heróis da história são Ismael seu narrador, Quiqueg seu amigo íntimo, o capitão Acab - em busca de vingança porque o grande cachalote branco numa reação a ataque sofrido no passado, decepara sua perna – os imediatos Starbuck, Stubb e Flask.

Um episódio interessante do livro: Moby Dick fora, também, causa da perda de um braço do capitão do navio inglês "Samuel Enderby". Há o encontro desse navio com o Pequod e o capitão Acab se excita ao saber que Moby Dick continuava reinando nos mares.

O capitão Acab, mesmo nos desabafos ao imediato Starbuck reconhecia que sua vida se perdia num navio – as viagens de caça à baleia duravam três, quatro anos – situação piorada pelo seu espírito de vingança contra a grande baleia branca, o seu desejo de matá-la.

Starbuck apelava para que Acab abandonasse esse sentimento ruim e voltassem todos para casa felizes, no caso a cidade de Nantucket.

Num certo momento o cachalote branco reaparece.

E, então, começa a batalha.















Os arpões vão sendo atirados, atingindo o corpo da baleia que sangra – “...a baleia tem, como o homem, pulmões e sangue quente”. Ela reage, e vira os barcos que a atacam, destruindo-os e atingindo mortalmente alguns dos seus agressores.

Mesmo assim, continuamente ferido, o grande cachalote branco ataca o próprio Pequod que tomba de modo violento e afunda rapidamente.
Do naufrágio, só sobrevive o narrador Ismael que abraça um ataúde – construído para Quiqueg que esteve a beira da morte, doente – transformado em salva-vidas improvisado.

Na última página do livro, que trata do “Autor e sua obra”, tem esta ‘preciosidade’: “Poucos foram capazes de entender a riqueza do seu conteúdo (a busca da perfeição humana, o eterno embate do bem contra o mal, este simbolizado na monstruosa baleia branca.)”

Está claro que o autor dessas linhas fez a baleia o Moby Dick “eterno mal” mesmo sendo atacada sem dó, até por vingança, ódio, como descreve o livro.

Ora, o narrador se reconhece “carniceiro” embora ofereça com o óleo da baleia para velas e lamparinas...


E no evento morte após inúmeros ferimentos de arpões a tragédia relatada  no livro, afetando seus momentos de vida e paz:


“Como quando o cachalote ferido, que desenrolou da tina centenas de braças de arpoeira, depois de um profundo mergulho flutua de novo e mostra a corda frouxa e torcida erguendo-se a boiar e espiralando-se rumo á tona, assim Starbuck viu longos rolos do cordão umbilical de Madame Leviatã, com o qual o filhotinho ainda parecia amarrado à mãe. Não raro, nas rápidas vicissitudes da caça, esse cordão natural, com a extremidade materna solta, enrola-se na arpoeira de cânhamo, de modo que o filhote é assim capturado.”
(...)
No que se refere às tetas na fase da amamentação, “preciosas numa fêmea que aleite, são cortadas pela lança do caçador, o sangue e o leite que correm da mãe mancham à porfia o mar, por quinas de metros. O leite é muito doce e forte, tem sido provado pelo homem, iria bem com morangos.” 


Mas, não parece correta essa interpretação. 

Talvez porque Melville chamasse as baleias de “Leviatã” que na Bíblia seria um monstro de cujo “nariz procede fumo, como duma panela fervente, ou duma grande caldeira”.  O seu hálito faria acender os carvões e da sua boca sai chama.” (Jó 41.20-21).

É demais para uma linda baleia fazendo malabarismo com seus chafarizes e sons de pacificação em alto mar.