LIVRO 86
Essa obra de Graciliano Ramos (alagoano de Quebrangulo nascido em 1892 e falecido no Rio de Janeiro em 1953) foi bastante prestigiada, a ponto de ser adaptada, em 1972, para o cinema, filme dirigido por Leon Hirszman.
Trata-se, sobretudo, da história de um homem rude, Paulo Honório que o Autor assim se "qualifica", já no fim do romance:
"Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarraram com a brutalidade e o meu egoísmo."
Paulo Honório havia decidido escrever um livro sobre sua vida. estava com 50 anos e pesava 89 quilos. Mãos rudes que não eram próprias ao carinho, dizia.
Quanto ao seu livro, tentou dividir a tarefa com seus companheiros de sempre, padre Silvestre, João Nogueira, letrado e Lúcio Gondin, jornalista, diretor do jornal "Cruzeiro".
Essa parceria não deu certo.
Então o livro foi escrito por ele, curtindo a solidão de sua viuvez. Madalena, sua esposa teria se suicidado, mas não há detalhes sofre a morte da mulher.
Não há notícias de seus pais. Sem muita clareza, é revelado que ele fora criado pela velha Margarida que morava tranquilamente na sua fazenda São Bernardo.
Paulo assassinara um certo João Fagundes a facadas por um caso envolvendo a mulher Germana. Esteve preso por quase 4 anos.
Como adquiriu a fazenda São Bernardo? Estava abandonada e o herdeiro Luiz Padilha dela não cuidava, tinha vida desregrada, recebeu empréstimo de Paulo que por sua vez obtivera do agiota Pereira 100 mil reis. Não podendo Luiz Padilha pagar, com um pagamento complementar irrisório, Paulo Honório tornou-se proprietário da fazenda.
A partir daí, entra no grupo de "companheiros" o próprio Luiz Padilha que, de modo submisso, passou a trabalhar para Paulo Honório que o desprezava.
Então, a uma visita do governador na fazenda, este observara que não havia escola para o ensino básico.
Então, o mestre-escola designado por Paulo foi o próprio Luiz Padilha (!)
Havia uma pendência de divisas entre as terras do engenho de Mendonça e São Bernardo. A cerca na visão de Paulo Honório havia invadido áreas de sua propriedade. Depois de tratativas sem êxito, Mendonça foi assassinado a tiros.
Mas, havia comentários surdos de que a morte de Mendonça fora obra de Paulo Honório. Com a morte do vizinho desde logo reinstalou a cerca beneficiando sua propriedade.
Numa "seção livre" no jornal "A Gazeta", Paulo Honório foi chamado de assassino. Por isso, mesmo explicando que se tratava de matéria paga, Paulo Honório agrediu o jornalista Costa Brito dono do jornal.
Paulo desmentia o envolvimento com esse assassinato.
Há o relato de um arremedo de revolução da qual a ela aderem o padre Silvestre e ninguém menos que Luiz Padilha. Sobre esse tema "meio fora de esquadro" disse o Autor sobre São Paulo (o livro é de 1934, escrito após a Revolução Constitucionalista de 1932):
"São Paulo havia de se erguer, intrépidos, em São Paulo ardia o fogo sagrado, de São Paulo, terra de bandeirantes, sairiam novas bandeiras para a conquista da liberdade postergada."
O juiz dr. Magalhães, o único da comarca (Viçosa - Alagoas) tinha lá suas manias e o história deixa transparecer que ele não produzia muitas decisões.
Pois foi na casa do juiz que Paulo Honório se encantou pela loira Madalena, bonita, professora, culta, escrevia bem. Conhecera, também, a tia da jovem, dona Glória ledora de romances.
Não muito tempo depois, Paulo Honório e Madalena se casam.
Dá-se, então, aquele confronto próprio das diferenças de formação educacional,
Madalena criticava o marido pelo modo bruto como tratava os empregado até deixando-os à míngua.
Sendo educada e interessada em assuntos fora dos rigores da fazenda, passou a ajudar o guarda-livros Ribeiro na sua administração e, com o tempo passou a criar amizades na fazenda, mas nada além de amizade.
Na sua rudeza, Paulo Honório passou a sentir um ciúme doentio.
A página de um longo texto que Madalena escrevera escapou pela janela. Paulo leu, entendeu pouco e achou que estava ali a prova do adultério.
Mas, assim não era. Tratava-se de uma longa carta de despedida a ele à sua morte iminente.
O casal teve um filho. Paulo Honório não morria de amores por ele e o livro não dá um destino ao menino do ponto de vista da escolha da vida futura.
Dona Glória, tia de Madalena, já sem a sobrinha, um dia avisa que vai embora e vai.
A solidão bate forte e até mesmo a produção da fazenda, algodão, deixara de ter a comercialização de antes.
E com tudo isso o livro vai sendo escrito por Paulo Honório em meio ao chirriar arrepiante das corujas. Ele manda exterminá-las ao que parece mais por superstição. Não tenho por hábito interpretar passagens escritas pelo Autor, porque há o risco de pensar o que o ele não pensou.
É isso em 156 páginas, mas, claro que há mais do que essas linhas. Estas notas são um incentivo à leitura.
Se gostei do livro? Não.