Crônica inspirada
nos livros “São Francisco de Assis” do historiador francês Jacques Le Goff e “Francisco
de Assis” do escritor dinamarquês Johannes Joergensen.
Os princípios que
adotei foram desvendar aspectos históricos da vida do santo, modo de agir e sua
relação com os animais. O homem, o santo histórico.
Entre uma fonte e
outra há a confirmação de indícios de veracidade:
i.) A opção pela
pobreza radical do santo, vivendo de esmolas e da caridade; sua aparência era
de um “homem de aspecto muito desprezível e pequeno no tamanho”, passando por
um “vil pobrezinho para quem não o conhecia”;
ii.) Amigo de todas as criaturas, homens e animais,
irradiando aquele sentido fraternal, de amor e paz. Seguidor de Jesus Cristo.
Na sua famosa poesia “Cântico ao irmão Sol”, lá está: “Louvado sejas, Senhor,
com todas as tuas criaturas especialmente meu senhor irmão Sol...”
Neste trecho do livro de Johannes Joergensen é
destacado o amor de São Francisco "por todas as criaturas", pelo
animais, pelas flores, pelos pássaros. Para ele a cotovia era um pássaro
especial como veremos mas a frente:
“Todas as criaturas eram para ele palavras vivas de
Deus. Como todos os homens piedosos dava muito valor a todas as coisas e
respeitava-as como se se tratasse de autênticas preciosidades. A criatura fazia-lhe
compreender o Criador. Quando sentia a solidez inabalável e a força das rochas,
imediatamente sentia também e reconhecia a força de Deus e o apoio que ele é
para nós. A beleza de uma flor na frescura da manhã, ou os biquinhos abertos
com ingênua confiança num ninho de aves, tudo isso lhe revelava a pureza e a
beleza cândida de Deus, e a ternura do coração divino de onde tudo brotava.”
iii.) São Francisco
rejeitava o trabalho intelectual, posição que chegou a lhe criar dificuldades
perante parte dos seus seguidores que não concordavam com ela. Le Goff dá as
seguintes razões:
1. a ciência como
tesouro que desvia da privação que adotara e do estudo e prática dos
evangelhos;
2. necessidade de
livros que eram caros, luxo, contrapondo-se contra o voto de pobreza e
3. o saber como fonte de orgulho e de dominação, “que contraria a vocação da humildade”.
3. o saber como fonte de orgulho e de dominação, “que contraria a vocação da humildade”.
iv.) No que se refere à abstinência à carne como alimento
pelo santo, relata o autor Le Goff:
“No domínio
do ascetismo alimentar, Francisco, que disso não encontra traço no Evangelho,
defendia uma posição moderada. É lembrar-se da historinha de Giordano di Giano:
Francisco come carne com Pietro Cattani, quando chega um frade com as novas
constituições da Ordem, que proíbem comer carne. Reação de São Francisco:
“Comemos, como ensina o Evangelho, aquilo que põem diante de nós...” (V. Lucas 10.8)
O autor Johannes Joergensen não só confirma esse
relato como deixa entrever que São Francisco podia se alimentar de carne embora
se repreendesse com muita veemência.
Muito doente, sofrendo muito com as chagas de Cristo
que orara para delas sofrer, quase cego pela "doença dos olhos" que
adquirira em viagem ao Oriente, tendo como causa o clima egípcio, com
dificuldades para engolir teria dito: "Se tivesse um bocado de peixe, acho
que seria capaz de o comer."
Mas há, também este
tipo de auto-recriminação por ter comido galinha quando doente em outra
ocasião:
“Francisco censurava-se a si próprio por muitas infidelidades
que cometia contra Deus e não tentava escondê-las aos outros. Foi assim que,
tendo adoecido, consentiu em comer carne de galinha durante a doença. Mas, mal
se achou restabelecido, ouviram um frade que por ordem sua o arrastava, nu e
com uma corda ao pescoço, gritar à multidão: “Venham ver este glutão, um
miserável que comeu carne de galinha sem ninguém saber!” E como o povo louvava
ainda mais entusiasticamente a sua humildade, ordenou a outro frade que o
insultasse constantemente, para que, pelo menos desse lado, pudesse ouvir a
verdade a respeito. E eis que o frade, bem contra vontade, começou a a
chamar-lhe rústico, grosseiro, vadio inútil, e Francisco depois de o ter ouvido
com um sorriso deliciado, respondeu-lhe: “Que Deus te abençoe, meu querido
irmão, por essas palavras! Sim, é isso que precisa ouvir o filho de Pietro
Bernardone!”
O seu cuidado com a manutenção estrita da pobreza
fazia com que, nas refeições saborosas, as misturasse com cinzas para
neutralizar o seu sabor, mantendo sua renúncia a qualquer ostentação ou orgulho
mesmo com os alimentos cuja base era o pão.
A partir de certo período de vida, fazia milagres mas
se afastava do enaltecimento por essas manifestações divinas que dele emanavam.
Do livro
de Johannes Joergensen:
"No entanto, Deus quis que se ouvisse uma última saudação ao seu jogral divino, mesmo por cima da casa e por toda parte ali ao pé. Pois, mal se tinha extinguido para sempre a voz do santo, sentiu-se de repente no ar um frêmito sonoro: eram os fiéis amigos de São Francisco, as cotovias, que vinham dizer-lhe o seu último adeus."
Viveu de 1182 a 1226
falecendo em Assis, Itália.
No "Cântico do Sol":
Louvado sejas tu meu Senhor por nossa irmã a Morte corporal, porque nenhum homem vivo dela pode escapar...
Há ainda muito a conhecer sobre a
vida do santo.
O 'canto' da cotovia
A cotovia fora um pássaro contemplado por São Francisco - a irmã cotovia. Seu pipilar suave descansa a mente.
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