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terça-feira, 23 de setembro de 2025

AINDA ESTOU AQUI de Marcelo Rubens Paiva

 LIVRO 144




O que mais dizer deste livro que serviu de enredo para o filme do mesmo nome, que levou o Oscar de melhor filme internacional. O filme foi dirigido por Walter Salles Júnior, o mesmo diretor de "Central do Brasil" filme também bastante premiado.

O livro é autobiográfico em relação ao Autor, biográfico em relação ao pai, deputado federal Rubens Paiva, trucidado pela tortura nos órgãos de repressão (DOI — Destacamento de Operações de Informação no RJ) no auge do Ai-5, de 1968 e de sua mãe Eunice Paiva que se retraiu com o desaparecimento do marido, reagindo,  formando-se advogada e nessas suas atividades, teve forte influência nas ações pró direitos humanos e dos direitos indígenas com participação em encontros internacionais.

O livro também é um documento ao descrever os episódios políticos relevantes e os Atos Institucionais que iam endurecendo a ditatura e, também, peças dos processos que denunciaram os torturadores de Rubens Paiva.

Na autobiografia, foi o Autor bastante sincero. No tocante à sua mãe Eunice, nos seus tempos de infância e juventude, ressentiu-se da falta de afeto dela, situação que não melhorou com o passar dos anos, até mesmo nos primeiros tempos da doença (mal) de Alzheimer com a perda gradativa da memória mas demonstrando carinho pelo neto, filho do Autor.

No que se refere à doença de Alzheimer é dada relevância à evolução da doença valendo-se o Autor dos ensinamentos do médico Drauzio Varella, cada estágio irreversível que vai agravando o mal.

Mesmo na evolução da doença o Autor revela em episódios, que a mãe Eunice muitas vezes revelou que preferia ficar sozinha para desgosto dele.

Ele revela que na crise do desaparecimento do marido, que sua mãe nunca se mostrou angustiada ou deprimida mas altiva e sempre buscando a verdade sobre a prisão dele, que os órgãos oficiais garantiam estar ele vivo, fugitivo e paradeiro desconhecido.

O livro é de 2015 e se encerra com o estágio avançado da doença da mãe. Eunice faleceria três anos depois, em dezembro de 2018.

O deputado Rubens Paiva foi cassado em 1964 e a partir daí passou a exercer outras atividades e tinha participação, que se diga, light, no âmbito político. 

Ele foi preso em 1971, depois que agentes da repressão descobriram com Marilena Corona Franco, que voltava do Chile tendo contato com os lá exilados, uma correspondência endereçada a Rubens que, pelo telefone indicado era o do deputado cassado. 

Aquele homem risonho, a partir dai foi preso e torturado de modo brutal até sua morte, sempre negada pelos órgãos oficiais. 

Teria se dado o sepultamento e exumação do corpo, sendo, então, jogado no mar, segundo informações atuais, posteriores ao livro.

Possivelmente, fez parte da tortura a prisão de Eunice e sua filha Eliana levadas para o mesmo DOI:

"Você sabe, mamãe, porque foram levadas ao DOI? Ele não falava nada. Repetia o nome (... eu sou Rubens Paiva). Foi torturado no dia 20. Nada. Retomaram no dia 21. Com a filha e a mulher encapuzadas, sentadas num banquinho. Será que ele viu vocês? Como ele reagiria? O que ele faria, para impedir que encostassem em vocês? Qual seria a saída?"

A filha foi liberada no dia seguinte um dia depois. Eunice ficou detida por 12 dias.

A Lei dos Desaparecidos Políticos, de dezembro de 1995 sancionada por FHC ensejou que fosse emitido o atestado de óbito de Rubens Paiva o que permitiu todos os atos civis a partir desse documentos, incluindo ação indenizatória contra a União. (*)

Relata o Autor que, recebido o atestado de óbito, Eunice chorou copiosamente, sem lágrimas, como nunca havia chorado.

Fora ela a heroína que a tudo suportou e a tudo superou.

Diz o Autor que para muitos, seu pai foi um herói que não fugiu da luta mas todo o sofrimento poderia ter sido evitado se tivesse seguido com a família para o exílio...


Foi um tempo tenebroso, triste, difícil de acreditar que os órgãos de repressão chegassem a esse nível de violência em seus porões cujo odor ainda se faz presente. Quem autorizou esses excessos?

(*) Notícia da imprensa d3 27.09.2025 infoma que novo atestado de óbito está sendo providenciado, dando a verdadeira "causa mortis": "Morte violenta causada pelo Estado no contexto do regime ditatorial instaurado em 1964".


NOTA DE DIVULGAÇÃO

AINDA ESTOU AQUI de Marcelo Rubens Paiva

O que mais dizer sobre esse livro que inspirou o filme premiado?

O livro se apresenta com a autobiografia do Autor, a biografia do deputado cassado Rubens Paiva, violentamente torturado em 1971 até a morte no DOI do RJ, negada, então, pelos órgãos oficiais e de sua mãe que nunca se deixou abater. Formou-se em direito, tornando-se influente na luta pelos direitos humanos e dos indígenas.

Ela foi afetada pela doença de Alzheimer e foi perdendo de modo irreversível, sua memória entre outras decorrências. 

Em 1996 obteve o atestado de óbito do marido, se emocionou muito e a partir daí pode tomar medidas de natureza civil, inclusive ação indenizatória contra a União.

Foi um tempo tenebroso, difícil de acreditar. A tortura chegar a esse nível de violência nos porões fétidos da repressão.

Acessar: 

https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2025/09/ainda-estou-aqui-de-marcelo-rubens-paiva.html




segunda-feira, 8 de setembro de 2025

SINCRONICIDADE de Carl Gustav Jung

UM PRINCÍIO DE CONEXÕES ACASUAIS 

LIVRO 143













EXPLICAÇÃO INDISPENSÁVEL

Até dias atrás eu nunca ouvira sequer falar em sincronicidade se bem, no dia a dia, esse fenômeno se manifesta imperceptível.

Quem se referiu à sincronicidade foi meu filho Otávio. Deu-se o seguinte:

Quando editava meu livro "Biografia de uma vida comum", embora muito de ficção, nem tudo era ficção. E foi nesse ponto que minha angústia exaltava porque teria que fazer revelações muito caras para mim. Mas, pensava: se se propõe a ser escrito ou você escreve ou não escreve.

Nessa angústias do escreve ou não escreve, entre outros, aconteceu um fenômeno inexplicável: um armário de roupas, de madrugada se abriu "espontaneamente", coisa impossível de acontecer. Lá estavam as roupas de meus tempos, até há pouco, de uso da "advocacia".

Depois desse evento inexplicável, "que se abra o armário das memórias", resolvi publicar o livro que poderia estar melhor editado mas, antes, consultei o I Ching - O Livro das Mutações atirando as três moedas dando-se "aconselhamentos" favoráveis ao lançamento do livro.

Jung bom que se diga, prefaciou a edição alemã do I Ching e na obra "Sincronicidade" também se refere ao "Livro das mutações".

E mais:

Eu me dou bem com a solidão mas constatava que muitos de minha geração já tinham "mudado de lado". E pontificava a perda de amigos de longa data, nesse processo inexorável da existência.

E, dizia, estou na solidão. 

Não demorou muito é um antigo amigo da Chrysler de Santo André, que mora no Mato Grosso do Sul, precisando viajar ao ABC, me telefonou dizendo que me fará uma visita.

Outra situação acasual: dois veículos, o segundo acompanhando o primeiro porque o motorista não conhecia o trajeto. Há uma dispersão num farol. O segundo segue um caminho alternativo que não era o indicado, volta e encontra o primeiro veiculo parado numa rua secundária, com problemas no câmbio. Com o reencontro, o motorista do primeiro veículo mais tranquilo aciona o carro. Experimenta. Em poucos metros de movimento desaparece o defeito no câmbio.

C. G. Jung

Nascido na Suíça em 26 de julho de 1875 e falecido no seu país em 6 de junho de 1961.

Psiquiatra e psicoterapeuta, instituidor da psicologia analítica, influente nas áreas de psiquiatria, psicologia, filosofia... autor de uma vasta obra de sua especialidade, influenciou e foi influenciado por Freud.


Na contracapa do pequeno volume, se lê que,

"Ao escrever este trabalho, Jung estava cumprindo uma promessa que por muitos anos não teve coragem de realizar."

E eu na minha ignorância absoluta, nunca havia pensado nessa circunstância de eventos que nada tem um com outro mas que tem, ao que o autor qualifica de eventos acasuais.

Entre os exemplos que ele menciona na sua obra, aquele que ele mais cita é este: 

A jovem paciente pretendia sempre saber o melhor, dominar e sua formação lhe permitia assim agir.

Não deram certo as tentativas que ela agisse diferente, com um pensamento mais humano. Então, Jung esperava que algum evento novo ocorresse que permitisse que ela mudasse esse modo de ser.

Numa noite ela sonhou que havia recebido de presente um escaravelho de ouro (uma joia). Na manhã seguinte, na sessão com a jovem, o Autor ouviu tênues batidas no vidro de sua janela parecendo querer adentrar ao ambiente interno. Jung abriu a janela e conseguiu pegar o "animalzinho" no ar, um besouro-rosa comum, "cuja cor verde dourada torna-o muito semelhante ao um escaravelho de ouro."

E Jung diz à paciente: 

"Está aqui o seu escaravelho". E explica: "Este acontecimento abriu a brecha desejada no seu racionalismo, e com isso rompeu-se o gelo de sua resistência intelectual. O tratamento pôde ser conduzido com êxito",

São coincidências não casuais mas acasuais, isto é, eventos que se ligam a um outro sem que se identifique uma conexão dando-se, então, a sincronicidade.

Jung tenta facilitar a compreensão, como neste trecho, entre outros:

"Convém chamar a atenção para um possível mal-entendido que pode ser ocasionado pelo termo "sincronicidade". Escolhi este termo, poque  aparição simultânea de dois acontecimentos, ligados pela significação, mas sem ligação causal, me pareceu um critério decisivo. Emprego, pois, aqui, o conceito geral de sincronicidade, no sentido especial de coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo..."

"Por esse motivo, em princípio, os fenômenos da sincronicidade não podem ser associados a qualquer conceito de causalidade. A conexão entre fatores significativamente  coincidentes deve ser necessariamente concebida como acausal".

"Foram a psicologia moderna e a parapsicologia que provaram que a causalidade não explica uma determinada classe de acontecimentos e que, neste caso, é preciso levar em conta um fator formal. isto é, a sincronicidade, como princípio de explicação".


I Ching

O "I Ching, o Livro das Mutações" teve origem, segundo o prefácio à edição brasileira no período anterior à dinastia Chou (1150-249 a.C) atribuído a quatro autores, entre eles, Confúcio.

Jung fez o prefácio dolivro e entre suas observações, diz que 

"A mente chinesa, como a vejo trabalhando no I Ching, parece preocupar-se exclusivamente com o aspecto casual dos acontecimentos. O que chamamos coincidência parece ser o interesse primordial desta mente peculiar e o que cultuamos como causalidade passa quase despercebido".










E diz Jung, na sua obra "Sincronicidade" sobre o I Ching:

"O I Ging (variável de I Ching), este fundamento — poderíamos dizer experimental — da Filosofia chinesa clássica, é um método usado desde tempos imemoriais para apreender uma situação de globalidade e assim colocar o problema dos detalhes no grande quadro das inter-relações do Yang e do Yin". (*)

E mais em nota de rodapé de um discurso que proferiu:

"A ciência do I Ching se baseia, não no princípio da causalidade, mas por um princípio até agora não nomeado — porque não surgiu entre nós — que, a título de ensaio, designei como princípio sincronístico". 

"O método se baseia, como todas as técnicas divinatórias ou intuitivas, no principio da conexão sincronística ou acausal".

Eu consultei muito o I Ching — agora menos —, com o uso de três moedas. O lado "cara" ou "coroa" uma vale 2 e a outra 3. E jogando sobre a mesa por seis vezes, monta-se o um exagrama no qual dá-se a resposta à indagação feita. De regra, em alguma ou algumas linhas há referências à consulta feita. E para consultas descabidas o hexagrama 4 que revela à inconveniência da abordagem.

Muitas vezes  I Ching deu-me alguma indicação. 

Outras análises de Jung:

ESP (Extra Sensory Perception) - Percepção Extrassensorial: referências a experiências de Rhine que fez experiências com cartas pelas quais o colaborador responderia o desenho de cada uma delas. Se ultrapassasse um número de acertos, seria PES. Mas, essa experiência não tem boa receptividade entre cientistas. 

Astrologia: diz Jung que há ausência de critério seguro "para determinar os traços de caráter, nos mostra que a coincidência entre a estrutura horoscópica e o caráter postulado pela Astrologia, não pode ser aplicada à finalidade aqui em discussão".

Mas, ele aceita um fato absolutamente indubitável para se valer da Astrologia, a união matrimonial entre duas pessoas. 

Mas, confesso que não me dei bem em entender essa conexão astrológica-matrimonial.

E, então

"Por mais incompreensível que isto pareça nós nos vemos, afinal, forçados a admitir que há no inconsciente, uma espécie de conhecimento ou "presença" a priori de acontecimentos sem qualquer base casual. Em qualquer caso, nosso conceito de causalidade e incapaz de explicar os fatos".

E eu concluo:

Esses eventos que se qualificam como sincronicidade estão no nosso dia a dia e, de regra, passam despercebidos.

Foi bom para mim ser alertado disso? Não sei, mas é possível que daqui por diante se prestar atenção aos eventos foi querer definir o que é causalidade e acausalidade.


(*) Yin e Yang: Visão geral criada por IA 


Yin é o princípio feminino, passivo, escuro e da terra, enquanto o Yang é o masculino, ativo, claro e do céu. Essas energias, representadas na imagem, não são antagonistas, mas interdependentes e essenciais para o equilíbrio e harmonia de todas as coisas, inclusive o universo, pelo que uma não existe sem o outro. 





NOTA  DE DIVULGAÇÃO

Livro 143

SINCRONICIDADE de Carl Gustav Jung

Eu nunca ouvira falar de Sincronicidade que o psiquiatra Carl C. Jung explanaria nesse pequeno livro.

Sincronicidade, segundo Jung, são eventos relacionados a uma situação qualquer, mas não casual, pelo que ele chama de acasual.

Eu mesmo dei exemplos de eventos acasuais, estranhos, alguns que parecem coincidência mas que não se explicam como mera coincidência pelo que seriam situações de sincronicidade.

"Foram a psicologia moderna e a parapsicologia que provaram que a causalidade não explica uma determinada classe de acontecimentos e que, neste caso, é preciso levar em conta um fator formal. isto é, a sincronicidade, como princípio de explicação".

Jung se refere às consultas ao I Ching - O livro das mutações. e os resultados que oferece aos consulentes. Na maioria das vezes significativos. Desde há muito eu "consulto" o I Ching,

Acessar: https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2025/09/sincronicidade-de-carl-gustav-jung.html