O
Livro de Mario Vargas Lhosa é um “tijolo”, um “pacote” com
790 páginas.
Diz
o Autor no prólogo que o romance é inspirado em “Os Sertões”
de Euclides da Cunha após ter conhecido a obra em 1972.
Para
escrever seu livro Lhosa informa que fez pesquisas em Londres e
Washington, em Salvador e Rio de Janeiro e andanças escaldantes
pelos sertões da Bahia e Sergipe.
Com
tais pesquisas conseguiu localizar em sua obra, os locais remotos,
proximidades que onde se deram os eventos de Canudos e, nesse meio,
desenvolveu o romance.
Essa pesquisa se constitui num trabalho surpreendente e excepcional.
Essa pesquisa se constitui num trabalho surpreendente e excepcional.
Ele
situa sua história nos episódios nas quatro expedições militares
que se propuseram a pôr fim ao aglomerado de Canudos, a Antônio
Conselheiro e seus seguidores.
Antônio
Conselheiro fora uma figura incomum. Magro, cabelos compridos,
chegando aos ombros, olhos fundos, de sandálias, vestindo túnica
azul abraçara o catolicismo à sua maneira, transitando por aqueles
sertões por anos reformando igrejas e cemitérios e com o passar do
tempo foi obtendo seguidores.
Tudo isso tendo como uma das causas o adultério de sua esposa que fugiu com um militar.
Tudo isso tendo como uma das causas o adultério de sua esposa que fugiu com um militar.
Instalou-se
em Canudos.
Canudos
era monarquista. A República era o anticristo por tudo que modificava.
O
primeiro combate se dera por causa dum boato de invasão dos jagunços
de Antônio Conselheiro em Juazeiro porque Canudos havia comprado e
pago madeira para construção de uma igreja, material que não fora
entregue.
A
ameaça da invasão dos jagunços resultou na organização de
pequena expedição de soldados para destruir Canudos, mas destroçada
inapelavelmente no combate.
A
crise se agrava após o fracasso da 3ª expedição na qual fora
vítima fatal o conceituado (e epiléptico) coronel Moreira Cesar,
famoso pela sua truculência e atos heroicos.
Aos
primeiros combates, para vergonha do coronel que ainda vivia mesmo
com o grave ferimento a bala na barriga, houve a recuo de suas tropas
e muitas deserções.
Por
isso, no Rio de Janeiro houve empastelamento de jornais monárquicos,
iniciando-se, então, a organização de nova campanha, desta vez que reuniu cerca de seis mil soldados.
As
derrotas anteriores das forças oficiais têm explicações: o
terreno acidentado e difícil de suplantar naqueles sertões, a seca
e até a fome e a sede um inimigo sempre presente nas incursões.
Do
lado de Antônio Conselheiro a defesa de Belo Monte - Canudos,
deveu-se à união de jagunços regenerados após ouvir os conselhos
do “santo” que conheciam de sobejo a região, a caatinga e o que
o terreno inóspito poderia ajudar nos ataques de surpresa às
tropas.
Alguns
desses jagunços, Lhosa explora e romanceia na obra:
. Pajeú,
um bandido perigoso, “de bravura inexcedível e ferocidade rara”,
nas expressões de Euclides da Cunha e também
. João
Abade, astuto que assassinara a noiva fugindo do liceu onde estudava,
tornando-se na defesa de Canudos o seu estrategista, o “comandante
da rua”.
[Há outros personagens reais mencionados pelo Autor].
Com
os casebres precários de Canudos e a certeza da acolhida muitos
sertanejos miseráveis para lá buscava proteção para assumir uma
vida religiosa ouvindo o venerado Antônio Conselheiro.
A
resistência foi tanta que como disse Euclides, “Canudos não se
rendeu”.
A
tragédia debitou milhares de mortos de lado a lado. Por fim, Canudos
foi invadida por milhares de soldados, destroçada a poder de obuses de canhões e mortos todos
os seus inquilinos, ato classificado como verdadeiro genocídio.
Antônio
Conselheiro, falecera dias antes, de disenteria.
Seu corpo foi sepultado,
exumado pelas forças oficiais e sua cabeça (cérebro) encaminhado para exame
científico. Nada fora encontrado de relevante...
→ O Livro de Mario Vagas Lhosa é inspirado em 'OS SERTÕES" de Euclides da Cunha. Para um ideia do relato de "Os Sertões" acessar resenha n° 6.
É
nesse ambiente que se desenrola a obra de Mario Vargas Lhosa.
E
ele descreve bem a angústia dos moradores de Canudos, naqueles
barracos quase sem espaço entre um e outro, pequenos corredores e
becos., a marca da precariedade.
O
Autor, no meu modo de analisar a obra ficou muito mais tempo no
ambiente de Canudos sempre sob ameaça e menos no ambiente das forças
oficiais que tentavam destruir a “comunidade”.
Os
personagens fictícios de Llosa que interagiram com a realidade de
Euclides:
GALILEO
GALL, escocês, seguidor das ideias de Proudhon e Bakunin,
anarquista, acreditava no fim da religião com a revolução que
libertaria a “sociedade dos seus flagelos”.
Para
manter absoluta consciência dessa luta revolucionária, deveria
abster-se do sexo de tal maneira que a mente se voltasse com mais
energia a esses ideais revolucionários.
Desembarca
na Bahia e não demora a saber da comunidade de Canudos.
Pensa
que, mesmo com o timbre religioso que a sustem, poderia ser Canudos a
demonstração de sua crença política, um local sem governo, que
despreza o dinheiro da República e todos viviam em verdadeira
comunidade.
Pensando
que fosse inglês ou fazendo acreditar que fosse, o Partido
Republicano Progressista, engendrando uma conspiração, pretendendo
“provar” que Canudos era sustentado pela monarquia inglesa,
contrata Gall para fazer um carregamento de armas inglesas até lá, acusando-o mais tarde de ser um agente da Inglaterra.
RUFINO:
seria seu guia até Canudos, mas assumira outra missão, adiando o
compromisso com Gall. Este fica a sua espera em sua casa de pau a
pique.
Passa
um tempo e Gall violenta Jurema, esposa de Rufino.
Tem
sentimentos de ter perdido parte de seu ideal porque se rendeu ao
sexo.
Logo
após, o presidente do Partido Republicano envia asseclas para
assassinar Gall para provar que ele dispunha de armas inglesas e
nessa circunstância propagando a efetiva participação da
Inglaterra monárquica nas bases de Canudos.
Jurema
o salva porque a vingança deveria vir de seu marido desonrado
Rufino.
Os
dois se encontram. Gall minimiza a violação sexual, enquanto Rufino
busca sua honra.
Nessa
luta ambos morrem abraçados com tiros de um militar maltrapilho.
E
desaparecem na história.
JUREMA, O
JORNALISTA MÍOPE e ANÃO:
Jurema
após série de dificuldades segue para Canudos ao lado do jornalista
míope que lá estava para acompanhar os acontecimentos da quarta
expedição por conta do “Jornal de Notícias” que pertencia ao
político Epaminondas Gonçalves do Partido Republicano Progressista,
Nasce
aí uma relação de amor de mãe para filho um pouco mais do que isso, especialmente depois
que o jornalista teve seus óculos quebrados e é conduzido por ela
naqueles terrenos acidentados.
Lhosa
inclui na sua história uma espécie de remanescentes de circo de
Cigano mambembe que apresentava a mulher barbuda, o Anão, gigante
Pedrim e outros que se perdem na história.
Apenas
o Anão permanece e se liga a Jurema e ao jornalista.
O
trio se protege, mas é Jurema a força da sobrevivência deles nas
batalhas em Canudos.
Jurema e seus protegidos se desesperam quando Pajeú informa a Jurema que pretende com ela se casar. Mas, esse casamento não se realiza porque Canudos é destruída.
Jurema e seus protegidos se desesperam quando Pajeú informa a Jurema que pretende com ela se casar. Mas, esse casamento não se realiza porque Canudos é destruída.
Salva-se
o jornalista, mas o romance não revela os destinos de Jurema e do
Anão aos quais estava intimamente ligado.
[Lhosa
também descreve sua Quasímodo, personagem de “O Corcunda de Notre
Dame”, livros de Victor Hugo, criando o personagem Leão de Natuba,
pequeno monstro que andava de quadro, cabeça enorme, curvado mas
muito inteligente que aprendera a lei sem qualquer ajuda muito
protegido por Antônio Conselheiro].
Outros
personagens:
PADRE JOAQUIM:
Padre aliado de Canudos, pai de filhos mas que rezava missas na localidade de Antônio Conselheiro e que pegou em armas para defender a comunidade.
PADRE JOAQUIM:
Padre aliado de Canudos, pai de filhos mas que rezava missas na localidade de Antônio Conselheiro e que pegou em armas para defender a comunidade.
BARÃO
DE CANABRAVA E SUA ESPOSA ESTELA:
Político
do Partido Autonomista da Bahia, oposição ao Partido Republicano
Progressista, acusado por este de conspirar contra a República.
Depois,
o barão se reconcilia politicamente com Epaminondas Gonçalves.
Ele
era dono da área de Canudos.
A
fazenda de Calumbi, de sua propriedade, que produzia, tinha
empregados, com prévio aviso de Pajeú foi incendiada porque a terra
“tinha que ser purificada”.
Sua
amada esposa Estela, entre em colapso e perde a razão, traumatizada
pela fazenda incendiada.
O
livro tem MUITO MAIS do que isso nas suas 790 páginas.
|Acessar programa Literatura e Direito que debate o livro de Mario Vargas Llosa : https://www.conjur.com.br/2014-jun-27/guerra-fim-mundo-escritor-peruano-mario-vargas-llosa
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