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domingo, 16 de setembro de 2018

A GUERRA DO FIM DO MUNDO de Mario Vargas Llosa

LIVRO 50



O Livro de Mario Vargas Lhosa é um “tijolo”, um “pacote” com 790 páginas.

Diz o Autor no prólogo que o romance é inspirado em “Os Sertões” de Euclides da Cunha após ter conhecido a obra em 1972.

Para escrever seu livro Lhosa informa que fez pesquisas em Londres e Washington, em Salvador e Rio de Janeiro e andanças escaldantes pelos sertões da Bahia e Sergipe.

Com tais pesquisas conseguiu localizar em sua obra, os locais remotos, proximidades que onde se deram os eventos de Canudos e, nesse meio, desenvolveu o romance.

Essa pesquisa se constitui num trabalho surpreendente e excepcional.

Ele situa sua história nos episódios nas quatro expedições militares que se propuseram a pôr fim ao aglomerado de Canudos, a Antônio Conselheiro e seus seguidores.

Antônio Conselheiro fora uma figura incomum. Magro, cabelos compridos, chegando aos ombros, olhos fundos, de sandálias, vestindo túnica azul abraçara o catolicismo à sua maneira, transitando por aqueles sertões por anos reformando igrejas e cemitérios e com o passar do tempo foi obtendo seguidores.

Tudo isso tendo como uma das causas o adultério de sua esposa que fugiu com um militar.

Instalou-se em Canudos.

Canudos era monarquista. A República era o anticristo por tudo que modificava.

O primeiro combate se dera por causa dum boato de invasão dos jagunços de Antônio Conselheiro em Juazeiro porque Canudos havia comprado e pago madeira para construção de uma igreja, material que não fora entregue.

A ameaça da invasão dos jagunços resultou na organização de pequena expedição de soldados para destruir Canudos, mas destroçada inapelavelmente no combate.

A crise se agrava após o fracasso da 3ª expedição na qual fora vítima fatal o conceituado (e epiléptico) coronel Moreira Cesar, famoso pela sua truculência e atos heroicos.

Aos primeiros combates, para vergonha do coronel que ainda vivia mesmo com o grave ferimento a bala na barriga, houve a recuo de suas tropas e muitas deserções.

Por isso, no Rio de Janeiro houve empastelamento de jornais monárquicos, iniciando-se, então, a organização de nova campanha, desta vez que reuniu cerca de seis mil soldados.

As derrotas anteriores das forças oficiais têm explicações: o terreno acidentado e difícil de suplantar naqueles sertões, a seca e até a fome e a sede um inimigo sempre presente nas incursões. 

Do lado de Antônio Conselheiro a defesa de Belo Monte - Canudos, deveu-se à união de jagunços regenerados após ouvir os conselhos do “santo” que conheciam de sobejo a região, a caatinga e o que o terreno inóspito poderia ajudar nos ataques de surpresa às tropas.

Alguns desses jagunços, Lhosa explora e romanceia na obra:

. Pajeú, um bandido perigoso, “de bravura inexcedível e ferocidade rara”, nas expressões de Euclides da Cunha e também

. João Abade, astuto que assassinara a noiva fugindo do liceu onde estudava, tornando-se na defesa de Canudos o seu estrategista, o “comandante da rua”.

[Há outros personagens reais mencionados pelo Autor].

Com os casebres precários de Canudos e a certeza da acolhida muitos sertanejos miseráveis para lá buscava proteção para assumir uma vida religiosa ouvindo o venerado Antônio Conselheiro.

A resistência foi tanta que como disse Euclides, “Canudos não se rendeu”.

A tragédia debitou milhares de mortos de lado a lado. Por fim, Canudos foi invadida por milhares de soldados, destroçada a poder de obuses de canhões e mortos todos os seus inquilinos, ato classificado como verdadeiro genocídio.

Antônio Conselheiro, falecera dias antes, de disenteria. 

Seu corpo foi sepultado, exumado pelas forças oficiais e sua cabeça (cérebro) encaminhado para exame científico. Nada fora encontrado de relevante...


O Livro de Mario Vagas Lhosa é inspirado em 'OS SERTÕES" de Euclides da Cunha. Para um ideia do relato de "Os Sertões" acessar resenha n° 6.

É nesse ambiente que se desenrola a obra de Mario Vargas Lhosa.

E ele descreve bem a angústia dos moradores de Canudos, naqueles barracos quase sem espaço entre um e outro, pequenos corredores e becos., a marca da precariedade.

O Autor, no meu modo de analisar a obra ficou muito mais tempo no ambiente de Canudos sempre sob ameaça e menos no ambiente das forças oficiais que tentavam destruir a “comunidade”.

Os personagens fictícios de Llosa que interagiram com a realidade de Euclides:

GALILEO GALL, escocês, seguidor das ideias de Proudhon e Bakunin, anarquista, acreditava no fim da religião com a revolução que libertaria a “sociedade dos seus flagelos”. 

Para manter absoluta consciência dessa luta revolucionária, deveria abster-se do sexo de tal maneira que a mente se voltasse com mais energia a esses ideais revolucionários.

Desembarca na Bahia e não demora a saber da comunidade de Canudos. 

Pensa que, mesmo com o timbre religioso que a sustem, poderia ser Canudos a demonstração de sua crença política, um local sem governo, que despreza o dinheiro da República e todos viviam em verdadeira comunidade.

Pensando que fosse inglês ou fazendo acreditar que fosse, o Partido Republicano Progressista, engendrando uma conspiração, pretendendo “provar” que Canudos era sustentado pela monarquia inglesa, contrata Gall para fazer um carregamento de armas inglesas até lá, acusando-o mais tarde de ser um agente da Inglaterra.

RUFINO: seria seu guia até Canudos, mas assumira outra missão, adiando o compromisso com Gall. Este fica a sua espera em sua casa de pau a pique.
Passa um tempo e Gall violenta Jurema, esposa de Rufino.

Tem sentimentos de ter perdido parte de seu ideal porque se rendeu ao sexo.

Logo após, o presidente do Partido Republicano envia asseclas para assassinar Gall para provar que ele dispunha de armas inglesas e nessa circunstância propagando a efetiva participação da Inglaterra monárquica nas bases de Canudos.

Jurema o salva porque a vingança deveria vir de seu marido desonrado Rufino.

Os dois se encontram. Gall minimiza a violação sexual, enquanto Rufino busca sua honra.

Nessa luta ambos morrem abraçados com tiros de um militar maltrapilho.

E desaparecem na história.

JUREMA, O JORNALISTA MÍOPE e ANÃO:

Jurema após série de dificuldades segue para Canudos ao lado do jornalista míope que lá estava para acompanhar os acontecimentos da quarta expedição por conta do “Jornal de Notícias” que pertencia ao político Epaminondas Gonçalves do Partido Republicano Progressista,

Nasce aí uma relação de amor de mãe para filho um pouco mais do que isso, especialmente depois que o jornalista teve seus óculos quebrados e é conduzido por ela naqueles terrenos acidentados.

Lhosa inclui na sua história uma espécie de remanescentes de circo de Cigano mambembe que apresentava a mulher barbuda, o Anão, gigante Pedrim e outros que se perdem na história.

Apenas o Anão permanece e se liga a Jurema e ao jornalista.

O trio se protege, mas é Jurema a força da sobrevivência deles nas batalhas em Canudos.

Jurema e seus protegidos se desesperam quando Pajeú informa a Jurema que pretende com ela se casar. Mas, esse casamento não se realiza porque Canudos é destruída.

Salva-se o jornalista, mas o romance não revela os destinos de Jurema e do Anão aos quais estava intimamente ligado.

[Lhosa também descreve sua Quasímodo, personagem de “O Corcunda de Notre Dame”, livros de Victor Hugo, criando o personagem Leão de Natuba, pequeno monstro que andava de quadro, cabeça enorme, curvado mas muito inteligente que aprendera a lei sem qualquer ajuda muito protegido por Antônio Conselheiro].

Outros personagens:

PADRE JOAQUIM:

Padre aliado de Canudos, pai de filhos mas que rezava missas na localidade de Antônio Conselheiro e que pegou em armas para defender a comunidade.

BARÃO DE CANABRAVA E SUA ESPOSA ESTELA:

Político do Partido Autonomista da Bahia, oposição ao Partido Republicano Progressista, acusado por este de conspirar contra a República.

Depois, o barão se reconcilia politicamente com Epaminondas Gonçalves.

Ele era dono da área de Canudos.

A fazenda de Calumbi, de sua propriedade, que produzia, tinha empregados, com prévio aviso de Pajeú foi incendiada porque a terra “tinha que ser purificada”.

Sua amada esposa Estela, entre em colapso e perde a razão, traumatizada pela fazenda incendiada.



O livro tem MUITO MAIS do que isso nas suas 790 páginas.


|Acessar programa Literatura e Direito que debate o livro de Mario Vargas Llosa : https://www.conjur.com.br/2014-jun-27/guerra-fim-mundo-escritor-peruano-mario-vargas-llosa


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