Livro 67
Esse livro ou os dois livros são de meados da década de 50. Não é novo, mas ao lê-lo, fiz minhas reflexões situando-o nestes tempos atuais conturbados.
Desde logo vou informando que o Autor se submeteu à experiência de ingerir mescalina, um subproduto do peiote (peyote), um cactus baixo, sem espinhos, que se enfeita com uma flor rosa, muito conhecido no México. Mas, pela exploração comercial, a planta está ameaçada de desaparecer.
Aldous Huxley é o Autor do livro sempre lembrado, "Admirável Mundo Novo" que faz parte deste meu acervo (*).
Por sua vez, o livro "Admirável Mundo Novo" foi escrito no começo da década de 30 e o Autor já demonstrava interesse pelas drogas "recuperadoras da alma", naquele ambiente fechado do mundo novo controlado que imaginou e, para isso, existia a droga "soma":
O "soma" era a droga contra todos os males da "alma": da angústia, da depressão, da tristeza, da dúvida. Uma dose da droga anestesiava a mente do usuário, sobrevindo um estado de euforia, de felicidade, sem os mal estares de outras drogas quando passasse seu efeito.
Então, falando em "outras drogas", segundo o Autor, a mescalina produzia seus efeitos alucinógenos por um certo tempo e não viciava como o cigarro, a maconha, a cocaína e o crack, todos esses, drogas com graus de vício moderado ou trágico à vida e ao psiquismo dos viciados, destacando-se como devastador em todos os sentidos, o crack.
Ao consumir a mescalina é transportado o Autor para uma "região" a que denominou "outro mundo".
Sob os efeitos da droga descreve um simples vaso de flores sem atrativo, que passou a ver, "agora, aquilo mesmo que Adão vira no dia de sua criação - o milagre do inteiro desabrochar da existência, em toda sua nudez"
Um "ramalhete de flores a brilhar com sua própria luz interior..."
Explica Huxley que "o cérebro é dotado de um certo número de sistema enzimático que serve para coordenar seu funcionamento."
A mescalina, inibindo a produção dessas enzimas, diminui a quantidade de glicose" no cérebro gerando estas reações:
> Não afeta a capacidade de lembrar-se e de raciocinar corretamente;
> A capacidade de visão é intensificada. O interesse pelo espaço diminui e importância do tempo cai quase a zero;
> O intelecto nada sofre e a percepção é aumentada, mas a vontade é afetada e o individuo que ingeriu a mescalina não vê razão para fazer seja o que for. E deixa de ser uma preocupação nesse estágio porque passa a ter melhores coisas para pensar;
> As melhores coisas com a mescalina, podem ser aproveitadas, como diz o Autor, "lá fora, aqui dentro ou em ambos os mundos - o interior e exterior simultaneamente ou sucessivamente."
Há pessoas que sob os efeitos da droga apreendem que TUDO está em todas as coisas ampliando a possibilidade da mente em "aperceber-se de tudo o que está acontecendo em qualquer parte do universo."
Esses são os efeitos básicos da mescalina.
O Autor também envereda para a pintura de certos artistas que em seus quadros parecem alcançar as cores e precisões desse outro mundo. Não se refere a Leonardo Da Vinci que por tudo o que deixou especialmente suas obras primas, em qual escala do "outro mundo" teria agido. (**)
Esses artistas podem ter obtido imagens que o observador atento percebe se situar no "outro mundo" que diz respeito dos "antípodas de sua própria mente". [antípoda: do outro lado, do lado oposto].
Refere-se à música, o enlevo que provocava sob os efeitos da mescalina mas há revelação interessante sobre a esquizofrenia. Sob os efeitos da droga, diz ele, os pacientes "experimentam apenas as sensações celestiais da esquizofrenia".
Mas, a esquizofrenia, num estágio ainda intermediário, num momento de lucidez pode captar imagens de grande beleza nesse "outro mundo", mas muitos esquizofrênicos "passam a maior parte de seu tempo em um lugar que não é a terra, o céu, nem tampouco o inferno, mas sim um mundo cinzento e umbroso, povoado de fantasmas e quimeras".
CÉU E INFERNO
No segundo livro do mesmo volume, o "Céu e o Inferno" o Autor passa a se referir sobre supostas manifestações humanas que vão progredindo na busca da luz (de iluminação ambiental), a luz de vela substituída por tipo mais eficiente de iluminação, o fogo como manifestação de luz - elemento de meditação -, as obras de arte com cores incomuns que não podem ter sido captadas neste mundo, mas no "outro mundo".
O jejum pelos efeitos que produz no cérebro desnutrido, pode gerar os mesmos efeitos de visões fantásticas, nos padrões do consumo da mescalina.
O brilho das pedras preciosas que sempre encantam os seres humanos e os jardins:
"Deus primeiro plantou um jardim". Essa afirmação encerra uma profunda verdade psicológica." A floricultura tem sua origem no "outro mundo."
Destaca o Autor, terras maravilhosas dos "outro mundos", perfeitas, cheias de lagos, vegetação, de luz e de ouro.
O uso do vidro inspirou outras magníficas manifestações artísticas como se conhece na Catedral de Chartres - França, os seus vitrais:
Mas, por fim, a iluminação elétrica. Pergunta-se a propósito, em que escala do "outro mundo" transitou Nikola Tesla tanta sua engenhosidade nessa matéria.
Nestes tempos o Autor que até divaga sobre a iluminação com base em sua experiência com a mescalina pode-se mencionar Nova York como referência às luzes intensas que a caracterizam, encanto dos turistas.
O Autor, então, revela que até aquele momento se dedicara à experiência visionária bem-aventurada de sua experiência com a mescalina, referindo-se à teologia e a arte como manifestações, digamos, "celestes", desse "outro mundo".
Mas, no tocante ao inferno, a mescalina terá efeito perverso quando o paciente apresenta emoções negativas, falta de confiança, o ódio, a ira e a maldade - "que elimina o amor" - fazem a experiência se tornar aterradora.
Vou concluindo, lembrando Carlos Castaneda nos seus livros que discorrem sobre o uso do "mescalito" - de uso corrente entre indígenas no México - sendo o Autor, orientado pelo bruxo Dom Juan.
No seu livro "A Erva do Diabo" - o nome já se apresenta significativo - entre o que pode ser ficção ou realidade, sua experiência com o mescalito - assim denominado nos seus livros - muito negativa.
Pelo que ele revela também no livro "Uma estranha realidade", há sempre dúvidas em relação aos ensinamento de Dom Juan fato que quando da experiência, não estivesse o Autor preparado até pelo ambiente "mágico" em que se encontrava, com a mente dirigida pelo seu mestre, situação que pode ter provocado as severas distorções das visões que, como como diz Huxley, podem ser celestiais ou infernais.
Tudo muito interessante. Livro com 130 páginas, mas repleto de conclusões do Autor - mas ele divaga um pouco.
Referências:
(*) "Admirável mundo novo" (Livro 13) do mesmo Autor, acessar:
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2017/07/13-admiravel-mundo-novo-de-aldous-huxley.html
(**) "Leonardo da Vinci" de Walter Isaacson (livro 60), acessar:
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2019/06/leonardo-da-vinci-de-walter-isaacson.html
Muitos foram os livros lidos cujos conteúdos se perderam porque após a última página foram repostos numa estante e lá esquecidos. Passou o tempo e eu não mais me lembrava do que lera, salvo fragmentos. Para alimentar crônicas no blog "Temas Livres" num dado momento passei a resenhar e a comentar os livros que de algum modo me acrescentaram algo. Algumas dessas resenhas foram selecionadas neste blog dos livros lidos.