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segunda-feira, 3 de abril de 2023

O MULATO de Aluísio Azevedo

 LIVRO 106




O livro é forte porque trata com rudeza a escravidão e o preconceito a um mulato;

Foi lançado em 1881. A história se passa em São Luiz do Maranhão.

Em poucas páginas deixou o Autor de apontar o absurdo da escravidão e, no caso do personagem "mulato", Raimundo, ao nascer paixão doentia entre ele e  a branca Ana Rosa.

Queriam se casar mas ele era... "mulato", filho de uma escrava e um traficante de escravos abastado, José Silva, assassinado, irmão de Manoel, pai de Ana Rosa mas o interesse matrimonial com a prima, tivera rejeição do padre vilão, Diogo, da avó e do próprio pai da moça.

O livro não diz em contrário, não ostentava Raimundo a cor mais escura, tendo se formado em Direito em Coimbra, culto, de pensamento irrepreensível, visitado outros países europeus e os Estados Unidos, tudo por conta da herança do pai assassinado.

Então, voltara ele ao Maranhão, sendo hospedado com honras por seu tio Manoel até que concluísse negócios não bem definidos, mas atinentes aos bens deixados por seu pai. Depois, partiria para o Rio de Janeiro para exercer sua profissão.

Então, hospedado na casa do tio, entre Raimundo e Ana Rosa nasce aquela paixão "incontrolável".

E essa paixão resultaria em tragédia.

São personagens principais da obra, que têm destaque na história:

Dona Maria Bárbara, sogra de Manoel — com quem fora morar após a morte prematura da filha e esposa dele — e avó de Ana Rosa:

"Era uma fúria! Uma víbora! Dava nos escravos por hábito e por gosto, só falava a gritar e, quando se punha a ralar, — Deus nos acuda! — incomodava toda a vizinhança! Insuportável!"

Manoel Pedro da Silva, o Manoel Pescada, pai de Ana Rosa, comerciante, com "caixeiros" que o auxiliavam na administração dos negócios sobressaindo-se Luiz Dias um empregado que pensava em o tornar sócio nos negócios e futuro marido de Ana Rosa.

 Ana Rosa, que fora orientada por sua mãe, às vésperas de sua morte, para se casar com o noivo que amasse, "a não aceitar marido contra o seu gosto".

Padre Diogo, vaidoso, hipócrita, "pecador", vilão, tinha forte influência sobre Manoel, sobre seu irmão José e sobre Ana Rosa de quem era padrinho. Era um severo opositor do romance entre a afilhada e Raimundo. Um opúsculo subtraído de seu quarto de modo clandestino por Dias revelou que ele seria maçom ou simpatizante e, como tal, contrário à doutrina católica. E ele o acusa de ser maçom.

José Pedro da Silva, enriqueceu negociando escravos. Quando Raimundo nasceu ele e sua mãe Domingas receberam carta de alforria. Casou-se com Quitéria  Santiago, viúva rica, megera, despreza os escravos e traiu o marido com o padre Diogo. Desesperado, enforca a mulher e, então, o padre o chama de criminoso e lhe faz um proposta: ele, José, nada diria das relações do padre com sua esposa e o padre por sua vez nada diria do assassinato. E as coisas foram resolvidas pelo padre perante à comunidade. 

José seria assassinado com um tiro, não esclarecido, quem sabe crime engendrado pelo padre.

Domingas, a escrava, mãe de Raimundo vivendo numa fazenda em ruinas de propriedade de José da Silva. Sua imagem era horrível, um espectro que assustava quem se aproximasse da antiga fazenda (São Brás). Raimundo tentou resgatá-la, sem sucesso.

Raimundo que chegara da Europa sendo hospedado na casa do seu tio Manoel. A presença dele na mesma moradia de Ana Rosa resultou na paixão desmedida. Seu tio Manoel rejeitou o pedido de casamento que ele fizera para desposar Ana Rosa e foi franco e essa rejeição: "Recusei-lhe a mão de minha filha, porque o senhor é filho de uma escrava (...), O senhor não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos."

DESFECHO

Ana Rosa estava grávida e isso sabia o padre Diogo, seu confessor. No seu desespero ela não faz mais segredo da gravidez. Ela sonhava com o filho que iria nascer.

Raimundo desistira de deixar o Maranhão e não embarca

Mesmo assim com tanta oposição ao casamento, Raimundo e Ana Rosa depois de tantas contrariedades, da paixão descontrolada dela resolvem fugir. A carta informando data, modo e detalhes da fuga foi interceptada e lida pelo padre Diogo. Depois encaminhada normalmente à Ana Rosa.

O padre Diogo, sabendo do plano, coloca na mão de Dias um revólver e o convence a assassinar Raimundo. Tal se dá e abre a ele o caminho para conseguir o casamento com Ana Rosa.

Ela ao descobrir a morte de Raimundo entra em choque de modo severo. Ao desfalecer, deixou "pelo chão um grosso rastro de sangue, que lhe escorria debaixo das saias, tingindo-lhe os pés."

O crime não foi esclarecido como não fora do próprio pai de Raimundo.

O final não é feliz, suportável, tudo se acomodando pelos rigores do tempo e pelo esquecimento da sociedade fútil. Nesse quadro fútil e de tolerância hipócrita, mesmo Ana Rosa, embora impedida violentamente, não seguiu os conselhos da mãe.

Retratos de uma época que até hoje expande resquícios.

A obra além de revelar-se antiescravagista descreve aquelas cenas amargas de rejeição àquele que tinha nas veias, o sangue escravo. Suas páginas "agridem". Não é hipócrita amenizando a escravidão sem moral e  ética dos senhores e o preconceito cujo mal até agora não foi curado.

Na "orelha" da capa lê-se que referindo-se ao Autor, depois de polêmica que seu deu com artigos que redigiu e amigos no jornal anticlerical "O Pensador":

"A situação se agrava com a aparição do romance "O Mulato" em 1881, de tal maneira Aluísio é hostilizado em sua própria terra que se transfere de vez para o Rio de Janeiro nesse mesmo ano."

Outro mérito: em diversas páginas relata a obra o folclore maranhense naqueles tempos, descrevendo as comemorações da festa junina de São João. 

O livro é bom e tem muitas páginas a usufruir.

 


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