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sexta-feira, 25 de agosto de 2023

DOUTRINA DE BUDA de Siddharta Gautama

 LIVRO 111













Trata-se a obra explanada num volume aparentemente pequeno — apenas 195 páginas. Porém, em cada página conceitos que vão se multiplicando sobre os ensinamentos de Buddha bastante abrangentes avançando mesmo nos melhores conceitos a serem aplicados na administração pública. (*)

Mas, sobretudo, sobre a iluminação de homens e mulheres que buscam atingir esse estágio de paz e santificação seguindo os ensinamentos de Buda trilhando caminhos difíceis, de renúncia aos "apelos" da vida comum, vencendo o egoísmo,  ira, a luxúria, a corrupção... e o esforço para manter a mente desprovida de tais sentimentos e outros que atrapalhem a senda.

Mas, 

"Ó mente! Por que pairas incansavelmente assim sobre as cambiantes circunstâncias da vida? Por que me deixas tão confuso e inquieto..."

O NASCIMENTO DE BUDA E SUA ILUMINAÇÃO

O seu nascimento é, também, envolto em fenômeno místico, isto é, fora do normal dos demais seres humanos.

O rei Shuddhodana Gautama e sua esposa Maya durante 20 anos não tiveram filhos.

Ela engravidou quando num sonho viu um elefante branco entrar no seu ventre pela axila direita.

Então, ela volta para a casa dos país esperando em repouso, o nascimento de seu filho.

"Maravilhada com a beleza das flores de Asoka (...), estendeu seu braço direito para apanhar um ramo; ao fazer esse movimento de à luz um príncipe".



Entre as várias espécies esta pode ser a flor asoka, perfumada.



O pai o chamou de Siddhartha que significa "todos os desejos cumpridos".

Houve a preocupação da família real quando um ermitão, ao ver um brilho ao redor do castelo e lá chegando profetizou que, se a criança ficasse no castelo seria um rei generoso mas se dele saísse tornar-se-ia um Buda, o Salvador do Mundo.

"Buddha significa "o sábio, o iluminado, o homem que adquiriu o perfeito conhecimento da verdade e que, por causa disso, libertou-se de todo e qualquer apego à existência, revelando a todos o método de alcançar essa iluminação..."

 Siddhartha chegou a se casar, mas aos 29 anos de idade mas a vida de conforto e prazeres não o satisfaziam. 

Deixou o castelo e saiu em busca de respostas à sua "inquietude mental" decidindo-se a se tornar um monge mendicante. Foi tentando pelos demônios para voltar ao castelo e, assim o fazendo, "o mundo será seu". 

Buscou sábios para obter a iluminação, sem resultado. Permaneceu por seis anos na floresta.

Sozinho, após abandonado por seus cinco seguidores por um evento banal, empenhou-se na meditação, enfrentando os demônios, as dúvidas, as dores até que, "quando a estrela Dalva despontou" ela encontrara o caminho da iluminação. Ele tinha 35 anos.

Essa Iluminação — resultado da meditação sob a árvore (Bodhi-Ficus religosa) — se dera provavelmente no século V antes de Cristo. 

Por 45 anos Buda percorreu o país, pregando seus ensinamentos, até que, doente, postado entre duas árvores sempre ministrando seus ensinamentos, "o maior de todos os mestres" partiu adentrando ao "almejado Nirvana". (**) 

[Na ocasião da morte, o rosto de Moisés brilhou e o corpo de Buda iluminou-se. Ambos tinham chegado ao estado em que o espírito começa a brilhar de dentro e, então, morreram] (***).

"Este é o estado a que se chega quando, através das práticas e meditação baseados na Sabedoria Correta, extinguem-se  completamente toda a corrupção e paixão mundanas".

ENSINAMENTO SE DE BUDA

É bastante vasto, mas selecionarei alguns conceitos. Além desses conceitos muito claros e diretos há, ilustrando, fábulas e parábolas, uma leitura bastante atraente:

Iluminação

"O corpo de Buda é a própria iluminação!

Sendo assim, Buda jamais desaparecerá enquanto existir a Iluminação."

O esplendor de sua Verdade "se irradia para além dos limites exteriores e interiores das terras de Buda; é porque a vitalidade de sua compaixão nunca fenece através das incalculáveis vidas e eras."

"Buda é aquele que alcançou a perfeita Iluminação e a usou para  salvar e proteger toda a humanidade. O Dharma é a verdade, a essência da Iluminação e o ensinamento que a explica. A Sangha é a perfeita fraternidade daqueles que acreditam em Buda e no Dharma."

Causalidade

Todo o sofrimento humano tem a ver com os desejos humanos, a paixão, o egoísmo, distante das Verdades que transcendem dessa existência mundana.

Todo esse sofrimento é resultado do encontros de causas e condições que mudam se tais elementos deixam de existir.

"Os mais perversos dos homens, que cometem nefandos crime, aqueles cujas mentes estão cheias de cobiça, ira e estultícia; aqueles que mentem, tagarelam, abusam e trapaceiam; aqueles que matam, roubam e agem lascivamente; aqueles que estão próximos da morte, após anos de maus atos; todos eles estão destinados a longos anos de castigo, mas todos podem ser salvos."

A lei da causa e efeito. Mas, 

"A natureza de Buda não se perde nem é destruída, tão logo toda a corrupção seja removida ela sai de sua latência e reaparece."


Caminho do meio

Aqueles que buscam a iluminação devem se afastar dos extremos e seguir o "Caminho do Meio" — que leva à sabedoria e à paz da mente. E não deve alimentar tristes recordações do passado, nem se antecipar ao futuro, mas "com uma mente justa e tranquila acolher aquilo que vier." 

Paixões

A cobiça, a ira e a tolice são os "fogos do mundo". A cobiça aos que perderam a mente pela avidez, a ira aos que se perderam no ódio e a tolice aos que perderam a mente no insucesso em apreender os ensinamentos de Buda.

A luxúria é a mais intensa das paixões humanas: "é como o demônio que devora todos os atos do mundo".

À uma pergunta como podem os jovens que seguem o budismo poderem superar os desejos da luxúria? A resposta:

"Buda nos ensinou a respeitar todas as mulheres. Ele nos ensinou a considerar as velhas mulheres como nossas mães, aquelas de nossa idade, como nossas irmãs e a considerar as mais novas como nossas filhas. Com este ensinamento os discípulos  de Buda são capazes de manter puros seus corpos e mentes e não são afetados pela luxúria, embora sejam jovens,"

Embora num certo estágio dos ensinamentos é recomendado se afastar das mulheres; elas seguindo os mesmos princípios de Buda, também podem atingir a Iluminação como relatado no livro.

Outros ensinamentos

"Assim como o vento carrega o pó, a Compaixão de Buda varre a poeira do sofrimento humano."

Para manter o corpo puro "não se deve matar qualquer criatura vivente". Não se deve roubar ou cometer adultério, manter pura a fala, não mentir, abusar, ludibriar...

"Aquele que, verdadeiramente, buscam o caminho da iluminação devem controlar a mente e prosseguir com firme determinação."

"A prática da caridade afasta o egoísmo."

"A fé abranda as nossas empedernidas e egoístas mentes, dando-nos uma mente amistosa e simpática."

"A família é o lugar onde as mentes estão em contato umas com as outras." Se se amarem, o lar será tão belo como um jardim florido. E devem estar presente os ensinamentos de Buda. 

"O dever do governante é proteger o seu povo. Ele é o pai do povo e o protege por meio de leis. Ele deve despertar o povo, assim como os pais despertam seus filhos, dando-lhes roupas secas para trocar com as molhadas, sem esperar que a criança chore. Da mesma maneira, o governante deve afastar todo o sofrimento e proporcionar felicidade, sem esperar que o povo se queixe. Seu governo não será perfeito até que o povo fique em paz. O povo é o tesouro do seu país."

O Budismo começou na Índia, avançou pela China, Japão espalhando-se a muitos outros países asiáticos e no mundo todo.

O livro tem MUITO mais do que isso!

Referências

(*) As citações do livro que fizemos, são autorizadas com "créditos" a BUKKYO DENDO KYOKAI (Fundação para propagação do Budismo - Tókio - Japão)

(**) Acessar: SIDARTA de Herman Hesse

(***) Conceito Rosacruz do Cosmos de Max Heindel


TEMPLO BUDISTA ZU LAI EM COTIA - SÃO PAULO

(Zu Lai, traduzido do chinês = "aquele que foi / veio")

Esse templo é o maior da América Latina com área construída de 10 mil m2 ocupando área de 150 mil m2.




segunda-feira, 7 de agosto de 2023

K. de Bernardo Kucinski

LIVRO 110 












Diz o Autor que "tudo neste livro é invenção, mas quase tudo aconteceu".

Com efeito, quase tudo aconteceu.

A obra contém alguns capítulos com timbre de crônica mas o que destacado é o relato amargo de um pai, judeu  — que sofrera os efeitos do nazismo, na Polônia — sobre o desaparecimento de sua filha mais querida, em relação aos outros dois filhos nos tempos da ditadura militar no Brasil.

O que, afinal, acontecera com ela depois de notar, K., que sua filha estava há dez dias sem fazer qualquer contato?

K. era um literato, poeta que, com outros judeus, preservava a língua iídiche já então considerada morta, "uma língua cadáver, isso sim, que eles pranteavam nessas reuniões  semanais, em vez de cuidar dos vivos"

Com suas preocupações literárias, surpreendeu-se K. ao saber que sua filha era casada. A modesta cerimônia se dera aos parentes do noivo. Ele sequer fora informado dessa união. Seu genro também era da comunidade acadêmica — não chegara a o conhecer — e como ela desaparecido.

Para desvendar o paradeiro da filha, preocupado, vai ao Departamento de Química onde lecionava. Seus alunos de modo discreto, informaram que ela, que nunca faltava em suas aulas, estava ausente da faculdade havia 11 dias.

A partir daí, no começo de modo tímido, depois fazendo todos os contatos possíveis e até mesmo com falsos "informantes" sai em busca do paradeiro da filha. E do marido.

Conversou com militares, com religiosos e com quem mais lhe fosse indicado para alguma informação que desvendasse o desaparecimento dela.

O que nunca havia feito: procurou a Catedral Metropolitana da Sé, templo católico que nunca entrara antes e ali se uniu ao grupo de pais e parentes que, como ele, procuravam informações dos seus desaparecidos.

De rabinos supostamente influentes no meio político pouco ou nenhuma ajuda recebeu.

Já não duvidava da ação politica antiditadura de ambos. E já ia se convencendo que sua filha poderia ter sido morta nos porões da ditadura.

► Ana Rosa, a filha de K., esse era o seu nome segundo livreto 'Tag' de junho de 2023 que acompanhou o livro, "desaparecera" em 1974.  O Autor era seu irmão.

O Autor se refere ao agente Fleury que naqueles prédios clandestinos do Doi-Codi praticava a tortura e assassinatos contra os militantes capturados.

Nas páginas finais, a "transcrição" de uma carta remetida por "Rodriguez" ao "companheiro Klemente" na qual faz ele ponderações amargas por não terem parado as ações de luta à iminência da derrota do movimento, inclusive lamentando  execuções de membros que queriam deixar as células por vislumbrarem uma "guerra perdida" e, pior,  tratados injustamente como traidores.

Há o nome mencionado nessa suposta carta de um militante (Márcio) que fora executado pela célula.  Esse nome, Márcio (Toledo), é mencionado, também, por Alfredo Sirkis relatando que membros da ALN já praticamente desarticulada, o executaram na rua porque temiam que  saindo da luta, poderia denunciar os que ficaram. Um "estupido crime". (*)

Na resenha do livro "Os Carbonários" de Alfredo Sirkis:

"Num dado momento, vendo que a guerrilha perdia terreno, membros de outras siglas com o mesmo objetivo, iam sendo mortos ou presos, Sarkis resolveu deixar a VPR, descrevendo seu constrangimento perante os demais companheiros revolucionários". 

E reconhece:

"Doze meses depois, estávamos ali, dizimados, reduzidos a menos de um quarto do que fora a organização. Um pensamento sombrio me assaltou. Será que chegava ao réveillon de 71?" (*)

Kafka

Há no livro referências a Kafka (também a Milan Kundera).

"O Processo" de Kafka, de família judaica, é anterior ao nazismo, de 1925. Nessa obra  seu personagem Joseph K. acusado por um crime que desconhecia, até porque não havia crime, não se sentia culpado, tanto que busca nas teias judiciárias saber do que tratava a acusação.

O final trágico é consequência da perseguição da qual fora vítima na trama, sem descobrir do que era acusado, revelando-se cansaço psicológico, dando-se espécie de desistência, entregou-se aos algozes, algo como o suicídio.  (**)

É sempre bom cuidar que a interpretação não vá além do que pensou o autor da obra.


O livro K. contém 196 páginas e nelas há muito mais a ser conhecido.


 APÊNDICE

Naqueles idos das décadas de 60 e 70 como acadêmico de direito na PUCSP, um dia apareceu na classe José Dirceu para umas palavras sobre a oposição à ditadura (talvez em 1969). Questionei-o apontando as dificuldades, porque o lado que combatia era o Exército. Manifestação muito rápida, houve algumas vaias e aplausos.

Referência no texto.

(*) Acessar: OS CARBONÁRIOS

(**) Acessar: O PROCESSO de Kafka