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sábado, 27 de janeiro de 2024

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA de Lima Barreto

 LIVRO 117



A guisa de esclarecimentos

Confesso a pouca informação que tinha dessa obra sempre muito referida, do Policarpo Quaresma, patriota exacerbado que propusera oficialmente, retornando às tradições seculares do país que ele amava, introduzir como língua oficial, o idioma tupi-guarani.

O livro foi publicado em 1915.

Então, a obra não se refere apenas a esse tema mas avança em outros.

Gostei do que li.

Os rumos do livro

Policarpo Quaresma era um homem simples, de pequena estatura, metódico, ledor, subsecretário no Arsenal da Guerra havia 20 anos e muito patriota, pôs-se a estudar violão, um instrumento "impudico" no seu tempo e com ele aprender a tocar modinhas, "a mais genuína expressão da poesia nacional".

E seu orientador foi um certo Roberto Coração dos Outros que além de tocar muito bem o instrumento era cantor e compositor.

Era solteiro, como sua irmã Adelaide. Ele e a irmã viviam na mesma casa, sendo bem cuidado por ela que lhe questionava com delicadeza e até o aconselhava.

Era chamado de "major" mas não tinha nada com os militares.

O seu fanatismo pelas tradições patrióticas o levou a remeter à Câmara um requerimento no qual propunha adotar a língua tupi-guarani, por ser "originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir nossas belezas..."

Por causa desse requerimento foi internado num manicômio ficando lá por uns meses.

As lucubrações que faz o Autor sobre os desvios psicológicos (sobre a loucura) são interessantes.

Ao deixar o hospício comprou uma propriedade rural (a qual foi batizada de Sossego) e lá passou a trabalhar com afinco na terra fértil de seu país auxiliado pelo ex-escravo Anastácio e depois também por Felizardo, contando com a colheita de frutas tal os cuidados com as plantas e árvores que estavam abandonadas e que se empenhava em recuperar. 

O Autor pode ter tido a experiência de pouca leitura de livros no seu tempo, revelando isso nessa sua obra, no comentário do general Albernaz:

— Aquele Quaresma podia estar bem, mas foi se meter com livros... É isto! Eu, há bem quarenta anos, que não pego num livro...

Personagens

● Olga, filha de um rico italiano Colleoni, afilhada de Quaresma com quem tinha muita afinidade com o padrinho; ela se casou com o médico Armando Borges que enriqueceu ajudado pela riqueza da esposa.

● Ismênia, filha de general Albernaz e dona Maricota, que estava noiva de Cavalcante.

"A menina foi-se convencendo de que toda a existência só tendia para o casamento".

Noivado por cinco anos, o noivo partira um mês antes do Carnaval e não mais voltou. Seja por desgosto, seja por vergonha foi ela definhando até a morte.

A revolta contra Floriano

No livro de 175 páginas, há "alternativas inesperadas".

Nos capítulos que dão o desfecho da história, o Autor inclui seus personagens ficcionais num episódio real qual seja a revolta dos marinheiro contra o governo de Floriano Peixoto (presidente de 1891-1894) que perdurou por todo o seu mandato. Essa revolta reivindicava maior participação dos marinheiros no governo e menos autoritarismo.

O major Quaresma tivera um breve relacionamento com o presidente e à revolta que enfrentava o presidente, se apresentara para combater os revoltosos. 

Chegou ao presidente, apresentou um memorial propondo medidas drásticas de governo que fora desprezado por Floriano que mais tarde diria que lera o documento chamando Quaresma de "visionário".

Quaresma fora nomeado "major" sem nunca ter pego numa armas até porque era conhecido por essa título. O livro explica a origem do "major".

Participa de estratégias no quartel, é ferido em combate, se recupera.

Floriano vence os revoltosos.

Quaresma fica indignado com o tratamento dispensado aos prisioneiros e remete ao presidente um protesto veemente.

É determinada sua prisão, numa cela imunda, ele que era um homem simples, honesto, de boa índole.

O cancioneiro Ricardo Coração dos Outros que também se engajara nas tropas do "ditador" — assim qualificado no livro — sabendo da prisão do amigo faz todos os esforços para sua libertação. Todos os amigos de Quaresma, mesmo os militares se omitem, não o ajudam. Nem mesmo o general Albernaz que se disse "do governo".

Então, o cancioneiro, sem mais a quem recorrer pede a ajuda de Olga a afilhada do major. Ela corajosamente se propõe a ajudar na libertação do padrinho mas não é conduzida à presença de Floriano.

Então, serenamente refletindo foi ao encontro de Ricardo Coração dos Outros que a esperava ansioso.

...


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

OS MENINOS DA RUA PAULO de Ferenc Molnár

 LIVRO 116











EXPLICAÇÃO:

Há muito lera esse livro que dissera algo da minha infância / juventude. Nunca o esqueci totalmente. Naqueles tempos com pouca televisão, sem computador, sem jogos eletrônicos e, principalmente, sem celular as aventuras se davam pelas ruas, os jogos de taco, as peladas de futebol em terrenos baldios. Mas, a busca pelo "tesouro" escondido, se dava num barranco na Vila Bela (SP), divisa com São Caetano pelo rio Tamanduateí.  Eu também tive uma espécie de forte. Tempos memoráveis.


O livro é considerado "juvenil". Nem sei se hoje, à idade da turma que compõe a história, em torno de 14 anos, com tantos recursos, será atrativo, despertará interesse. Para mim vale a pena.

O livro foi publicado em 1906. A historia transcorre bem no final do século XIX.

A turma da Rua Paulo, na Hungria tinha num terreno ocupado em parte por um serraria e montes de lenha, um barracão, seu reduto para o jogo da péla (jogo "ancestral" do tênis), No grund — um pedacinho de terra — , a turma era organizada em termos de padrões militares.

O presidente da turma era o Boka, um jovem com talento para liderar, muito ético, de poucas palavras muito respeitado pelos demais membros do... 'pelotão'. 

O único soldado raso era Nemecsek, um loirinho franzino. Será em torno dele que a história terá seu epílogo.

Os meninos da rua Paulo tinham rivais, a turma dos "camisas vermelhas" cuja "base" era o Jardim Botânico.

Um dia, os "camisas vermelhas" resolveram declarar guerra à turma da rua Paulo porque queriam o grund para jogar péla. 

Deu-se a batalha e, numa série de escaramuças, nas quais prevaleceram as bolotas de areia molhada, os rivais foram derrotados.

Havia um traidor Géreb, que se arrependeu amargamente, pediu perdão emocionado, sendo perdoado por Boka e pelo grupo e lutando ao lado do "exército" da rua Paulo.

Nemecsek não participou da batalha porque estava muito doente. Ele caíra na lagoa ao adentrar no barco quando já em fuga com Boka e Csónakos após a invasão no reduto dos "camisas vermelhas" uma retaliação à presença de Chico Áts comandante dos inimigos que estivera desafiante no grund. A segunda vez por ordem de Chico Áts quando Nemecsek enfrentou os inimigos no seu próprio reduto e, sendo franzino o soldado raso da rua Paula, determinou que fosse ele jogado na lagoa.

Com tais "banhos" — mal recuperado do primeiro —, adveio a grave doença que prostrou na cama com febre alta o franzino soldado raso.

Chico Áts presidente - general dos "camisas vermelhas" que demonstrara princípios éticos aproximou-se da casa de  Nemecsek como uma forma de se desculpar do "banho" que ordenara, mas não teve coragem de o visitar.

Pela derrota, ele foi demovido da presidência pelos membros da turma dos "camisas vermelhas".

Mas, Nemecsek, inconformado em ser o único soldado raso do grupo, por seus atos de bravura foi promovido a capitão. E seu nome no livro de atas da sociedade do Betume (da rua Paulo),  antes escrito em letras minúsculas, passou a ser escrito em letras maiúsculas: ERNESTO NEMECSEK.

E Nemecsek em desespero ao saber do resultado da batalha e a vitória da rua Paulo, no seu estado febril, disse agitado:

— O grund é um país inteiro! Vocês não sabem, porque nunca lutaram pela pátria."

Ele não acreditava na sua promoção a capitão e o nome escrito em maiúsculas no livro nem mesmo com o Boka confirmando.

Tudo num deslinde comovente naquela família modesta com a mãe carinhosa ao filho franzino e o pai, alfaiate, não menos modesto.

Eu acho que esse livrinho de 120 páginas foi bom pelas mensagens de verdadeira amizade e lealdade da turma da rua Paulo, para as festa de fim do ano de 2023.