LIVRO 117
A guisa de esclarecimentos
Confesso a pouca informação que tinha dessa obra sempre muito referida, do Policarpo Quaresma, patriota exacerbado que propusera oficialmente, retornando às tradições seculares do país que ele amava, introduzir como língua oficial, o idioma tupi-guarani.
O livro foi publicado em 1915.
Então, a obra não se refere apenas a esse tema mas avança em outros.
Gostei do que li.
Os rumos do livro
Policarpo Quaresma era um homem simples, de pequena estatura, metódico, ledor, subsecretário no Arsenal da Guerra havia 20 anos e muito patriota, pôs-se a estudar violão, um instrumento "impudico" no seu tempo e com ele aprender a tocar modinhas, "a mais genuína expressão da poesia nacional".
E seu orientador foi um certo Roberto Coração dos Outros que além de tocar muito bem o instrumento era cantor e compositor.
Era solteiro, como sua irmã Adelaide. Ele e a irmã viviam na mesma casa, sendo bem cuidado por ela que lhe questionava com delicadeza e até o aconselhava.
Era chamado de "major" mas não tinha nada com os militares.
O seu fanatismo pelas tradições patrióticas o levou a remeter à Câmara um requerimento no qual propunha adotar a língua tupi-guarani, por ser "originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir nossas belezas..."
Por causa desse requerimento foi internado num manicômio ficando lá por uns meses.
As lucubrações que faz o Autor sobre os desvios psicológicos (sobre a loucura) são interessantes.
Ao deixar o hospício comprou uma propriedade rural (a qual foi batizada de Sossego) e lá passou a trabalhar com afinco na terra fértil de seu país auxiliado pelo ex-escravo Anastácio e depois também por Felizardo, contando com a colheita de frutas tal os cuidados com as plantas e árvores que estavam abandonadas e que se empenhava em recuperar.
O Autor pode ter tido a experiência de pouca leitura de livros no seu tempo, revelando isso nessa sua obra, no comentário do general Albernaz:
— Aquele Quaresma podia estar bem, mas foi se meter com livros... É isto! Eu, há bem quarenta anos, que não pego num livro...
Personagens
● Olga, filha de um rico italiano Colleoni, afilhada de Quaresma com quem tinha muita afinidade com o padrinho; ela se casou com o médico Armando Borges que enriqueceu ajudado pela riqueza da esposa.
● Ismênia, filha de general Albernaz e dona Maricota, que estava noiva de Cavalcante.
"A menina foi-se convencendo de que toda a existência só tendia para o casamento".
Noivado por cinco anos, o noivo partira um mês antes do Carnaval e não mais voltou. Seja por desgosto, seja por vergonha foi ela definhando até a morte.
A revolta contra Floriano
No livro de 175 páginas, há "alternativas inesperadas".
Nos capítulos que dão o desfecho da história, o Autor inclui seus personagens ficcionais num episódio real qual seja a revolta dos marinheiro contra o governo de Floriano Peixoto (presidente de 1891-1894) que perdurou por todo o seu mandato. Essa revolta reivindicava maior participação dos marinheiros no governo e menos autoritarismo.
O major Quaresma tivera um breve relacionamento com o presidente e à revolta que enfrentava o presidente, se apresentara para combater os revoltosos.
Chegou ao presidente, apresentou um memorial propondo medidas drásticas de governo que fora desprezado por Floriano que mais tarde diria que lera o documento chamando Quaresma de "visionário".
Quaresma fora nomeado "major" sem nunca ter pego numa armas até porque era conhecido por essa título. O livro explica a origem do "major".
Participa de estratégias no quartel, é ferido em combate, se recupera.
Floriano vence os revoltosos.
Quaresma fica indignado com o tratamento dispensado aos prisioneiros e remete ao presidente um protesto veemente.
É determinada sua prisão, numa cela imunda, ele que era um homem simples, honesto, de boa índole.
O cancioneiro Ricardo Coração dos Outros que também se engajara nas tropas do "ditador" — assim qualificado no livro — sabendo da prisão do amigo faz todos os esforços para sua libertação. Todos os amigos de Quaresma, mesmo os militares se omitem, não o ajudam. Nem mesmo o general Albernaz que se disse "do governo".
Então, o cancioneiro, sem mais a quem recorrer pede a ajuda de Olga a afilhada do major. Ela corajosamente se propõe a ajudar na libertação do padrinho mas não é conduzida à presença de Floriano.
Então, serenamente refletindo foi ao encontro de Ricardo Coração dos Outros que a esperava ansioso.
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