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sábado, 24 de agosto de 2024

OLGA de Fernando Morais

 LIVRO 126













O livro foi lançado em 1984 e filmado em 2004.

Por que demorei tanto a chegar até ele ou ele a mim? Pela minha rejeição a Luiz Carlos Prestes que, para mim, foi sempre um revolucionário amador a quem atribuo a participação direta ou indireta em dois golpes de estado: em 1937 ano em que Getúlio Vargas oficializou a ditadura do Estado Novo que vinha desde 1935 após a denominada intentona comunista, encabeçada por Prestes e, em 1964, naquele seu jogo de palavras, do tipo: "os comunistas não estavam no poder mas já estavam no governo"(*)

Prestes se tornou o "cavaleiro da esperança", após comandar a Coluna Prestes na metade dos anos 20 cujo objetivo inconvicto era depor o presidente Arthur Bernardes. Percorreu 25 mil quilômetros pelo território nacional, vencendo rusgas com as forças oficiais, mas que se encerrou melancolicamente na Bolívia.

O livro trata desses episódios históricos com precisão, mas o tema central trata da vida e morte de Olga Benário que fora colocada como par de Prestes com a intenção de promover no Brasil a revolução comunista.

 Prestes se encantara com a doutrina comunista e partira para Moscou em 1931.

Olga por sua vez era notória comunista na Alemanha, da Juventude comunista de seu pais, com um traçado heroico ao libertar da prisão, com cúmplices, seu namorado, Otto Braun também comunista convicto. Essa ação, sem detalhes no livro, deu-lhe muito prestígios nas hostes comunistas mesmo na União Soviética.

Com o par formado, com muitos percalços e dificuldades, o casal, clandestinamente, chega ao Brasil e com ele outros agentes com identidade falsa e não menos clandestinos para promover a revolução comunista no maior país da América Latina.

Inesperadamente, os jornais noticiaram uma revolta qualificada de comunista havida no Rio Grande do Norte e Pernambuco.

Fora uma precipitação, porque se dera sem o controle de Prestes e seus agentes, incluindo a sua esposa Olga. 


Nos planos para a ação revolucionária, o grupo de Prestes se convenceu da dificuldade em contar com os trabalhadores para viabilizar a revolução.


Mesmo assim, o movimento foi tentado no Rio de Janeiro, que durou pouco, de 23 a 27 de novembro (de 1935) dominado pelas forças do governo.

 

Um detalhe importante: nesse mesmo ano de 1935 fora instituída a ANL - Aliança Nacional Libertadora cujos mandatários diziam que não tinha a organização natureza comunista, mas uma ideia que congregaria movimentos populares e suas aspirações, a classe média, trabalhadores. Isso me disse um dia Abguar Bastos, um dos fundadores. Mas seus núcleos espalhados, as milhares de adesões aos seus quadros não poderia evitar a infiltração comunista. O Autor coloca a ANL como aliada de Prestes na denominada intentona comunista fracassada.


Todos os principais aliados de Prestes foram presos. Foram torturados de modo cruel a mando de Filinto Müller o todo poderoso agente getulista da repressão. O alemão Arthur Euert por causa dessas torturas, enlouqueceu.


Prestes e Olga se esconderam como puderam sendo procurados rua por rua, casa por casa no Rio de Janeiro até serem encontrados e presos.


Olga, alemã, judia e comunista foi entregue à Gestapo naqueles tempos em que o nazismo era festejado por aqui. 


No campo de concentração de Ravensbrück ela esteve presa em solitárias, nas condições mais precárias, sempre liderando as presas quando convivendo com elas no mesmo pavilhão.


Nesse campo de concentração havia "experiências científicas" sórdidas com prisioneiras.


O Autor não se referiu à comida servida às presas no campo de concentração.


Grávida de Prestes, deu a luz à Anita que lhe foi tirada após o período de amamentação mas a menina entregue à avó Leocádia, a valente mãe de Prestes.


Parece que a maternidade e o sofrimento na prisão, o choque de sua filha retirada de seus braços, seu isolamento, o controle rigoroso da Gestapo, mas sempre mantendo a esperança, despertou em Olga aquele sentimento muito humano da compreensão e do amor.  


Olga foi morta em 1942 na câmara de gás de Bernburg.


Prestes teve uma vida de equívocos.



► Gostei muito do livro pelo rigor histórico, pelas pesquisas e por descrever com riqueza o drama de Olga na prisão, de sua sogra e cunhada que assumiram a luta pela sua proteção e libertação. Prestes só saberia do destino trágico da esposa, em 1945, quando libertado.

Referências

(*) Relato da deputada Ivette Vargas ouvido numa entrevista de Luiz Carlos Prestes. 







2 comentários:

  1. Assisti o filme. Boa resenha e concordo com a análise do Prestes

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  2. Eu sempre fui muito "severo" com Prestes, amador e trapalhão que como sempre disse (disse isso no meu Joana d'Art) foi pivô ou partícipe de duas ditaduras, de 37 e 64.

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