O livro é bem editado, a editora é boa, são 446 páginas mas o enredo do livro é patético. O livro não é bom.
Depois de ler livros com maior complexidade, resolvi por esse livro porque estava disponível. E uma pausa na busca de um passatempo.
A história se desenvolve nos idos do quarto final dos anos 1200 e pouco mais.
Tudo começa com uma conspiração inverossímil: os restos mortais de São Francisco são, digamos, sequestrados escondidos em local secreto por uma ala de sua própria Ordem. Seriam as chagas de Cristo que marcaram seu corpo, uma fraude? O santo teria já sintomas da lepra?
Então, o monge Conrad, da ala espiritual da Ordem (1) que à risca seguia os ensinamentos de Francisco entre pobreza absoluta e meditação, recebe em seu retiro a visita de um jovem, Fabiano, que levara para ela uma pergaminho com mensagem cifrada de seu instrutor Leo.
Mas, com o teor do pergaminho indecifrável, Conrad acompanhado do jovem Fabiano resolve ir para Assis lá, consultando a biblioteca do Sacro Convento tentaria decifrar a mensagem.
Nesse meio tempo, descobre que Fabiano, na verdade era uma menina, Amata. Ele teme as tentações próprias de uma mulher, ainda que jovem, no seu convívio e durante toda sua viagem.
O livro não revela como conviveram nas horas de aperto quando os sexos tem modos diferentes de atender às pressões físicas naturais.
No caminho, numa parada num lugarejo encontram Japone delirante que acaba por se unir a eles e mais o noviço Enrico designado com aspirante do Sacro Convento, devendo cumprir os rigores dos sacrifícios no templo...
Então, os três e a jovem Amata partem para Assis.
Amata quando mais jovem fora violentada por um tio, um bispo evento que a torna revoltada mas ao mesmo tempo revela um apelo erótico. Tira o jovem Enrico de seu repouso e permite ele a toque nos seios.
Mas, nesse mesmo instante, na noite fechada, são eles atacados de modo violento por religiosos que visavam, principalmente Conrad -saberiam os mandantes que ele dispunha da mensagem cifrada de Leo?
Nesse embate, Amata que sempre tinha em sua manga uma faca, esfaqueia um dos atacantes que morre, mas mortalmente ferido o jovem Enrico que logo depois morreria.
Amata sofre muito com a morte do jovem. Se não o tivesse tentado seduzir, ele estaria vivo? Seria surpreendido pelo ataque?
Seu corpo é levado por meio de esteira improvisada de galhos por Conrad e Jacopone, entregando o corpo no Sacro Convento para o qual seria um noviço a serviço da congregação.
Nesse fase, desaparecem Amata e Jacopone, mas eles são primos.
Amata reaparecerá depois de estar abrigada com as Damas Pobres, como herdeira da viúva Donna Giacoma que sai em defesa da jovem, num verdadeiro discurso feminista quando Conrad tenta depreciá-la pelo que se dera com Enrico. Ela fora violada e passara por muitas dificuldades:
- Mulheres precisam de amor - continuou Dona Giacoma - Precisamos ser amparadas e tocadas e ouvir que somos especiais entre todas as outras mulheres.
Mas, uma situação real para religiosos se refere ao teor de versículos do Eclesiastes:
"Não contemple a beleza de todo o corpo e não se deixe ficar junto às mulheres. Pois das roupas sai a graça e da mulher a iniquidade do homem. Mais como uma rede, e suas mãos são algemas. Quem agrada a Deus livra-se dela; o pecador, porém, será preso por ela."
Chegando a Assis Conrad passa a frequentar biblioteca do Sacro Convento a procura de indícios para resolver o pergaminho de Leo, pesquisa que contraria o poderoso e soberbo frei Bonaventura.
O Frei o adverte que suas pesquisas na biblioteca do Sacro Convento não seriam toleradas. E se reiterasse seria castigado severamente
Conrad fica sabendo que a viúva Donna Giacoma ajudara Léo em escrever o pergaminho com a mensagem cifrada, mas nada indaga à mulher que informação tinha ela sobre a mensagem (?)
Pois ela, a viúva, presenciara até mesmo o sequestro dos restos mortais de São Francisco. Ela também verificara no santo, as chagas e ferimentos que vitimram Jesus Cristo na crucificação.
Conrad reitera a pesquisa, é pego por asseclas de Frei Bonaventura sendo encarcerado e lá e cegado de um olho com ferro em brasa, enfrentando dor excruciante. Na prisão, situada nos porões de templo encontra outra vítima da crueldade de Bonaventura, Giovanni de Parma, universalmente reverenciado o deposto ministro geral que lá estava preso havia 16 anos.
Nessas masmorras Conrad, tal a sua fé e renúncia, tem uma experiência espiritual. Revestido por luzes ele sente toda a felicidade interior.
Essa experiência transcendente, assistida pelo carcereiro Zefferino, porque as luzes que envolveram Conrad iluminaram os corredores turvos da prisão, passa a respeitá-lo.
Conrad, depois de dois anos encarcerado e Giovanni são libertados pelo papa Tebaldo depois que Bonaventura é desmascarado num concílio da Igreja quando denunciado de suas crueldades e inclusive em manter em prisão seus desafetos religiosos. As denúncias são de tal gravidade que ele morre em pleno concílio.
Mas, houve, também, os pedidos de Orfeo ao papa de quem fora um servidor em suas viagens.
Nesse meio tempo Amata, já proprietária da rica moradia da víúva Donna Giacoma que antes de falecer transferira a ela sua riqueza, fora aconselhada a se casar.
Um pretendente truculento tentou raptá-la, usando da violência anunciando que com ele Amata se casaria imediatamente,
O modo como ela fora conduzida para fora de seu palácio chamou a atenção de pessoas por perto entre eles de novo Jacopone e um certo Orfeo.
Ambos a salvam.
Ela se apaixona logo por Orfeo mas sabia que ele era filho de uma família que assassinara seus pais.
Mas ela descobre que ele era rejeitado pelo pai e, portanto, inocente. E se casam com muita paixão.
Jacopone, por sua vez, é pai de um menina, Terezina, que ele abandonou com o falecimento da esposa. Ela vivia com o tio Guido. No final do livro revelaria sua veia poética, competindo com Dante Alighieri (!?)
Conrad liberto da prisão, alquebrado, envelhecido, com dificuldades de visão, com as marcas dos grilhões, vai cumprir missão que achava própria para se aproximar da santidade de São Francisco e, sem duvida, as páginas descrevendo o ambiente e o sofrimento do doentes e a vida terrível que levavam, são bastante expressivas.
No leprosário, Conrad chegara à conclusão que São Francisco, por lesões no corpo, perda de visão e crostas maculares nos pés e mãos que ele poderia estar doente com lepra.
Mas, honrado pelo papa num encontro previamente acertado, ele proíbe Conrad de divulgar essa sua crença, isto é, de que Francisco havia adquirido a doença, mesmo que ainda no seu início.
Como foi resolvida a a decifração que não houve do pergaminho de Leo? Ora, não foi resolvida porque o pergaminho fora destruído por um incêndio nas instalações da mansão da Amata. Revelaria o pergaminho onde estavam escondidos os restos morais de Francisco? As cinzas nada mais inspirariam, Saída engenhosa do Autor...
Mas, o Autor não deixou essa dúvida quanto ao paradeiro dos restos mortais de Francisco. Não, essas "relíquias" seriam descobertas em 1818 por acaso numa escavação nos baixos da própria Igreja de São Francisco. (*)
O livro tem pesquisa e a realidade se confunde demais com a ficção. Na orelha da capa, há um comentário afirmando que o livro teria a força narrativa de "O Nome da Rosa" de Umberto Eco. Para mim, nem de longe. É um livro atraente que não vai além de agradável passatempo. Atraente e ruim.
Referências
1- O grupo dos Espirituais mantinham-se fieis às regras de São Francisco, seguindo Jesus Cristo, "despido da cruz; o grupo dos Conventuais, "carregam todas as bagagens deste mundo",
(*) Sobre São Francisco de Assis, acessar: https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2017/06/5-sao-francisco-de-assis.html