Livro 2
Esta obra sempre aparece (ia) como referência para explicar o simbolismo de figuras
em relevo ou baixo relevo em algumas catedrais especialmente a Notre-Dame de
Paris, os sentidos ocultos, alquímicos e filosóficos praticamente indecifráveis
para os não aficionados nessa cultura.
O livro fora para mim, de difícil compreensão porque os símbolos são
representações ocultas, contendo, como qualifica o autor, significados
“herméticos”. E eu acrescento que até mesmo o vocabulário não é fácil.
POR ISSO, INFORMO QUE INTERPRETAÇÕES MINHAS PODEM NÃO REFLETIR A PROFUNDIDADE IMPRIMIDA PELO AUTOR. O QUE EXPUS SÃO FRAGMENTOS DA OBRA.
Mas, a origem do termo “gótico”, segundo o livro:
“Antes, porém, devemos dizer duas palavras acerca do termo gótico
aplicado à arte francesa que impôs as suas diretrizes a todas as produções da
Idade Média e cuja irradiação se estende dos séculos XII a XV.
Alguns pretenderam erradamente que provinha dos Godos, antigo povo
da Germânia; outros julgaram que se chamava assim a esta forma de arte, cujas
originalidade e extrema singularidade provocavam escândalo nos séculos XVII e
XVIII, por zombaria, atribuindo-lhe o sentido de bárbaro: tal é a opinião da
Escola clássica, imbuída dos princípios decadentes do Renascimento.
A verdade, que sai da boca
do povo, no entanto, manteve e conservou a expressão Arte gótica, apesar dos
esforços da Academia para substituí-la por Arte ogival.
Há aí uma razão obscura
que deveria obrigar a refletir os nossos linguistas, sempre à espreita das
etimologias. Qual a razão por que tão poucos lexicólogos acertaram?
Simplesmente porque a explicação deve ser antes procurada na origem cabalística
da palavra, mais do que na sua raiz literal.
Alguns autores perspicazes e menos superficiais, espantados pela
semelhança que existe entre gótico e goético pensaram que devia haver uma
estreita relação entre a arte gótica e a arte goética ou mágica.
Para nós, arte gótica é apenas uma deformação ortográfica da
palavra argótica cuja homofonia é perfeita, de acordo com a lei fonética que
rege, em todas as línguas, sem ter em conta a ortografia, a cabala tradicional.
A catedral é uma obra de art goth ou de argot. Ora, os dicionários definem o
argot como sendo “uma linguagem particular a todos os indivíduos que têm
interesse em comunicar os seus pensamentos sem serem compreendidos pelos que os
rodeiam”. É, pois, uma cabala falada. Os argotiers, os que utilizam essa
linguagem, são descendentes herméticos dos argonautas, que viajavam no navio
Argo, falavam a língua argótica — a nossa língua verde — navegando em direção
às margens afortunadas de Colcos para conquistarem o famoso Tosão de Ouro.
Ainda hoje se diz de um homem inteligente mas também muito astuto:
ele sabe tudo, entende o argot. Todos os Iniciados se exprimiam em argot, tanto
os vagabundos da Corte dos Milagres — com o poeta Villon à cabeça — como os
Frimasons ou franco-maçons da Idade Média, “hospedeiros do bom Deus”, que
edificaram as obras-primas argóticas que hoje admiramos. Eles próprios, estes nautas
construtores, conheciam a rota do Jardim das Hespérides...”
[O jardim das hespérides considerado o mais belo da
antiguidade era conhecido como jardim dos imortais, pois continha um pomar que abrigava árvores mágicas de
onde nasciam os pomos de ouro,
considerados fontes de juventude eterna. Era muito bem guardado, havendo muitos
obstáculos até chegar a ele].
Considerando aquelas catedrais esplêndidas diz o Autor:
“Os construtores da Idade Média tinham como apanágio a fé e a
modéstia. Artesão anônimos de puras obras-primas, construíram para a Verdade,
para a afirmação do seu ideal, para a propagação e a nobreza da sua ciência. Os
do Renascimento, preocupados sobretudo com a sua personalidade, ciosos do seu
valor, construíram para a posteridade do seu nome.”
O Autor, então, se fixa nas figuras de alto e baixo relevo na
estrutura de Notre-Dame de
Paris (construída entre 1163 a 1245) desvendando os símbolos não cristãos
entalhados em suas paredes e reentrâncias.
É aqui que a linguagem,
para mim, é de difícil compreensão exatamente porque são explorados
significados alquímicos e herméticos daquelas imagens.
Porque, como afirmado nas
páginas finais do livro:
“A Natureza não abre a
todos indistintamente a porta do santuário. Nestas páginas, o profano
descobrirá talvez alguma prova de uma ciência verdadeira e positiva.”
A Catedral de “Notre-Dame de Paris conserva efetivamente o seu
alquimista.”
A Catedral de Notre-Dame
de Amiens (construída entre 1220 a 1268) tem a seguinte abertura do livro: “A
exemplo de Paris, Amiens oferece-nos um notável conjunto de baixos-relevos
herméticos”.
Nesta também o Autor
analisa as imagens encontradas nas paredes do templo.
E a partir de uma dessas
imagens “O orvalho do filósofo”, num certo trecho lembra que a faculdade de criar pertence só a Deus, o único Criador. Mas, necessitando do auxílio da Natureza esse auxílio
será recusado se, “por desgraça ou ignorância, não colocais a Natureza em estado
de aplicar as suas leis.”
Isso nas experiências laboradas pelo adepto.
E a condição primordial para o resultado é
a ausência de luz.
Lembra o Autor que
certos fenômenos se dão na absoluta escuridão: o ato da procriação, o germinar
das sementes, o sono noturno que recompõe as forças perdidas durante o dia, a
renovação das células, o funcionamento do organismo de digestão e excreção.
Assim, também, com experiências químicas e alquímicas.
O poder do sol é
destruidor de determinadas substâncias.
“E agora trabalhai de dia se vos apraz; mas não nos
acuseis se os vossos esforços terminarem em fracasso”.
São Cristóvão
Mas, em Bourges, cidade
próxima de Paris, ao sul, no palacete Lallemant – “uma das mais sedutoras e
mais raras moradas filosofais” – há um baixo relevo de São Cristóvão.
A lenda do santo que poderia representar, do ponto de vista oculto, o
transporte do ouro ao carregar o menino Jesus na travessia do rio:
Tratava-se dum homem muito forte, agigantado, que decidiu que serviria ao rei
mais poderoso da terra. E assim fez, para alegria do rei que encontrara um
servidor tão leal e tão forte.
Certo dia decepcionou-se o santo ao vir o rei se benzer ao ouvir o nome do
diabo. Ao saber que o rei temia o diabo, abandonou-o por não deter o poder
absoluto. Procurou, então, por satã para servi-lo. Sua lealdade ao diabo durou
até o momento em que o via desviando-se de uma cruz.
Ao saber que o diabo receava o símbolo de Cristo, resolveu procurá-Lo porque seria
ele o mais poderoso da terra.
Mas não o encontrava. Para diminuir sua angústia, um sábio levou-o à beira de
um rio e sugeriu que ele atravessasse os viajantes nos seus ombros fortes para
que não se afogassem. E nesse serviço encontraria quem procurava, prometera o
sábio.
E assim fez. Um dia, muito cansado, ouve batidas na porta de sua cabana. Uma
voz de criança se faz ouvir. Levantou-se o gigante e arrumou-a em seus ombros
partindo logo para a travessia.
No meio do rio, as correntes tornaram-se revoltas e o
menino tornara-se um fardo, além do que podia suportar o gigante.
Ao perguntar
por que um menino era assim tão pesado, recebeu a revelação: apresentara-se o
próprio Cristo, o peso do mundo e, pelos serviços que prestara o gigante aos
viajantes fora batizado por Ele e pelo Espírito Santo, recebendo o nome de
Cristóvão - "Aquele que carrega Cristo" (chama-se Offerus).
O São Cristóvão histórico fora perseguido por inimigos dos cristãos sendo trucidado lá pelo ano 250 DC.
Foto:
Imagem de São Cristóvão - Azulejo - Igreja Matriz de Rio Tinto -
Concelho de Gondomar - Porto / Portugal