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sexta-feira, 17 de março de 2023

ILÍADA, ODISSEIA E ENEIDA (TRÊS OBRAS CLÁSSICAS EM UM ÚNICO TEXTO)

EDIÇÃO ESPECIAL (I)

RAZÕES QUE ADOTEI PARA ORDENAR AS OBRAS CLÁSSICAS ILÍADA, ODISSEIA E ENEIDA. 

As resenhas das obras clássicas “Ilíada” e “Odisseia” de Homero e “Eneida” de Virgílio podem ser consideradas capítulos de uma mesma narrativa épica. "Eneida" também tem origem na guerra de Troia, com a fuga de Eneias de sua cidade destruída pelos gregos.

Com efeito, na “Iliada” Homero descreve a guerra de Troia, na qual os gregos (ou aqueus) avançam sobre os troianos tendo como causa, o rapto de Helena, esposa de Menelau por Páris. Na “Odisseia” dá-se a narrativa da volta de Ulisses à Ítaca, depois de vencida a guerra de Troia, viagens cheias de percalços, com castigos dos deuses do Olimpo, que perduraria por 10 anos.

Quando foram escritas a "Ilíada" e a "Odisseia", por Homero? No século dez antes de Cristo? Ou no século sétimo?

Mas, quem foi Homero?

Poeta épico grego, cuja data de nascimento é controversa, mas pode-se situar há cerca de 900 anos antes de Cristo. Teria vivido uns 30 anos, pouco mais.

Estudiosos chegam a admitir que Homero nunca existiu e que essas obras foram escritas por vários autores ou, por outra, elas são constituídas de textos de poemas diversos compilados.

No andamento da leitura, em determinadas narrativas parece haver alguma desconexão, mas isso não tira o interesse por ambas as obras.

Na obra “Eneida”, poema épico de Virgílio conta a história de Eneias (Eneas), troiano que escapou da guerra de Troia, como herói mesmo sendo seus exércitos derrotados pelos gregos. Há referência ao “cavalo de madeira” grego de proporções que possibilitou entrarem em Troia derrotando seu exército.

Eneida” foi escrita há mais de dois mil anos.


ILÍADA












O volume que li da “Ilíada", não é em verso, mas em prosa numa tradução esmerada.

A obra para quem a ler integralmente, pode se surpreender.

Desfilam em suas páginas os deuses que influenciaram diretamente os eventos da guerra, protegendo ou os gregos ou os troianos, saindo dessas posições até mesmo contatos ríspidos no Olimpo:

Zeus, o deus pai tem interferência direta nos combates. Há deuses protegendo os troianos na figura do valente Heitor enquanto que do lado dos gregos, Heras, "a dos olhos bovinos", irmã e esposa do próprio Zeus, "o ajuntador de nuvens" e Poseidon - "o abalador da terra". Mas, não só, outros participam influenciando no desfecho de lutas e batalhas.

[Três mil anos a idade das obras de Homero, e ele descreve desavenças sérias entre Hera e Zeus, irmãos e cônjuges. Coisas do tipo: "traiçoeiro", acusa Hera, Em outro trecho, agora o qualificativo de Zeus: "Louca, és sempre desconfiada, nem eu escapo de ti". E as divergência do casal não param aí].

Os deuses, então, menos que paz, incitando a guerra.

Heróis na narrativa, que se destacam

ULISSES, "de muitos ardis" sempre citado pelo protagonismo na construção do "cavalo de Troia" que, como presente "de grego", foi introduzido livremente na cidade inimiga  levando em seu "corpo", soldados gregos que dele saíram propiciando o ataque e a destruição de Troia, também denominada Ílion.

O que surpreende em a “Ilíada", porém, é que nas suas 421 páginas, Ulisses aparece como um personagem de pouca expressão ou participação nos combates.

Não há referências ao "cavalo de Tróia" nessa obra. Disso falarei à frente. 

AQUILES "dos pés ligeiros", sim, é o protagonista, mas nada é explanado na obra em relação ao seu calcanhar vulnerável. É um herói sanguinário que não faz concessão aos inimigos que derruba: ou a morte pela lança, ou a morte quando fisicamente dominados.

A obra revela outros heróis, como Agamenon - "rei dos homens" -, Diomedes, os dois Ajax, Pátroclo e mesmo Menelau entre os gregos, chamados na obra também como aqueus e entre os troianos, principalmente Heitor, "semelhante aos deuses" e Eneias. 

ENEIAS poderia ter sido morto por Diomedes, mas foi protegido pelo deus Apolo.

De certa maneira, Menelau foi aconselhado por Agamenon, seu irmão, a não se expor muito nas batalhas.

MENELAU é lembrado por causa da Helena, sua mulher, vítima de rapto consentido (?) e PÁRIS, o raptor, também chamado na obra de Alexandre.

HELENA se fixou bem em Troia mas arrependida como veremos.

No bom texto da dobra da capa, lê-se que

"Estamos diante de Troia. A guerra já dura nove anos. Páris ou Alexandre, príncipe de Tróia havia sequestrado durante sua visita, a mulher de Menelau, rei de Esparta, Helena, a mais bela das mulheres. Menelau recorre  aos outros líderes gregos  e vai atacar a famosa cidade."

Há, aqui, no meu modo de ver, imprecisões de datas que afetará até a ausência de Ulisses de sua pátria, Ítaca, em vez de 10 anos – lapso muitas vezes citado, mas beirando 20 anos (dez anos na guerra de Troia e dez anos para conseguir o retorno à pátria).

Na “Ilíada” a narrativa começa com um desentendimento severo entre Aquiles e Agamenon, “rei dos homens”, que o obriga a lhe entregar um "troféu" de guerra, uma linda mulher, Briseis, virginal.

Aquiles obedece, os deuses intervém e não se dá a violência entre eles, mas guarda um ódio mortal contra Agamenon a ponto de não participar das batalhas ao lado dos aqueus (gregos), Aquiles chora muito essa contrariedade, sendo consolado por sua mãe, a deusa Tétis que chegara mesmo a Zeus, pedindo a proteção ao filho ultrajado, "cujo destino é bem curto".

De um modo ou outro, Aquiles seria decisivo na guerra. Ele só entrará nos combates, com sua poderosa lança e armadura de bronze muito forte, quando seu companheiro e amigo muito estimado, Pátroclo fora morto por Heitor.

Zeus dissera que Heitor seria morto por Aquiles e tal se confirmaria após muitas rusgas entre eles com deuses interferindo protegendo um e outro.

Boa parte do livro se refere a descrição de batalhas sangrentas porque as vítimas caiam a poder de lanças de bronze ou de espadas.

Não havia compaixão de parte a parte, ninguém era perdoado na hora do confronto. A glória era abater o inimigo e mais a glória seria exaltada se a vítima tivesse fama de lutador invencível. E a obtenção da armadura do morto era o troféu.

Algumas descrições às vítimas de lança certeira:

● A lança atingiu o nariz da vítima, junto dos olhos e passou pelos dentes, cortando a língua sob a raiz e a ponta apareceu sobre a mandíbula...

Ou então,

● ...atirou uma seta de sete pontas, quando ele se retirava, atingindo nádega direita do inimigo. A seta penetrou na bexiga, embaixo do osso. Ele caiu e o sangue ensopou a terra... 

E mais,

● A pontiaguda lança atingiu a testa do combatente e os miolos se "dispersaram do lado de dentro" e ele morreu. 

Com Ulisses, Agamenon e Diomedes feridos, com a ajuda dos deuses e com Heitor protegido por alguns deles, inclusive por Zeus, os troianos se aproximam ameaçadoramente dos redutos gregos inclusive incendiando seus "côncavos" navios.

Então, Pátroclo, aliado e companheiro de Aquiles, chega até ele implorando que entre na guerra para vencer os troianos.

Aquiles não se emociona, mantém ainda o rancor pelo ato de Agamenon em retirar dele, a bela Briseis, "troféu" de conquista de batalha, a tal ponto em recusar até valiosos presentes dele na tentativa de reparar a humilhação que lhe impusera.

Então, Aquiles incentiva Pátroclo a partir para a batalha e para isso cede-lhe sua armadura e armas.

Pátroclo assim age e vai matando muitos troianos, até ser morto por Heitor, "o matador de homens".

Há, então, uma disputa  pelo corpo de Pátroclo: os troianos o querem como troféu e os aqueus o querem para a devida cerimônia fúnebre.

Conseguido o corpo, os aqueus informam da morte do amigo a Aquiles. Este porque chorão como era, se emociona e chora copiosamente enquanto se preparam as cerimônias fúnebres.

Decide partir para a guerra, sabendo que era temido pelos inimigos. O deus Hefestos fabrica nova armadura e armas para Aquiles a pedido de sua mãe Tétis.

Ao saberem da entrada de Aquiles na guerra, os pais de Heitor (Príamo e Andrômaca), que já choravam a perda de filhos na guerra, imploram: 

- Heitor, querido filho, não enfrentes sozinho aquele homem. longe dos outros, para que não encontres sem demora o teu destino, abatido pelo filho de Peleu, eis que aquele homem cruel é muito mais forte. 

Não demoraria, e Heitor, enfrentando Aquiles seria morto por um golpe de lança que atravessaria facilmente seu "macio pescoço". Heitor ainda teve tempo de pedir a Aquiles, em nome dos seus pais, que não o deixasse como alimento dos cães gregos.

Mas, Aquiles, com desprezo e rancor:

- Cão, não me supliques pelos meus joelhos e por meus país.

Morto Heitor, uma grande consternação em Troia, o desespero de seus país, tudo agravado pelo modo como agiu o algoz, arrastando o corpo do morto em volta do túmulo de Pátroclo.

Zeus e outros imortais, apiedam-se daquele modo de agir de Aquiles. Então, Zeus chamou a deusa Tétis para que levasse uma mensagem ao filho, determinando que ele entregasse o corpo de Heitor aos seus pais.

Assim se deu, observando Tétis que Aquiles já chorara demais pela morte de Pátroclo:

- Meu filho, por quanto tempo consumirás teu coração chorando e sofrendo, sem pensar no alimento e no leito? Coisa agradável é deitar-se com uma mulher para o amor.(?)

Príamo por mensageira de Zeus foi informado que deveria ir aos redutos gregos com ricos presentes a título de resgate e levasse para Troia o corpo de Heitor. 

Vacilando muito, o velho Príamo (pai de Heitor), assim fez. Tratado com frieza mas com respeito, acabou por levar o corpo do filho à sua cidade, dando-se, então, a cerimônia fúnebre.

Ilíada" assim se encerra no relato dessa cerimônia, sem narrar o desfecho da guerra…

O CALCANHAR DE AQUILES

Esse mito não é encontrado na “Ilíada” ou em qualquer obra.

É um mito oral, pode-se assim dizer, inserido num outro mito.

Aquiles era filho de Tétis, deusa do mar e de Peleu, rei dos Mirmidões (Tessália). Quando criança, sua mãe, segurando-o pelo calcanhar o mergulhou nas águas do rio Estinge como um modo de lhe dar a imortalidade. Mas, onde Tétis o segurou no calcanhar não foi banhado pelas águas, deixando-o vulnerável, então, nesse pequeno ponto.

Continua o mito revelando que Aquiles fora morto por uma flecha envenenada atirada por Páris certeira no calcanhar vulnerável dirigida pelo deus Apolo que passara a odiar o herói grego.

E O CAVALO DE TROIA, O FAMOSO "PRESENTE DE GREGO"?

Não há menção sobre essa lenda na "Ilíada".

Mas, a menção se dá sem detalhes na "Odisseia" do mesmo Homero.

Comentário de Menelau às lembranças de Helena de volta ao lar grego sobre Ulisses e o "cavalo de Troia":

"(...) Conheci por experiência os pensamentos e a bravura de muitos heróis, percorri o vasto mundo nunca, porém, meus olhos viram quem possuísse um coração como o do paciente Ulisses. Atentai no que ousou e empreendeu este homem enérgico, dentro do cavalo de madeira, onde os mais valentes dos Argivos (gregos) estávamos emboscados, para levar extermínio e morte aos troianos." (*)

E na "Eneida" de Virgílio que narra a fuga de Eneias da Troia destruída:

"Já fatigados da guerra e repelido pelos fados (destinos), no correr de tantos anos, os chefes gregos, por inspiração de Minerva, constroem um cavalo, tão grande como um monte, tecendo-lhe os costados de pranchas de abeto, e fazem divulgar ser aquilo um voto pelo seu feliz regresso. Dentro, no bojo escuro lhe metem escondidos guerreiros e de armada soldadesca enchem-lhe o ventre e todas as cavidades." (**)

HELENA

A guerra de Troia está muita acima do ousado sequestro da linda Helena, esposa de Menelau, por Páris (Alexandre).

Claro que na obra de Homero, há referências a essa ato ousado (e consentido) de Páris, pensado pelo seu próprio irmão, Heitor.

Diz ele:

"E se eu pusesse no chão meu escudo e o pesado elmo e fosse ao encontro do admirável Aquiles e prometesse entregar Helena aos filhos de Atreu (Agamenon e Menelau), para que a levassem e, com ela, todos os bens que Alexandre trouxe nos côncavos navios para Troia que foi o começo de toda a guerra..."

Escreveu Virgílio na sua "Eneida":

"Não lances a culpa à formosa e odiada Helena nem a Páris tampouco; foi a inclemência dos deuses que destruiu a poderosa Troia."

Em todas as linhas de a "Ilíada", Helena era qualificada como a esposa de Páris (ou Alexandre), mas quando chamada carinhosamente por seu sogro Príamo para ver em batalha seus  irmãos e conhecidos gregos, inclusive Agamenon, seu cunhado, ela mostra arrependimento por estar em Troia, mas não fora forçada a seguir o troiano, seu marido:

- Oh! oxalá a negra morte tivesse me tomado quando segui teu filho até aqui, deixando meus aposentos, meus irmãos, meu filhinho e o grupo alegre de minhas companheiras. Já, porém, que tal não se deu, eu me consumo com o pranto."

Na solenidade fúnebre de Heitor - e aqui uma questão de datas - Helena agradece o falecido pelo modo carinhoso como fora sempre tratada por ele, reafirma que melhor tivesse perecido em seguir o marido Páris, dizendo:

"Eis que faz vinte anos que aqui estou e deixei minha pátria.

Vinte anos! Esse tempo posterga muitos eventos situados na obra de Homero!

Referindo aos feitos de Ulisses, relatados na "Odisseia" explica Helena:

"E após ter massacrado muitos troianos com o bronze de afiada ponta, voltou a reunir-se aos Argivos (gregos) de posse de muitas informações. Então as outras mulheres troianas soltavam lancinantes lamentações, mas eu exultava de alegria, porque meu coração já era outro. Ansiava por voltar para casa e lamentava a cegueira com que Afrodite me ferira ao conduzir-me para lá, longe da pátria. deixando atrás de mim a filha (na "Iliada" ela se refere a filhinho), o tálamo (leito nupcial) e o esposo, que a ninguém é inferior em espírito e beleza".

Não parece muito claro a fidelidade de Helena a Menelau. Tome-se o exemplo de Penélope, a esposa de Ulisses.

Mas, tudo isso é literatura rica e fantástica.


ODISSEIA













Ulisses embora valente, o saqueador de cidades, chorava de saudade de sua Ítaca, de sua esposa Penélope - "a mais cordata das mulheres" e de seu filho Telêmaco.

Esses sentimentos, no longo poema de Homero, brotaram pela série de desafios enfrentados por Ulisses - especialmente 
os obstáculos impostos pelo deuses imortais para que voltasse ele para o lar, para Ítaca, após participar da guerra de Troia - o livro o coloca mesmo como um dos membros que conduziram o cavalo monumento de madeira, "presente de grego" aos troianos que os levou à derrota.

O poema - que li numa boa edição em prosa mas que não difere muito de edição da década de 40 que 
examinei - para mim realça estas virtudes do herói: fidelidade, coragem e heroísmo.

No poema os deuses do Olimpo e os homens mortais tinham relação muito próxima. Muitas vezes os mortais recebiam auxílio ou castigo direto de Zeus e de outros deuses tanto que a deusa Atena, de "olhos brilhantes" protege Ulisses até que voltasse a Ítaca mesmo enfrentado todo tipo de desafios e indivíduos monstruosos.

Depois de anos de ausência, após participar ativamente da guerra de Troia, o destino de Ulisses era uma grande dúvida: fora morto nalguma batalha? Ele teria morrido num naufrágio? Ou estaria vivo ainda prisioneiro nalguma terra distante?

Essa dúvida magoava demais sua esposa Penélope e seu filho Telêmaco já adulto.

Então, com essa dúvida, Telêmaco viaja por outras terras tentando obter informações seguras do paradeiro do pai, sem sucesso.

Ao mesmo tempo, sua mãe chorava muito a ausência do marido e, tanta a demora de notícias que na sua rica morada, acumularam-se varões de Ítaca pretendentes em receber um sim matrimonial de Penélope. Eles acreditavam que Ulisses morrera pelo que Penélope viúva, de notável beleza, poderia se casar com algum dos pretendentes, aquele mais rico e que lhe oferecesse os presentes mais valiosos.

Esses pretendentes praticamente viviam na mansão de Ulisses, alimentando-se de seus rebanhos atitude abusada porque dilapidavam suas riquezas. Houve revolta desses assediadores quando descobriram que o véu tecido por Penélope, futura mortalha para embalar seu sogro Laertes ao morrer, se casaria quando estivesse pronta, mas à noite desmanchava o que de dia tecera.

Telêmaco ao retornar da viagem sem a confirmação se seu pai vivia ou morrera, cuidara que não fosse assassinado pelos pretendentes que o tinham como empecilho ao casamento de sua mãe.

Por sete anos viveu Ulisses com a deusa-ninfa Calipso na Ilha Ogigia depois que sua nau fora destroçada e mortos seus companheiros por violenta tempestade como castigo imposto por Zeus, a pedido do deus Helio pelo abate de vacas deste criadas em suas terras. 

Linhas à frente, volto a esse episódio.

Calipso queria ter Ulisses como esposo. E ele era o amante dela.

Tal perdurou até que a deusa Atena interveio por Ulisses perante Zeus, que determinou que Hermes fosse até Calipso para lhe comunicar que Ulisses deveria retornar à sua terra natal, Ítaca. 

Calipso  promete a Ulisses, se ficasse, se tornaria imortal. Para voltar à esposa Penélope em Ítaca, enfrentaria grandes dificuldades. Mas, ela o auxilia na construção de uma jangada e ele parte.

Essa embarcação é destruída por ato de Posídon que provocara severa tormenta no mar.

O herói se salva chegando à terra dos Féaces.

Recebido com honras pelo rei Alcino – que lhe oferece múltiplos e valiosos presentes - mesmo sem que fosse conhecida sua identidade, depois de um tempo, afirma ser Ulisses e, a pedido do monarca, relata toda sua odisseia até chegar ali.

Relata que ao deixar Ílion, os ventos o levam a Ísmaro, saqueiam a cidade, ficam com as mulheres mas são atacados pelos cícones. Das batalhas havidas, morrem alguns de seus companheiros.

Na fuga suas naus são desviadas para terras dos Ciclopes e lá se depara com o gigante Polifemo, dotado de apenas um olho, hábil pastor. 

O gigante os aprisiona em sua caverna, devora seis dos companheiros de Ulisses e mantém refém os demais para a mesma finalidade.

Então, Ulisses e seus companheiros sobreviventes, embebedam Polifeno com vinho, preparam um grande tronco fino comprido, aproveitam sua embriagues e o cegam. 

Na fuga que se segue, Polifeno tenta os atingir com enormes pedras atiradas a esmo e sem direção ao mar.

Polifeno, filho de Posídon, roga ao pai que nunca permita que Ulisses retorne ao lar, a Ítaca.

Aporta Ulisses na Ilha de Eólia terra dos guardiões do vento, onde vivia Éolo. Bem recebido, para que Ulisses e os seus companheiros partissem, Éolo garantiu que os ventos os conduziriam ao destino. Para tanto lhe presenteara com um odre que aprisionava os ventos desfavoráveis. 

Mas na viagem, esse odre foi aberto desencadeando o sopro de ventos desfavoráveis. Suas naus voltam à Ilha de Eólia. Éolo não os recebe de novo e, então, aportam na terra dos Lestrigões.

Dos dois grupos para conhecer a região, um deles, no qual não estava Ulisses, dera-se com Circe, feiticeira que lhes ofereceu uma bebida, transformando-os em porcos.

Hermes aparece para Ulisses e lhe ensina o truque para salvar seus companheiros vítimas do feitiço: ervas lhe foram entregues que impediriam o feitiço de Circe.

Assim, feito, Ulisses por recomendação do deus, ameaça matá-la. Circe assustada liberta seus companheiros do feitiço.

Depois de um ano com Circe e seus banquetes, Ulisses lhe informa que partiriam para a terra natal.

Mas, Circe lhe diz que, antes, deve viajar até a região de Hades - morada dos mortos - e da "terrível Perséfone" para consultar o adivinho Tirésias, já morto mas que mantinha os mesmos poderes de quando vivo. (*)

Ulisses chora muito esse novo desafio, mas para lá vai.

A primeira alma que aparece, já na região de Hades, é Elpenor, companheiro de Ulisses que morrera de acidente na morada de Circe e estava, ainda, sem sepultura.

Para receber Tirésias imola um carneiro negro e deixa correr "o seu negro sangue". (**)

Este, após beber o "negro sangue", informa que a chegada de Ulisses a Ítaca será dificultada pelo "Sacudidor da terra ", Posídon, que pretenderia vingar a cegueira imposta ao seu filho Polifeno.

Mas, disse, também, o adivinho, que conseguiria escapar das tormentas aportando na ilha do Tridente mas não deveria se aproximar dos carneiros e vacas do deus Hélio.

Ulisses, depois de deixar Tirésias encontra sua mãe e, emocionado, tenta abraçá-la mas, ela evitava a aproximação como se "fosse uma sombra ou um sonho."

Todos os mortos se aproximaram de Ulisses, tentando expor suas angústia. 

Reconheceu a bela mãe de Édipo, o aqui chamada de Epicasta que se casara, sem o saber, com o próprio filho. (**)

Viu Tício, sendo atacado por dois abutres que dilaceravam seu fígado por ter violentado Leto, a "ilustre esposa de Zeus".

E outros conhecidos de Ulisses sofriam castigos.

Todos estavam ávidos em sorver o "sangue negro" dos animais abatidos. 

Então, vencida essa etapa, volta aos domínios de Circe para sepultar seu companheiro Elpenor.

Ela o avisa para ser cauteloso quando chegasse na região das sereias porque seu cantar melodioso encantava os viajantes que não resistiam à sedução e por lá ficavam cativos, numa espécie de deslumbramento.

Também haveria que cuidar muito quando se aproximasse da região de Cila e Caríbedes, devendo ficar mais próximo de Cila.

Para não ouvir o canto das sereias, ele obriga que seus companheiros tapem os ouvidos com cera. Ulisses pede para ser amarrado num mastro e suporta  a sedução das sereias que 'inundavam  seu coração'. 

Cila era um monstro horrendo com 12 pés e seis cabeças descomunais das quais não havia quem escapasse. 

Circe recomendara a Ulisses que não empunhasse qualquer de suas armas para não provocar Cila.

Esquecido desse conselho, Ulisses arma-se. Cila atacou a nau  apreendendo e devorando seis dos companheiros de Ulisses,

Caríbedes tinha o poder, ao engolir a água salgada e quando a vomitava o mar se tornava revolto e efervescente.

Mas, ao escaparem, mesmo com os seis companheiros devorados aportam na ilha de Hélio. 

Os companheiros de Ulisses, quando não havia mais alimentos, abatem vacas do deus Hélio que pede a Zeus que todos eles sejam mortos como castigo.

Tal ocorre, apenas Ulisses é poupado e ele é atirado na ilha da deusa Calipso. 

Dai, vai em busca de sua terra, Ítaca, numa jangada e, poupado, chega à terra dos Féaces.

Depois de ouvir tudo o que Ulisses enfrentara, Alcino, rei dos Féaces, resolve equipar uma nau e conduzi-lo a Ítaca, não sem antes dar-lhe muitos presentes.

E Ulisses chega a Ítaca. A deusa Atena que o protegia, o "transforma" num mendigo irreconhecível de tal ordem a que conhecesse a quem poderia confiar e quem o traia.

O único que o reconheceu foi seu fiel cão Argos, meio abandonado, que se ergue à chegada do dono.

Seu porqueiro fiel se emociona porque acreditava na morte de seu senhor.

Algum tempo depois Ulisses se dá a conhecer a seu filho Telêmaco e ambos engendram um plano para se vingar dos pretendentes matando todos eles.

Ulisses mendigo aos poucos vai se aproximando de sua mansão sob escárnio e protesto dos pretendentes que ainda assim lhe davam algum alimento como esmola.

A velha escrava Euricléia ao lavar os pés do mendigo por ordem de Penélope, reconheceu que era Ulisses por uma cicatriz profunda na perna que ficara após o ataque de um javali. Ele pede à escrava que mantenha o segredo de sua identidade.

Penélope também não o reconhecera. Ela sugere uma prova aos pretendentes: que aquele que vergasse o arco de Ulisses, fixasse a corda e armá-lo, ao mirar uma flecha, deveria ela ultrapassar o furo de 12 machados devidamente postos em linha.

Telêmaco parecia  conseguir vergar o arco, mas Ulisses com um gesto imperceptível o impediu de prosseguir.

Então o arco é dado ao mendigo sob protestos. Este não só consegue vergá-lo como mira a flecha que ultrapassa o orifício dos machados.

Feito isso, apoiado pelo porqueiro Eumeu, com o boieiro Filécio  e Telêmaco, começam a matar todos os pretendentes.

E conseguem. Os corpos são levados para um local da morada enquanto Ulisses vai em busca do pai Laertes nos campos porque esperava a reação de toda Ítaca. Foram mortas figuras destacadas da cidade. 

[É nessa visita emocionada entre pai e filho que se sabe que o velho Laertes cultivava frutas em seus campos. Essa é única referência a esse tipo de alimento em toda a Odisseia. A predominância sempre fora nos festins constantes, a carne. o pão e o vinho].

Zeus, todavia, a pedido da deusa Atena, decreta a paz em Ítaca, mesmo após aquelas mortes todas.

Quando Penélope, "a mais cordata das mulheres", finalmente reconhece que o mendigo estrangeiro era Ulisses, agora devidamente apresentado com vestes ricas, se emociona muito e seguem para recuperar o amor de tantos anos passados.

Haviam se passado 20 anos.

MORAL DA HISTÓRIA

A "Odisseia" de Homero traz no seu conteúdo, timbres de fidelidade matrimonial, o amor filial, a coragem e a sensibilidade porque o herói chorava. Mas, também, a vingança para salvar a honra. Todos os sacrifícios, os percalços e os monstros extraordinários (Polifeno e Cila) enfrentados por Ulisses, podem ser qualificados como as dificuldades da própria vida de cada um e, quanto aos monstros aqueles pensamentos de ódio, destrutivos, que frequentemente habitam a mente mais de uns do que de outros.

E os deuses sempre dirigindo a vida e a morte do mortais. 

E há que destacar a fidelidade de Penélope.


Referências:

(*) Sócrates, diz ele que há almas perdidas fora do mundo invisível que temem a região de Hades, afastam-se do corpo e se tornam visíveis, vagando em volta dos túmulos, dos cemitérios, fantasmas medonhos, espectros assustadores. 

Acessar: SÓCRATES DE PLATÃO

(**) Tirésias é o mesmo adivinho da obra teatral "Edipo Rei" de Sófocles. Epicasta n obra de Sófocles é chamada de Jocasta.

Acessar: ÉDIPO REI de Sófocles


ENEIDA













ENEIDA é um poema épico de Virgílio que conta a história de Eneias, troiano que escapou da guerra de Troia como herói mesmo sendo seus exércitos derrotados pelos gregos que conseguiram entrar na cidade tendo como meio, o famoso cavalo de madeira ("o presente de grego").

Nesse cavalo de madeira, de proporções, se escondiam militares gregos que praticamente destruíram Troia.

O exemplar que tenho de Eneida é 
também em prosa, não em verso, como se constitui a obra original de Virgílio, edição dos primeiros anos da década de 1940.

A obra de Virgílio foi 
conhecida há mais de 2000 anos, pouco tempo antes do surgimento do cristianismo.

Na “Eneida” dá-se relato das lutas de Eneias, guerreiro heroico de Troia que dela foge para se instalar no Lácio, Itália.

Eneias com a ajuda de sua mãe, a deusa Vênus, escapa de Troia devastada pel
os gregos. No trajeto da fuga, na qual o acompanha seu filho Ascânio, desaparece sua esposa Creusa por ordem dos deuses do Olimpo.

Também ele vence obstáculos de toda natureza, o ódio e as ciladas da deusa Juno. 

Na obra  cenas de amor, de suicídio por amor e muitas lutas violentas, a poder de lanças e flechas. Essas lutas ou guerras tinham por objetivo, além de conseguirem os troianos territórios da Itália para fundarem os troianos uma nova cidade. E, também, a conquista por Eneias, de Lavínia, noiva que lhe fora prometida pelo rei Latino mas que seria depois seu inimigo na guerra por influência de Turno também seu inimigo.

Na obra Eneida há também, como na
s obras de Homero, monstros.  Destaco as harpias que voando dos montes, batendo suas asas com "horripilante ruído", roubam as iguarias "sujam  tudo com seu imundo contato" e exalam mau cheiro e seus gritos selváticos.

Quando conseguiu, com seus navios se afastar da região de Troia devastada, por má influência da deusa Juno, os ventos soprados pelo deus Eólio fazendo o mar revolto, os troianos aportam sem o saber nas terras Líbias, na cidade de Cartago na qual a bela Dido, a rainha, vinha construindo.


Enéias e seu grupo são bem recebidos em Cartago. En
eias  relata a Dido todas as suas aventuras, as batalhas em Troia destruída e incendiada, evitado o reino de Ítaca, berço do cruel Ulisses, a morte brutal do velho Príamo, rei troiano...

Por obra de Citereia (Vênus), atacada por Cupido disfarçado, Dido se apaixona por En
eias e pensa em retê-lo para com ele viver. Se entrega a ele, mas Júpiter ordena que seja o herói avisado pelo mensageiro Mercúrio que não seria Cartago o seu destino e o obriga a viajar nos rumos do seu reservado destino (fados), a Itália.

Eneias se emociona em deixar Dido. Esta, perdida de amor e pela fuga de seu amante, envergonhada, se suicida.

Chegando à Sicília, em homenagem a seu pai, Anquises, promove jogos fúnebres mas as mulheres troianas, cansadas das viagens e por sugestão de Juno, incendeiam navios. Então Eneias, funda a cidade de Acesta, deixando lá as mulheres e os inválidos, seguindo seu destino.

Aporta então em Cumas e lá se encontra com Sibila, aquela que "inspira o furor divino e revela o futuro". Com ela desce aos infernos para ver a sombra" do pai, Anquises. Nesse ambiente sombrio constata todo o sofrimento daqueles que em vida pecaram gravemente, as desgraças que afetam os mortais, horríveis monstros...

Chegam na caminhada num ambiente mais sereno, nos "Campos Fortunados" onde se reúnem aqueles  heróis, "dos que em peleja morreram pela pátria, os sacerdotes puros durante a vida, os vates piedosos, que disseram coisas dignas de Apolo, os que inventaram artes para  melhorar a vida..."


Eneias encontrou a sombra do pai. Tenta abraçá-lo mas sendo uma sombra escapa pelos seus braços.


Anquises então explica ao filho o modo de renascer na terra, muita semelhança com os que 
acreditam em reencarnação. São "almas depuradas" as que voltam à vida, "para que deslembrados do passado, tornem a ver a face da terra e queiram voltar aos novos corpos".

Prosseguindo na viagem chega à foz do Rio Tibre.


O rei Latino percebe a presença de estrangeiros e que pretendiam se apossar de 
territórios da Itália.

Nessa perspectiva estava Lavínia acendendo as chamas dos altares dos deuses ao lado do seu pai quando um prodígio se realizou ampliando-se o fogo por todo o recinto e queimando parte dos longos cabelos dela.


Foi considerado um presságio.


Então Latino consultou um oráculo. Este confirmou que um estrangeiro ilustre  chegaria e deveria desposar sua filha Lavínia.


Latino recebeu En
eias e sua comitiva muito bem. Ofereceu território para que construísse uma cidade e ofereceu sua filha em casamento.

Eis que Juno, esposa de Júpiter que odiava os troianos, interveio para, por uma divindade do mal, "envenenar" Amata que cuidava do casamento de Lavínia com Turno.


El
a não convence Latino a romper com o prometido a Eneias. 

Então, instiga o ódio em Turno que declara guerra os troianos, buscando somar ao exército italiano outros exércitos de reinos vizinhas. E sob essas forças revoltas em sua volta, então, Latino se volta contra Eneias

En
eias, por sua vez, ao saber da guerra declarada também busca outros aliados. Orientado pelo deus Tiberino busca Arcade e pede o apoio do rei Evandro.

Evandro aceita ajudar destacando seu filho Palante para comandar o seu exército em apoio a En
eias.

Os combates violentos são descritos por Virgílio de modo realista, como neste trecho:


"Ouvem-se os gemidos dos moribundos, na sangueira rolam armas, cadáveres e cavalos a morrer acende-se áspera batalha".


Latino percebendo o mal que fizera a guerra em seu reino, se arrepende muito de não ter mantido a promessa feita a En
eias, aceitando a guerra proclamada por Turno também pretendente de sua filha Lavínia.

"De todos os pontos da cidade corre-se aos muros. O rei Latino dissolve a assembleia e adia o conselho, lastimando-se por não ter espontaneamente recebido e como genro associado ao reino o dardânio Eneias."

Turno é auxiliado por sua irmã Juturna que pode ter ferido Enéias com uma flecha (
a obra não revela isso) mas ele se recupera logo com a ajuda de Vênus.

En
eias e Turno eram exímios lutadores e praticamente venciam todos os adversários a frente. E o final dos combates se daria em duelo entre Turno e Eneias.

Nessa luta final entre Eneias e Turno, havia a sensação de que este seria morto pelo adversário.

Turno permanece indeciso, medroso e 
à distância. Eneias, então, atira de longe a lança que trespassa a coxa de Turno que se ajoelha indo ao chão aquele corpo avantajado (v. ilustração na capa do livro).

Ao se aproximar do adversário caído, En
eias até vacilava em matá-lo, ouve dele que Lavínia lhe pertence, que ele vencera a guerra,  mas vê nos ombros despojos do jovem Palante - filho de seu aliado Evandro - morto por Turno e, então, cheio de ira, "impetuoso embebe a espada no peito do inimigo".

A heroína: Camila, de peitos nus, luta bravamente ao lado de Turno, inimigo de Eneias mas é morta em combate. 

MORAL DA HISTÓRIA

Não se subestime a fé dos mortais nesses poemas épicos tributada aos seus deuses pagãos, porque as orações nos momentos difíceis eram parecidas às de hoje nas quais os crentes rezam para Deus ou suas Divindades: as orações dos mortais gregos e troianos pediam aos deuses, a vitória, a preservação da vida nas batalhas e nas intempéries, realização de desejos...

Então, nem se estranhe a presença permanentes dos deuses do Olimpo muitas vezes se relacionando com os mortais, porque tantos são os que creem que Deus e as Divindades de hoje também agem respondendo orações piedosas.


Há inclusive o cumprimento dos fados (do destino) que Júpiter reluta em mudar ao pedido que ajudasse En
eias nas batalhas.


MITOLOGIA GREGA: MUITO EXTENSAS ESTAS RESENHAS E COMENTÁRIOS DOS TRÊS LIVROS. E NÃO É SÓ ISSO, HÁ MUITO MAIS.  OS TEXTOS SÃO DENSOS MESMO "EM PROSA" COMO SÃO ESSAS OBRAS RELATADAS.

SERÁ SEMPRE BOM RECEBER CRÍTICAS E CORREÇÕES TANTAS AS ALTERNATIVAS QUE AS OBRAS APRESENTAM.