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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

RECORDAÇÕES DA CASA DOS MORTOS de Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski

O LIVRO TEM TAMBÉM ESTE TÍTULO: "ESCRITOS DA CASA MORTA"


Livro 34

Não creio que essa obra seja a mais conhecida de Dostoiévski. Mas, é ela importante. Não tem o vigor psicológico da obra prima “Crime e Castigo”.

Por quatro anos de 1849 a 1854 esteve Dostoiévski preso, condenado ao fuzilamento acusado de conspirar contra o czar pena substituída, felizmente, por trabalhos forçados em prisão na Sibéria. Essa experiência constituiu a inspiração para o livro.

Na biografia ao final do livro, “Recordações da Casa dos Mortos” a obra é qualificada como romance. Para mim, porém, há momentos em que a narrativa tem um timbre de crônicas, tais múltiplos tipos humanos que conhece na prisão e os descreve. 

A repulsa que lhe causam criminosos bárbaros que com ele convivia ocasionalmente nos 10 anos em que cumpriu sua pena.

O personagem Alielksandr Peitróvitch fora condenado por assassinar sua esposa por ciúmes e adultério. Sua pena não fora mais severa porque após o crime, se entregou às autoridades.
















Alielksandr Peitróvitch, o personagem do livro, ao chegar na prisão fora tratado com indiferença e até ódio por aqueles condenados porque era considerado nobre e como tal, não era um igual e, por isso, haveria que ser desprezado.

Aproximaram-se dele presos que, submissos, se prestavam ao trabalho doméstico àqueles que pudesse pagar.

Quando o narrador cumpre a pena e está prestes a deixar a prisão um desses personagens confessa sua afeição:

“Sukhilov se levanta antes de todos, para me preparar antecipadamente um chá. Pobre Sukhilov! Pôs a chorar quando lhe dei meu miserável enxoval... “Não me conformo, não me conformo... Que falta vou sentir do meu amigo Alielksandr Peitróvitch...Como posso ficar aqui sozinho?”

[Não há indicações de homossexualismo].

A descrição da vida na prisão não revela muitos atritos. Havia o major, administrador muito rigoroso na manutenção da disciplina valendo-se dos castigos corporais (açoites)

Aliás, dependendo do crime praticado, naqueles tempos o açoite poderia fazer parte da pena, às vezes em número elevado de chibatadas que era cumprida em etapas até que o preso se recuperasse do castigo parcial anterior.

E o anseio pela liberdade? Havia os desesperançados com anos a cumprir e mesmo assim, há o relato de apenas uma tentativa de fuga frustrada, afinal. Recapturados, os fugitivos receberam como punição centenas de açoites.




Comemoração do dia de Natal. A dor pela liberdade perdida.

Os efeitos do álcool proibido, mas tolerado:

“Ora, no inverno escurece cedo. E cedo vieram o enfado e o surdo desespero, irrompendo por entre lamentações da bebedeira. Muitos que uma hora antes estavam rindo, agora choravam amargamente, completamente ébrios, acuados, num canto qualquer. (...) Outros ainda já nem se aguentavam nas pernas, atravessando como almas penadas os alojamentos, e ainda assim dispostos a provocações. Aqueles que a bebida fizera entristecer, procuravam, bambos, alguma amizade a fim de descarregar a alma, esvaziando-a das mágoas que o álcool despertara. Pobres homens, insistiam em buscar alegria, desejavam avidamente comemorar o dia de Natal, mas, oh, Deus, que ração negra lhes é oferecida ali! Cada qual quisera se iludir com uma felicidade dum só dia, mas mesmo essa não viera, apesar de tão esperada.”

As condições precárias na prisão, se destacavam também no hospital. Ao internado era fornecido um “roupão” considerado nojento porque trazia resíduos fortes dos medicamentos e pomadas utilizadas no paciente que recebera alta. E também a presença de percevejos, “dum tamanho e duma voracidade de espantar”.

Ao deixar a prisão, algumas homenagens de outros presos sem data para obtenção da liberdade, tornou-se professor de francês numa pequena cidade na Sibéria.

Trata-se de um livro denso com 11 capítulos na 1ª parte e 10 na 2ª parte.

Não pelo Autor de quem sou admirador incorrigível, mas gostei muito do livro.

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