Translate

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA - Projetos para o Brasil - Textos reunidos e comentados por Miriam Dolhnikoff

LIVRO 96 


 


 











O livro não explana com detalhes os precedentes da proclamação da Independência por D. Pedro em 7 de setembro de 1822 às margens do riacho do Ipiranga.

Em poucas linhas, então. 

Dom João VI voltara a Portugal por injunções políticas que lá espocaram, deixando aqui Pedro como príncipe Regente da Colônia.

Mas, Portugal passou a pressionar as atividades comerciais que mantinha a Colônia especialmente com a Inglaterra.

Pedro, foi chamado a Portugal. Sua ida significaria o enfraquecimento da aspiração da independência da Colônia que era alimentada no meio político mais esclarecido.
A princesa Leopoldina, esposa de D. Pedro de certo modo aliada a José Bonifácio o convencera em janeiro a permanecer no Brasil. 

Com o agravamento da pressão da coroa portuguesa que exigia a volta do príncipe a Portugal, Dom Pedro em viagem a São Paulo, em setembro, por cartas dirigidas a ele pela esposa e por José Bonifácio — que fora em janeiro nomeado ministro do Império e Negócios Estrangeiros —,  não só reafirmavam que deveria ele permanecer no Brasil e, por outra conta, proclamar a independência.

Este o trecho da carta da princesa Leopoldina:

 “O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio, ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece. Pedro, o momento é o mais importante de vossa vida.

Dia 7 de setembro:
Então, D. Pedro proclama a independência afirmando mesmo que qualquer tropa portuguesa que estivesse no Brasil ou para cá viesse seria considerada inimiga.

José Bonifácio pela sua participação nos atos da independência, influenciando D. Pedro, seria proclamado o "patriarca da independência". 

Esse título seria alterado para patrono quase dois séculos depois, pela Lei nº 13615 de 11.01.2018 que estabeleceu no artigo 1º: "O estadista José Bonifácio de Andrada e Silva é declarado Patrono da Independência do Brasil."

O texto acima tem por objetivo dar um breve trato histórico não explanado no livro. Excertos do livro começam nas linhas a seguir.

Em meados de 1823 se indispõe com D. Pedro e pede demissão do ministério.

Eu imagino, pelos projetos que revela o livro, as ideias de Bonifácio, que não seriam difíceis desentendimentos com um monarca jovem como era D. Pedro. 

Nesse mesmo ano fora instalada a Assembleia Constituinte, na qual José Bonifácio como deputado constituinte apresenta dois projetos: o da libertação dos escravos e o outro o de civilizar os índios bravos do país. 

No caso do projeto da libertação dos escravos, a defesa de Bonifácio até surpreende pelos argumentos que usou. No período de 65 canos entre a proposição de José Bonifácio e abolição em 1888 houve muitos abolicionistas mas creio que Joaquim Nabuco foi o mais destacado deles.

Um trecho longo extraído da exposição de motivos de seu projeto abolicionista:

"Foram os portugueses os primeiros que, desde os  o tempo do infante d. Henrique, fizeram um ramos de comércio legal de prear (fazer prisioneiro) homens livres, e vendê-los como escravos nos mercados europeus e americanos. Ainda hoje perto de quarenta mil criaturas humanas são anualmente arrancadas da África, privadas de seus lares, de seus pais, filhos e irmãos, transportadas às nossas regiões, sem a menor esperança de respirarem outra vez os pátrios ares, e destinadas a trabalhar toda a vida debaixo do açoite cruel de seus senhores, elas, seus filhos, e os filhos de seus filhos para todo o sempre."
  
Quão terrível essa análise: os escravos no Brasil só seriam libertados 65 nos depois o que dá para entender o racismo atávico de tantos até hoje.

No que se refere aos indígenas, seu projeto de integração deles na sociedade brasileira foi bastante extenso, cuidadoso propondo câmaras em cada aldeia para controlar a vida social nessa linha catequista. sempre com a presença de um juiz, vigário.

O projeto, em 1823 fora por demais avançado. Havia os indígenas mais "aculturados" mas havia aqueles que ele chamava de "bravos".

E, então, para esses os missionários deveriam estudar a sua língua e costumes, seu caráter...

Mas, não civilizá-los à força.

E depois, eram os selvícolas "vagabundos" e "voluptuosos" que tinham um modo de vida com nenhuma ou poucas exigências materiais.

"Apesar da indolência excessiva dos índios, são em geral robustos, e amam a guerra, mas detestam o trabalho".

E muitos se perdiam no excesso de consumo de cachaça.

Relata José Bonifácio a presença do padre Vieira quando em 1615 se conquistou o Maranhão quando havia mais de 500 aldeias, em 1652 tudo se consumara. As aldeias eram poucas, cerca de 800 indígenas:

"Calcula o padre Vieira que em trinta anos, pelas guerras, cativeiros, e moléstias, que lhes trouxeram os portugueses, eram mortos mais de dois milhões de índios.

E, pondera, José Bonifácio que "o único favor que nos devem os índios é deixarem de comer carne humana."

Nos dias de hoje, os indígenas que sobreviveram a tudo isso continuam num processo lento de extinção adiada por causa das reservas que lhes foram garantidas, mas que vão sendo invadidas por grileiros, trapaceiros e devastadores das florestas.

José Bonifácio defendia, pode-se dizer, uma raça brasileira com a união de negros e brancos (nascendo os mulatos) e índios:

"Misturados os negros com as índias, e teremos gente ativa e robusta - tirará do pai a energia e da mãe a doçura e bom temperamento".

Em novembro de 1823 Dom Pedro extingue a Assembleia Constituinte por discordar dos seus rumos. Bonifácio é preso e exilado para a França onde permanece até 1829 ano em que volta ao país.

Mas, sobre esse gesto de violência política disse Bonifácio que "todas as tropas que dissolveram a Assembleia são criminosos de lesa-nação e como tais deveriam ser punidos" incluindo aqueles que prenderam os deputados invioláveis..

Informa o livro que José Bonifácio tinha facilidade em arrumar inimigos palacianos inclusive dos Castros, Domitila de Castro e Mello,  Marquesa de Santos, a mais notória entre as amantes de D. Pedro.

Por tudo isso José Bonifácio profere ofensas pessoais contra D. Pedro, do tipo: "soberbo sem estímulo de glória", "sensual sem delicadeza", "cruel por insensível", "sem amigos",  "invejoso e desconfiado"... e por aí vai. 

 ▼

● Literatura: José Bonifácio envereda ea literatura, faz análises de diversos autores anteriores ao seu tempo, discorre sobre a literatura portuguesa e espanhola e para ser poeta:

"A minha veia poética foi aguada pelo amor na primeira mocidade, depois pela vista e contemplação das grandes belezas da natureza em minhas viagens e estudos - para ser poeta é preciso ser namorado ou infeliz." 

 ● Filosofia

Força primordial: "A vontade é a força primordial verdadeira do universo, a que só pode morar nos grandes espíritos."

"Ao ser humano só foi dada uma ou outra faísca da verdade, mas não a plena luz, todos devem buscá-la sincera e zelosamente."

 ● Religião

"O clero, quando não pode ser amo, é escravo dos reis."

"A religião que convida à vadiação e faz do celibato uma virtude é uma planta venenosa no Brasil. Demais o catolicismo convém mais a um governo despótico que a um constitucional."

 ● Miscelânea

"Por que motivo as mulheres devem obedecer as leis feitas sem sua participação e consentimento?"

"Os homens desejam e depois amam; as mulheres amam e depois desejam."

"A verdade é um dos dons mais preciosos que o homem obscuro pode fazer ao homem poderoso."

"Boa regra de viver: fugir de grandes, e cortesãos, sobretudo de frades e clérigos."

 ● Pessoal

"Sempre gostei de passar de um livro a outro diferente, assim como de uma ocupação a outra."

"A fdp ( baixo calão grafado literalmente no texto) da morte,  pois pelo pecado entrou no  mundo, ainda que pouco me importa saber de onde entrou. Enquanto estas duas pernas de aranha puderem mover-se, buscarei fugir-lhe, pondo-me em marcha a grão galope."


FINALIZANDO...

● José Bonifácio, estudou em Coimbra, especializou-se em mineralogia e, por causa dessa especialidade viveu na Europa dos 20 aos 56 anos;

 ● Ecológico. Destruição da matas segundo Bonifácio, já em 1823: preciosas matas desaparecendo pelo machado e e pelo fogo destruídas pela ignorância e pelo egoísmo... "com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes que favorecem a vegetação e alimentem nossas fontes e rios... "em menos de dois séculos ("nosso belo Brasil") ficará reduzido aos páramos e desertos áridos da Líbia. Virá então esse dia  (dia terrível e fatal), em que  a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos". 

● O livro contém 212 páginas, é denso com alguma dificuldade de interpretação mas tem o mérito de trazer algumas informações preciosas do modo de vida daqueles tempos pós independência, da escravidão, dos índios, perfil de D. |Pedro e do próprio José Bonifácio que seria proclamado o "Patriarca da Independência";

● O livro não é só isso. É MUITO mais. Um precioso documentos histórico pelo qual se se conhecerá, fora o âmbito político, um pouco do cotidiano nos tempos pós independência.



3 comentários:

  1. Muito bom, o Patriarca tem um currículo brilhante e uma atuação destacada em nossa história e na de Portugal.

    ResponderExcluir
  2. O TEXTO DESTA RESENHA FOI REVISTO SANANDO TRUNCAMENTO DE FRASES.

    ResponderExcluir