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quarta-feira, 1 de março de 2023

ANGÚSTIA de Graciliano Ramos

 LIVRO 104




















Não é esse o primeiro livro que li do Autor. O outro foi "São Bernardo" que não pude elogiar pelo que relatei quando de sua resenha e comentários (*)

Este de agora, "Angústia" de 1936me animei a conhecê-lo após comentário elogioso de professor do ensino médio que disse que o Autor conseguira ao transpor as  "angústias" do persona gem, conseguira transferi-las, também, aos leitores.

Não sei. Há páginas eloquentes que transmitem angústia do personagem principal, Luiz da Silva mas ele não tem o perfil de um personagem complexo como muitos admitem.

Nessa linha de "angústia", complexo é o personagem Roskónikov na obra fundamental "Crime e Castigo" de Dostoiévski da qual em algumas passagens "Angústia" me lembrou episódios pensados pelo Autor russo. (**)

Mas, quais as "angústias" do personagem Luiz da Silva?

Funcionário público, mal remunerado, reconhecendo que era na repartição que tinha algum sossego, vivendo de modo precário numa pensão, sem muita perspectiva de melhoras.  Passava os dias ouvindo ruídos e vozes de outros moradores e vizinhos, alguns partícipes de suas "angústias".

Frequentemente voltavam lembranças do avô e do pai até mesmo dos tempos da escravidão. 

Escrevia artigos para um jornal - que dizia não prestarem -, a pedido de seu amigo Pimentel e tendo boa amizade com o judeu Moises.

Uma frase de Moises, loquaz quando bebia:

- História! Essa porcaria não endireita. Revolução no Brasil! Conversa! Quem vai fazer a revolução? Os operários? Espere por isso. Estão encolhidos, homem. E os camponeses votam com o governo, gostam do vigário.

E nessas proximidades da vizinhança, encantou-se com a jovem  Marina, filha do casal Ramalho / Adélia. O pai não gostava dos modos da filha, desobediente e ociosa.

Luiz da Silva se apaixona por ela e nesses contatos breves há até uma "cena" sensual mas Marina não deixa as coisas avançarem. Luiz, então, propôs casamento e presenteou-a com algumas joias comprometendo muito seu modesto orçamento.

O pai de Marina dizia a Luiz para não se casar com a filha.

Ela não só não usava os presentes que aceitara como voltou-se para um outro pretendente ou sedutor: Julião Tavares.

Então, o personagem Luiz passa a rejeitar Marina e com o tempo passou a odiar o sedutor Julião Tavares, de família rica, comerciantes. Julião "tinha os dentes miúdos, afiados, e devia ser um rato, como o pai. Reacionário e católico",

Marina teria ficado grávida de Julião e busca num bairro remoto a parteira D. Albertina - mulher grosseira, não primando pela higiene - para praticar um aborto:

- Era melhor deixar-se de vergonhas e descobrir a cara. Quando andam na pândega não têm esses luxos. E depois parem bem na bananeira. Feias coisas.

Luiz da Silva que a seguira, esperando que ela saísse da casa da parteira, caminha ao lado de Marina, chamando-a de "puta" sem parar.

Ela, resignada diz que nada de mal fizera ao ofensor. 

Ai, a angústia se manifesta forte.

No quadro de ódio que alimenta de Julião Tavares, Luiz numa oportunidade o estrangula e tenta pendurá-lo num galho. A corda fora um "presente" do desocupado 'Seu' Ivo que sempre o aborrecia mas ele não só não ignorava a presença do mendigo, alcoólatra como perguntava para si mesmo por onde ela andava

Muitos esforços, ferimentos nas mãos, roupa suja, a "angústia" da possibilidade de prisão por 30 anos.

Transeuntes não viram o cadáver dependurado.

Luiz consegue chegar ao seu quarto, sem ser visto. Lava-se, cuida das mãos feridas, se recupera, fica adoentado, não vai trabalhar mas a qualquer batida em sua porta, pensa ser a polícia e vai logo assumindo que confessaria o crime. Mas, não foi assim.

As páginas finais, no meu modo de ver, não convencem. Há confrontos e desencontros de pensamentos, da imaginação, delírios e pesadelos - idas e vindas de "cenas vividas por ele ao longo da obra que poderiam significar a "angústia" de Luiz da Silva pelo crime praticado e, então, fica por conta do leitor se fora ele condenado pelo crime ou se sua penalização fora apenas de natureza moral.

Freud não explica.

O livro talvez merecesse um final...   

(Críticas serão bem-vindas)



Referências
(*) Acessar: SÃO BERNARDO

(**) Acessar: CRIME E CASTIGO
 

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