Translate

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

A CARTOMANTE e outros contos de Machado de Assis

 LIVRO 130












1. A CARTOMANTE

Um triângulo amoroso trágico.

Personagens: Camilo, Rita-Vilela

Camilo e Vilela eram amigos de infância. Rita era esposa de Vilela que amava Camilo.

Esse amor perigoso resultou que Rita buscasse uma cartomante para confessar seu amor e se era correspondida.

Tudo confirmado pelas cartas...

Um dia Camilo começou a receber cartas anônimas nas quais denunciava seu romance com Rita.

Mais sua preocupação aumentou ao receber um bilhete de Vilela que viesse  estar com ele num assunto urgente.

Ele também foi à cartomante para dar indicações do que se passava. 

A cartomante disse a Camilo que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria aos amantes.

Camilo vai ao encontro de Vilela, é conduzido num pequeno cômodo, fica horrorizado com o que viu: Rita morta ensanguentada. Camilo não teve melhor sorte.

As cartas mentiram demais...

2. ENTRE SANTOS

Relata antigo capelão de S. Francisco de Paula que dormia tarde não sem antes verificar se as portas da  igreja estavam bem fechadas,

Uma noite ouviu vozes na sacristia e, atônito, constatou que os santos descendo de seus nichos conversavam sobre  a experiência tidas com os fieis que se ajoelhavam sob seus pés. Nessas conversas participavam S. Francisco, S. João Batista e São Miguel.

Todos relataram casos de fiéis, inclusive duma adúltera que veio pedir força para se libertar das garras do demônio. Começou as orações, mas estava com o pensamento no namorado. Saiu sem nada pedir.

Então, relatou S. Francisco a presença de um homem preocupado com a doença e morte iminente da esposa. Era um usurário conhecido.

Veio pedir a intervenção do santo, depositou uma moeda de ouro e insistiu em fazer dezenas de orações objetivando curar a esposa: 300, 1000 padre-nossos, ave-marias.

Todos os santos riram, mas um riso sereno. Não houve confirmação se a moeda de ouro foi mantida. E se as orações foram cumpridas.

Nesse momento o capelão caiu no chão e mais nada ouviu. Acordou com o dia claro, correndo para abrir todas as portas da igreja e da sacristia, "para deixar entrar o Sol, inimigo dos maus sonhos".

3. UNS BRAÇOS

Aqui, também, um esboço envergonhado de um triângulo amoroso.

Inácio, um adolescente de 15 anos, foi "adotado" pelo solicitador Borges, a aprender a profissão. 

Inácio passou a morar na casa de Borges, que o tratava rispidamente — apontava seus erros constantes. D. Severina, indiferente ao garoto a aos maus tratos de Borges.

Inácio, nas refeições, ficava sempre de cabeça baixa, suportando os maus tratos mas não impedia que admirasse os braços bonitos de D. Severina. 

E ela começou a desconfiar. Olhava para o adolescente com curiosidade, mas acreditava que nada acontecia.

Mas, estaria D. Severina, que se dizia bonita, apaixonada pela "criança"?

Num domingo dormindo pesadamente em sua rede, D. Severina se voltou para Inácio. Era até que bonito.

Tremendo, chegou até ele e o beijou na boca. 

Vexada, receou que Inácio estivesse acordado, que tivesse percebido, mas nada aconteceu que denunciasse seu ato de paixão.

Alguns dias depois, Borges dispensou o aprendiz sem muitas explicações.

Para Inácio aquele beijo o faz repetir, sem saber que se enganava:

—  E foi um sonho! Um simples sonho!

4. UM HOMEM CÉLEBRE

Pacheco era um compositor famoso pelas composições de polca (*) que compunha.

Com muita facilidade.

Com frequência em suas andanças ouvia suas composições sendo tocadas e, claro, dançadas.

Essas composições faziam sucesso.

Seu editor com frequência o procurava para novas composições. As polcas...

Mas, Pacheco, como músico muitas vezes tinha ódio das polcas. Queria algo mais, compor musicas clássicas nos padrões de Mozart, "mas nada, nada, a inspiração não vinha; a imaginação deixava-se estar dormindo". 

Já casado com viúva jovem, tuberculosa, num domingo a chama para ouvir um noturno. Maria dedilha no piano a peça e ambos constatam que era um trecho de oba de Chopin.

Pestana empalideceu.

A esposa morre da doença, mais tarde ele também morre mas nunca se livrou das polcas.

(*) "A Polca é um gênero musical e uma dança de origem europeia que se popularizou principalmente nos séculos XIX e XX. Originária da Boêmia, região que hoje faz parte da República Tcheca, a Polca é conhecida por seu ritmo animado e alegre, que geralmente é executado em compasso 2/4".

5. ERA EXTRAORDINARIAMENTE BELA

Há aqui, também, um triângulo amoroso frustrado, mas um triângulo,

Quintília era a lindíssima, magra, lindos olhos que o narrador da história e seu sócio João Nóbrega, ambos se apaixonaram por ela.

E por isso pouco falavam dela, mas "combatamos pela nossa Quintília, minha e tua, mas provavelmente minha, porque sou mais bonito que tu". 

Então, Nóbrega "arranjou uma nomeação de juiz municipal lá pelos sertões da Bahia, onde definhou e morreu antes de acabar o quatriênio". Morreu apaixonado.

O narrador num dado momento pede Quintília em casamento mas ela não aceita e sugere que sejam apenas amigos.

Quintília tinha uma moléstia "da espinha".

Definhando, resolve Quintília se casar à beira da morte, e ele a "abraçou pela primeira vez, feita cadáver."

Do casamento tenha ela uma aversão puramente física.

"Casou meia defunta, às portas do nada. Chame-lhe monstro, mas acrescente divino".

6. A CAUSA SECRETA

Neste conto, também o triângulo amoroso.

Os personagens, o médico Garcia, Fortunato e esposa Maria Luiza.

A amizade entre eles foi se firmando e, nesses contatos, Garcia, o médico se voltou para Mara Luiza de modo o mais discreto possível.

Tudo começou com uma vítima de esfaqueamento, que Garcia como médico tratou e Fortunado agiu como dedicado enfermeiro.

Nesse relacionamento entre ambos, Fortunato propôs a Garcia abrirem uma clínica. O médico relutou mais aceitou. Fortunato administrava a clínica com muita eficiência, uma preocupação da esposa porque o marido se envolvia com doentes e doenças.

Fortunato passou a estudar anatomia e fisiologia e fazia suas experiências mórbidas com cães e gatos, pelo que Garcia, apoiando a esposa do amigo, pediu que parasse com essas maldades.

O clímax se deu numa noite antes do jantar quando Fortunato torturava um rato de modo cruel porque teria o bichinho se apoderado de papeis importantes.

A partir daí — para não perder o costume desses contos do autor —, Maria Luiza adquiriu a tuberculose, tossia muito e faleceu, para os lamentos de Fortunato que a amava a seu jeito.

Acordando dum cochilo Fortunato flagrou o médico Garcia, beijando por duas vezes a testa da morta. Garcia chorou muito e 

"Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa".

7. O CÔNEGO OU A METAFÍSICA DO ESTILO

Começa assim:

— "Vem do Líbano, esposa minha, vem do Líbano, vem... As mandrágoras deram o seu cheiro. Temos às nossas portas toda a casta de pombos..."

(...)

Então o cônego Matias, pregador efetivo, é convidado a escrever um sermão para uma festa.

Ele se debruça sobre o teor do sermão. "De repente, indo escrever um adjetivo, suspende-se; escreve outro e risca-o, mais outro, que não tem melhor fortuna. Aqui é o centro do idílio. Subamos à cabeça do cônego".

Os substantivos e os adjetivos nascem em centro diferentes do cérebro. Os adjetivos do lado esquerdo. Adjetivos e substantivos têm enlevos sexuais.

Amam-se uns e outros. O casamento é o estilo...

Entram no texto Silvio e Silva que prosseguem em busca um do outro:

— Vem do Líbano esposa minha...

"Procuram- se e acham-se... "Unem-se e entrelaçam os braços..."

"Silvia caminhará agora ao pé de Silvio, no sermão que o cônego vai pregar um dia destes, e irão juntinhos ao prelo..."

8. TRIO EM LÁ MENOR

Aqui, também, um triângulo amoroso, para não perder o costume da temática preferida do Autor. Afinal, em Dom Casmurro (*) esse triângulo insinuado ou às claras foi o mote do romance.

Maria Lúcia tem dois namorados ao mesmo tempo, Maciel de 27 anos e Miranda de 50 anos.

Maciel era mais refinado, circulava no meio da alta sociedade, fútil, dado a falar francês que se notabilizou por ter salvo uma criança que correu na frente dos cavalos da carruagem que transportava exatamente a namorada Maria Lúcia e a avó. Ele virou herói para ambas.

Era comum os dois namorados se defrontarem na casa da namorada. Miranda, já demonstrando a idade que tinha, era mais frio, digamos, adulto. Era pianista.

Passou um tempo, Maria Lúcia se aborreceu dos dois namorados. Ela leu num jornal que havia estrelas duplas.

Viu duas rodelas tipo olho de gato na parede. E, então, fechou os olhos e dormiu. 

"Sonhou que morria, que a alma dela, levada aos ares, voava em direção de uma bela estrela dupla".

Por toda a eternidade oscilaria entre dois astros incompletos...

AcessarDOM CASMURRO




  





domingo, 6 de outubro de 2024

TRÊS CONTOS de Gustave Flaubert

LIVRO 129












"TRÊS CONTOS"

1º - Um coração simples

Neste conto há notória ironia, porque a personagem principal, chamada Felicidade em tudo da vida relatada, nada para ele houve "felicidade".

Seus pais morreram cedo, ela fora contratada para cuidar das vacas em condições precárias, o amor não deu certo porque o noivo se casou com outra mulher.

Ela se tornara criada da sra. Aubain que era invejada por ter Felicidade para os serviços e cuidados da casa. Era tratada com desdém.

Tinha Felicidade com os filhos da sra. Aubain muito apreço, mas a filha a quem ela amava faleceu, faleceu  seu próprio sobrinho num quadro de tristeza.  Nem o papagaio que ganhara e a ele se apegara sobreviveu muito. 

Nos seus delírios religiosos se ajoelhava rezando à ave empalhada. 

Nos seus último momentos, "e ao exalar o último suspiro, pareceu-lhe ver no céu entreaberto, um papagaio gigantesco voando por cima da sua cabeça".

Neste conto, a felicidade não fez parte da vida da personagem.

2º - A lenda de São Julião, o hospitaleiro

Julian nascera num castelo.

Na igreja, ainda menino, se deparou com um ratinho que saia de sua toca. 

Tanto fez que um dia ele matou o ratinho e se surpreendeu com o sangue do bichinho.

Com o passar do tempo, com armas que tinha disponível, passou a matar qualquer animal à sua frente nas caçadas, tornando-se perverso e malvado.

Um dia massacrou uma manada de veados. Um deles, um enorme animal, antes de morrer lhe disse:

— Maldito! maldito! maldito! Um dia, coração feroz, assassinarás teu pai e tua mãe".

Aquela cena o impressionou e ele foi largando as armas.

Mas, Julião montou seu exército que defendeu um Imperador que fora atacado por "infiéis" derrotando o inimigo e, como recompensa, recebeu a filha do Imperador em casamento.

Ausente, seus pais envelhecidos que estavam à sua procura foram recebidos por sua esposa que os aconchegara em em sua própria cama. Voltando para sua moradia, sem ver quem ocupava sua cama, pensando em adultério, os matou.

Com esse crime, ele se retirou de casa, alojando-se à beira de um rio perigoso de ser transposto. 

Com um velho barco, fazia esse serviço aos que precisavam atravessar o rio.

Uma noite ouviu um chamado insistente: Julião!

Estranhou, mas foi buscar quem o chamava na outra margem. Era um leproso em estado deplorável.

O doente tudo lhe pediu, inclusive que Julião o esquentasse com seu próprio corpo.

Deu-se, então, a revelação divina, as luzes da redenção: o leproso era Jesus Cristo que assim o perdoou. (*)

"Eis aí a história de São Julião, o Hospitaleiro, mais ou menos como pode ser encontrada num vitral de igreja, na minha terra".

(*) Referência 

Essa lenda tem alguma semelhança com a de São Cristóvão relatada no livro abaixo: Acessar: O MISTERIO DAS CATEDRAIS

3º - Herodias

Este é a história de João Batista, o Yocanaan que condenou de modo veemente, o casamento de Herodias com Herodes Antipas porque ambos eram casados. E João Batista denunciava nesse matrimônio um incesto  porque Antipas era "meio-tio" de Herodias. 

Por isso, João Batista, do fundo de um fosso onde estava preso nas piores condições, gritou para Antipas:

— Rugirei como um urso, como um asno selvagem, como uma mulher dando a luz! o castigo já baixou sobre seu incesto. Deus  te castiga com a esterilidade das mulas!

Com essa severidade, dizia Antipas que Yokanaan o impedia de viver.

O essênio Fanuel adverte Antipas de que deveria se conter de sua cólera violenta propondoJoão Batista fosse libertado. 

Antipas qualifica o prisioneiro como "animal feroz". 

Ao que responde o essênio:

—  Não tenhas mais receio. Irá pregar entre os árabes, os gauleses, os citas. Sua obra deverá estender-se até os confins da terra!

Então, num festim se apresenta Salomé, filha de Herodias do outro casamento e, tão sensual seduz Antipas que a chama:

— Vem! vem!

Nesse quadro de sedução, Salomé lhe pede a cabeça de Yokanaan.

O tetrarca se sentiu esmagado, mas a cabeça de João Batista foi entregue numa bandeja como Salomé exigira...

— Consola-te! Ele baixou ao reino dos mortos a fim de anunciar o Cristo, disse alguém...

 O essênio compreendeu então aquelas palavras "Para que Ele cresça é preciso que eu diminua".


 O Livro:

Este livro que está comigo é de impressão rústica, edição antiga quase se decompondo. Mas, deu uma visão diferente do Autor francês.


Outra obra de Flaubert resenhada neste acervo podendo ser acessada é:

MADAME BOVARY