LIVRO 129
"TRÊS CONTOS"
1º - Um coração simples
Neste conto há notória ironia, porque a personagem principal, chamada Felicidade em tudo da vida relatada, nada para ele houve "felicidade".
Seus pais morreram cedo, ela fora contratada para cuidar das vacas em condições precárias, o amor não deu certo porque o noivo se casou com outra mulher.
Ela se tornara criada da sra. Aubain que era invejada por ter Felicidade para os serviços e cuidados da casa. Era tratada com desdém.
Tinha Felicidade com os filhos da sra. Aubain muito apreço, mas a filha a quem ela amava faleceu, faleceu seu próprio sobrinho num quadro de tristeza. Nem o papagaio que ganhara e a ele se apegara sobreviveu muito.
Nos seus delírios religiosos se ajoelhava rezando à ave empalhada.
Nos seus último momentos, "e ao exalar o último suspiro, pareceu-lhe ver no céu entreaberto, um papagaio gigantesco voando por cima da sua cabeça".
Neste conto, a felicidade não fez parte da vida da personagem.
2º - A lenda de São Julião, o hospitaleiro
Julian nascera num castelo.
Na igreja, ainda menino, se deparou com um ratinho que saia de sua toca.
Tanto fez que um dia ele matou o ratinho e se surpreendeu com o sangue do bichinho.
Com o passar do tempo, com armas que tinha disponível, passou a matar qualquer animal à sua frente nas caçadas, tornando-se perverso e malvado.
Um dia massacrou uma manada de veados. Um deles, um enorme animal, antes de morrer lhe disse:
— Maldito! maldito! maldito! Um dia, coração feroz, assassinarás teu pai e tua mãe".
Aquela cena o impressionou e ele foi largando as armas.
Mas, Julião montou seu exército que defendeu um Imperador que fora atacado por "infiéis" derrotando o inimigo e, como recompensa, recebeu a filha do Imperador em casamento.
Ausente, seus pais envelhecidos que estavam à sua procura foram recebidos por sua esposa que os aconchegara em em sua própria cama. Voltando para sua moradia, sem ver quem ocupava sua cama, pensando em adultério, os matou.
Com esse crime, ele se retirou de casa, alojando-se à beira de um rio perigoso de ser transposto.
Com um velho barco, fazia esse serviço aos que precisavam atravessar o rio.
Uma noite ouviu um chamado insistente: Julião!
Estranhou, mas foi buscar quem o chamava na outra margem. Era um leproso em estado deplorável.
O doente tudo lhe pediu, inclusive que Julião o esquentasse com seu próprio corpo.
Deu-se, então, a revelação divina, as luzes da redenção: o leproso era Jesus Cristo que assim o perdoou. (*)
"Eis aí a história de São Julião, o Hospitaleiro, mais ou menos como pode ser encontrada num vitral de igreja, na minha terra".
(*) Referência
Essa lenda tem alguma semelhança com a de São Cristóvão relatada no livro abaixo: Acessar: O MISTERIO DAS CATEDRAIS
3º - Herodias
Este é a história de João Batista, o Yocanaan que condenou de modo veemente, o casamento de Herodias com Herodes Antipas porque ambos eram casados. E João Batista denunciava nesse matrimônio um incesto porque Antipas era "meio-tio" de Herodias.
Por isso, João Batista, do fundo de um fosso onde estava preso nas piores condições, gritou para Antipas:
— Rugirei como um urso, como um asno selvagem, como uma mulher dando a luz! o castigo já baixou sobre seu incesto. Deus te castiga com a esterilidade das mulas!
Com essa severidade, dizia Antipas que Yokanaan o impedia de viver.
O essênio Fanuel adverte Antipas de que deveria se conter de sua cólera violenta propondoJoão Batista fosse libertado.
Antipas qualifica o prisioneiro como "animal feroz".
Ao que responde o essênio:
— Não tenhas mais receio. Irá pregar entre os árabes, os gauleses, os citas. Sua obra deverá estender-se até os confins da terra!
Então, num festim se apresenta Salomé, filha de Herodias do outro casamento e, tão sensual seduz Antipas que a chama:
— Vem! vem!
Nesse quadro de sedução, Salomé lhe pede a cabeça de Yokanaan.
O tetrarca se sentiu esmagado, mas a cabeça de João Batista foi entregue numa bandeja como Salomé exigira...
— Consola-te! Ele baixou ao reino dos mortos a fim de anunciar o Cristo, disse alguém...
O essênio compreendeu então aquelas palavras "Para que Ele cresça é preciso que eu diminua".
O Livro:
Este livro que está comigo é de impressão rústica, edição antiga quase se decompondo. Mas, deu uma visão diferente do Autor francês.
Outra obra de Flaubert resenhada neste acervo podendo ser acessada é:
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