LIVRO 131
O livro trata das causas da Revolução Francesa, mas de um modo "suave" os antecedentes desse movimento que inspiraria outros movimentos, tendo em conta a bandeira da "igualdade, igualdade e fraternidade".
Ano de 1789. O rei Luis XVI, realmente acomodado em seus privilégios e poder absolutista não governava com independência se não fosse sua claque de aristocratas e os religiosos.
Emais:
(...) em toda a nação a desobediência e já revolta — um exército cujos soldados não merecem confiança — todos os deputados se manifestando contra os editos do rei — e no meio desta anarquia uma corte odiada pela sua cupidez, um rei sem prestígio e já achincalhado, uma rainha publicamente insultada com a alcunha de "A Austríaca" (...) e queimada em efígie em pleno Paris." (*)
Os aldeões era considerados uma massa de obediência, espezinhados pelos resquícios do feudalismo, pelos impostos e pela divisão, com seus senhores, da produção que obtinham.
Esse quadro foi se agravando. Na fase pré-revolucionária, o clero se uniu aos pobres aldeões e até mesmo parte da aristocracia.
Pensavam numa Constituição mas preservando, sob controle dela, os poderes do rei.
Mas, este não aceitava a diminuição dos seus poderes aumentando a pressão sobre seu reinado e sobre os seus ministros e pensando em repor o absolutismo.
A "Encyclopedia pela Imagem" (*) na revolta que ia crescendo, registra:
"A 15 (de agosto) um bando de 7 a 8.000 mulheres em armas, conduzindo canhões, partindo para onde iam, diziam elas, procurar pão. À noite um deputação de mulheres apareceu na Assembleia, lamentando da carestia e do insulto feito à nação. A Assembleia informou ao rei, que voltava da caça, das reclamações de Paris (ele se acomodara em Versalhes). Vários conselheiros diziam-lhe que fugisse. Mas Necker (um dos seus ministros) recordava o tesouro vazio e as vesgas maquinações do duque d'Orleans. Ficou. Ratificou mesmo os decretos promulgados pela Assembleia desde 4 de agosto."
Nesse quadro revoltoso, antes, em 14 de julho, houve a "tomada da Bastilha". Multidão invadiu a prisão e libertou os poucos presos lá mantidos, inimigos da realeza.
Esse estado de ódio levou ao "período de terror" com muita violência e execuções na guilhotina. Luis XVI e sua esposa Maria Antonieta, em 1793, foram executados na guilhotina.
E muitos outros.
As palavras finais sobre a Revolução Francesa, são estas:
"Quase toda a França aceitou com calma (!?) o golpe de Estado. A Revolução tinha terminado. Os resultados essenciais tinham sido atingido: a igualdade de todos perante a lei e perante o imposto; as terras libertadas, a indústria e o comércio livres; o número de proprietários aumentado pela venda dos bens nacionais; o governo absoluto substituído por um governo constitucional — e a burguesia no poder."
O livro
Essa introdução julguei necessária de ordem a dar ensejo à compreensão, em linhas gerais, da abordagem do Autor Tocqueville que estudou as causas porque ele nasceu em 1805, depois dos acontecimentos graves da Revolução Francesa. Ele se aprofundou na história examinando documentos da época, anotações, atas, cadernos que comprovaram as desigualdades, os privilégios da aristocracia e a isenção de impostos que lhe era garantida e a opressão sobre a classe pobre, sem privilégio algum.
O livro foi publicado em 1856, três anos antes de seu passamento.
Conceitos
. As razões por que essa grande Revolução que se preparava simultaneamente em toda a Europa mas que eclodiu na França; com todas as causas graves essa Revolução não se pensaria em outro lugar que não fosse na França;
. (...) estamos bastante próximos dela para podermos entrar no espírito que a conduziu e para compreendê-lo. Em breve isso ficará difícil, pois as grandes revoluções que são bem sucedidas, fazendo desaparecer as causas que as produziram, tornam-se assim incompreensíveis justamente por causa do seu sucesso;
. (...) o cristianismo havia suscitado ódios furiosos porque os sacerdotes eram proprietários, senhores, dizimeiros, administradores... a Igreja deveria ocupar seu lugar na nova sociedade mas ela ocupava o lugar mais privilegiado e mais forte naquela velha sociedade que seria reduzida a pó. Pelas funções eclesiásticas, esse religiosos possuíam feudos ou propriedades. Tudo na igreja era pago; o pobre não conseguiria sequer ser enterrado gratuitamente;
. Vimos sublevarem quando necessário o pobre contra o rico, o plebeu contra o nobre, o camponês contra o seu senhor. A Revolução Francesa foi aos mesmo tempo seu flagelo e sua professora; ela nasceu do ódio pelas desigualdades e o encontros da igualdade e liberdade;
. A Revolução teve algo de revolução religiosa, religião imperfeita, sem Deus, sem culto e sem outra vida, mas que ainda assim, como o islamismo, inundou toda a Terra com seus soldados, apóstolos e mártires;
. Essas revoluções que afetaram a maioria dos povos europeus substituíram instituições feudais por uma ordem social e política mais uniforme e mais simples que tinham como fundamento a igualdade de condições;
. Diz o Autor que já na época da Revolução não existia nos campos a servidão, porque os camponeses trabalhavam livremente, compravam e vendiam... (!?)
Mas, no tocante à administração de qualquer província, aldeia, por menor que fossem, não tinham poderes para resolver questões particulares a ela pertinentes. Tudo era levado à administração central;
. A Revolução vendeu todas as terras do clero e parte das terras da aristocracia, mas essas terras foram adquiridas por quem já possuía outras.
. O Conselho do rei tinha amplos poderes: judiciário, podendo anular decisões de todos os tribunais, discutir leis e decidir sobre o rateio de impostos. E com tantos poderes, havia abusos. Os impostos de regra oprimiam os agricultores, havendo grandes beneficiários de isenção entre a aristocracia e burguesia. Por desigualdades dessa natureza os menores golpes de arbitrariedade de Luis XVI eram difíceis de suportar comparados com o despotismo de Luis XIV;
. A separação da nobreza francesa das demais classes (aldeões, burgueses) era notória e odiosa; cidadãos divididos e encolhidos em si mesmos todos curvados se sujeitando ao poder régio que tolhia as liberdades públicas. O burguês ficou tão apartada do povo quanto o próprio fidalgo. Isso ia preparando os franceses para derrubar o despotismo, talvez para fundar em seu lugar o império pacífico e livre das leis;
. Falta de dinheiro do reino - práticas desonestas: (...) a cada passo encontramos bens da Coroa vendidos e depois tomados de volta como invendáveis; contratos violados, direitos adquiridos não reconhecidos; o credor do Estado sacrificado em cada crise; a fé pública incessantemente falseada;
. Na Revolução Francesa houve alguma influência da independência americana que se deu em 1776. Mas, o Autor enaltece os escritores franceses de tal modo que quando teve de agir, ela (a literatura) transportou para a política todos os seus hábitos; o espirito de Voltaire estava há muito tempo no mundo; mas o próprio Voltaire só podia imperar de fato no século XVIII na França;
. O descrédito universal de todas as crenças religiosas, influenciou a Revolução. Mas, a irreligião produziu um imenso mal público; no novo regime a religião se recompôs.
Conclusões
O livro de 218 páginas tem mais do que essa pequena resenha. Quem o leu e quem o lerá? Não sei, talvez acadêmicos estudiosos da Revolução Francesa cujo "enredo" nenhuma ficção poderá equivaler.
Bom, eu li, anotei e gostei, porque no final de tudo problemas que motivaram a Revolução Francesa estão presentes em todo o planeta: o descaso que se dá com a pobreza, as desigualdades entre ricos e pobres, os impostos pagos pela classe pobre, proporcionalmente superiores aos pagos pela classe rica. As religiões dizimistas. E quão difícil é mudar isso, qual difícil!
Referência
(*) Encyclopedia pela Imagem. Edição de Lello & Irmãos constituída de 4 volumes, formados em fascículos que circularam pelos anos de 1938/1940.
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