LIVRO 135
Blaise Pascal foi um admirável e precoce matemático nascido na cidade francesa de Clermont. Ele viveu de 1623 a 1662. A obra foi publicada em 1670. A edição que está comigo, "sobrevivente" é de 1940. Difícil de folhear.
Animei a ler a obra pelos séculos passados de sua publicação e desvendar quanto possível o pensamento do autor em defesa de cristianismo. Não muito fácil porque a tradução segundo explicações dos editores "foi fiel do original francês, mantemos rigorosamente o pensamento e a forma do autor..."
Consagrado por suas descobertas científicas, "um dia, porém, na ponte de Neuilly (Neuilly-sur-Seine — comuna francesa) foi vítima de um acidente e começou a sofrer alucinações vendo aparecer sempre diante de si, um abismo aberto para tragá-lo."
A partir desse momento tornou-se profundamente religioso, cristão.
Ele rejeita o pensamento racional de atentar aos fatos, da lógica e da comprovação e se debruça, sem concessões, no pensamento cristão, a presença de Deus perante homens frágeis e pecadores
Seus pensamentos — há 354 anos
A religião é um instrumento de encontrar Deus para aqueles que o procuram com sinceridade, com o coração. Mas, há o que procuram a verdade e proclamam que não há evidências tal a o obscuridade em que se encontram e rejeitam a Igreja. E se gabam de não ter encontrado a verdade mesmo lendo livros sagrados e falando com eclesiásticos.
A imortalidade da alma é uma preocupação que tão profundamente toca, mas não será uma pesquisa que resolverá sua transcendência. Porém, será preciso muita falta de sentimentos para rejeitar essa reflexão "sem ter em vista esse ponto que deve ser o nosso último objeto".
Porque há nestas pesquisas, aos que dela se dedicam, ao pensar a finalidade da própria existência.
Mas, há as misérias da existência porque se ignora o próprio corpo e a "presença" da morte certa. Então a dúvida sem saber de onde se é e se vai para o nada ou para as mãos de um Deus irritado. "Eis a minha condição, cheia de miséria, de fraqueza, de obscuridade". Melhor passar os dias sem saber o que irá acontecer.
Deus é infinitamente incompreensível e pela (aparente) não relação com os seres humanos surge a incapacidade de conhecer o que ele é e se ele é. Por essa não relação com os seres humanos quem ousará resolver essa questão: quem é Deus?
Mas, as provas de Deus se manifestam aos que pensam com o coação e na diminuição das paixões: "quereis chegar à fé, mas ignorais o caminho; quereis curar-vos da infidelidade, mas pedis os remédios..."
A verdadeira religião deve ter por fim amar a Deus. "A verdadeira natureza do homem, o seu verdadeiro bem e a verdadeira virtude e a verdadeira religião são coisas cujo conhecimento é inseparável".
E, assim, é a religião cristã a verdadeira porque tem conhecimento da natureza do homem, da sua grandeza e da sua pequenez.
"Sem Jesus Cristo, o mundo não subsistiria; pois seria preciso ou que fosse destruído ou que fosse como u inferno".
Descobrindo as provas da religião cristã é tal qual um herdeiro que encontra os títulos de sua casa.
Não são os filósofos que informam que os bens estão no âmago do ser humano? Descobriram eles o remédio para os males que o afetam? Os maometanos que prometem os prazeres da terra mesmo na eternidade? Duvidam de Deus. Mas, é a religião cristã que ensina os bens, os deveres, as fraquezas e as suas causas que coloca o homem de pé. "Todas as outras religiões não o conseguiram".
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Uma frase: Os jansenistas assemelham-se aos hereges pela reforma dos costumes; mas, vós vos assemelhais a eles no mal."
Jansenismo: movimento havido na França no século XVII. Ele teve como base as ideias do bispo holandês Cornelius Jansenius (Jansen) que, entre outros, defendia rigorosa interpretação da doutrina católica; que a graça seria imerecida e concedida por Deus através da predestinação e tinha visão sombria do destino humano.
Hereges: ateus, aqueles que contestam dogmas da Igreja.
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Diz o Autor: "Todas essas contrariedades (presunção desmedida e abatimento de ânimo) que pareciam afastar-me mais do conhecimento da religião, foi o que mais cedo me conduziu à verdadeira".
Porque a natureza do homem é corrompida e decaída de Deus, mas libertados do pecado original por Jesus Cristo, "e é disso que temos provas admiráveis sobre a terra". Então, "ninguém é tão feliz como um verdadeiro cristão, nem tão razoável, tão virtuoso, tão amável".
Os judeus tendo os grandes milagres de Moisés culminando com a abertura do Mar Vermelho e a conquista da Terra de Canaã esperavam um Messias que fizesse mais do que esses antigos profetas mas Jesus Cristo pregou não os feitos do mundo, mas do espírito. "Os judeus amaram tanto as coisas figurantes e as esperavam tanto que desconheceram a realidade quando ela veio no tempo e na maneira preditos." Jesus Cristo aos "verdadeiros judeus" e "verdadeiros cristãos" é o Messias que os faria amar a Deus.
Não há na terra homem que não demonstre suas misérias e a demonstração da misericórdia de Deus.
Santo Agostinho: "O modo pelo qual o espírito adere aos corpos não pode ser compreendido pelos homens; apesar disso, o homem existe" (*)
E aqui um pensamento que eu classifico de "profundo":
"As fontes das contrariedades da Escritura, são um Deus humilhado até a morte na cruz, um Messias triunfando da morte por sua morte, duas naturezas em Jesus Cristo, dois adventos, dois estados da natureza do homem."
[Como explicar esses "dois estados da natureza do homem" — Jesus e Cristo?]
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Tudo é figuração se não seguida a Escritura em direção à caridade, só havendo esse fim.
Jesus vem dizer aos homens que seu inimigo são eles mesmos - são suas paixões que os afastam de Deus.
Outras crenças e descrenças
Sobre Maomé diz o Autor que ele não foi predito como Jesus Cristo; Maomé não fazia milagres e "todo homem pode fazer o que ele fez", mas nenhum o que faz Jesus Cristo.
É divertido ver-se que há aqueles que renunciam a todas as leis de Deus e da natureza e adotam outras, como os ladrões, os soldados de Maomé, os hereges, etc. e assim os lógicos.
Os ateus não são claros o suficiente, há a perda do bom senso ao dizerem ser alma mortal.
Coração
"O coração tem suas razões, que a razão não conhece: sabe-se isso em mil coisas."
É o coração que sente Deus, e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração, não à razão."
Outros pensamentos
A grandeza do homem é se reconhecer miserável. Uma árvores assim não se reconhece. Mas, é ser grande ao se conhecer que se é miserável.
"À medida que se tem mais luz, mais grandeza e baixeza se descobre no homem."
Examinando os pensamentos, predominam imagens do passado e disposição do futuro. Pouco no presente. Desse modo não se vive mas se espera viver e esperando à felicidade, mas não é alcançada nunca. "O presente não é nunca o nosso fim; o passado e o presente são os nossos meios; só o futuro e o nosso fim. Assim nunca vivemos, mas esperamos viver..."
[Em que segundo o presente é o passado e em que momento seguinte somos chamados para o futuro?]
A razão da infelicidade está na fragilidade do homem e na mortalidade a ponto de não haver consolo quando se pensa nisso de perto.
Até um rei cheio de divertimentos o faz não pensar. Mas, ao se retirar os divertimentos e ele se puser a pensar em si, se encontrará mais miserável que seja, mesmo sendo rei. Se o homem fosse feliz o seria se menos se divertisse, como os santos e Deus.
[Nestes tempos de grande progresso das comunicações e o "senhor" celular que conduz a mente de milhões — o vício do não pensar?].
Última frase da obra:
"Não é bom ser livre demais.
Não é bom ter todo o necessário
Instinto e razão, marca de duas naturezas". [não religiosas?]
Citação no texto, acessar:
(*) CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO
NOTA DE DIVULGAÇÃO
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