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sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

URUPÊS de Monteiro Lobato

LIVRO 53

A primeira edição do livro Urupês de Monteiro Lobato é de 1918. Então, há um século, era a obra publicada com diversas particularidades.

Então, mato minha curiosidade sobre o livro.

Ele é, digamos, "datado". 

Vou começar pelo fim falando do Jeca Tatu;





















O livro teve origem com uma carta mordaz do autor, remetida ao jornal “O Estado de São Paulo”, na qual fazia duras críticas ao CABOCLO, incendiário que degradava de modo devastador as matas da Serra da Mantiqueira.

Lobato desmonta os romances sertanejos e indianistas, referindo-se de modo pouco lisonjeiro à descrição de personagens bem constituídas mas que estariam muito distante da realidade

Em vez da beleza natural de Peri, personagem do romance “O Guarani” de José de Alencar explana Lobato:

Contrapôs-lhe a cruel etiologia dos sertanistas modernos um selvagem real, feio e brutesco, anguloso e desinteressante tão incapaz, muscularmente de arrancar uma palmeira, como incapaz, moralmente, de amar Ceci.” (*)

Toda essa adjetivação depreciativa tinha como origem a preguiça do sertanejo que nada produzia, sempre acocorado, sentado sobre os calcanhares, bebedor de cachaça, de pito na boca e afeito a produzir grandes incêndios, 

Com os incêndios que provocava abria “clareiras”, não atinando para a beleza das árvores que eram ceifadas.

Enquanto a mata arde, o caboclo regala-se.

- Êta fogo bonito!

(...)

"Entrando setembro, começo das "águas", o caboclo planta na terra em cinzas
um bocado de milho, feijão e arroz; mas o valor de sua produção é nenhum 
diante dos males que para preparar uma quarta de chão ele semeou."




O inconformismo de Lobato com essa prática danosa tem um pouco a ver com incêndios florestais também devastadores praticados por sertanistas e exploradores relatados por Euclides da Cunha em “Os Sertões” (“os fazedores de desertos”).

Já ouviram falar de Jeca Tatu?

Pois foi conhecendo esses tipos, que Lobato “idealizou” o personagem no livro Urupês.

Jeca Tatu” pode até ser humanizado, afinal, mas ele foi inspirado nesses caboclos “ cheios de preguiça:

Esse funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, semi-nômade, inadaptável à civilização, mas que vive a beira dela na penumbra das zonas fronteiriças”.

Pois bem, com todas essas contrariedades, a carta referida remetida ao jornal foi publicada, teve repercussão e, como decorrência, Monteiro Lobato tornou-se o que ele chamou de “homem de letras”.

Hoje com tantas opções de comunicação não parece existam caboclos assim broncos, mas a queima florestal ainda é uma prática predadora.

Talvez, nos rincões escondidos do país, sobrevivam jecas tatus políticos.


Há outra particularidade no livro. Na edição em meu poder, talvez a 4ª, é registrado o desagrado de Lobato com os acentos ("acentismos") que complicariam a língua.

É questionado:

- Mas a acentuação já está imposta por lei.

- Não há lei humana que dirija uma língua é um fenômeno natural, como a
oferta e a procura, como o crescimento das crianças, como a senilidade, etc.

Então, concluiu a editora:

"Diante disso resolvemos respeitar nesta edição a ortografia de Monteiro
Lobato, realmente mais simples e comoda do que a aconselhada por nossa
academia."

Como se vê, a palavra "cômoda" não veio acentuada. O 'a' com crase na 
edição é grafado com acento agudo (á) e não grave (`). 

Raros circunflexos mas ocasionalmente a ortografia oficial aparece.  

Urupês que seria aquela espécie de cogumelo que pode ser encontrado em camadas, geralmente da cor vermelha que floresce em madeira em decomposição.
Urupês é também o nome de uma cidade do Estado de São Paulo a 54 quilômetros de São José do Rio Preto.

(*) Ceci (Cecilia) personagem de “O Guarani” romance de José de Alencar.

A "essência" do livro é essa acima, mas é ele completado por 12 contos alguns dos quais não posso elogiar.

CONTOS QUE FIZERAM O LIVRO

Esses contos explanam sobre tragédias, situações cotidianas e sobrenaturais. Como brinde o resumo do resumo desses contos situados naqueles recantos interioranas, caipiras:

OS FAROLEIROS

Num farol perdido, deu-se um crime passional.

Gerebita se casou com Maria Rita, "uma morena de truz ("distinta") perigosa como o demo". 

Maria Rita traia Gerebita com Gavriel.

Gavriel também foi abandonado por Maria Rita.

O mundo girou e os dois foram se encontrar no mesmo farol, "um modo de morrer p'r'o mundo."

Gerebita odiava Gavriel, causa de sua infelicidade e da infidelidade da esposa.

Gerebita assassina Gavriel e atira o corpo no mar. Dali o corpo nunca chegaria à praia. 

Lobato se refere a espécie de duelo havido com o pugilato até a morte de Gavriel e faz analogia com a ópera Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni cujo significado é "cavalheirismo rústico".

"Reclama" Lobato que "cavalleria" fora traduzido como "cavalaria" razão pela qual alterou o nome do conto de "Cavalleria Rusticana" para "Os faroleiros".

O ENGRAÇADO ARREPENDIDO


Francisco Teixeira de Souza Pontes era um sujeito "engraçado".

Quando mencionado seu nome, desde logo provocava risos.

Já passando dos 30 anos resolveu cuidar seriamente da vida.

Mas, não conseguia. Tantas fora suas piadas e sua graça que não era levado a sério.

E, por isso, até chorava.

Um dia surgiu a possibilidade de trabalhar na coletoria ocupando o lugar do major Bentes, já velho e doente.

De todos os meios que dispunha, Pontes de aproximou do velho, pensando em substitui-lo quando morresse. Contava com a ajuda de um parente do Rio para que fosse nomeado.

Mas, Bentes se mantinha firme.

Pontes, então, depois de estudar as preferências anedóticas de Bentes, um dia lhe conta uma refinada anedota que surte efeitos: o velho explode numa sonora gargalhada dando-se o "estouro de uma artéria".

O velho Bentes morre.

Pontes assustado com a tragédia provocada pela piada esconde-se por um tempo, não avisando seu parente no Rio a tempo, perdendo a vaga.

O tom de tragicomédia se deu pelo suicídio de Pontes.

Ele se enforcou tendo como "instrumento" uma ceroula.

A COLCHA DE RETALHOS


A velhinha com seus 70 anos cozia uma colcha de retalhos e explicou:

- Esta colcha é o meu presente de noivado. O último retalho há de ser do vestido de casamento, não é Pingo? (A neta era assim chamada: "Pingo d'Água").

Mas, a neta um dia fugiu para não mais voltar. A colcha não foi concluída e a peça seria sua mortalha como pedira a velhinha.

Logo depois ela morreu, mas a sua última vontade não foi cumprida porque a mortalha não cobriu seu corpo.

"Que importa ao mundo a vontade última de uma pobre velhinha da roça?"

A VINGANÇA DA PEROBA


Nunes era um caipira afeito à cachaça. Meio que um"jeca tatu".

Sua propriedade fazia divisa com o sensato Pedro Porunga, de família numerosa.

Um dia Nunes se sente desafiado a um comentário que soubera, de Pedro Porunga.

E resolve construir um monjolo, aquele equipamento rústico triturador de grãos, movido pela queda de água corrente.

Para isso derruba uma perobeira que exatamente fazia divisa entre a sua e a propriedade de Porunga.

Houve estranheza deste, porque a peroba era o marco divisório.

Monjolo construído, um dia em meio à cachaça, convida seu filho pequeno a também beber. O menino fica tonto e vacilante desaparece dali.

É encontrado com a cabeça dilacerada no pilão pelo sobe e desce do monjolo, para horror da mãe e irmãs.

E o "cachaceiro do inferno" desmontando a pancadas o monjolo, ainda apalpava o fundo do pilão, "em procura da cabecinha que falava".

A tragédia poderia ser a vingança da peroba, sua praga.

MEU CONTO DE MAUPASSANT

Diálogo no trem entre dois "sujeitos". Um deles enaltece Guy de Maupassant se referindo ao seu pensamento sobre o amor e a morte.

Então, na visão de uma velha árvore saguaragi disse um dos interlocutores que fora ela "comparsa no meu conto de Maupassant".

Dissera que conhecera um italiano, mau encarado e beberrão que poderia ter assassinado uma velhinha com uma foice.

Mas, nada foi apurado. Tempos depois o italiano foi localizado em mau estado físico e moral, frequentador do xadrez até que no trem, ao passar por aquela árvores, atirou-se da janela para a morte.

Quem matou a velhinha a peso de foice fora o próprio filho (!)

"POLLICE VERSO"

(Tradução: "Polegar voltado para baixo")

Nico (Inacinho) 
era um caçula de dezesseis filhos do coronel Inácio da Gama. 

O pai descobrira a vocação do caçula ao vê-lo dissecando um sanhaço vivo: "médico".

Ele era cruel com os animais.

Durante o curso de medicina tinha lá sua turma e era apaixonado por Yvonne.

Mesmo médico de má fama, foi chamado para tratar o major Mendanha, capitalista aposentado.

Fez lá um diagnóstico "genérico" embora ninguém soubesse ao certo qual era a doença do major milionário de Itaoca.

Prolongando o tratamento poderia obter uma boa soma e ir para Paris para estar com Yvonne.

Mas, a despeito do "tratamento" Mendanha faleceu. O médico fez os cálculos das visitas e das injeções, apresentando aos herdeiros a soma vultosa de 35 contos de réis.

Ganhou na Justiça o valor que cobrara do inventário.

Embolsou a dinheirama e viajou para Paris falando que tinha lições na Sorbonne, mas passou a viver com Yvonne num apartamento em Montmartre e frequentadores de cabarés.

Quem sabe quando acabasse o dinheiro, o pai pudesse ajudá-lo a manter o "aperfeiçoamento de estudos".

O pai, já viúvo, que se orgulhava do filho médico, de sua presença na Sorbonne, relacionado a celebridades médicas daquela universidade.

BUCÓLICA

É a historia da menina "entrevada" e a mãe, "má como a irara": "Pestinha, porque não morre?"

Um dia a Inácia a negra que cuidava dela esteve fora e não pode voltar a tempo por causa de uma chuvarada.

A menina morreu de sede após se arrastar até perto do pote mas não o alcançando.

"Morreu de sede, o anjo!"

Enxugando as lágrimas na manga e indo embora e se o Libório não a quiser "sou bem capaz de me pinchar nesse rio. Este mundo, não paga a pena",

"Sol a pino. Desânimo, lassidão infinita..."


O MATA-PAU

Mata-pau é uma árvore parasita que com o tempo consome a árvore à qual se "uniu, isto é, mata a mãe que sem perceber ia sendo consumida.

Elesbão se casa com Rosinha.

Não tinham filhos, o que os tornava tristes.

Um dia no seu sítio, ouvem o choro de uma criança e acabam a adotando como filho.  

À medida que ia crescendo revelava suas perversidades: "É ruim inteirado". Era alcunhado de Ruço.

Rosa ia se desenvolvendo, ficando bonita, atraente. A relação mãe-filho degenerou para amantes.

Elesbão de nada desconfiava, até ser alertado pelo pai moribundo.

Um tempo e Elesbão foi assassinado a golpes de foice. Desconfiaram de Ruço, mas não havia provas para incriminá-lo.

Viúva Rosinha, Ruço a chantageou a vender tudo e se assim não agisse, ele a abandonaria.

O golpe final de Ruço contra sua "mãe-amante" foi incendiar a casa para se livrar da mulher e ficar com tudo o que amealhado na venda dos equipamentos do sítio.

Rosa se salvou das queimaduras, mas nunca mais do juízo

E, então,se disse filosoficamente que 

- Não é só no mato que há mata-paus !...

BOCATORTA

Bocatorta era um negro disforme que habitava  um casebre na fazenda, meio escondido.

Seria feio como Quasímodo? (*)

A ele se atribuíam sumiços de animais e malefícios.

Eduardo, noivo de Cristina quis conhecê-lo e um dia saíram a passeio, Don'Ana, o major - pai da moça - e mais Eduardo.

Cristina temia muito encontrar Bocatorta pelo que dele se contava, até mesmo  a violação de uma sepultura de uma jovem.

Foram até onde vivia Bocatorta mas Cristina se escondeu o rosto nos ombros da mãe.

Era a "hediondez personificada" com seu cachorro "atôa, todo ossos, peloe e bernes, rosnava contra os importunos."

Cristina amanheceu febril e faleceu depois de oito dias.

À noite Bocatorta desenterrara o corpo da jovem e fora visto pelo pai e o feitor a abraçando.

Uma cena de horror. Bocatorta foi contido e arrastado para um pântano cuja profundidade era desconhecida.

Houve o esquecimento da tragédia noturna, Bocatorta desaparecido no logo e Cristina em seu túmulo não sem antes o único beijo que recebera em sua vida.  

Que se dera com a violação de sua sepultura.

(*) Quasímodo, personagem do romance "O corcunda de Notre Dame" de Victor Hugo.

O COMPRADOR DE FAZENDAS 


Não havia pior fazenda que a do Espigão, arrematada por um Davi Moreira de Souza que esperara fosse um bom negócio.

Resolveu vendê-la e recebera carta de seu agente de negócios que informara haver um pretendente à compra.

Antes da chegada do comprador, toda a fazenda fora "maquiada" de tal modo que bem impressionasse o comprador a caminho.

Era o Pedro Troncoso, um jovem bem apessoado que contou grandes vantagens.

E ali foi ficando, aproveitando-se da hospitalidade ao exagero do vendedores.

Troncoso flerta com Zilda, a filha solteira de Moreira.

E à medida que o comprador elogiava o estado da fazenda, Moreira aumentava o preço.

Troncoso parte fazendo promessas vagas da compra e nada de fechar o negócio.

O tempo passa.

Quando volta com a decisão de finalmente comprar a fazenda foi recebido a chicotes pelos Moreiras e ouvindo desaforos:

- Comedor de bolinhos! Papa-manteiga! Toma! Em outra  não hás de cair, ladrão de ovos e cará!...

Zilda assistia a tudo aquilo com os "olhos pisados do muito chorar".

E Moreira perdeu o grande negócio de sua vida: o duplo descarte - da filha e da Espiga...

O ESTIGMA

Fausto casara "rico". Sua fazenda viera de seu casamento. Sua esposa de feições duras, positivamente feia e "provavelmente má".

Via na fazenda a jovem e linda Laura, órfã de pai e mãe, prima de Fausto que na verdade fazia os trabalhos domésticos. Dele, ela era "um raio de sol matutino que folga e ri na face noruega da minha vida..."

Com o tempo, a beleza de Laura provoca ciúmes na esposa de Fausto que exige seja ela expulsa da casa.

Um dia Laura aparece mora, com um tiro no peito segurando o revolver da própria casa como se fora um suicídio. Como poderia ela ter acesso à arma?

Mistério.

O tempo passa e a esposa de Fausto dá a luz a um menino.

O menino nascera com uma estranha marca no peito, "uma cobrinha coral de cabeça preta".

"Denunciada" pela estranha marca, a esposa morre logo depois do parto por causa de suposta "febre puerperal".

O agora moço com sua marca no peito "ignorava o crime de que fora ele próprio o eloquente delator." 

















quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

OS TEMPLÁRIOS de Piers Paul Read

LIVRO 52


Querem se debruçar sobre um livro “cabeça”?

Pois então experimentem ler “Os Templários”.

Trata-se de obra densa demais que exigirá do estudioso da história dos templários mais do que uma única leitura do livro, porque muitos dos personagens do primeiro milênio e dos primeiros séculos do segundo milênio foram tratados na intimidade.

Nas 342 páginas do livro em letras miúdas se saberá quantas vidas foram perdidas em guerras sangrentas de conquistas entre monarcas que cobiçavam cidades e regiões pertencentes aos adversários. Essas distâncias imensas eram vencidas a cavalo e as batalhas a poder de flechas e espadas.

Então, para que seja absorvido parte ou o essencial de seu conteúdo, é necessária mais de uma leitura do livro.

Esta é uma mui limitada resenha





















É nesse período que surgiram as cruzadas e depois os templários.
Outra Ordem bastante destacado pelo Autor, foram os hospitaleiros, da comunidade “Hospital”.

O livro recua aos episódios em torno do nascimento do cristianismo estudo que não desmente como por vezes se dá nalguns meios de que Jesus Cristo seria nada mais que uma lenda.

Na sua origem os cristãos eram por demais massacrados pelos romanos até que houve aquela visão do imperador Constantino para que pintasse símbolo do cristianismo nos escudos para vencer uma batalha importante.

Assim se deu.

Vencedor, então Constantino passou a acreditar que chegara ao poder por obra do Deus dos cristãos, até que lá pelos anos de 333 ele praticamente abraçou a religião cristã.

Sua mãe, Helena, convertida ao cristianismo, viajou para a Palestina. Nas escavações para construção de igrejas em locais marcantes da vida de Jesus foi desenterrada uma peça de madeira, que seria parte da cruz considerada autêntica porque continha a inscrição “Jesus de Nazareno, Rei dos Judeus”.

Em 620 Maomé tivera uma visão pela qual cavalgava com o anjo Gabriel, “até o monte de Templo, em Jerusalém, para encontrar com Abrão.”

E Maomé rejeitava a crença de que Jesus fosse filho de Deus mas o considerava apenas um profeta.

E com Maomé profeta surgiu o islamismo que dominou Jerusalém.

Esses religiosos maometanos e outros grupos eram um entrave para a peregrinação cristã na Terra Santa, considerado como “o clímax espiritual de um homem”, visitando aqueles locais onde vivera, fizera milagres e fora crucificado Jesus. 

O Autor registra personagens histórias diferenciadas entre os muçulmanos e cristãos: entre os muçulmanos, Saladino que dominou o Egito lá pelos anos 1150.

Considerado benevolente, moderado, generoso, um comandante competente.

Seria sua generosidade uma forma de prudência? Sim, porque "quando parecia oportuno ser cruel, era cruel: ordenou a crucificação de oponente no Cairo, e de vez em quando mandava mutilar ou executar seus prisioneiros."

Mas, em todo o trajeto de sua influência, demonstrara urbanidade  para com os príncipes e reis cristãos.

Num tratado militar escrito por seu filho, ou por ele próprio diria que " a afabilidade para com os não-combatentes pode ser usada como uma demonstração de força, o que pode ajudar a intimidar o inimigo."

Para proteger os cristãos, foram organizadas a partir de 1095 as cruzadas por proposta do papa Urbano II composta por homens arregimentados em diversas regiões que ao aderirem teriam “recompensa espiritual”.

O papa Inocêncio III, entusiasta das cruzadas, para organizar a de 1199, concedeu indulgência total, o perdão a todos os pecados confessados para aqueles que aderissem...

A primeira cruzada, vencedora, se excedera massacrando judeus, mulheres e crianças praticando atrocidades.

As demais se revelaram ou num fracasso humilhante ou não atingiram os objetivos que eram reconquistar a Terra Santa dominada pelos muçulmanos.

Em 1189 assumiu o trono inglês Ricardo, chamado "coração de leão" pelo seu destemor em relação às batalhas que participou "pessoalmente" arriscando sua vida tanto que numa contra um de seus vassalos, foi atingido por uma flecha mortal. Veio a falecer em 1199 com 42 anos de idade.

Num dos confrontos com Saladino em 1191, aquele fora derrotado e para libertar os habitantes muçulmanos de Acre - a 162 quilômetros de Jerusalém - Ricardo Coração de Leão exigira elevado preço.

Saladino pedira ajuda dos templários para garantia de um acordo provisório. Mas, os templários não confiavam tanto em Ricardo.

Diante da "procrastinação" de Saladino, Ricardo "supervisionou pessoalmente a execução dos prisioneiros muçulmanos: 2.700, entre eles mulheres e crianças, foram chacinados por seus soldados ingleses."

Como se constata, em nome do Jesus Cristo, que pregava o amor, a paz e a benevolência, a violência e as mortes de inocentes sempre ocorriam de lado a lado.

São Francisco esteve em visita aos cruzados sendo autorizado pelo sultão al-Kamil a se aproximar de suas linhas e pregar sua fé como forma de reconciliação. Embora houvesse gentilezas mútuas, cada grupo permaneceu com sua fé e, por ela, muitas batalhas e, como visto, muitas mortes.

Já anos antes desses tempos, desde 1119, para proteger os peregrinos foi instituída a Ordem dos Pobres Soldados de Jesus Cristo, depois denominada, os Templários e o Templo.

Tinha o Templo o sentido de uma ordem religiosa na qual seus membros praticariam a pobreza, a castidade e a obediência.

Mas, eram combatentes. Muitos templários morreram em combate nas batalhas das cruzadas para recuperar Jerusalém aos muçulmanos.

No tocante à castidade uma virtude compatível com os ensinamentos de Cristo – que não negara o casamento, mas observara que “outros se fizeram eunucos por causa do reino dos céus”.

Então nessa decisão da garantia da castidade, a presença só ou a companhia de mulheres – seja viúva, moça, mãe, tia e outra qualquer -, “é muito perigosa, pois por causa dela o velho diabo tem desviado (os homens) do reto caminho do Paraíso”.

Pode estar aí a crença na Virgem Maria que trouxera ao mundo Jesus, sem que tenha havido o encontro e as tentações do sexo na sua concepção.

Pior é que, para evitar tentações de outras formas de pecado sexual (!), os templários tinham que dormir “vestidos com camisa e calções e sapatos e cintos”, num ambiente iluminado até de manhã.

Embora devotados à pobreza, o Templo (templários) recebeu valores e doações que o fez enriquecer começando aí indagações ou críticas ao seu poderio econômico.

Uma causa da inveja. O templários emprestavam dinheiro e valores a 10% de juros tornando-se "banqueiros da cristandade". 

Antes, lá pelos idos do ano de 1113, foi fundada a Ordem dos Cavaleiros do Hospital, devotada aos cuidados aos peregrinos pobres e doentes.

O rei Felipe IV ascendera ao trono francês em 1285 sendo qualificado como piedoso, praticante de penitências descrito como um homem muito bonito, daí o título de Felipe, o Belo.

Em 1305, foi aclamado papa, aquele que se designaria como Clemente V, que se revelara submisso a Felipe IV.

Com Felipe IV e o papa Clemente V houve de ambos a defesa de unificação das duas Ordens, pela semelhança de atuação entre Templários e Hospital proposta rejeitada por Jacques de Molay o Grão-Mestre dos Templários porque sobretudo acabaria a "concorrência" entre ambas.

Então, a cobiça à riqueza dos templários e inconformismos ao seu poderia, pelo modo como administravam os valores, cobrando juros aos empréstimos resultou na sua queda violenta.

Jacques de Molay confiando que seus argumentos pela não unificação das duas Ordens foram aceitos pela papa continuou suas gestões.

Mas seria traído.

Secretamente, Felipe IV determinara a detenção de todos os membros templários por crimes “horríveis de contemplar”, especialmente a prática da sodomia. E também a rejeição de Jesus Cristo, por adoração do diabo na figura de Baphomet,

E esses crimes foram confessados pelos templários submetidos a torturas “excruciantes”.

Quando se retratavam da "confissão" demonstrando as marcas físicas das torturas por que passaram eram condenados.

Jacques de Molay e Geoffroy de Charney foram condenados à fogueira.


Houve templários que escaparam do martírio.

Muitos se refugiaram em Portugal de Dom Dinis - rei avançado no seu tempo - que instituiu a Ordem de Cristo.

Historiadores concluíram que os templários eram inocentes, foram traídos pelo papa Clemente V, perseguidos implacavelmente pelo rei Felipe IV com falsidades para obter o que pudessem do patrimônio da Ordem.

O Hospital recebeu parte dos recursos expropriados dos Templários acentuando o Autor que os hospitaleiros, se mantiveram até hoje.

E quem sucedeu aos templários? Seriam os maçons com suas solenidades, seus ritos e suas tradições?





quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O NEGOCIADOR de Frederick Forsyth

LIVRO 51

Fazendo uma pausa nos livros ditos “cabeça”, li a obra “O Negociador” do escritor inglês Frederick Forsyth.













O livro mais famoso de Forsyth é “O Chacal”, muito bem desenvolvido inspirador de filmes, com um final inesperado, porque havia um informante entre as forças policiais que tentavam prender o “chacal” que ameaçava matar Charles de Gaulle, presidente da França.

Forsyth não se inibe em suas obras de ficção se valer de nomes de personalidade reais.

No “O Negociador” há, também esse ingrediente.

Sua leitura significou momentos agradáveis com o desenrolar da história sem que tivesse que me preocupar muito com signficados ocultos do pensamento do autor, como se deu na maioria dos outros livros resenhados.

Quinn, o negociador sofre duro revés mas é daqueles herois que, num dado momento, tudo passa a dar certo.

Unem-se numa conspiração magnatas do petróleo pela falta de iminente do produto. Os conspiradores soviéticos pensam em invadir o Iran e se apossar das suas reservas; nos Estados Unidos a conspiração tem por objetivo derrubar o governo da Arábia Saudita nomeando um príncipe que defenderia os interesses americanos na produção petrolífera.

Mas, esse conspiração inclui também a indústria bélica que seria afetada pelo acordo de redução de armas firmado em Nantucket (*) pelo presidente John Cormack dos Estados Unidos e pelo secretário geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev (o nome do presidente dos Estados Unidos é fictício, mas não de Gorbachev).

Então a ideia dos conspiradores era atacar moralmente o presidente americano e como consequência revogar o acordo de paz.

E na consecução do plano foi sequestrado o filho do presidente americano que estudava na Inglaterra, Oxford, o jovem Simon.

Esse crime é praticado, morrem os seguranças do jovem no momento do sequestro, criando desde logo um clima apreensão ao casal presidencial.

Em caráter de urgência é lembrado o negociador Quinn que se aposentara e cultivava uvas na Espanha.

Sendo Simon o filho do presidente dos Estado Unidos, após relutar muito, aceita a missão de negociar com os sequestradores.

Começam os contatos entre Quinn e Zack (o chefe dos sequestradores) e as negociações com o passar dos dias vão prosperando até que, menos de um mês depois do sequestradores o acordo é fechado mediante o pagamento de dois milhões de dólares em diamantes.

Na hora de ter de volta o jovem sequestrado, ao contrário do combinado, Quinn e deixado na estrada e o jovem libertado pouco mais a frente.

Simon volta pela estrada em direção a Quinn mas a uns 300 metros é explodido e morto por um artefato inserido dentro do cinto que lhe fora dado por um dos sequestradores ainda em cativeiro.

Quinn e desmoralizado, colocado sob suspeita mas as autoridades americanas, convencidas pela agente Sam, que se tornara amante de Quinn de que era ele inocente, conseguindo que ele próprio saisse a caça dos sequestradores.

Descobre-se que o explosivo fora fabrição soviética. As autoridades e membros da KGB não podiam acreditar nessa versão, mas foram convencidos da veracidade da origem do artefato.

Em risco o acordo de paz pela suposta conspiração soviética.

Quinn sai em busca do paradeiro dos sequestradores ajudado por Sam mas a medida que se aproxima de cada um deles, eles são mortos.

Nessa busca ele é apoiado por agentes da KGB que também queriam descobrir a origem e os motivos do explosivo no cinto.

Enquanto isso o presidente do Estados Unidos, de tal forma traumatizado, não governa mais, sendo substituido pelo vice-presidente. A situação chegara a tal ponto que os seus auxiliares próximos pretendiam pedir que ele deixasse o cargo.

Quinn descobre que todo o plano fora conduzido por Irving Moss, um ex-agente da CIA expulso da organização e que fora no Vietnam duramente agredido no nariz por Quinn quando este constatou a tortura que praticava contra prisioneiros vietcongs.

Moss num dos conflitos, domina Quinn e fala em vingança pelo soco que levara e que dificultava sua respiração.

Prepara-se para atirar em Quinn mas é alvejado momentos antes por Andrei, um agente de campo da KGB que seguia todos os passos do negociador.

Quinn imitando Moss chantageia um dos magnatas de armas, membro da conspiração, exigindo 5 milhões de dólares para silenciar.

O magnata vem com uma nota de crédito naquele valor pensando encontrar Moss, mas se depara com Quinn. Sem vacilar entrega o crédito a Quinn.

A conspiração acaba com a morte dos sequestradores e dos traidores.

Nesse meio tempo, o presidente dos Estados Unidos, apoiado por sua esposa que se recuperara do trauma da morte do filho Simon, reassume a presidência e fala à nação que estava de volta à presidência.

Rico, Quinn numa mensagem cifrada chama Sam e ao se encontrarem prometem casarem-se.


(*) Nantucket é uma ilha americana a mesma onde se desenvolve o enredo do livro “Moby Dick” de Herman Melville (resenha nº 44).
Curioso que há na História de Frederick Forsyth um personagem de nome Melville.