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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

OS TEMPLÁRIOS de Piers Paul Read

LIVRO 52


Querem se debruçar sobre um livro “cabeça”?

Pois então experimentem ler “Os Templários”.

Trata-se de obra densa demais que exigirá do estudioso da história dos templários mais do que uma única leitura do livro, porque muitos dos personagens do primeiro milênio e dos primeiros séculos do segundo milênio foram tratados na intimidade.

Nas 342 páginas do livro em letras miúdas se saberá quantas vidas foram perdidas em guerras sangrentas de conquistas entre monarcas que cobiçavam cidades e regiões pertencentes aos adversários. Essas distâncias imensas eram vencidas a cavalo e as batalhas a poder de flechas e espadas.

Então, para que seja absorvido parte ou o essencial de seu conteúdo, é necessária mais de uma leitura do livro.

Esta é uma mui limitada resenha





















É nesse período que surgiram as cruzadas e depois os templários.
Outra Ordem bastante destacado pelo Autor, foram os hospitaleiros, da comunidade “Hospital”.

O livro recua aos episódios em torno do nascimento do cristianismo estudo que não desmente como por vezes se dá nalguns meios de que Jesus Cristo seria nada mais que uma lenda.

Na sua origem os cristãos eram por demais massacrados pelos romanos até que houve aquela visão do imperador Constantino para que pintasse símbolo do cristianismo nos escudos para vencer uma batalha importante.

Assim se deu.

Vencedor, então Constantino passou a acreditar que chegara ao poder por obra do Deus dos cristãos, até que lá pelos anos de 333 ele praticamente abraçou a religião cristã.

Sua mãe, Helena, convertida ao cristianismo, viajou para a Palestina. Nas escavações para construção de igrejas em locais marcantes da vida de Jesus foi desenterrada uma peça de madeira, que seria parte da cruz considerada autêntica porque continha a inscrição “Jesus de Nazareno, Rei dos Judeus”.

Em 620 Maomé tivera uma visão pela qual cavalgava com o anjo Gabriel, “até o monte de Templo, em Jerusalém, para encontrar com Abrão.”

E Maomé rejeitava a crença de que Jesus fosse filho de Deus mas o considerava apenas um profeta.

E com Maomé profeta surgiu o islamismo que dominou Jerusalém.

Esses religiosos maometanos e outros grupos eram um entrave para a peregrinação cristã na Terra Santa, considerado como “o clímax espiritual de um homem”, visitando aqueles locais onde vivera, fizera milagres e fora crucificado Jesus. 

O Autor registra personagens histórias diferenciadas entre os muçulmanos e cristãos: entre os muçulmanos, Saladino que dominou o Egito lá pelos anos 1150.

Considerado benevolente, moderado, generoso, um comandante competente.

Seria sua generosidade uma forma de prudência? Sim, porque "quando parecia oportuno ser cruel, era cruel: ordenou a crucificação de oponente no Cairo, e de vez em quando mandava mutilar ou executar seus prisioneiros."

Mas, em todo o trajeto de sua influência, demonstrara urbanidade  para com os príncipes e reis cristãos.

Num tratado militar escrito por seu filho, ou por ele próprio diria que " a afabilidade para com os não-combatentes pode ser usada como uma demonstração de força, o que pode ajudar a intimidar o inimigo."

Para proteger os cristãos, foram organizadas a partir de 1095 as cruzadas por proposta do papa Urbano II composta por homens arregimentados em diversas regiões que ao aderirem teriam “recompensa espiritual”.

O papa Inocêncio III, entusiasta das cruzadas, para organizar a de 1199, concedeu indulgência total, o perdão a todos os pecados confessados para aqueles que aderissem...

A primeira cruzada, vencedora, se excedera massacrando judeus, mulheres e crianças praticando atrocidades.

As demais se revelaram ou num fracasso humilhante ou não atingiram os objetivos que eram reconquistar a Terra Santa dominada pelos muçulmanos.

Em 1189 assumiu o trono inglês Ricardo, chamado "coração de leão" pelo seu destemor em relação às batalhas que participou "pessoalmente" arriscando sua vida tanto que numa contra um de seus vassalos, foi atingido por uma flecha mortal. Veio a falecer em 1199 com 42 anos de idade.

Num dos confrontos com Saladino em 1191, aquele fora derrotado e para libertar os habitantes muçulmanos de Acre - a 162 quilômetros de Jerusalém - Ricardo Coração de Leão exigira elevado preço.

Saladino pedira ajuda dos templários para garantia de um acordo provisório. Mas, os templários não confiavam tanto em Ricardo.

Diante da "procrastinação" de Saladino, Ricardo "supervisionou pessoalmente a execução dos prisioneiros muçulmanos: 2.700, entre eles mulheres e crianças, foram chacinados por seus soldados ingleses."

Como se constata, em nome do Jesus Cristo, que pregava o amor, a paz e a benevolência, a violência e as mortes de inocentes sempre ocorriam de lado a lado.

São Francisco esteve em visita aos cruzados sendo autorizado pelo sultão al-Kamil a se aproximar de suas linhas e pregar sua fé como forma de reconciliação. Embora houvesse gentilezas mútuas, cada grupo permaneceu com sua fé e, por ela, muitas batalhas e, como visto, muitas mortes.

Já anos antes desses tempos, desde 1119, para proteger os peregrinos foi instituída a Ordem dos Pobres Soldados de Jesus Cristo, depois denominada, os Templários e o Templo.

Tinha o Templo o sentido de uma ordem religiosa na qual seus membros praticariam a pobreza, a castidade e a obediência.

Mas, eram combatentes. Muitos templários morreram em combate nas batalhas das cruzadas para recuperar Jerusalém aos muçulmanos.

No tocante à castidade uma virtude compatível com os ensinamentos de Cristo – que não negara o casamento, mas observara que “outros se fizeram eunucos por causa do reino dos céus”.

Então nessa decisão da garantia da castidade, a presença só ou a companhia de mulheres – seja viúva, moça, mãe, tia e outra qualquer -, “é muito perigosa, pois por causa dela o velho diabo tem desviado (os homens) do reto caminho do Paraíso”.

Pode estar aí a crença na Virgem Maria que trouxera ao mundo Jesus, sem que tenha havido o encontro e as tentações do sexo na sua concepção.

Pior é que, para evitar tentações de outras formas de pecado sexual (!), os templários tinham que dormir “vestidos com camisa e calções e sapatos e cintos”, num ambiente iluminado até de manhã.

Embora devotados à pobreza, o Templo (templários) recebeu valores e doações que o fez enriquecer começando aí indagações ou críticas ao seu poderio econômico.

Uma causa da inveja. O templários emprestavam dinheiro e valores a 10% de juros tornando-se "banqueiros da cristandade". 

Antes, lá pelos idos do ano de 1113, foi fundada a Ordem dos Cavaleiros do Hospital, devotada aos cuidados aos peregrinos pobres e doentes.

O rei Felipe IV ascendera ao trono francês em 1285 sendo qualificado como piedoso, praticante de penitências descrito como um homem muito bonito, daí o título de Felipe, o Belo.

Em 1305, foi aclamado papa, aquele que se designaria como Clemente V, que se revelara submisso a Felipe IV.

Com Felipe IV e o papa Clemente V houve de ambos a defesa de unificação das duas Ordens, pela semelhança de atuação entre Templários e Hospital proposta rejeitada por Jacques de Molay o Grão-Mestre dos Templários porque sobretudo acabaria a "concorrência" entre ambas.

Então, a cobiça à riqueza dos templários e inconformismos ao seu poderia, pelo modo como administravam os valores, cobrando juros aos empréstimos resultou na sua queda violenta.

Jacques de Molay confiando que seus argumentos pela não unificação das duas Ordens foram aceitos pela papa continuou suas gestões.

Mas seria traído.

Secretamente, Felipe IV determinara a detenção de todos os membros templários por crimes “horríveis de contemplar”, especialmente a prática da sodomia. E também a rejeição de Jesus Cristo, por adoração do diabo na figura de Baphomet,

E esses crimes foram confessados pelos templários submetidos a torturas “excruciantes”.

Quando se retratavam da "confissão" demonstrando as marcas físicas das torturas por que passaram eram condenados.

Jacques de Molay e Geoffroy de Charney foram condenados à fogueira.


Houve templários que escaparam do martírio.

Muitos se refugiaram em Portugal de Dom Dinis - rei avançado no seu tempo - que instituiu a Ordem de Cristo.

Historiadores concluíram que os templários eram inocentes, foram traídos pelo papa Clemente V, perseguidos implacavelmente pelo rei Felipe IV com falsidades para obter o que pudessem do patrimônio da Ordem.

O Hospital recebeu parte dos recursos expropriados dos Templários acentuando o Autor que os hospitaleiros, se mantiveram até hoje.

E quem sucedeu aos templários? Seriam os maçons com suas solenidades, seus ritos e suas tradições?





quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O NEGOCIADOR de Frederick Forsyth

LIVRO 51

Fazendo uma pausa nos livros ditos “cabeça”, li a obra “O Negociador” do escritor inglês Frederick Forsyth.













O livro mais famoso de Forsyth é “O Chacal”, muito bem desenvolvido inspirador de filmes, com um final inesperado, porque havia um informante entre as forças policiais que tentavam prender o “chacal” que ameaçava matar Charles de Gaulle, presidente da França.

Forsyth não se inibe em suas obras de ficção se valer de nomes de personalidade reais.

No “O Negociador” há, também esse ingrediente.

Sua leitura significou momentos agradáveis com o desenrolar da história sem que tivesse que me preocupar muito com signficados ocultos do pensamento do autor, como se deu na maioria dos outros livros resenhados.

Quinn, o negociador sofre duro revés mas é daqueles herois que, num dado momento, tudo passa a dar certo.

Unem-se numa conspiração magnatas do petróleo pela falta de iminente do produto. Os conspiradores soviéticos pensam em invadir o Iran e se apossar das suas reservas; nos Estados Unidos a conspiração tem por objetivo derrubar o governo da Arábia Saudita nomeando um príncipe que defenderia os interesses americanos na produção petrolífera.

Mas, esse conspiração inclui também a indústria bélica que seria afetada pelo acordo de redução de armas firmado em Nantucket (*) pelo presidente John Cormack dos Estados Unidos e pelo secretário geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev (o nome do presidente dos Estados Unidos é fictício, mas não de Gorbachev).

Então a ideia dos conspiradores era atacar moralmente o presidente americano e como consequência revogar o acordo de paz.

E na consecução do plano foi sequestrado o filho do presidente americano que estudava na Inglaterra, Oxford, o jovem Simon.

Esse crime é praticado, morrem os seguranças do jovem no momento do sequestro, criando desde logo um clima apreensão ao casal presidencial.

Em caráter de urgência é lembrado o negociador Quinn que se aposentara e cultivava uvas na Espanha.

Sendo Simon o filho do presidente dos Estado Unidos, após relutar muito, aceita a missão de negociar com os sequestradores.

Começam os contatos entre Quinn e Zack (o chefe dos sequestradores) e as negociações com o passar dos dias vão prosperando até que, menos de um mês depois do sequestradores o acordo é fechado mediante o pagamento de dois milhões de dólares em diamantes.

Na hora de ter de volta o jovem sequestrado, ao contrário do combinado, Quinn e deixado na estrada e o jovem libertado pouco mais a frente.

Simon volta pela estrada em direção a Quinn mas a uns 300 metros é explodido e morto por um artefato inserido dentro do cinto que lhe fora dado por um dos sequestradores ainda em cativeiro.

Quinn e desmoralizado, colocado sob suspeita mas as autoridades americanas, convencidas pela agente Sam, que se tornara amante de Quinn de que era ele inocente, conseguindo que ele próprio saisse a caça dos sequestradores.

Descobre-se que o explosivo fora fabrição soviética. As autoridades e membros da KGB não podiam acreditar nessa versão, mas foram convencidos da veracidade da origem do artefato.

Em risco o acordo de paz pela suposta conspiração soviética.

Quinn sai em busca do paradeiro dos sequestradores ajudado por Sam mas a medida que se aproxima de cada um deles, eles são mortos.

Nessa busca ele é apoiado por agentes da KGB que também queriam descobrir a origem e os motivos do explosivo no cinto.

Enquanto isso o presidente do Estados Unidos, de tal forma traumatizado, não governa mais, sendo substituido pelo vice-presidente. A situação chegara a tal ponto que os seus auxiliares próximos pretendiam pedir que ele deixasse o cargo.

Quinn descobre que todo o plano fora conduzido por Irving Moss, um ex-agente da CIA expulso da organização e que fora no Vietnam duramente agredido no nariz por Quinn quando este constatou a tortura que praticava contra prisioneiros vietcongs.

Moss num dos conflitos, domina Quinn e fala em vingança pelo soco que levara e que dificultava sua respiração.

Prepara-se para atirar em Quinn mas é alvejado momentos antes por Andrei, um agente de campo da KGB que seguia todos os passos do negociador.

Quinn imitando Moss chantageia um dos magnatas de armas, membro da conspiração, exigindo 5 milhões de dólares para silenciar.

O magnata vem com uma nota de crédito naquele valor pensando encontrar Moss, mas se depara com Quinn. Sem vacilar entrega o crédito a Quinn.

A conspiração acaba com a morte dos sequestradores e dos traidores.

Nesse meio tempo, o presidente dos Estados Unidos, apoiado por sua esposa que se recuperara do trauma da morte do filho Simon, reassume a presidência e fala à nação que estava de volta à presidência.

Rico, Quinn numa mensagem cifrada chama Sam e ao se encontrarem prometem casarem-se.


(*) Nantucket é uma ilha americana a mesma onde se desenvolve o enredo do livro “Moby Dick” de Herman Melville (resenha nº 44).
Curioso que há na História de Frederick Forsyth um personagem de nome Melville.


domingo, 16 de setembro de 2018

A GUERRA DO FIM DO MUNDO de Mario Vargas Llosa

LIVRO 50



O Livro de Mario Vargas Lhosa é um “tijolo”, um “pacote” com 790 páginas.

Diz o Autor no prólogo que o romance é inspirado em “Os Sertões” de Euclides da Cunha após ter conhecido a obra em 1972.

Para escrever seu livro Lhosa informa que fez pesquisas em Londres e Washington, em Salvador e Rio de Janeiro e andanças escaldantes pelos sertões da Bahia e Sergipe.

Com tais pesquisas conseguiu localizar em sua obra, os locais remotos, proximidades que onde se deram os eventos de Canudos e, nesse meio, desenvolveu o romance.

Essa pesquisa se constitui num trabalho surpreendente e excepcional.

Ele situa sua história nos episódios nas quatro expedições militares que se propuseram a pôr fim ao aglomerado de Canudos, a Antônio Conselheiro e seus seguidores.

Antônio Conselheiro fora uma figura incomum. Magro, cabelos compridos, chegando aos ombros, olhos fundos, de sandálias, vestindo túnica azul abraçara o catolicismo à sua maneira, transitando por aqueles sertões por anos reformando igrejas e cemitérios e com o passar do tempo foi obtendo seguidores.

Tudo isso tendo como uma das causas o adultério de sua esposa que fugiu com um militar.

Instalou-se em Canudos.

Canudos era monarquista. A República era o anticristo por tudo que modificava.

O primeiro combate se dera por causa dum boato de invasão dos jagunços de Antônio Conselheiro em Juazeiro porque Canudos havia comprado e pago madeira para construção de uma igreja, material que não fora entregue.

A ameaça da invasão dos jagunços resultou na organização de pequena expedição de soldados para destruir Canudos, mas destroçada inapelavelmente no combate.

A crise se agrava após o fracasso da 3ª expedição na qual fora vítima fatal o conceituado (e epiléptico) coronel Moreira Cesar, famoso pela sua truculência e atos heroicos.

Aos primeiros combates, para vergonha do coronel que ainda vivia mesmo com o grave ferimento a bala na barriga, houve a recuo de suas tropas e muitas deserções.

Por isso, no Rio de Janeiro houve empastelamento de jornais monárquicos, iniciando-se, então, a organização de nova campanha, desta vez que reuniu cerca de seis mil soldados.

As derrotas anteriores das forças oficiais têm explicações: o terreno acidentado e difícil de suplantar naqueles sertões, a seca e até a fome e a sede um inimigo sempre presente nas incursões. 

Do lado de Antônio Conselheiro a defesa de Belo Monte - Canudos, deveu-se à união de jagunços regenerados após ouvir os conselhos do “santo” que conheciam de sobejo a região, a caatinga e o que o terreno inóspito poderia ajudar nos ataques de surpresa às tropas.

Alguns desses jagunços, Lhosa explora e romanceia na obra:

. Pajeú, um bandido perigoso, “de bravura inexcedível e ferocidade rara”, nas expressões de Euclides da Cunha e também

. João Abade, astuto que assassinara a noiva fugindo do liceu onde estudava, tornando-se na defesa de Canudos o seu estrategista, o “comandante da rua”.

[Há outros personagens reais mencionados pelo Autor].

Com os casebres precários de Canudos e a certeza da acolhida muitos sertanejos miseráveis para lá buscava proteção para assumir uma vida religiosa ouvindo o venerado Antônio Conselheiro.

A resistência foi tanta que como disse Euclides, “Canudos não se rendeu”.

A tragédia debitou milhares de mortos de lado a lado. Por fim, Canudos foi invadida por milhares de soldados, destroçada a poder de obuses de canhões e mortos todos os seus inquilinos, ato classificado como verdadeiro genocídio.

Antônio Conselheiro, falecera dias antes, de disenteria. 

Seu corpo foi sepultado, exumado pelas forças oficiais e sua cabeça (cérebro) encaminhado para exame científico. Nada fora encontrado de relevante...


O Livro de Mario Vagas Lhosa é inspirado em 'OS SERTÕES" de Euclides da Cunha. Para um ideia do relato de "Os Sertões" acessar resenha n° 6.

É nesse ambiente que se desenrola a obra de Mario Vargas Lhosa.

E ele descreve bem a angústia dos moradores de Canudos, naqueles barracos quase sem espaço entre um e outro, pequenos corredores e becos., a marca da precariedade.

O Autor, no meu modo de analisar a obra ficou muito mais tempo no ambiente de Canudos sempre sob ameaça e menos no ambiente das forças oficiais que tentavam destruir a “comunidade”.

Os personagens fictícios de Llosa que interagiram com a realidade de Euclides:

GALILEO GALL, escocês, seguidor das ideias de Proudhon e Bakunin, anarquista, acreditava no fim da religião com a revolução que libertaria a “sociedade dos seus flagelos”. 

Para manter absoluta consciência dessa luta revolucionária, deveria abster-se do sexo de tal maneira que a mente se voltasse com mais energia a esses ideais revolucionários.

Desembarca na Bahia e não demora a saber da comunidade de Canudos. 

Pensa que, mesmo com o timbre religioso que a sustem, poderia ser Canudos a demonstração de sua crença política, um local sem governo, que despreza o dinheiro da República e todos viviam em verdadeira comunidade.

Pensando que fosse inglês ou fazendo acreditar que fosse, o Partido Republicano Progressista, engendrando uma conspiração, pretendendo “provar” que Canudos era sustentado pela monarquia inglesa, contrata Gall para fazer um carregamento de armas inglesas até lá, acusando-o mais tarde de ser um agente da Inglaterra.

RUFINO: seria seu guia até Canudos, mas assumira outra missão, adiando o compromisso com Gall. Este fica a sua espera em sua casa de pau a pique.
Passa um tempo e Gall violenta Jurema, esposa de Rufino.

Tem sentimentos de ter perdido parte de seu ideal porque se rendeu ao sexo.

Logo após, o presidente do Partido Republicano envia asseclas para assassinar Gall para provar que ele dispunha de armas inglesas e nessa circunstância propagando a efetiva participação da Inglaterra monárquica nas bases de Canudos.

Jurema o salva porque a vingança deveria vir de seu marido desonrado Rufino.

Os dois se encontram. Gall minimiza a violação sexual, enquanto Rufino busca sua honra.

Nessa luta ambos morrem abraçados com tiros de um militar maltrapilho.

E desaparecem na história.

JUREMA, O JORNALISTA MÍOPE e ANÃO:

Jurema após série de dificuldades segue para Canudos ao lado do jornalista míope que lá estava para acompanhar os acontecimentos da quarta expedição por conta do “Jornal de Notícias” que pertencia ao político Epaminondas Gonçalves do Partido Republicano Progressista,

Nasce aí uma relação de amor de mãe para filho um pouco mais do que isso, especialmente depois que o jornalista teve seus óculos quebrados e é conduzido por ela naqueles terrenos acidentados.

Lhosa inclui na sua história uma espécie de remanescentes de circo de Cigano mambembe que apresentava a mulher barbuda, o Anão, gigante Pedrim e outros que se perdem na história.

Apenas o Anão permanece e se liga a Jurema e ao jornalista.

O trio se protege, mas é Jurema a força da sobrevivência deles nas batalhas em Canudos.

Jurema e seus protegidos se desesperam quando Pajeú informa a Jurema que pretende com ela se casar. Mas, esse casamento não se realiza porque Canudos é destruída.

Salva-se o jornalista, mas o romance não revela os destinos de Jurema e do Anão aos quais estava intimamente ligado.

[Lhosa também descreve sua Quasímodo, personagem de “O Corcunda de Notre Dame”, livros de Victor Hugo, criando o personagem Leão de Natuba, pequeno monstro que andava de quadro, cabeça enorme, curvado mas muito inteligente que aprendera a lei sem qualquer ajuda muito protegido por Antônio Conselheiro].

Outros personagens:

PADRE JOAQUIM:

Padre aliado de Canudos, pai de filhos mas que rezava missas na localidade de Antônio Conselheiro e que pegou em armas para defender a comunidade.

BARÃO DE CANABRAVA E SUA ESPOSA ESTELA:

Político do Partido Autonomista da Bahia, oposição ao Partido Republicano Progressista, acusado por este de conspirar contra a República.

Depois, o barão se reconcilia politicamente com Epaminondas Gonçalves.

Ele era dono da área de Canudos.

A fazenda de Calumbi, de sua propriedade, que produzia, tinha empregados, com prévio aviso de Pajeú foi incendiada porque a terra “tinha que ser purificada”.

Sua amada esposa Estela, entre em colapso e perde a razão, traumatizada pela fazenda incendiada.



O livro tem MUITO MAIS do que isso nas suas 790 páginas.


|Acessar programa Literatura e Direito que debate o livro de Mario Vargas Llosa : https://www.conjur.com.br/2014-jun-27/guerra-fim-mundo-escritor-peruano-mario-vargas-llosa


quinta-feira, 2 de agosto de 2018

TIL de José de Alencar

LIVRO 49

O Livro foi escrito em 1872. Til é romance “regionalista” do Autor cuja história ocorre no interior de São Paulo, precisamente na região de Piracicaba, nas proximidades da confluência do Rio Piracicaba com Atibaia, na fazenda “das Palmas”.

Recebi mais tarde está informação preciosa:

"José de Alencar esteve em Piracicaba, residindo uma temporada na Usina Monte Alegre, onde criou a base para seu livro "Til", publicado em 1872. O título, aliás, é uma homenagem à forma sinuosa do Rio Piracicaba."

Quanto ao "til" referindo-se à sinuosidade do Rio Piracicaba, o livro não confirma essa informação como explico abaixo.

Os caipiras molharam a garganta “com um copázio da boa cachaça de Piracicaba...”
O Autor faz referência também a Santa Bárbara (d’Oeste?­) e Tanquinho um bairro rural de Piracicaba. E, também, Campinas.
Cearense de Fortaleza, sendo o interior de São Paulo o palco da história, há referência à força paulista, em meio à mata virgem, descortinando o deserto e rasgando a terra virgem desconhecida, “partindo pelos caminhos dágua as expedições que os arrojados paulistas levavam às regiões desconhecidas de Cuiabá”...  em busca do ouro.
O Autor sempre teve aquela fama de romancista meloso até porque Til fora escrito na primeira metade do século 19.
Então todo o recato, embora nas linhas da obra sobressaem cenas de sensualismo entre jovens namorados e numa outra cena, meio confusa há algum sentido de incesto "ilegítimo", claro que não consumado.
Uma descrição de corpo de adolescente se tornando mulher. Descrição recatada
“As formas da graciosa pubescência que um corpinho justo debuxaria em doce e palpitante relevo...”
E também a descrição de Berta sobre a amiga Linda:
“Quando ela ri faz cócegas no coração! Do corpinho nem se fala. Que cinturinha de abelha!” (?)
Til, é aquele sinal da língua portuguesa (~) que Braz, um deficiente mental, adolescente, se encantara quando tentado que aprendesse o alfabeto e a ler. E o til o fazia agir de modo insano já não bastassem outras ações próprias de sua doença:
“Súbito no mato soou um grito bravio, e logo após a voz estranha...
- Til!..  Til!..  Til!.. Oh!  Til!..”

 Gostei do livro pelo enredo que de certo modo me surpreendeu. 











A história tem um personagem principal: BERTA
Ela nascera de uma violência sexual.
Besita, mãe de Berta, era muito bonita mas desprezada por Luiz Galvão porque era ela pobre e porque seu pai não admitiria o casamento.
Besita casa-se com Ribeiro que nem se encerram as festas do casamento viaja para resolver negócios importantes. E fica muito tempo afastado do lar.
Uma noite, batem à porta de Besita, entra o “vulto” que ela pensou fosse seu marido mas era Luiz Galvão que a violaria.
Ao voltar o marido, à espreita, constata que a esposa tinha uma filha no colo.
Revoltado mata a mulher e tenta matar a criança, no caso Berta.
A escrava Zena ao ver a cena enlouquece.
Mas Berta bebê é salva por Jão.
A partir dali Jão, o Bugre, o capanga se torna alguém violento e é contratado por um assecla de Ribeiro para matar Luiz Galvão.
Ele, Jão, fora criando na fazenda Pilões, de Afonso Galvão, pai de Luiz Galvão.
Ao saber quem seria a vitima tenta desistir da incumbência, embora odiasse Luiz Galvão porque violentara Besita e por isso fora morta por Ribeiro.
Luiz Galvão era casado com Ermelinda e tinham filhos gêmeos Linda e Afonso.
Berta, criada por Nhá Tudinha, viúva, convivia com Miguel, filho dela. Eles eram apaixonados.
Mas, Berta com muita bondade, encaminhou Miguel para Linda que também amava o jovem, embora pobre.
Afonso se aproxima de Berta mas o romance não prospera porque, afinal, eram irmãos por parte de pai embora isso fosse um segredo.
Berta controla Jão e impede que ele mate Luiz Galvão.
Ela também ajudava muito o deficiente mental (idiota) Braz, sobrinho de Luiz Galvão, cuja mãe falecera de desgosto pelo seu marido e pelo filho que gerara.
Num dia em que estavam Linda, Afonso e Berta na casa dos pais dos gêmeos, Braz arremessou um cascavel pela, janela, no quarto daquela.
Mas, nas brincadeiras amorosas, Berta se esconde no quarto de Linda e se depara com a cascavel, mas o réptil não ataca a menina. Roça nas pontas dos seus dedos, avança sobre os braços da menina, sente cobra a sua maciez e Berta a doçura de uma carícia.
Aí, uma cena “sobrenatural”?
Outra cena não bem ordenada se refere ao ataque dos queixadas (espécie de porco selvagem) ferozes. Lá está Jão e Berta.
Jão sustem a menina em seus braços para preservá-la do ataque dos animais sentindo, então, todo o seu corpo jovem.
Quando conseguem se libertar, Jão controla um terrível “assalto” aos seus sentidos, o que poderia ser considerado uma tentação de natureza incestuosa.
E por quê?
Porque fora ele quem dela cuidara sempre e ela o aconselhava e o impedia de praticar ações violentas.
Mas, Jão, à ameaça que pesava sobre Berta, acabou assassinando Ribeiro sendo terrivelmente repreendido por ela pelo crime.
Ela não soube dos motivos dessa luta violenta.
Quando revelara a paternidade de Berta Luiz Galvão tudo fizera para reconhecê-la como filha. E com a concordância de sua esposa Ermelinda, que tempos antes passara a desconfiar de um segredo de seu marido até que tudo fosse revelado por ele.
Mas, ela recusou voltando-se para Jão que fora realmente o seu pai.
A partir daí, Jão passou a trabalhar na roça, serviço que não admitia porque era atribuição dos escravos.
A cena final do livro: Miguel está partindo para São Paulo para estudar - depois de dois se casaria com Linda.
Na despedida, Berta está abraçada a ele, que se afasta ao ver Braz atirado ao chão com convulsões. Diz:
- Não Miguel. Lá todos são felizes. Meu lugar é aqui, onde todos sofrem.
Aos soluços.