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domingo, 27 de setembro de 2020

O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO de Jerome David Salinger

  LIVRO 76

Há alguns anos li esse livro porque me caiu em mãos num período de relativo isolamento e, então, me pus a lê-lo sem interesse.

Qual o impacto de suas páginas? Um jovem pelos seus 16 anos perdido porque fora expulso do Internato Pencey por reprovação, fumante inveterado - naqueles tempos nos quais a ligação de uma cena a outra nos filmes americanos se dava pelo acender do cigarro - o consumo desesperado da bebida e o uso constante da gírias como "o cinema é uma droga", "o bar é uma porcaria".

Naquele oportunidade, levei o livro ao seu final meio forçado.

Agora quando o releio fico sabendo que na década de 50-60 vendeu cerca de 65 milhões de exemplares, "num ritmo de 250 mil por ano", na verdade, um fenômeno literário inegável.

E sua influência fora forte entre os jovens por uma série de dúvidas, angústias e principalmente insegurança, sentimento típico daqueles tempos que enfrentava um jovem que "perdera o chão" ao ser jubilado da escola porque fora reprovado em todas as matérias menos no inglês.

O Autor Jerome David Salinger, de Nova York (1919-2010) especialmente depois desse livro (escreveu outros) viveu recluso desde 1951 e de sua biografia, se diz que ele era violento e autoritário e, adepto da cintologia, por causa disso ou não, bebia sua própria urina (!)

Naqueles tempos das décadas de 50-60, nos colégios públicos brasileiros - era uma regra, pelo menos no Estado de São Paulo - qual aluno teve a experiência do jubilamento por duas reprovações na mesma série? A "perda do chão", o vexame perante os pais e colegas que ficaram e seguiram para a série seguinte, a ironia, a busca de outra escola, que poderia estar distante e ouvir pela terceira vez tudo o que ouvira naquela da qual fora expulso.

Embora a década de 60 fosse mágica, aquela consciência fictícia da imortalidade, havia essa insegurança entre o jovens. Vivendo naqueles dias, identifiquei muitos pontos do livro que diziam da realidade jovem daquela época.

Holden Caulfield está nos último dias de hospedagem no Pencey diante da expulsão. Seu companheiro de quarto, entre tolerância e ódio era Stradler que se dava muito bem com as garotas, inclusive com sua possível namorada, a Jane. Sem motivo Holden atacou Strader, talvez enciumado pela Jane. Num quarto ao lado, Robert Ackley que não escovava os dentes, cheio de espinhas no rosto.

Holden implicava com ambos mas, no dia a dia de sua angústia, precisava deles. E a saudade de ambos ele revelaria no final de sua aventura de perdido em Nova York vez por outra usando seu chapéu de caça vermelho, baixando as abas para proteger as orelhas do frio.

Sempre pensava em seu irmão D.B. escritor que estava em Hollywood e estaria escrevendo um roteiro para um filme. Esse trabalho do irmão ele não gostava, até porque o cinema "é uma droga".

Além da angústia de que haveria que enfrentar ao voltar para casa como aluno expulso batia-lhe o fato de ser "virgem" sexualmente. Seu relacionamento com a garotas embora fosse constante ele não avançava para aquela fase da consumação da experiência sexual assim que qualquer delas dissesse que ele não avançasse.

E seus assuntos nem sempre eram agradáveis, românticos.

Sentiu-se indisposto diante da prostituta que contratara. Foi lesado, agredido pelo cáften na discussão do preço que fora dobrado e, pagou e, claro, não "aproveitou" os serviços da apressada profissional.

Quando não tinha onde ficar, porque não se encorajara a assumir perante os pais a expulsão do Pencey, depois de uma noite de bebedeiras e de modo sorrateiro, vai ao apartamento dos país - que estavam ausentes - para conversar com sua irmã de dez anos,  Phoebe. Ela desconfiou que seu irmão fora expulso e diz:

- Papai vai te matar.

Falando em abandonar tudo, morar numa casinha próxima de matas, não tendo para onde ir,  então num momento de  inconveniência, liga para o professor Antolini que o acolhe em seu apartamento. 

Dá-lhe conselhos como neste trecho:

- Por incrível que pareça, isso não foi escrito por um poeta. Foi escrito por um psicanalista  chamado Wilhelm Stekel (...) Aqui está o que ele disse: " A característica do homem imaturo é aspirar a morrer nobremente por uma causa, enquanto que a característica do homem maduro é querer viver humildemente por uma causa".

O homossexualismo era uma realidade, a "veadagem", mas enrustida naqueles tempos contidos. 

Então, Holden Caulfield cansado e já melhor da bebedeira que diminuíra com o café, adormece profundamente no sofá curto para ele, mas é acordado por carícias do professor Antolini em seus cabelos,

Assustado, rapidamente deixa o apartamento desconfiado das intenções do professor e revela o assédio dessa natureza desde criança.

Antes de buscar suas malas guardadas na estação, remete um bilhete para sua irmã Phoebe na escola, informando que vai "sumir" dali, procurar um emprego e viver isolado. E informa a ela que a espera na porta do museu.

Enquanto na escola da irmã incomodou-se com a inscrição na parede com as palavras: "foda-se". Preocupado com o que poderiam questionar as crianças sobre o seu significado, tenta apagá-las.

Então, ele a vê com uma velha mala e ao saber do que se trata, sua irmã lhe diz que queria "fugir" com ele - o livro não explica como ela arrumou a mala saindo de casa sem ser vista porque simplesmente não sabia que o irmão fugiria. [liberdade poética?].

Outro ponto controverso: como um jovem de 16 anos nos Estados Unidos, embora de estatura 1,85 m., pôde frequentar casas noturnas, beber sendo raramente questionado sobre a idade, se hospedar em hotéis, mesmo que baratos?

Mas, no seu desequilíbrio chega a dizer que, "se um dia eu morrer e me enfiarem num cemitério, com uma lápide e tudo, vai ter a inscrição "Holden Caulfield", mais o ano em que eu nasci e o ano em que morri e, logo abaixo, alguém vai escrever "Foda-se". Tenho certeza absoluta."

As linhas finais do livro revelam que Holden Caulfield voltou para a casa dos pais mas revela que não explicaria como.

O TÍTULO DO LIVRO TEM ESTA EXPLICAÇÃO:

Diálogo entre Holden e sua irmã Phoebe: "Você conhece aquela cantiga: "Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio"? Eu queria... - A cantiga é "Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio"! - ela disse. É dum poema do Robert Burns. - Eu sei que é dum poema do Robert Burns. 

Mas ela tinha razão. É mesmo "Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio". Mas eu não sabia direito(...)direito."

MORAL DA HISTÓRIA

O livro vendeu tanto porque muitos foram jovens no final da década de 50 e 60 do século passado que se identificaram com alguma passagem ou várias delas explanadas no livro, no tocante às dúvidas sobre o futuro, sobre os desafios do dia a dia naquela idade juvenil e até a consumação da experiência sexual.

O estudante jubilado, quem teve essa experiência, enfrentara um momento terrível, especialmente quando mau aluno, sabe que tem que continuar estudando em qualquer escola que seja, em qualquer localidade que seja. 

E aí, o "castigo".





domingo, 6 de setembro de 2020

COMO VIVER NESTE MUNDO de Jiddu Krishnamurti

LIVRO 75


Quem foi Krishnamurti?

Ele nasceu em Madras, Índia, em 11 de maio de 1895.

Ele e seu irmão Nytiananda eram inseparáveis até na fome. Mãe falecida na infância e pai com dificuldades de sustentar a família.

Morando em Adyar aproximaram-se os irmãos sem qualquer interesse da denominada Casa dos Sábios na qual  Annie Besant, Charles W. Leadbeater e outros se dedicavam aos estudos esotéricos.

Bem recebidos, estreitaram a a amizade com esses estudiosos.

Autorizado pelo pai, os irmãos foram introduzidos, em 1909 na Sociedade Teosófica onde receberam educação e ensinamentos. Annie Besant, eleita presidente internacional da Sociedade Teosófica - uma mulher lutadora com inteligência superior que teria forte influência na sua comunidade pelo domínio espiritual que lhe era atribuído -, dizia ter contato com os mestres espirituais de altas hierarquias e por eles fora informada que Krishnamurti seria o veiculo de um grande espírito. Ele incorporaria um ente espiritual de elevada espiritualidade. Seria o "Instrutor" do mundo.

Em 1925, quando Krishnamurti estava fora do círculo, na Califórnia, cuidando de seu irmão muito doente, que viria a falecer, os teosofistas e adeptos fanáticos se reuniam em Ommen, cidade da Holanda o proclamaram esse avatar "esperado", por injunção de Besant considerando as instruções que recebera dos Mestres.

Mas, para surpresa geral, Krishnamurti não aceitou essas designações e renunciou a tudo isso rompendo filosoficamente com a Sociedade Teosófica e com a Ordem da Estrela do Oriente a qual presidia, proclamando que passaria a ter a partir de então, a liberdade de pensar e transmitir ensinamentos ou mensagens para melhorar esse mundo cheio de violências, de guerras, de ódios e do caos. Proclamara-se um homem livre sem ouvir autoridades ou religiões.

A Fundação que leva o seu nome é garantida por doações havidas na Holanda e na Califórnia na década de 20.

Muitas da informações que vou expressando nesta resenha, foram obtidas do livro "Krishnamurti" uma biografia escrita pelo médico brasileiro Francisco Ayres.


"COMO VIVER NESTE MUNDO"  

Como chegou esse livro de 127 paginas até mim há muito tempo, não posso precisar. 

O que posso dizer é que na década de 60, Krishnamurti era muito lembrado, até porque ele criticava de modo veemente a guerra no Vietnam, a violência neste mundo caótico, falava das drogas que poderiam aumentar o grau de consciência de modo artificial, dos jovens viciados, a explosão sexual, além de não professar qualquer religião...

Bom, com essas lembranças me pus a ler os dois livros, o de Krishnamurti e também o livro biográfico do filósofo, de autoria de Francisco Ayres,

Confesso que no tocante ao livro de Krishnamurti, não posso deixar de expressar a minha decepção. Ele foi constituído de 10 palestras realizadas em 1967 na cidade de Saanem, Suiça cujos temas posso enumerar: "Escutar e aprender", "A dependência psicológica", "Os conflitos humanos", "O prazer", "A natureza da Liberdade", "O problema do medo", "O que é aprender?" "Sobre o tempo e o pensamento", "O que é a mente?" e "A verdade".

Talvez um pouco pelas transcrições das palestras, quem sabe tradução da tradução, encontrei um texto confuso, contraditório e por vezes incompreensível. No geral, muito dessas imprecisões se identificaram nos conceitos explanados por  Krishnamurti.

Então, para não fazer juízo de valor - porque a crítica é sempre muito fácil de ser feita - ouvi vídeos de entrevistas e, no meu modo de pensar, ele que tanto critica a mente fragmentária, seus conhecimentos externados são, em boa medida, fragmentários. 

Parece que quando de sua educação e a de seu irmão conduzida por Annie Besant na Sociedade Teosófica conduzida de modo maternal por ela absorvera ele princípios teosóficos elementares dando-se  aquilo que sempre digo, parou numa barreira de compreensão relativa, num muro que não conseguiria ultrapassar. E se ultrapassasse, um outro mais elevado se lhe oporia como a todos acontece aos que buscam compreender esses enigmas da vida e do Universo.

Mas, mesmo assim, ministrou ensinamentos e palestras por muitos anos. Ele faleceu em fevereiro de 1986.

Nesse livro, quando indagado por ouvintes da plateia, não apreendi nenhuma resposta dele que tivesse significado efetivo com as perguntas.

E não se diga que suas conclusões eram de nível superiores ao meu entendimento.

Krishnamurti, na busca da verdade despreza ideais religiosos provindos do Salvador (Jesus Cristo), de Buda, dos sacerdotes, das religiões, dos místicos, dos pseudo-religiosos, dos filósofos, de Freud e de quem mais possa influenciar a outrem, até porque são ideias e  ideais que "ficaram no passado". A verdade haverá que ser obtida pelo próprio indivíduo, se conseguindo sua mente livre embora não seja Krishnamurti muito claro nesse caminho, porque nem ele desejava influenciar seus "simpatizantes". 

Ele é tão rigoroso em evitar essas influências que troca "meditação" - uma prática de busca interior consagrada no oriente e ocidente -, por "atenção" e não há que se falar em "concentração" porque a mente se torna fragmentária... 

Algumas frases e ideais de Krishnamurti no livro:

Só quando isso acontecer, quando vos sentirdes inteiramente responsável por esta monstruosa sociedade, com suas guerras, suas divisões e tantas outras coisas horríveis - brutalidades, ambições, etc; só quando cada um de nós perceber bem isso, poderemos agir.

Ora, a grande maioria sente isso. O que não parece ter  percebido o filósofo é que este  planeta é a terra das desigualdades, das penitências. Tanto que aqui neste planeta infeliz convivem iluminados espirituais de imensa grandeza, ao lado de párias mentais. Estes pouco ou nada sentem porque vivem num mundo de sobrevivência e podem se manifestam pela violência extrema e pela desonestidade. Nem sempre as carências explicam esse atos danosos.

Mas, claro que esses fatos, o das diferenças e sofrimentos no planeta, não podem ser aceitos passivamente. Tudo haverá que ser feito para que essas diferenças diminuam com o apoio aos desfavorecidos dentro daqueles princípios da solidariedade e da caridade.

 ● "Porque vivo em conflito?" - Porque quando já não buscamos uma autoridade para ensinar-nos, quando estamos livres da autoridade de outrem, já estamos na claridade, nossa mente já tem penetração para olhar.

Nesse trecho ele exclui a influência de qualquer autoridade comandando a vida do buscador da verdade.

 ● Está visto, pois, que onde está o prazer está também a dor, a qual leva inevitavelmente ao medo - medo não só das coisas grandes, como a morte, a solidão profunda, o não existir, mas também medo das coisas superficiais: o que pensa de vós o vosso vizinho, o vosso patrão; medo do marido, da esposa, medo de não poder viver conforme as imagens que cada um cria a respeito de si mesmo.

Essa relação entre prazer, dor e medo não me parece tenha qualquer conexão. Ora, o prazer tende a afastar a dor e o medo, claro, que por tempo limitado. É como dizer tenha medo mas não tenha medo do medo. Pode pensar sem pensar. Como se diz hoje, a vida deve seguir... sem prejuízo da busca da verdade...

Vejamos a coisa mais de perto, Quando vós, o observador, olhais para vossa esposa, vosso amigo, estais a observar com a memória de ontem, estais cônscios de que o passado está contaminando o presente, ou estais observando como se não existisse nenhum ontem? O passado está sempre a projetar sua sombra no presente...

Todas as ideias estão sempre no passado e, por conseguinte,  quando funciono em conformidade com ideias, dogmas, crenças, conclusões estou vivendo no passado e, consequentemente, estou morto.

Afinal de contas, o que é a verdade? O percebimento da verdade, o sentimento do que é a verdade, com sua beleza, seu amor - como se pode alcançá-la? Só se pode ver a verdade quando a mente não está fragmentada quando se vê a totalidade. Quando vedes a totalidade de "vós mesmos", não apenas tais e tais fragmentos, porém a totalidade do vosso ser - vedes a verdade e compreendereis todo o complexo conjunto. 

● Krishnamurti demonstrou desdém pela a arte de um modo geral, a pintura e a música. "Mas, diz ele, se soubéssemos olhar para o rosto do passante, para a flor a beira da estrada, para a nuvem, numa certa tarde, olhar com atenção completa e, por conseguinte, com alegria e amor - então, todas aquelas outras coisas teriam muito pouco significado".

Mas, qual o significado dessa arte exposta no ambiente natural? Quem foi o artista? Ele nada disse e também ninguém o perguntou.


 Francisco Ayres, nas páginas finais do seu livro sobre o filósofo chega a escrever que

"Ouvindo Krishnamurti sentimos que ele foge de respostas positivas a perguntas como: - "Existe Deus? Há reencarnação? Qual o caminho para a verdade? Como morrer psicologicamente todos os dias e renascer todos os dias? É certo dizer que foi, como dizem, noutra encarnação Alcyone?" (*)

E o Autor também se refere a perguntas que Krishnamurti "sai pela tangente": Repetidamente ele nos diz que a autocompreensão surge espontaneamente e a luz se faz imediatamente e não num futuro distante".

Mas esse Autor muito "ajuda" ao explanar e condescender sobre ideias de Krishnamurti.

Desenvolve mesmo um forte apelo ecológico em algumas páginas do seu livro. Os encantos de um riacho, das flores, das árvores. 

Numa entrevista, por sua vez, Krishnamurti se refere de modo penalizado sobre a coragem de homens abaterem filhote de foca a pauladas.

Ayres também não esconde suas dúvidas em como conseguir essa autocompreensão, a "descoberta" da verdade.


(*) Um suposto espirito que reencarnou por 48 vidas desde tempos remotos da humanidade. Krishnamurti seria a encarnação desse espírito no século XX.


MORAL DA HISTÓRIA

Com suas mensagens tão confusas, tão impraticáveis, contradições, rejeitando a tudo e a todos não há informações divulgadas se Krishnamurti mesmo encontrou a verdade pela autocompreensão, de olhar uma ideia excluindo-a do passado, sem pensar, pensando,  do modo como sempre explanou em sua longa existência.

PS: Estarei sempre pronto a ouvir críticas e ensinamentos sobre o filósofo.




quinta-feira, 13 de agosto de 2020

HISTÓRIA ECLESIÁSTICA de Eusébio de Cesaréia



Quem foi Eusébio de Cesaréia?

A despeito de todas as restrições de transcrições advertidas no livro, a contracapa da obra esclarece:

Ele nasceu não se sabe onde em cerca de 270 AD e faleceu no ano de 339 AD. Ele viveu a maior parte de sua vida em Cesaréia, na época a maior cidade romana na Palestina.

Ele era cristão fervoroso e sua obra pode ser considerada um documento ao revelar contemporaneamente o sofrimento enfrentado pelos cristãos, as implacáveis perseguições de que foram vítimas, a tortura, o "pasto" as feras esfomeados, "comedores de homens" nos três primeiros séculos.  Nos primeiros anos, a violência contra os cristãos partira dos judeus e depois pelos pagãos, que não suportavam crerem (os cristãos) num Deus e em Jesus Cristo "Nosso Salvador" e não nos deuses greco-romanos.

Nas primeiras páginas do livro explora à exaustão o autor a origem divina de Jesus - o Cristo. Em todo o versículo do "Velho Testamento" em que haja referência ao um ser divino superior, ele remete à presença de Cristo ao lado do Pai, o ungido, o Messias. Isto é o Filho de Deus seria presença santa já no "Velho Testamento".

O livro traz a presença dos apóstolos após a crucificação mas não há o testemunho da própria crucificação. Ela é remetida aos Evangelhos ("as boas novas") que foram escritos pelos evangelistas segundo os relatos que ouviram.

Há a confirmação da estrela-guia que conduziu os três reis magos, como nos Evangelhos e o infanticídio por decisão de Herodes aos meninos como menos de dois anos tentando atingir Jesus com receio de que sua soberania corresse risco com o novo "rei" nascituro.  

Mas, Herodes teve um fim trágico com doença incurável. Além dos "notáveis" que detivera para depois serem assassinados para que sua própria morte fosse "pranteada", a doença foi tomando seu corpo inteiro e a podridão verminosa nas suas "partes pudendas". Por fim,  feriu-se com uma faca, não sem antes de morrer determinar a morte de um dos seus filhos.

Seria seu castigo por seus crimes hediondos.

Herodes morreu, segundo Flavio Josefo, no ano 4 a.C. Essa data significa que, quando da morte de Herodes ('o Grande') Jesus Cristo estaria com cerca de 5 anos de vida.(*)

Depois, aparece o nome do imperador Tibério que se emocionara ao saber de Pilatos os feitos "de nosso Salvador Jesus" sobre sua ressurreição que era confirmada de "boca em boca".

Tibério se simpatizava com os ensinamentos cristãos (**).

Entenda-se como ensinamentos cristãos, o catolicismo, "igreja de todos, universal".


Alguns relatos do livro que julguei mais expressivos, sempre lembrando as restrições impostas no tocante a transcrições:

● Quem desaprovaria os apóstolos casados? Porque Pedro e Felipe criaram filhos - Felipe deu maridos a suas filhas. Paulo também é mencionado como casado, mas há dúvidas conforme nota de rodapé;

● Tiago, irmão de Jesus, a quem os apóstolos haviam confiado o trono episcopal de Jerusalém: os judeus revoltaram-se contra ele  e exigiram que ele renegasse a fé, mas ele reafirmou diante da multidão que "nosso Salvador e Senhor Jesus era filho de Deus". 

Diante dessa confissão, ele foi lançado do pináculo do templo e espancado até a morte. O autor relata que somente ele foi santo desde o ventre de sua mãe, porque não bebeu vinho nem bebida fermentada, não comeu carne, não passou tesoura nem navalha sobre sua cabeça, não ungiu-se com azeite e "nem usou de banho";

● Os Evangelhos de Mateus foram publicados na língua hebraica - havia muitos hebreus cristãos, enquanto Pedro e Paulo em Roma evangelizavam lançando as bases da nova Igreja. 

Os Evangelhos de Lucas,  médico de profissão, companheiro de Paulo e por contatos com os apóstolos - que não foram superficiais - foram escritos com base nesses relatos e porque "deles adquiriu a terapêutica das almas". No seu escrito sobre os Atos dos Apóstolos, não foi somente o relato do que ouviu, como na caso do seus Evangelhos, mas do que viu.

Marcos se baseou nos ensinamentos de Paulo e Pedro para escrever seus Evangelhos.

João, aquele que se reclinou sobre o peito de Jesus, escreveu seus Evangelhos "enquanto morava em Éfeso da Ásia";

● Há uma dúvida colocada: se João, o apóstolo, fora realmente, o autor do livro do Apocalipse. Diferenças de estilo e gramática em relação a outros escritos do apóstolo, fazem a dúvida quanto à sua autoria do citado livro;

● O livro relata fome terrível entre os judeus, o trigo escasso, os assaltantes que invadiam casas em busca de alimentos roubando tudo o que encontravam. Havia, então, aqueles que preferiam morrer a continuar com aquele sofrimento.

Uma mulher em desespero: "a única coisa que faltava às calamidades dos judeus". E então, deu morte a seu filho, assou-o e comeu a metade. A outra metade à chegada dos rebeldes, ofereceu a outra metade a eles. Ficaram pasmos e horrorizados;  

Esse flagelo teria sido a "recompensa por sua iniquidade e impiedade para com o Cristo de Deus". O livro não esclarece se os cristãos também enfrentaram ou como enfrentaram aquele período terrível de fome;

● Lá pelo ano 115 DC, no reinado de Trajano que não perseguia os cristãos, os ensinamentos de "nosso Salvador e sua Igreja" floresciam a cada dia, deu-se nova rebelião dos judeus que depois de muita luta foram derrotados, com muitas vitimas em Cirene e no Egito;

● Policarpo e o martírio junto com outros em Esmirna pela perseguição de que fora vítima: ele vivera com alguns apóstolos que haviam visto Jesus. Para escapar das perseguições refugiou-se não muito longe da cidade. Em suas orações teve a visão de que seria morto pelo fogo. Ao ser levado à presença de Herodes, deveria dizer, para salvar sua vida, que "Cesar é o senhor" ou que maldissesse a Cristo.  Mas, não disse. Então, pouco tempo antes do martírio teria ouvido uma voz que o incentivava a ser forte e agir como homem. O fogo da fogueira não o atingiu, então ele foi morto perfurado por uma espada.O sangue que jorrou, apagou a fogueira;

● As torturas praticadas pelos pagãos contra os cristãos ultrapassavam qualquer limite humano. Há o relato sobre um deles de nome Santos que depois de torturas inenarráveis, seus membros "mais delicados" foram queimados com placas de cobre em brasa. 

Mas, pela "graça de Cristo", ele se recuperou totalmente;

● À sombra da Igreja muito perseguida, brotavam "estranhas heresias", os "amantes do mal" e como "serpentes venenosas" conspiravam contra os homens;      

● Artemon em sua heresia, dizia que Jesus era apenas um homem e que ele não teria uma origem divina antiga. Berilo, o bispo de Bostra também dizia que Jesus não preexistia antes de habitar entre os homens e que não possuía divindade própria, mas apenas  a de Deus que habitava nele;

● Orígenes, oriundo de Alexandria perdera na tenra idade seu pai decapitado. Muito jovem debruçou-se sobre a filosofia grega mas apreendeu, também, os ensinamentos de Jesus Cristo e, na sua postura filosófica, tornou-se figura destacada entre os cristãos. 

Consolava no cárcere aqueles cristãos condenados ao martírio e à morte. Perseguido mas sempre escapando ileso à insanidade pagã, dá a entender o livro - ou eu assim interpretei -, por ministrar ensinamentos não só aos homens, como às mulheres e, pela sua juventude, para evitar a calúnia, teria se emasculado. Mesmo com tanta participação em prol do cristianismo, ele sobreviveu a agressões e ameaças e faleceu naturalmente.

Foi sobretudo um cristão inspirado e inspirador. A formação teológica do autor do livro foi baseada na obra de Orígenes.

● Mártires cristãos que se sobressaíram em Tiro da Cilícia suportavam açoites intermináveis, a tudo resistiam e depois eram  atirados à feras devoradoras de homens;

● Toda perseguição de governadores e imperadores, dos pagãos inconformados por não aceitaram os cristãos seus deuses, foi aplacada com a presença do Imperador Constantino, vencedor de guerras que não só os protegeu, mas aceitou seu Deus. 


O LIVRO

Por ser um relato o quanto possível real dos primeiros séculos do cristianismo, há trechos nos quais o autor revela até mesmo a substituição de bispos que faleciam, o que pode parecer irrelevante, mas um modo de perenizar aqueles que enfrentaram grandes dificuldades, naqueles tempos  em manter o cristianismo ativo, mesmo com todas as perseguições e os martírios de muitos seguidores.

A edição que está comigo, de 2019, com 347 páginas é difícil de ler pelo tamanho diminuto da fonte, e mesmo pelas páginas e sermões cansativos.

São "X livros".

Então, não é um livro fácil de ler e, pela quantidade de informações precisaria ser lido, mesmo com essas dificuldades todas, mais uma vez, pelo menos.  

Referências no texto:

(*) Flavio Josefo, nascido em 37 ou 38 d.C e falecido no ano 100. Historiador importantes dos princípios do cristianismo e das lutas dos judeus contra os romanos (Livro: "Uma testemunha do tempo dos Apóstolos")

(**) Tibério é mencionado em outros livro, "A Vida Mística de Jesus" de H. Spencer Lewis no qual é explanada sua participação direta na vida de Jesus. Acessar: 

https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2019/04/a-vida-mistica-de-jesus-de-h-spencer.html


segunda-feira, 29 de junho de 2020

O ANTICRISTO de Friedrich Nietzsche


"Ensaio de crítica do Cristianismo"

LIVRO 73



















Nietzsche na sua maturidade pelos 46 anos de idade foi perdendo a razão, num grave colapso mental. Atribui-se sua loucura ao avanço da sífilis, que adquirira na juventude. Com a doença “viveu” por cerca de 11 anos. Ele faleceu em 1900 aos 55 anos de idade (seu nascimento: 1844 na Alemanha).

No capítulo “Mater Dolorosa” do velho livro (1948) “A Marcha do Tempo” de Stefan Zweig é relatado o drama de sua mãe, cuidando do doente famoso no dia-a-dia:

“Vê-se agora uma velhinha a conduzir, de vez em quando, o seu doente, como a um urso grande e pesadão, pelas ruas e a longos passeios. A fim de o distrair, recita-lhe intermináveis poesias, que ele escuta em torpor. Guia-o jeitosamente; fá-lo desviar-se das pessoas que o fitam curiosas e dos cavalos que detesta. Sente-se feliz toda vez que consegue reconduzi-lo à casa, sem que ele desperte a curiosidade popular com sua “voz muito alta” (como a senhora delicadamente classifica seus berros selvagens).


O "ódio aos cavalos" que teria  Nietzsche tem este comentário de Milan Kundera no  livro "A Insustentável Leveza do Ser":

Nietzsche já afetado pela loucura: sai o filósofo alemão de um hotel em Turim, ano de 1889, no momento em que um cocheiro espanca seu cavalo com um chicote: “Nietzsche se aproxima do cavalo, abraça-lhe o pescoço, e sob o olhar do cocheiro, explode em soluços.” (...) Nietzsche veio pedir ao cavalo perdão por Descartes – que considera o animal um autômato, uma máquina animada...” Quando um animal geme, não é uma queixa, é apenas o ranger de um mecanismo que funciona mal.” (*)

(*) Livro de Milan Kundera - acessar

Friedrich Nietzsche é um autor que me incomoda. Demorei mas li "Assim falava Zaratustra” (escrito em 1883/5) mas constatei nessa obra  ambiguidades, contradições em páginas desconexas. Ora, é preciso "interpretar". Mas, interpretar o quê? (*)

Mas, há os que se debruçam sobre as obras de Nietzsche, e se tornaram estudiosos de seu pensamento. Se entendem o que quis transmitir o autor é algo sempre a ponderar.

A filósofa Scarlett Marton, é estudiosa das obras de Nietzsche. Sobre "Zaratustra" diz se tratar de um texto "hermético", pelo que difícil.


O ANTICRISTO


No livro "Assim falava Zaratustra", Nietzsche afirma o Super-homem, mas em "O Anticristo" ele o chama de "homem-superior" cuja essência de viver com liberdade, não comporta a presença de Deus.

Ele  começa assim: "olhamo-nos no rosto, somos hiperbóreos..." - essa é uma região referida pela mitologia grega que se situaria ao norte da Europa e da Ásia na qual o povo vivia despreocupado,  feliz, usufruindo de vida longa muito superior aos demais homens. Essa região hiperbórea só poderia ser alcançada com a ajuda dos deuses.  

Mas, não nas terras de Nietzsche...

Ele, o homem-superior deve ter, então, a liberdade de usufruir da vida sem a presença, por exemplo, dos sacerdotes cristãos que conduzem os "fieis" nas mentiras contidas na Bíblia que enaltece o judaísmo e, no "novo testamento", o evangelho cristão ("as boas novas") mentiras, não poupando nem mesmo a todos os ensinamentos de Jesus Cristo.

O cristianismo tolhe a liberdade de pensar, tolhe os instintos naturais da vida, impedindo a felicidade dos fiéis porque os mantém na mentira.

E, nesse rumo, para o homem-superior, a  compaixão não pode ser aceita, porque ela significa um sofrimento contagioso e leva a uma perda da energia vital. Então, um sentimento inútil ao "homem-superior". 

Pergunta ele: "o que é mais nocivo que um vício qualquer? A compaixão em um ato para todos os fracassados e os fracos - o cristianismo".

Ataca também os teólogos porque aquilo que consideram verdadeiro seria uma falsidade difundida insistentemente.

Diz mais que a crença ou em Deus ou no diabo, são produtos da decadência, esse Deus que hostiliza a vida.

E ao continuar a "condenar" o cristianismo, se refere ao budismo que seria "cem vezes mais realista que o cristianismo", mas também uma religião decadente, embora mais amena nos seus princípios (talvez  seja o budismo decadente pela compaixão um princípio que transmite a partir dos ensinamentos do Buda). 

No meu modo de interpretar Nietzsche não interpretou  e parece ter mencionado  o budismo apenas para estabelecer  um novo ângulo crítico em relação ao cristianismo. E ele também não explica sua afirmação de que o budismo não promete nada, mas cumpre; "o cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada". (?)

Faz duras crítica a Jesus por não ter resistido às acusações falsas de que era vítima, não ter se defendido diante dos juízes, diante dos acusadores.

Mais a frente, seleciona versículos dos Evangelhos e faz sua crítica àquilo que considera contradições da palavra de Jesus.

Menciono este, no qual a crítica  é mais contundente:

"E tantos quantos vos não receberem, nem vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo que haverá mais tolerância no dia de juízo para Sodoma e Gomorra, do que para os daquela cidade.(Marcos 6.11). Como é evangélico!..."

Nietzsche selecionou outros  versículos para criticar os Evangelhos, a Jesus Cristo que qualifica de "impostor", mas claro que, de modo ao seu próprio convencimento, não ousou se referir ao "Sermão da Montanha", aos milagres de Jesus àqueles necessitados, seus embates com os filisteus...

E, então, volta a negar "Deus como Deus", e mais: "Se alguém nos provasse esse Deus dos cristãos, ficaríamos ainda menos inclinado a crer nele."

E Deus inventa as guerras, separa os povos e permite que se exterminem reciprocamente. Os sacerdotes, precisam da guerra.

Interessante que Nietzsche critica a doutrina do perdão, da graça, da  salvação, por significarem a negação da causalidade,  "um ataque contra o conceito de causa e efeito" (?)

Estaria remotamente se referindo ao carma ("conceito de causa e efeito") aceito pelo budismo?

Do convertido Paulo, o autor o converte a um farsante e aproveitador dos ensinamentos cristãos. 

E no prosseguimento das acusações e críticas, seguem páginas a frente, concluindo que a igreja cristã "não poupou nada em sua corrupção".

Por fim, quanto as cristãos, "a natureza os dotou mal - esqueceu de lhes atribuir um modesto quinhão de instintos respeitáveis, convenientes, limpos... Dito entre nós eles não são sequer homens... Se o islamismo despreza o cristianismo, tem mil razões para isso: o islamismo tem como condição, verdadeiros homens..."

MORAL DA HISTÓRIA

As críticas principalmente ao catolicismo são contundentes no livro. O que pensaria hoje com o escândalo da pedofilia? Desses "evangélicos" que negociam o Evangelho? Nietzsche nesse conceito de homem-superior é muito limitado pelo que a vida oferece e há o momento da própria decadência física. Não haveria como imaginar viverem ele e seus adeptos na região mítica dos hiperbóreos. Pelas limitações da vida pareceu muito de utopia, um delírio,  mesmo que rejeitando Deus. Ele viveu apenas 55 anos na "terra" do seu Zaratustra e os seus últimos anos (11) foram vegetando por causa da doença mental progressiva. 

O livro "O Anticristo" é oferecido ainda hoje pelas livrarias.

Referências:

quarta-feira, 17 de junho de 2020

SENHORA de José de Alencar

Livro 72





















É o segundo livro que leio do Autor. O primeiro foi Til. (*)
"Senhora" foi publicado em 1875.

Resolvi "encará-lo" para sair daquilo que já chamei nestes comentários e resenhas, de livros "cabeça".


"Senhora" é um romance de "amor" cheio de voltas e o casamento dos apaixonados Seixas e Aurélia demora o livro todo para se consumar.


Fernando Seixas não era rico, mas frequentava a alta sociedade do Rio de Janeiro. Era honesto mas não se descuidava em levar alguma vantagem em operações pouco ortodoxas.

Ajudava a família, querido pela mãe e irmãs mas havia um distância entre a vida delas, muito humildes e ele assíduo frequentador dos salões de baile costume que exigia estampa, boas roupas e relacionamentos.

Uma frase bem atual ainda nesses tempos, referente a 12 contos de réis que sobrara à viúva encerrado o inventário de seu falecido marido:

"Partilhados os bens, D. Camila, a mãe de Seixas, por conselho de amigos, pôs o dinheiro a render na Caixa Econômica, donde ia tirando os juros semestrais com que acudia os gastos da casa, ajudada dos aluguéis de dois escravos e também de algumas costuras dela e das duas filhas."

Nesse romance pouco de comenta da escravidão: esse trecho acima foi um das poucos, esse dos dois escravos "alugados".

A escravidão notória naqueles tempos fora "escondida" pelo autor, realçando apenas a felicidade da classe alta nas suas festas e bailes.

Mas, e a Aurélia, quem era?

Uma menina lindíssima, filha de dona Emília, mulher pobre e doente, que fora casada com Pedro, um estudante que se apaixonara por ela.

Pedro, embora tivesse uma vida simples no Rio de Janeiro, era filho "natural" de fazendeiro rico.

Tiveram dois filhos, Emílio e Aurélia.

Pedro foi chamado pelo fazendeiro Lourenço, ao saber que seu filho se relacionava com uma "rapariga" no Rio de Janeiro, obrigando-o a que voltasse à fazenda do pai.

Ele deixa Emília e o filho mas promete voltar e todo o tempo remeteu meios para a manutenção da família.

Quando voltou por um tempo, nasceu Aurélia.

Ao retornar à fazenda por imposição do pai acabou falecendo por uma "febre cerebral".

Emília e seus filhos passaram muita privações.

Já crescidos, Emílio revelou-se um jovem frágil e de pouca inteligência e morreu logo. Aurélia, ajudava a mãe. Esta se preocupava muito com o futura da filha, tanto que queria vê-la casada.

E a incentiva a se por na janela e ser admirada pelos jovens em idade de casamento situação que Aurélia que a constrangia.

E aí aparece o Fernando Seixas que a pede em casamento mas não consuma o matrimônio porque se encantou com um dote de 30 contos que o pai de Adelaide lhe oferecera se se casasse com sua filha.

Aurélia sofreu muito com o rompimento de Seixas.

Nem com Adelaide Seixas se casou não muito explicado no livro.

Mas, então o sogro descobriu em documentos do filho que o casamento Emília-Pedro era de papel passado.

Vai, então conhecer a família de Pedro e se encanta com ela.

Passado um tempo, morre sua mãe e Aurélia fica órfã e vai morar com uma tia.

Morre o avô que lhe deixa uma fortuna em testamento. E Aurélia assume grande riqueza e passa a frequentar a sociedade do Rio de Janeiro. 

Lindíssima, era cortejada por muitos "partidos", mas ela ironizava, não esquecia Seixas.

Obriga seu tio e tutor Lemos, a oferecer um dote a Seixas para que com ela se casasse, sem que noivo "comprado" soubesse quem seria a noiva.

Não muito explicado, porque Lemos já se encontrara com Seixas nos tempos do noivado quando Aurélia era pobre. Então não poderia haver nada muito secreto.

O acordo do dote é fechado em cem contos.

Dá-se o casamento mas ele só se consuma porque Aurélia passa a humilhar o marido "comprado".

Dá-se troca de farpas que se estende por páginas e páginas. Aurélia até oferece a liberdade a Seixas pelo divórcio mas ele se mantem firme porque havia um contrato a cumprir. Ele não assume a riqueza da mulher, continuando seu trabalho numa "repartição".

Cenas de ciúmes ocasional de parte a parte.

Mais para o final do romance Seixas obtém o valor de quinze contos de operação financeira que havia esquecido e com reserva de seu trabalho completa 20 contos - porque havia pedido adiantamento dessa quantia quando do acordo do dote para resolver pendência de sua própria família - não tendo apresentado o cheque de 80 contos (e Aurélia não se deu conta disso?), devolve os cem contos do dote e pede para recuperar sua liberdade livrando-se do casamento não consumado e da humilhação. E porque a riqueza de Aurélia seria um impedimento permanente para se obter uma relação conjugal aceitável, feliz.

Mas, então, Aurélia, que ansiava por sinais de que Seixas a amava, nesse momento de entendimento, ela revela de joelhos que o testamento que assinara designava o marido como seu herdeiro universal.

E ai entre beijos e declaração de amor, depois de 11 meses, "as cortinas cerraram-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o hino misterioso do santo amor conjugal".

Até que enfim, após 11 meses nas suas 277 páginas.




Acessar: Til

segunda-feira, 25 de maio de 2020

RUMO À ESTAÇÃO FINLÂNDIA de Edmund Wilson

Livro 71







Para mim um livro importante. Eu já o lera há décadas e resolvi pela releitura, considerando a polêmica e o "medo" do comunismo que grassa em países do 3º mundo porque nas suas bases, permanecem os mesmos problemas do século XIX quando eclodiu o marxismo pela publicação em 1867 de "O Capital" de Karl Marx. Esses problemas são: a pobreza absoluta, trabalhos degradantes e mal remunerados, falta de saneamento, falta de assistência digna a esses marginalizados pela sociedade que a eles é indiferente.

Marx e seu parceiro Friedrich Engels amadureceram o marxismo tendo por princípio essas aberrações sociais, No seu tempo, além de um salário de escravidão, os operários passavam fome com sua famílias e crianças na tenra idade trabalhavam em fábricas até à exaustão.

Bom que se diga que no livro e de um modo geral, as palavras "comunismo" e "socialismo" são empregadas como sinônimas, mas no seu conceito há diferenças: o socialismo pode existir ao lado de atividades capitalistas e num processo que pode ser mais lento, os trabalhadores vão se assenhorando dos meios de produção e do poder que pode se dar num processo democrático.

O comunismo por sua vez insere no seu bojo, a revolução do proletariado pela tomada do poder extinguindo por esse meio, as fórmulas capitalistas de produção, a extinção da propriedade e a implantação da "ditadura do proletariado" na qual se sobressaem a igualdade e a a plenitude das relações de trabalho. Trabalhadores irmanados no "bem comum".

E de onde pode se encontrar de modo expressivo a origem da palavra "comuna".

Um exemplo significativo pode ser a "Comuna de Paris", de 1871. Essa Comuna fora constituída por trabalhadores que se opuseram ao armistício entre a Franca e a Prússia, cujos soldados cercavam Paris. A Comuna, apoiada pela Guarda Nacional se destacara por um governo operário, de igualdade entre eles, até que massacrada pelas forças ditas oficiais - da burguesia expulsa da cidade pela comunidade que assumira o poder, vitimando mortalmente milhares de seus defensores e presos outros tantos. Não chamados de comunistas, mas de comunardos. Mas, "comuna" de comum, comunidade. A Comuna de Paris teria sido elogiada por Mark-Engel como uma experiência de sociedade comunista ainda que durasse pouco.

O subtítulo do livro "Rumo à Estação Finlândia" é este: "Escritores e Atores da História".

Então, o autor antes de chegar a Marx-Engels, fez uma explanação sobre os escritores Michelet, Renan, Taine e Anatole France e suas ligações contra e pró-socialismo.

Michelet: um autor brilhante, contemporâneo de Marx, rejeitara o socialismo, porque "a propriedade na França já foi demasiadamente subdividida, e o sentimento de propriedade do francês é muito forte."

Renan: não encontrei laços fortes nas obras analisadas por Wilson no tocante ao socialismo, sim ou não, observando-se que "o objetivo de Renan é nos levar a percorrer os textos religiosos e filosóficos da antiguidade - muito embora, graças ao encantamento da imaginação que ele induz à medida que lemos, a atmosfera da época em que tais textos foram escritos seja recriada. Há a menção ao livro de Renan, "As origens de cristianismo".

Taine: na sua mente, as multidões da grande Revolução e o governo revolucionário de Paris identificaram-se com a revolução socialista da Comuna cujos membros, é bom que se ressalte, foram massacrados. Todavia, "Taine defende a lei e a ordem da burguesia assim que sente ameaçadas pela espécie errada de homem superior". Homem superior é aquele que mais integralmente representa o povo.


Anatole France: ele politicamente era socialista, mas em suas últimas obras "têm como único objetivo mostrar que as revoluções terminam gerando tiranias pelo menos tão opressoras quando aquelas que visaram derrotar".

No tocante aos nomes que o autor já qualifica como socialistas, dois se destacam, Graco Babeuf e Saint-Simon.

Babeuf, no leito de morte, seu pai o fez jurar sobre sua espada que defenderia até a morte os interesses do povo.

No cumprimento desse juramento manteve intensa atividade política, denunciou lá pelo fim do século XVIII que o povo perdera a liberdade de reunião e de imprensa. Descobriu no exercício de cargo no Depto. de Subsistência da Comuna uma falha contábil, concluindo que as autoridades estavam deliberadamente  criando uma situação de fome para explorar a demanda por alimentos. Pelas suas atividades acabou sendo preso deixando sua família sem quaisquer recursos numa época de fome terrível na França a ponto de morrer de inanição sua filha de sete anos e muito magras suas outras crianças. "A maior parte da população de Paris" andava pelas ruas cambaleando pela fome.

Foi guilhotinado.

Saint-Simon que tentara o suicídio, nos seus escritos, invocara Deus aos "príncipes, que ouçam a Sua voz e se tornem bons cristãos (...) e que o cristianismo obriga aos poderosos a tarefa de melhorar o mais depressa possível a situação dos miseráveis!"
"Toda a minha vida pode ser resumida numa única ideia: garantir a todos os homens o livre desenvolvimento de suas faculdades."

Morreu com a mão à cabeça que fora baleada na sua tentativa de suicídio.


O livro de Edmund Wilson explana, também, na linha das origens do socialismo, as comunidades de Fourier e Owen.

Ambos pensaram numa nova fórmula de convivência, após assistirem o sofrimento impostos aos trabalhadores. Fourier vira a população de Lion "ser reduzida à mais abjeta degradação com o desenvolvimento da indústria têxtil e viu, num quadro de população esfomeada, carregamento de arroz ser inutilizado pelos patrões para que o preço aumentasse. 

Owen, por sua vez notou que as novas máquinas de tecer tinham toda a atenção, enquanto desprezada a "máquina humana".

De se notar que o pensamento socialista sempre esteve ligado ao sofrimento da massa trabalhadora.

Fourier imaginou uma sociedade não de igualdade absoluta, mas premiando aqueles trabalhadores mais talentosos com algumas vantagens a mais. Os trabalhos desagradáveis teriam melhor compensação como também os trabalhos necessários. Mas, essa comunidade de capital privado - os investidores receberiam porcentagem sobre a renda auferida - não foi avante. Não houve interesse capitalista nos seu projeto.

Owen pensava na igualdade absoluta e enquanto administrador de um cotonifício na Escócia, converteu trabalhadores miseráveis, em profissionais bem remunerados, que trabalhavam menos horas, pelo que era adorado.

Owen em declarações públicas passou a atacar a religião, a propriedade e a família. "Uma força idealista subversiva". Então viajou aos Estados Unidos em 1824 na esperança de instituir por lá sua comunidade. Foi enganado por interessados e sócio desonestos e a despeito de seu idealismo as coisas não andaram bem. Comunidades owenistas surgiram. Mas, voltou em 1838 e morreu pobre em País de Gales.

O livro relata outros comunidades semelhantes nos Estados Unidos destacando-se a Comunidade de Oneida, havida no estado de Nova York que durou 30 anos (1847-1879), fundada por  Humphrey Noyes gerida por princípios coletivistas-socialistas. Do ponto de vista da procriação na comunidade, um grupo de administradores escolhia os casais que não poderiam se unir, para conseguir sempre crianças melhores. A comunidade foi se extinguindo à medida que Noyes foi envelhecendo, enfrentando críticas quanto aos métodos adotados e porque não havia um líder que o substituísse.

Socialismo utópico, mas expressivo nos seus ideais.

KARL MARX e FRIEDRICH ENGELS

Karl Marx era judeu, alemão, nascido em 1818 de uma família tradicionalista e religiosa. Ele escapou dessa influência, enveredou para a literatura desde jovem e estudou direito. 

Escreve artigos para jornais, busca a pesquisa ao mesmo tempo em que desvenda os filósofos alemães. E diria: "Até agora, os filósofos só fizeram interpretar o mundo de maneiras diferentes; cabe transformá-lo".

Karl Marx aos 25 anos se casou com a linda Jenny von Westphalen, quatro anos mais velha que ele de quem era apaixonado. Jenny ao lado dele e dos filhos, passaram as maiores privações, humilhações porque o marido não tinha aptidão para um trabalho regular, ganhava valores esporádicos com os artigos que escrevia.

Foi sustentado Engels amigo e parceiro inseparável quase sua vida toda.

Passou a estudar filosofia, principalmente o pensamento de Hegel além de se aprofundar nas teses socialistas desenvolveu conceitos que se projetariam no futuro. E nesse objetivo, com seus estudos e artigos e então sob a influência do amigo Engels 
conhecendo a miséria das classes trabalhadoras pensou uma revolução que desse a eles sua importância real, derrubando os capitalistas e a burguesia que dominavam os meios de produção e os oprimia com total indiferença.

O seu amigo e parceiro inseparável fora,

Friedrich Engels
, alemão, nascido em 1820, filho de industrial da indústria têxtil era entusiasmado pela literatura e a música, mas se deparara com a miséria absoluta dos trabalhadores explorados nas fábricas e que, na sua infelicidade, enveredavam para o alcoolismo. Não tinham, afinal, o direito à felicidade como proclamara Saint-Simon, com o desenvolvimento de suas faculdades?

Engels começara um romance com Mary Burns, uma operária da fábrica Ermen & Engels que fora promovida a manejar uma nova máquina automática de fiar. Ela recusou a oferta de Engels em sustentá-la para não mais trabalhar mas aceitou que ele a instalasse com a irmã numa casinha suburbana modesta.

Marx se aproximou de Engels após receber dele um artigo para publicação num jornal alemão no qual era este colaborador. Marx gostou do artigo.

A partir dai as ideias e os ideais de ambos se uniram num trabalho intenso pensando numa revolução que mudasse a vida dos trabalhadores.

Mas, Marx não era dado a trabalho fixo. Claro que ocasionalmente recebia compensações pelo que escrevia. Esse ócio profissional que não fosse a atividade intelectual, levou sua família e seus filhos em épocas frequentes à miséria absoluta, a ponto de serem penhoradas até roupas de Jenny e filhas.

Então, sem se preocupar muito como Engels poderia obter renda e ajudá-lo Marx o cobrava de modo constante que lhe enviasse recursos para sobrevivência dele próprio e de sua família.

Em artigos a serem escritos em inglês, idioma que Marx não dominava bem, quem os escreveu foi Engels, mas a remuneração foi recebida por seu amigo.

Nessa parceria sobretudo intelectual escreveram o "Manifesto comunista" divulgado em 1848 um documento que deu uma direção ao pensamento de Marx-Engels, com os seguintes princípios básicos da proposta, a "derrubada à força de toda a ordem social vigente":

1. Expropriação da propriedade fundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado;
2. Imposto de renda fortemente progressivo;
3. Abolição do direito de herança;
4. Confisco da propriedade de todos os emigrados e sediciosos;
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um banco nacional com capital do Estado e monopólio exclusivo;
6. Centralização dos meios de transporte nas mãos do Estado;
7. Multiplicação das fábricas e meios de produção nas mãos do Estado, aproveitamento das terras incultas e melhoramento de terras cultivadas, segundo um plano geral;
8. Trabalho obrigatório para todos; organização de exércitos industriais, particularmente na agricultura;
9. Combinação de trabalho agrícola e industrial, de modo a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre cidade e campo;
10. Educação pública gratuita para todas as crianças, abolição de trabalho de menores e na indústria tal como é praticado atualmente. Combinação da educação com a produção material.

["Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar."] 

E então o mote: "proletários de todos os países, uni-vos".

Ate chegar ao "O Capital" de Marx, os parceiros do comunismo abriram debates em relação ao pensamento do filósofo Georg W. F. Hegel (alemão, nascido em 1818 e falecido em 1883) especialmente a dialética que significa o estabelecimento de fases de mudança do mundo. Em três fases: a tese - um processo de unificação; a antítese - um processo de negação da tese e a síntese - a conciliação da tese com a antítese.


Para a dupla Mark-Engels, então, a tese era a sociedade burguesa que mantinha uma mentalidade feudal desagregadora, a antítese, o proletariado que nascera com o desenvolvimento industrial aviltado por esse sistema e a síntese a sociedade comunista que resultaria do conflito entre a classe proprietária e patronais e os operários mas o controle passaria a ser da classe operária, harmonizando os interesses de toda a humanidade. 

Um outro conceito não bem resolvido por Marx-Engel se refere à "mais-valia", segundo a qual o operário vende sua capacidade de trabalho como qualquer outra mercadoria: e esse valor é mínimo o tanto para mantê-lo vivo, numa jornada de 6 horas, mas obrigado a trabalhar oito ou dez horas. Então o empresário "rouba" do trabalhador de 2 a 4 horas sendo essa margem o seu lucro, ou o que denominava "mais valia", tornando-o rico e arrogante.

Mas, qual a polêmica não resolvida? É que no preço de um produto pode conter outros elementos e não somente a "mais-valia". Essa equação não chegou a ser resolvida nem por Marx nem por Engels.

Sustentado por Engels, pode Marx concluir sua obra "O Capital" que influenciaria decisivamente os meios sociais e políticos no final do século XIX e XX com discussões chegando mesmo ao século XXI.

O que disse Mark ao concluir a obra que se constituíra numa "tarefa pela qual sacrifiquei minha saúde, minha felicidade e na vida e minha família" 

"O Capital" foi publicado na Alemanha em 1867 e depois se espalhou pela Europa. Na Rússia em 1872.

NOTA: na grande "aventura" socialista na qual se destacaram Marx e Engels, há outros atores importantes mencionados pelo autor Wilson contemporâneos dos parceiros comunistas a saber: Ferdinand Lassalle, precursor da social-democracia", autor de uma obra, "A Essência da Constituição", de 1862, ainda hoje estudada e Mikail Bakunin um grande defensor do anarquismo, isto é, um sociedade sem governo porque todo governo oprime a sociedade. 


E foi na Rússia que não demoraria muito teria o marxismo e efeitos políticos graves.

LENIN e TROTSKI

Lenin

Vladimir Ilyich Ulianov nascera em 1870, na Rússia. Tivera como pai um educador dedicado e sua mãe influenciava bastante os filhos. 

Naqueles tempos do império russo, no qual o czar detinha poderes absolutos não foram poucas as conspirações com o objetivo de assassiná-lo. Numa dessas conspirações descobertas a tempo de interrompê-la foi preso seu irmão Alexander que preparava explosivos para tornar eficaz o golpe. Fora ele enforcado.

Claro que a comoção na família foi grande inclusive para a mãe, Maria Aleksandrovna que por um mês estivera São Petersburgo visitando o filho.

Com a morte do irmão, coube a Vladimir dar apoio maior à família. Estudou direito em Kazan, teve dificuldades em obter a certificação pela 'fama' deixada por seu irmão, até que conseguisse o documento.

Sua mãe o afastou desse borborinho conspiratório, com medo de que Vladimir tivesse o mesmo fim de Alexander, Mas, ele não se adaptou na vida rural.

E Vladimir conheceu a obra de Mark, "O Capital".

Enquanto isso, e não pode ser deixado de lado um evento interessante patrocinado pelo famoso escritor Leo Tolstoi nessa época de ideias novas que eclodiam: o autor da obra "Guerra e Paz" tentara em 1880 se desapossar de suas propriedades e estabelecer uma forma de vida cristã, pela ausência de posses, não resistência, abstinência sexual e trabalho braçal.


Vladimir Ulianov avança nos estudos do marxismo, envolve-se com conspiradores, e "liberto", muda seu nome para Vladimir Lenin.

Torna-se líder influente e respeitado, lidera greves, participa de convenções e movimentos conspiratórios contra a czar, um imperador que se valia da truculência para coibir atos contra seu poder absoluto. 

Lenin é preso por essa atuação política, na celas da Sibéria. Casado com Nadejda Krupskaya, mudam-se para Genebra.

Trotski

Lev Davidovitch Bronstein, russo, judeu, nascera em 1879, filho de um agricultor que, pelos seus próprios esforços enriquecera.

Emocionara-se com as dificuldades enfrentadas pelos camponeses na sua luta pela sobrevivência. Chorara quando viu o desespero de um camponês implorando pela devolução de uma vaca que invadira a propriedade de seu pai que relutava em devolvê-la.

Rejeita o marxismo porque significaria tirar a liberdade individual das pessoas. Seguindo a ideologia do populismo, pela sua eloquência é posto em confronto com Aleksandra Lvonvna, quatro anos mais velha que ele, marxista.

Argumento de Lev: "Não consigo entender como uma moça tão cheia de vida pode aguentar aquela coisa árida e teórica". Argumento dela: " Eu não consigo entender como uma pessoa que se considera tão lógica se contenta em andar por aí com a cabeça cheia de vagas emoções idealistas". Porque o conceito de populismo é vago.

Mas, Lev, mais tarde por tentar organizar trabalhadores, distribuindo panfletos proibidos, foi preso, permanecendo três meses numa solitária imunda e fria e depois de dois anos libertado teve que cumprir ainda pena de exílio por mais quatro anos.

Mas, no período de ida à Sibéria ouviu falar de Lenin  e leu sua obra "O desenvolvimento do capitalismo na Rússia". Já na Sibéria leu "O Capital" e se tornou marxista convicto.

Quando deixou a prisão, agora com sua companheira Alexsandra e aconselhado por ela, resolveu fugir e em 1902 no passaporte falso que amigos lhe apresentaram, ao o preencher usou o primeiro nome que lhe ocorreu: Trotski - o nome do carcereiro da prisão de Odessa.

E, então, mais a frente, aliou-se a Lenin de quem recebeu elogios. Estavam em Londres, Lenin o leva a passeio pela cidade. Ao se deparar com à abadia de Westminster diz: "Essa é a famosa abadia de Westmeister deles" (*)


Lenin e outros exilados em 1917 após a notícia da queda do czar resolveram em abril voltar à Rússia. Da Suiça chegaram de trem à Suécia e de lá chegaram à Estação Finlândia de Petersburgo na Rússia em abril de 1917.

Antes, em março após revoltas e greves, recrutas se unindo aos grevistas deu-se a deposição do czar Nicolau II. Em outubro com Lenin já no poder foi destituído o Governo Provisório constituído após a deposição do czar.

Não é atribuído a Lenin o fuzilamento de toda a família Romanov (do czar Nicolau II) que se deu em julho de 1918.

Lenin, em outubro de 1917 depois de voltar da Finlândia onde se refugiou para escapar de acusações de adversários de que seria um "agente alemão",  implantou o regime comunista, com distribuição de terras aos camponeses, nacionalizou bancos e empresas. Governou a Rússia e depois a União Soviética (constituída em 1922) de 1917 a 1924 quando faleceu.

[O "castigo" é que seu cadáver, embalsamado, até hoje não foi sepultado, permanecendo exposto num mausoléu em Moscou.]

Na disputa pelo poder entre Trotski e Stalin, venceu a proposição deste que defendia, entre outros princípios, que o socialismo deveria se fixar na União Soviética enquanto Trotski defendia que o socialismo deveria se expandir pelo mundo. Há outros elementos que resolveram essa discussão entre ambos.

Com o poder nas mãos de Stalin, foi estabelecido o partido único, não sendo aceita a oposição. Um regime de terror e assassínio que  fez milhões de vítimas em nome do regime. Seu governo perdurou até 1953.

Repetindo Anatole France: embora socialista, revelou em suas obras que "tinha como único objetivo mostrar que as revoluções terminam gerando tiranias pelo menos tão opressoras quando aquelas que visaram derrotar". 

Trotski foi expulso da União Soviética em 1929. Depois de exilar-se em outros países, fixou-se no México, sendo assassinado em  1940. (**)


APÊNDICE

Leão XIII e a Encíclica "Rerum Novarum" (alguns aspectos em relação ao tema)

Com a explosão dessas ideias na Europa, reafirmadas em inúmeros congressos operários, como uma resposta ao comunismo proposto por Mark e Engels, em 15 de maio de 1891, o papa Leão XIII, difundiu a Carta Encíclica “Rerum Novarum”(Condição dos Operários).

Nesse documento, o papa refutava com veemência as teses comunistas, além de explanar com clareza todas as questões que então preocupavam: a propriedade privada, a questão social, as condições subumanas de trabalho, a longa jornada diária, a greve, os salários, o conflito entre o capital e o trabalho, etc. 

Como se constata nestes trechos:

"A teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles mesmos a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública. Fique, pois, bem assente que o primeiro fundamento a estabelecer para todos aqueles que querem sinceramente o bem do povo é a inviolabilidade da propriedade particular”.

O papa Leão XIII preconizava por uma jornada de trabalho compatível com a dignidade do homem, pois “não é justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo”. 

Recomendava ainda jornada mais curta para os que trabalhavam na extração de pedra, ferro, chumbo e “outros materiais escondidos debaixo da terra”.

O salário deveria ser suficiente “para acorrer com o desafogo às suas necessidades e às necessidades da sua família” e, “se for avisado, seguirá o conselho que parece dar-lhe a própria natureza: aplicar-se-á a ser parcimonioso e obrará de forma que com prudentes economias, vá juntando um pequeno pecúlio, que lhe permita chegar um dia a adquirir modesto patrimônio”. Pois, “a terra produzirá tudo em maior abundância pois o homem é assim feito: o pensamento de que trabalha em terreno que é seu redobra o seu ardor e sua aplicação”.

Incentivo ao entendimento entre operários e patrões: 

“Façam, pois, o patrão e o operário todas as convenções que lhes aprouver, cheguem inclusivamente a acordar na cifra do salário: acima da sua livre vontade está uma lei de justiça natural, mais elevada e mais antiga, a saber, que o salário não deve ser insuficiente para assegurar a subsistência do operário sóbrio e honrado”.

As associações operárias deveriam ser livre e prudentemente organizadas ponderando: “se, pois, como é certo, os cidadãos são livres para se associarem, devem sê-lo igualmente para se dotarem com os estatutos e regulamentos que lhes pareçam mais apropriados ao fim que visam”. E mais adiante: “É necessário ainda prover de modo especial a que em nenhum tempo falte trabalho ao operário; e que haja um fundo de reserva destinado a fazer face, não somente aos acidentes súbitos e fortuitos inseparáveis do trabalho industrial mas ainda à doença, à velhice e aos reveses da fortuna”.

Quanto à greve, o papa Leão XIII a entendia danosa aos interesses comuns, propondo ao Estado, como remédio mais eficaz e salutar “para prevenir o mal”,(...) “a autoridade das leis (...), removendo a tempo as causas de que se prevê que hão de nascer os conflitos entre os operários e patrões”. 

Propunha o papa para aqueles “embebidos de máximas falsas e desejosos de novidades”, que “procuram a todo custo excitar e impelir os outros à violência”, devem ser refreados pelo Estado que, “reprimindo os agitadores, preserve os bons operários do perigo da sedução e os legítimos patrões de serem despojados do que é seu.”


MORAL DA HISTÓRIA

1. O surgimento do socialismo nasceu da tragédia operária nos séculos XVIII ao XX. Trabalhadores explorados, vivendo miseravelmente, sem assistência, sem condições mínimas de higiene. 

Todos os apontamentos nos rumos do socialismo culminando com o comunismo de Marx-Engels tem esse fio condutor, qual seja a de dar à época, o poder e a dignidade ao operário, com ideais de igualdade;

2. O comunismo / socialismo é até hoje invocado e preocupa porque há legiões de esfomeados, vivendo em condições precárias, inimagináveis, sem saneamento mínimo, sem vida digna. Os "sem vida" não têm nada a perder dai a aceitação do discurso próprio dessas ideologias à esquerda ou radicais;

3. Para mim, todavia, o comunismo como praticado, foi um fracasso. Com efeito, na União Soviética um ditador assassino, para manter-se no poder executou milhões de opositores ou apenas suspeitos. A Rússia hoje é um misto de república mas ainda com a cultura da manutenção no poder de presidente "eleito" mas que, pelos meios legais oficiais, vai se mantendo no comando, talvez, até o fim da vida, como se deu com Stalin. Putin está no poder desde 1999.

4. A China nos primeiros anos da década de 80, anunciou que se abriria para o mundo...capitalista. Hoje é uma potência econômica, faz sombra aos Estados Unidos, tornou-se uma referência tecnológica, mas parece que aqueles nichos de população perdidos no seu imenso território tem uma vida meio bárbara, pelo fome que passaram nos tempos de Mao Tse-Tung pelos alimentos que consomem. No que se transformará a China seguindo nessa marcha semi-capitalista? Não otimista, pode ser uma ameaça imperialista no futuro não tão distante. E, então, como se comportará?

5. A Coreia do Norte tem um povo infeliz que é obrigado a rir ou a chorar segundo o ânimo do seu ditador. Uma ditadura fechada que assim se mantém até pelo apoio e proteção chinesa.

Cuba perdeu aquele influxo comunista. Os cubanos fugitivos em Miami não pensam em voltar à pátria. Os poder cubano continua culpando o embargo americano para de certa maneira justificar sua decadência material;

6. Urge, principalmente no Brasil, resolver as tantas dificuldades de milhares de cidadãos que sobrevivem sem um minimo de recursos que lhe deem dignidade, negando a felicidade de viver. Ao propor tais medidas, não significa que se envereda pelos princípios do comunismo, mas de Humanidade.

7. Filosofando, espiritualmente ou não, não vejo muito possibilidade para a vida igualitária neste planeta, porque é o planeta das desigualdades e das penitências que tende a entra em crises profundas com o aumento maior da população e com a devastação ambiental. Não é aqui que atingiremos a Civilização mas temos ainda que por caridade menor o sofrimento de quem sofre.

Referências (*)

(*) No Brasil governado pelo Partido dos Trabalhadores, os políticos desse partido, ao se referirem aos adversários, diziam "eles", algo assim "nós" e "eles" separados no mesmo território. O modo de separar as ideologias, como se vê, vem de longe.

(**) Um filme de 1972, "O assassinato de Trotsky" dirigido por Joseph Losey, com Richard Burton ("Trotski"), Alain Delon (Ramon Mercader, espanhol, assassino de Trostski) e Romy Scheneider (amante do assassino), na sua introdução, informa que o enredo tenta mostrar a verdade dos fatos ocorridos no tempo em que o líder comunista estava exilado no México com sua companheira Aleksandra Lvonvna. O assassinato se deu em 21 de agosto de 1940.

O assassino foi apresentado claramente com distúrbios de personalidade, com timbres de homossexualidade e histérico. Quando é interrogado "quem era ele" apenas disse: "eu matei Trotski". A arma utilizada foi uma picareta de alpinista, um golpe na cabeça. Trotski resistiu ao grave ferimento, foi hospitalizado, mas faleceu. 

Historiadores informam que a ordem de assassinato partir de Stalin. O assassino seria um espião de ditador russo, espanhol, mas o filme deixa no ar se a ordem partiu mesmo de Stalin. Bom filme. 

Acessar: https://youtu.be/OLK6C6ekS-8