LIVRO 138
[*] O Autor do livro Luiz Feracine: é um sacerdote católico, advogado, professor e escritor. O livro se refere à "filosofia comentada" dando facilidade ao leitor de qualquer "segmento da sociedade brasileira", não se tratando de "estudo de alta significação". A dúvida que tenho sobre a obra é se autor compilou e/ou traduziu textos de Erasmo de Rotterdam. O livro, sobre o autor Feracine, não traz uma linha, sequer.
ERASMO
DE ROTTERDAM: nasceu em 1469 na Holanda, batizado com o nome de Geer
Geertz mas adotou o nome latino Desiderius Erasmus, mas se tornou
conhecido como Erasmo de Rotterdam, este último, adotando o nome da
cidade de nascimento.
Ele
faleceu em 1536 em Basileia - Suíça.
É
considerado um dos grandes eruditos de seu tempo, filósofo e
teólogo. Há uma obra não muito extensa sempre mencionada, "Elogios
à Loucura" que o autor Feracine resumiu na obra.
I
- EDUCACIONAL
Mas,
o que mais surpreende, e a visão de métodos educacionais, o
respeito às crianças e jovens, que sejam incentivados à
aprendizagem, que se tornem eruditos num processo de muita
compreensão à sua idade, sem violência.
Há
a apresentação do livreto sobre 1. A civilidade dos costumes dos
meninos; 2. do livros "Sobre os meninos" e 3. De
Pueris (sobre os meninos).
Nessas
três obras compiladas Erasmo revela seu amor às crianças e jovens
e, por isso, cuida de propor um modo de ensinamento sem castigos.
A
referências ao liberalismo, mas no sentido de "autodeterminação
consciente e responsável na linha a honestidade".
Há
referências ao humanismo no trato da educação princípio que
nasceu nos tempos de Erasmo que enaltecia a capacidade intelectual do
ser humano e, nesse contexto, o distinguido pela sua potencialidade
de criação, de aprendizado e livre arbítrio.
E
Erasmo confessa, ao desenvolver toda sua avançada mente de
educador, seu amor pelas crianças e jovens. E, nesse diapasão, "a
primeira atitude educacional consiste em não lesar a dignidade do
educando, respeitando sua natureza".
E
acentua que não há animal mais perigoso que o homem sem educação.
E
acentua de modo veemente que homens sem instrução em filosofia ou
em outras disciplinas, não passam de criaturas inferiores e se
assemelhando, em certos aspectos, aos animais.
Por
outra deve-se cuidar que a criança não seja "agradada"
com beijos e carícias, em alguns casos, por criadas e cuidadoras,
que não sua inépcia podem chegar a práticas nem sempre pudicas.
Porque
ser pai autêntico, deve se dar dedicação plena ao filho, àquelas
primazias que o aproxima de perto "da semelhança com a
divindade."
Pois,
ao comprar um escravo, desde logo, de modo rude, é ele designado
para desenvolver algum ofício, seja na cozinha, para a medicina,
agricultura ou administração: "Teu filho, ao contrário, como
se o único nascido para a ociosidade, tu o relegas às traças".
A
amamentação deve ser da mãe e não sendo possível, a nutriz
selecionada deve ter conduta ilibada.
Se
o menino não é dotado de robustez corporal não importa porque está
se preparando um intelectual tornando-o apto para gerir a vida
pública. Evitar que o menino traje vestes extravagantes que o
efeminem.
"O
primeiro grau da aprendizagem consiste no amor ao professor. Com o
caminhar do tempo, a criança, que foi iniciada no amor ao estudo por
causa do amor ao mestre, passa a amar o mestre por amor ao estudo."
E
no ensino deve prevalecer a persistência. O ensino deve contar com a
ilustração de fábulas e jogos no aprendizado da língua devendo o
professor falar corretamente.
Com
esse método, a criança aprende sem pancadaria, ameaças e berros
nos três anos.
Erasmo repudia os castigos corporais. Ele dá exemplos consternadores de
castigos severos de preceptores desumanos, boçais. Entre os diversos
casos que descreve, destaca-se a de um menino levado pela mãe,
imaginando que o deixava num ambiente educacional saldável, num dado
momento o preceptor, sem qualquer motivo, aplicou-lhe surra covarde,
apenas para o humilhar.
Então,
as admoestações não podem ser conduzidas pela cólera, mas com
mansidão e somente em casos extremos, algum castigo físico mas
nunca que atinja a dignidade do estudante.
Atitudes
cristãs, dos discípulos do mansíssimo Jesus.
Há,
também, os "castigos" de colegas mais velhos, os "trotes"
com requintes perversos ao extremo aos que chegam ao nível superior,
isso nos tempos de Erasmo e ele diz que é de estarrecer a
constatação que se dá a aprovação dos responsáveis pela
juventude.
Com
esse quadro tão contraditório, os educadores não podem ser
ignaros, truculentos e Erasmo não recomenda que sejam velhos
preceptores, porque "os velhos a bem dizer, são crianças
efetivas e já não simulam balbuciar porque, na realidade, estão a
balbuciar." (!)
Antes
de castigar e gritar, todo professor deve se lembrar que também foi
criança.
II
- ERASMO E MARTINHO LUTERO
O
livro informa que Erasmo e Martinho Lutero eram colegas na vida sacerdotal e
mesmo na vida teológica.
Lutero
nasceu em 1483 e morreu em 1546 na cidade de Eisleben, Alemanha.
Teólogo,
estudioso, orador em 1507 tornou-se sacerdote com 21 anos e na sua
primeira missa ele teve dificuldades de natureza psicológica em se
relacionar com Deus durante a celebração, porque se considerava um
pecador.
Tornou-se
professor de teologia e suas angústias foram superadas ao aceitar
como princípio de sua vida religiosa a frase encontrada na Carta aos
Romanos (1,17): "O justo viverá da fé".
Nessa
sua vida de dedicação religiosa, indispôs-se contra o "comércio
de indulgências".
Em
1517, nos seus discursos, condenou as indulgências que visavam
arrecadas fundos para construção da basílica de São
Pedro.
Então,
naquele mesmo ano, no pórtico da Igreja de Wittenberg fixou uma
lista com 95 teses contra as indulgências que teve forte
repercussão.
Nascia
o protestantismo.
Disse
mais que o papa (Leão X) e o Concílio estavam sujeitos a erros.
Em
1516 foi chamado a responder pelas suas acusações mas Lutero não
se retratou.
Em
1520, o papa publicou a Bula "Levanta-te Senhor, e julga a tua
causa. Um javali invadiu tua vinha". Foram apontados 41 erros da
lista de Lutero.
Lutero
não se resignou e lançou a Bula papal numa fogueira durante uma
assembleia estudantil em Wittenberg.
Passados
60 dias prazo que lhe fora dado para a retratação, não o fazendo,
em 1521 foi excomungado, permanecendo detido num castelo da cidade
até 1522.
Com
a convicção de Lutero, Erasmo, humanista, se afastou do colega
porque "confiava no potencial humano para compreender e
aproximar-se de Deus", (enquanto) Lutero repudiava tal
convicção. Para ele o ser humano é mero pecador e por isso
incapaz de aproximar-se de Deus. Só a fé redime e salva".
NOTA:
com todas os seus abusos e escândalos a Igreja Católica a tudo vem
superando, se redimindo ou com com a possibilidade a tanto e
permanecendo. O protestantismo se transformou numa legião de igrejas
e seitas e todas disfarçando "comércio de indulgências"
em dízimos.
III
- ELOGIO DA LOUCURA
A
despeito da visão avançada da educação e o respeito às crianças
e jovem, a obra mais citada de Erasmo e mesmo "Elogio da
Loucura" de 1509, chamada de "sátira extraordinária".
Na
verdade, sendo a "loucura" a narradora de suas ocorrências,
Erasmo praticamente não preserva nenhuma atividade de seu tempo o
que revela, com suas ironias ácidas, as mazelas que o rodeavam.
O
livro faz um resumo do "Elogio da Loucura" o que não deixa
de ter interesse, mas eu preferi fazer algumas transcrições da obra
que dão ideia mais precisa do pensamento de Erasmo e o perfil do
modo de vida de seu tempo, século 16 que na "Loucura" ela
aponta, em todos os níveis, a busca pelo "vil metal",
incluindo príncipes, religiosos, pessoas humildes...
A
origem da Loucura
Erasmo
lista os deuses e deusas que deram origem à loucura, seus
personagens fantásticos mas também Paulo na Epístola Aos Coríntios
- 1. 20.21:
"Por
ventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo,,," e,
também, "... aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da
pregação".
(No
livro do Eclesiastes - 02.14).
E,
assim, Erasmo na longo texto, debocha ou ironiza...
Os
supostos poliglotas:
Para
nós, os tolos, um dos maiores prazeres não consistirá em
admirar, com a máxima surpresa, tudo o que nos vem dos países
ultramontanos? Finalmente, se houver alguns que, embora não
entendendo nada desses velhos idiomas, queiram dar mostras de que os
compreendem, nesse caso devem aparentar uma fisionomia satisfeita,
aprovar abanando a cabeça, ou simplesmente as longas orelhas de
burro, e dizer com um ar de importância: Bravo! Bravo! Muito
bem! Justamente!
Advogados
Pretendem
os advogados levar a palma sobre todos os eruditos e fazem um grande conceito da
sua arte. Ora, para vos ser franca, a sua profissão é, em última
análise, um verdadeiro
trabalho de Sísifo. Com efeito, eles fazem uma porção de leis que
não chegam a
conclusão alguma.
(Sísifo, da mitologia grega, foi condenado a fazer rolar uma enorme pedra, sem parar, até
ao cume de uma montanha. Mal chegava ao termo do seu
trabalho, a pedra rolava para baixo).
O
órgão reprodutor masculino
E
porque, segundo o meu costume, não hei de vos falar mais livremente?
Dizei-me, por favor: serão, talvez, a cabeça, a cara, o peito,
as mãos, as orelhas, como partes do corpo reputadas honestas,
que geram os deuses e os homens? Ora, meus senhores, eu acho que não:
o instrumento propagador do gênero humano é aquela parte, tão
deselegante e ridícula que não se lhe pode dizer o nome sem
provocar o riso. Aquela, sim, é justamente aquela a fonte
sagrada de onde provêm os deuses e os mortais.
A
meninice e a velhice se atraem
Afirmo,
pois, de acordo com esse raciocínio, que a felicidade da velhice
supera a da meninice. Não se pode negar que a infância é muito
feliz; mas, nessa idade, não se tem o prazer de tagarelar, de
resmungar por trás de todos, como fazem os velhos, prazer
que constitui o principal condimento da vida.
Outra
prova do meu confronto é a recíproca inclinação que se nota
nos velhos e nos meninos, e o instinto que os leva a manterem entre
si boas relações. Assim é que se verifica que todo
semelhante ama o seu semelhante.
▬
Estamos
tão habituados a ver um homem todo curvado ao peso dos anos e que já
não enxerga a terra em que está para descer, a vê-lo, repito,
casar-se com uma mocinha sem dote, e casar-se, certamente, mais
para o de outrem do que para o próprio uso, que isso se torna
quase um motivo de louvor.
Eu cheiraria
à sabedoria e seria indigna de ser Loucura se reclamasse essas
honras divinas. Que é que se me ofereceria sobre os altares? Um
pouco de incenso, um pouco de farinha, um bode, um porco.
Poderia eu permitir que se degolassem esses inocentes animais
para deleitar-me o olfato?
A
mulher e a loucura
E
isso porque, segundo o provérbio dos gregos, o macaco é
sempre macaco, mesmo vestido de púrpura. Assim também, a
mulher é sempre mulher, isto é, é sempre louca, seja qual for a
máscara sob a qual se apresente.
Não
quero, todavia, acreditar jamais que o belo sexo seja tolo ao ponto
de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse, pois também sou
mulher, e sou a Loucura.
Ao
contrário, tenho a impressão de que nada pode honrar tanto as
mulheres como o associá-las à minha glória, de forma que, se
julgarem direito as coisas, espero que saibam agradecer-me o fato de
eu as ter tornado mais felizes do que os homens...
A
mulher é mera fonte do prazer... um animal delicioso e insensato que
ameniza a vida dos homens.
(Erasmo
também destaca mulheres idosas que se apresentam para o casamento
com homens jovens não podendo esconder todas as marcas da velhice).
O
corno
Costuma-se
achar isso uma loucura, e com razão; mas é justamente essa
loucura que torna o esposo querido da mulher, e a mulher do
esposo, mantendo a paz doméstica e a unidade da família.
Corneia-se
um marido? Toda a gente ri e o chama de corno, enquanto o bom
homem, todo atencioso, fica a consolar a cara-metade, e a
enxugar com seus ternos beijos as lágrimas fingidas da
mulher adúltera. Pois não é melhor ser enganado dessa forma
do que roer-se de bílis, fazer barulho, pôr tudo de pernas
para o ar, ficar furioso, abandonando-se a um ciúme funesto e
inútil?
A
tragédia das guerras
... quero
começar pela guerra. Não se pode negar que essa grande arte
seja a fonte e o fruto das mais estrepitosas ações. No entanto, que
coisa se poderia imaginar de mais estúpido que a guerra? Dois
exércitos se batem (sabe Deus por que motivo) e da sua
animosidade obtêm muito mais prejuízo do que vantagem. Os que
morrem inutilmente na guerra são incontáveis.
A
adulação dum candidato
É
por isso que eles exclamam: — Pode haver maior loucura que a de
um candidato que adula suplicentemente o povo para conquistar
honras e que compra o seu favor à custa de liberalismo? que a
daquele que recebe servil e humildemente os aplausos dos
mentecaptos? daquele que fica lisonjeado com as aclamações
populares? daquele que se deixa carregar em triunfo, como uma
estátua, para ser visto pelo povo, ou que é efigiado em bronze
no foro?
Gramática
Só
a gramática é mais do que suficiente para nos aborrecer durante
toda a vida...
Filósofos
Seguem-se-lhes,
imediatamente, os veneráveis filósofos, respeitáveis pela barba e
pela túnica. Gabam-se de ser os únicos sábios e acreditam que
todos os outros homens não passem de sombras móveis.
Rasguemos
esse véu de orgulho e de presunção, e vejamos o que são
os filósofos. Não passam, também, de ridículos loucos: quem
poderá conter o riso ao ouvi-los sustentar seriamente a
infinidade dos mundos? O sol, a lua, as estrelas, todos esses
globos são por eles conhecidos tão bem como se os tivessem
medido palmo a palmo ou com um fio.
Sem
duvidar de nada, eles vos dizem a causa do trovão, dos ventos,
dos eclipses e de todos os outros mistérios físicos. Na
verdade, ao ouvi-los falar com tanta convicção, qualquer os
julgaria membros do grande conselho dos deuses ou
testemunhas oculares da natureza quando tudo saiu do nada. Mas,
a despeito disso, a natureza, essa hábil produtora do universo,
parece zombar das suas conjecturas.
Nojo
dos estoicos! (aqueles que obtém a felicidade e a tranquilidade pela
razão, pelo autodomínio e a virtude)
Os
teólogos
Em
todas essas facções, são tantas as erudições e tantas as
dificuldades, que, se os próprios apóstolos descessem à terra
e fossem obrigados a discutir com os teólogos modernos sobre
essas sublimes matérias, sou de opinião que teriam necessidade
de um novo espírito totalmente diverso daquele que, em seu
tempo, lhes dava a possibilidade de falar. São Paulo tinha fé, mas
não deu uma definição da fé bastante magistral quando
disse: A fé é a substância da coisa esperada e o argumento da
que não aparece.
Cardeais
e as riquezas
Para
que tantos tesouros? Aqueles que pretendem representar o antigo
colégio dos apóstolos não deveriam, antes de tudo, imitar a
sua pobreza?” Afirmo que, se os cardeais fizessem a si mesmos
semelhante apóstrofe, refletindo seriamente sobre todos esses
pontos, de duas uma: ou devolveriam imediatamente o chapéu ou
levariam uma vida laboriosa, cheia de desgostos e de desejos,
justamente como faziam os primeiros apóstolos da Igreja
▬
Eu
desejaria saber, porém, se haverá para a Igreja inimigos mais
perniciosos do que esses ímpios pontífices, os quais, em lugar
de pregar Jesus Cristo, deixam no esquecimento o seu nome e o
põem de lado com leis lucrativas, alteram a sua doutrina com
interpretações forçadas e, finalmente, o destroem com exemplos
pestilentos.
A
religião cristã e a loucura
Para
terminar logo uma enumeração que por natureza não acabaria nunca,
quero vos fazer ver, sucintamente, que a religião cristã se
coaduna perfeitamente com a loucura e não tem a menor relação
com a sabedoria. Como essa proposição pareça um
verdadeiro paradoxo, não serei tão irrazoável que pretenda me
acrediteis baseados apenas em minha boa fé.
NOTA DE DIVULGAÇÃO
Livro 138
ERASMO DE ROTTERDAM de Luiz Feracine
Trata-se de um pequeno volume com muitas alternativas de conhecimento. Sua leitura e reflexão exigiram expansão da resenha, porque Erasmo de Rotterdam surpreende, em pleno século 16, com suas propostas educacionais, de cuidado com crianças e jovens.
O livro também explora as ações de Martinho Lutero, contra as indulgências impostas pela igreja católica, um abuso, que o teólogo denunciou, resultando no rompimento e o surgimento do protestantismo.
Mas, o tema que mais me preocupou foi a obra "Elogios da Loucura" de Erasmo, um verdadeiro quadro de ironias contra todos os abusos humanos que constatava no seu tempo. Uma "sátira extraordinária". Nem os advogados foram poupados. Muitas das suas "sátiras" influenciam o planeta até hoje. Do "Elogios da Loucura", me vali da obra que li na íntegra não seguindo o livro que ora resenho, muito resumido.