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quarta-feira, 1 de maio de 2024

O DIÁLOGO POSSÍVEL de Francisco Bosco

LIVRO 121




EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA 

Estas impressões não objetivam fazer uma crítica desarrazoada do livro até porque nem de longe teria capacidade de escrever um volume desse porte, com centenas de citações e bibliografias.

Mas, são essas referências que confundem: elas se misturam com a eventual opinião do Autor e, em muitos textos, não se identifica bem o que é do Autor ou do referenciado.

Há trechos do livro em que a citação de um obra de apoio vai ao detalhe de verdadeira resenha.

O Autor é eclético: ele se refere a Nistzsche - aquele filósofo anti-solidariedade - a Homero - deste valendo-se de um episódio da Odisseia: Proteu e Eidoteia - que na verdade não consegui achar o sentido com o texto do capítulo.

O capítulo 5 tem o título de "A hera dos direitos". Que hera é essa, a da mitologia, a planta trepadeira ou a ERA mal grafada?

Finalmente, o título: "O Diálogo Possível" e o subtítulo: "Por uma reconstrução do debate público brasileiro".

Não atinei com a proposta de um diálogo possível, poque o Autor não apresentou  suas conclusões, suas recomendações para o diálogo destacado no título do livro.

Havia, quanto a uma efetiva proposta de "diálogo possível", a expectativa das páginas finais do "Epílogo" mas nesse fecho, o Autor se referiu à terceira via que nada tinha com o grosso do texto do seu livro. Então, "... este livro não é uma defesa da terceira via, tal como a expressão vem sendo empregada no Brasil..."

ALGUNS COMENTÁRIOS A PROPÓSITO DE POSIÇÕES DO AUTOR:

Pobreza e desigualdades

Faz o Autor longa análise sobre essas diferenças que são um características do Planeta, nos vários continentes.

Tenho que esse problema praticamente insolúvel, pode até ser situado no âmbito metafísico, porque este é o planeta das diferenças, da riqueza e dos esquecidos.

A pobreza não é, pois, vítima da sociedade, mas precisa ser ajudada para diminuir a tragédia que tantas vezes ela revela. Então, não há como incluir o filósofo Nistzsche nessa proposição de ajuda.

E sobre isso tenho me perguntado: quais países não há tais diferenças? Nos países escandinavos? Na Finlândia?

Sabe-se que esses países são de alto desenvolvimento humano e a ação do Estado na busca do bem-estar de seus cidadãos.

Mas, olhemos para  África, para as Américas e mesmo para o resto da Europa... Onde a igualdade?

Diz o Autor que nos governos Lula houve o combate à pobreza mas o resultado nunca foi significativo, mas foi tentado.

Pelo que entendi, o Autor conta com uma reforma tributária para diminuir essas desigualdades...

Preconceito racial 

O Autor explana muito sobre ser o Brasil um país mestiço. 

Eu não tenho dúvidas de que é embora haja a predominância branca.

No tocante ao preconceito racial aos negros e mesmo aos mulatos, tenho que será difícil superar esse preconceito tão prejudicial, tão negasto.

Ele faz parte da maldade humano porque este não é um Planeta santo, não é o paraíso.

E há a imagem da escravidão, do castigo bárbaro infligido aos escravos, estes chamados de "elemento servil". 

Para minorar esse preconceito, a educação antirracial deve começar no berço num longo processo de ensino sobre a tolerância humana entre iguais.

E não será fácil porque há os registros históricos da escravidão.

TRECHOS E COMENTÁRIOS

(Textos com aspas são do Autor; sem aspas são baseados no livro, mas sem responsabilidade do Autor)

Do livro, extraí pontos que achei darão algum sentido ao que defendeu o Autor:

 Posicionamento do Autor o qual não tenho como preocupante: 

"O grande desafio político em muito países hoje, o Brasil entre eles, é voltar a encontrar um termo de equilíbrio capaz de conciliar liberalismo e democracia". 

Qual o desequilíbrio constatado entre o liberalismo e a democracia?

Não se constata esse desequilíbrio pela definição simples de liberalismo que, no meu modo de ver está intimamente ligado à democracia:

Liberalismo é uma corrente política e moral garantindo a liberdade individual aí incluída a das minorias, de imprensa, liberdade econômica, a livre iniciativa, obrigando cidadãos governados e governantes ao cumprimento igualitário das leis. 

⁕ "A polarização político-afetiva é, portanto, o modo em que os sujeitos gozam com o ódio do adversário e com os laços de identificação grupal..." / E nessa linha, assim se engendrou "o populismo sádico do bolsonarismo?"

⁕ Com a vitória de Lula em 2002 o PSDB foi caricaturado pelo PT e pela esquerda em geral. Daí veio o segundo mandato de Dilma um excesso (a opinião é minha), deu no que deu. O PT odiado por parcelas elevadas da população, os atos da lava jato, a prisão de Lula e, nesse quadro, surgiu Bolsonaro.

⁕ Na lava jato um procurador proclamara que o sítio de Atibaia era de Lula, "porque a roupa da mulher era muito brega. Decoração horrorosa..." Delton Dallagnol, aquele do powerpoint vergonhoso, se referia  a Lula como "9" (nine). Foi por aí que a lava jato "fez água". O Autor faz dura crítica ao juiz Moro por aceitar o convite de Bolsonaro para o Ministério da Justiça, porque fora exatamente ele, Bolsonaro, o principal beneficiado da lava jato, com a prisão de Lula. 

⁕ Bolsonaro se notabilizou pelos ataques "às instituições fundamentais do liberalismo — o Supremo Tribunal Federal a imprensa o Parlamento — (...)" governo formado por uma mentalidade religiosa, preconceituosa, antiglobalista, permitindo concluir ter um caráter de conservadores iliberais.  

⁕ As ditas igrejas neopentecostais enriqueceram, o dono de uma delas é também dono de uma rede de TV, professam a filosofia da prosperidade (pague o dizimo e a riqueza virá); alguns desses autodenominados pastores fazem discurso de ódio em prol de Bolsonaro, tratado como "eleito divino" por eles.

⁕ Para a direita, "havia uma ameaça real de o país se tornar comunista" que remontara ao golpe contra João Goulart. A ditadura pós 64 não foi branda como querem alguns contando o número "baixo" de mortos e desaparecidos. A direita, mesmo golpista, dá a entender que é a guardiã da liberdade.

⁕ E o "centrão" conservador? "O espírito do centrão seria doravante o guardião da governabilidade". A que preço?

⁕ "Eu, entretanto, estou entre os que consideram correto comparar stalinismo e nazismo pelo denominador comum do totalitarismo".

Stalin foi ditador perverso matando de fome ou em nome de expurgos para garantia do regime milhões de russos. (*)

⁕ "Para Montesquieu , "a liberdade é o direito de fazer tudo o que é permitido pelas leis. Para Rousseau, "liberdade significa obediência à lei que nós prescrevemos". Esse nós introduz a exigência da soberania popular na experiência política moderna".

⁕ Uma proposta do Autor para negociação dos conflitos religiosos?

"O conflito entre religiosos e todos os demais cidadãos que defendem políticas públicas liberais (que previnam a homofobia e garantam os direitos das minorias, por exemplo) não parece ter solução nos termos em que se encontra. O que chamo de solução seria um processo politico de negociação com o objetivo de encontrar propostas capazes de acolher os interesses de ambos os lados".

A questão toda nem é tanto esses conflitos religiosos mas as negociações entre o Executivo e o Congresso perdulário, com a bancada evangélica, da bala, do centrão, a grande maioria pensando em seus interesses eleitorais. Nesse campo nada é fácil, máxime para um governo de esquerda que comete erros ideológicos primários, mas não graves, até agora.

O livro tem 349 páginas (não incluídas as das citações e bibliografia). 

Como disse, o Autor não apresentou proposição sobre o "diálogo possível"


Referência:

(*) Acessar: STALIN NOVA BIOGRAFIA

quarta-feira, 10 de abril de 2024

O LEOPARDO de Giuseppe Tomasi de Lampedusa

LIVRO 120 












Por quê O Leopardo?

É a designação não muito frequente no livro, do personagem principal, o príncipe Fabrizio. Ele era o Leopardo mas não há explicação desse apelido.

O príncipe é o chefe de família que sente o tempo e a idade e se torna melancólico pelo que não pode divisar à medida que a história avança. Mas, mesmo com tais sentimentos vivia no seu tempo com sua esposa Stella, com os filhos e com a caça.

E deste livro a célebre frase que ocasionalmente se ouve repetir:

— Se não estivermos lá, eles fazem uma república. Se queremos que tudo fique como está, e preciso que tudo mude. Fui claro"

Os personagens do livro são:

● Príncipe Fabrizio Salina e sua esposa Maria Stella

O príncipe era influente na Sisília com seu palacete Donnafugata para onde viaja com a família num trajeto cansativo e poeirento,

Pelo menos o Autor esclarece que o príncipe tomava banho e por causa da presença do padre Pirrone se apresenta desnudo! E, à surpresa do padre:

"Não seja tonto, padre, dê-me antes o roupão e, se não se importa, ajude-me a enxugar."

No tocante à esposa Stella, diz ele que teve sete filhos com ela e que nunca vira sequer o seu umbigo. "Ela que é pecadora" daí porque batia na porta de Marianinna

Não há muito sobre os filhos, há menção a Francisco Paolo (beato? ele tinha ciúmes do primo Tancredi) e Giovanni que desaparecera vivendo em Londres uma vida simples.

E a filhas Concetta, Carolina e Catarina.

● O padre Pirrone sempre presente na mansão do príncipe era seu confessor. 

Ele viajou para San Cono e lá fez arranjos para o casamento de um primo e sua sobrinha grávida.

Ao primo: "Deus te abençoe meu filho, ainda que me pareça que não merece,"

● Tancredi o sobrinho querido do príncipe. Ele era admirado pela seu senso de humor e do modo de ser, sempre objetivo e inteligente. Ele demonstrava interesse pela prima Concetta mas ao conhecer a linda Angélica ficou perdidamente apaixonado  e o namoro teve início com "cenas" sensuais"—  "em descobertas do infernos que o amor depois redimia." 

O encanto que ela transmitia era geral, mesmo no príncipe que dançou com ela num baile cheio de pompas. 

 ● Don Calogero muito rico tratado com desdém pelo príncipe mas era tolerado por ser pai de Angélica.

● O cachorro Bendicò presente em toda obra como companhia do príncipe e da família. 

O príncipe tinha o hábito da leitura, mas o seu "esporte" era a caça, geralmente de coelhos. Um deles atingido perto de onde partiram os tiros foi assistido nos seus momentos finais pelos caçadores: teve um último frêmito e morreu... "da mistura do prazer de matar, o prazer tranquilizador de se compadecer."

Dom Fabrizio pela idade entra naquela experiência de fim da vida e com ele toda aquela tradição, a própria autoridade de sua presença vai junto se extinguindo: "O silêncio era absoluto. Sob aquela altíssima luz, dom Fabrizio não ouvia senão o som interior da vida que irrompia de si aos borbotões."

A história se situa na década de 1860. Em maio de 1910 vamos encontrar já idosas as três irmãs e a viúva Angélica (de Tancredi).

Concetta impaciente com religiosos sobre a utilização da capela da propriedade. Então, disse o religioso que apressaria a reconsagração e por isso, por três ou quatro dias, "não se poderá celebrar na vossa capela o ofício divino..."

Nada mais de influências, nada mais de comemorações apenas a decadência que o tempo impôs. 

Eu gostei do livro. A edição que está comigo, tem tamanho menor com 318 páginas.

► A história foi filmada em 1963 com elenco de estrelas.











sexta-feira, 22 de março de 2024

SAPIENS UMA BREVE HISTÓRIA DA HUMANIDADE de Yuval Noah Harari

 LIVRO 119













O livro nas suas 450 páginas, ingressa, com efeito, em episódios importantes das teorias evolucionistas da humanidade, destacando a "espécie" sapiens, destruidora e predadora por excelência. Mas, o livro é de história e descreve afinal de contas a própria evolução da humanidade.

Tudo começou com o suposto Big-Bang, que teria eclodido há cerca de 13,5 bilhões de anos, essa teoria cerebrina para dar uma explicação aos mistérios (ou milagres?) da vida.

 A partir desse fenômeno (espontâneo?) a vida foi se constituindo, de modo elementar, até que, "apenas 6 milhões de anos atrás, uma fêmea primata teve duas filhas: uma se tornou a ancestral de todos os chimpanzés e a outra é nossa avó".

Eis porque os chimpanzés são os mais próximos de nós.

"Durante quase 4 bilhões de anos, todos os organismos no planeta, sem exceção, evoluíram de acordo com a seleção natural. Nenhum deles foi projetado por um criador inteligente".

Os "homo sapiens", supostos "homens sábios" começaram a predominar naqueles tempos longínquos, pela maior inteligência, foram exterminando outras espécies humanas, principalmente os neandertais e, no tocante aos animais de grande porte, foram os sapiens que principiaram seu extermínio.

Por toda essas intervenções por onde passou ou alcançou "o registro histórico faz com que o Homo sapiens pareça um assassino ecológico em série", inclusive pelo fogo com a queimada de imensas áreas florestais.

O "dilúvio" continua nos rumos da destruição ambiental até hoje.

Não será preciso dizer que essas criaturas se alimentavam de vegetal e carnes e saiam um busca de "coleta de alimentos".

O Autor em muitos momentos do livro descreve o sofrimentos dos animais nas mãos dos sapiens, o modo cruel de sua domesticação, o modo brutal para obter leite das vacas, cabras e ovelhas.

As práticas que relata são estarrecedoras. 

O livro não deixa de revelar essa crueldade nos tempos atuais, como o caso das porcas e seus filhotes que ficam confinados em caixotes, em engorda, sem poderem se mover ou buscar comida no chão

(O incrível que é os sapiens sobrevivem até hoje!)

Essas questões ecológicas são destaques na obra. 

O mundo sendo mudado para atender às necessidades dos sapiens, "habitats foram destruídos e espécies extintas. Nosso planeta outrora verde e azul, está se transformando num shopping center de plástico".

Considerando ser a obra uma "breve história da humanidade" não há a presença divina em todos os episódios da evolução.

Há num capítulo um subtítulo sugestivo "a intervenção divina" mas o Autor fala do "milagre", mas mantendo a lacuna de quem ele proviera, como no caso da descoberta em 1995 das estruturas monumentais no local da Turquia chamado Gobekli Tepe, as quais construídas  9.500 antes AC; só uma pilar pesa 50 toneladas!

Quais leis, então, fazem as pessoas acreditarem numa ordem imaginada como o cristianismo, a democracia ou o capitalismo? (e eu acrescento o comunismo, o islamismo):

"A ordem que sustenta a sociedade é uma realidade objetiva criada por grandes deuses ou pelas leis da natureza". Que "grandes deuses"? quais "leis da natureza"? 

O Autor parece ser adepto do capitalismo, do livre mercado por trazerem distribuição de renda e até a possibilidade de obtenção de riquezas.

Há momentos em que o Autor não explica determinados evento e sem qualquer vacilação diz: "não sabemos".

Para citar, após séculos de pesquisa os biólogos admitem não terem explicações de como o cérebro produz a consciência ou "os físicos reconhecem não saber o que causou o Big Bang (mas houve mesmo o Big Bang?) ou como conciliar a mecânica quântica com a teoria geral da relatividade."

E a alma?

Diz o Autor que os cientistas não encontraram a alma no estudo interno do organismo humano e que tudo é gerido pelo livre arbítrio!

E diz também, "que as pessoas são iguais não porque Thomas Jefferson disse, mas porque Deus assim as criou. Os mercados livres são o melhor sistema econômico não porque Adam Smith o disse, mas porque essas são as leis imutáveis da natureza."

(Não, as pessoas não são iguais, nem na aparência e nem na índole. Alias, este é o planeta das diferenças).

Então, na predominância dos sapiens e seus timbres de crueldade eles não se cansaram de se matarem. Lembra o Autor, três séculos ante de Cortes conquistar o México, "os seguidores de Jesus Cristo e os seguidores de Alá se mataram aos milhares, devastaram plantações e pomares, transformaram cidades prósperas em ruínas fumegantes — tudo pela glória de Jesus Cristo ou Alá".

Na segunda grande guerra, o presidente  Truman foi informado que uma invasão americana no Japão para forçar a rendição exigiria a vida de um milhão de soldados. Dai a decisão pelas bombas atômicas.

E, então,

"As armas nucleares tornaram a guerra entre as superpotências um suicídio coletivo, impossibilitando assim que se busque o domínio mundial pela forças das armas."

O Autor pondera, nas páginas finais se o sapiens não se tornarão "amortais" (não imortais, porque podem morrer por um acidente). Experiências genéticas se sucedem e há uma expectativa de qual será o limite.

Há pouco um rim de porco com DNA alterado foi implantado num sapiens. 

Qual o limite? O Autor simbolicamente faz referência ao Frankenstein que poderiam os cientistas criar um ser superior que "nos olhará com a mesma condescendência com que olhamos os neandertais."

De todos os atos praticados por Deuses feito por si próprios, não prestam contas a ninguém. E, desse modo, "estamos devastando nossos amigos animais e o ecossistema que nos cerca buscando pouco mais que nosso próprio conforto e divertimento sem jamais encontrar satisfação".


O livro como disse é vasto, traz ideias e informações importantes como se em alguns episódios históricos tivesse o Autor examinado os bastidores de sua origem.

A obra é importante e esta sim terei que ler de novo até porque são tantas páginas a leitura e agradável e até surpreendente.


Nota:

O Autor faz reflexões sobre o budismo que resolvi não comentar. Se houver interesse, antes de ler esse livro especial, os elementos básicos do budismo podem ser encontrados nesta resenha:

DOUTRINA DE BUDA


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS de Adolfo Bioy Casares

 Livro 118











O escritor é argentino. O livro é apresentado numa edição esmerada da "Folha de São Paulo".

Já o título indica qual o enredo do livro. São 14 histórias nas quais se destacam, algumas mais que outras, experiências estranhas sempre com aquele timbre fantástico. 

Digamos que o livro é eminentemente "literário". Se algum leitor se propuser a encontrar nesses contos algo para pensar de modo mais profundo, no meu modo de ver, provavelmente, não se satisfará.

Mas, a obra cumpre o papel de histórias fantásticas.

Os contos reunidos na obra foram escritos em épocas diferentes e diversos deles se tornaram roteiro para o cinema argentino.

Dos que mais gostei ou surpreendeu, posso destacar:

A TRAMA CELESTE: neste conto embora escrito em 1944, trata de um mundo paralelo no qual o personagem Morris "transita" nessa experiência desconcertante dando-se incompreensões e dúvidas até dos seus companheiros de jornada. É a "teoria da pluralidade dos mundos".

HISTÓRIA PRODIGIOSA: nesta história de 1953 um escritor ateu Lancker rejeita toda a compreensão das divindades, das religiões, insistindo em "sacrilégios e profanações", por um ofensa banal parte para um duelo de espada com o próprio diabo. Embora Lancker fosse exímio espadachim, ele é ferido mortalmente pelo diabo.

A SERVA ALHEIA: este conto de 1955 é mais uma curiosidade, partindo do princípio no qual tribos africanas conseguem reduzir cabeças humanos ao tamanho de um punho. No caso, um ex-espião Rudolf fora reduzido a meio palmo, por pigmeus africanos (?). Ele é cuidado pela belíssima Flora. A mulher  começara um relacionamento com o poeta Urbina, mas Rudolf naquele seu tamanho de um rato, era cruel e com um cetro de duas pontas cega o poeta quando ele dorme.

OS MILAGRES NÃO SE RECUPERAM: escrito em 1967 este conto do que pude concluir, trata das coincidências, e numa delas, a personagem Carmen se dissera doente para não ir aos seus compromissos profissionais para estar livre e viajar com o amante a Mar del Plata.

Eis que num momento de relaxamento, surge a diretora da Instituição para a qual Crmen trabalhava.

A diretora, sem constrangimento, ergueu o dedo indicador por duas vezes, pedindo silêncio, discrição.

Adiante, o narrador faz uma viagem à Terra do Fogo. Quando volta é informado da morte de Carmen: "o incrível da morte é que as pessoas desapareçam."

Mais tarde cansado de uma viagem ao exterior, ainda em Dakar, ouve o som do aeroporto informando da partida de avião para a Cidade do Cabo.

E olhando os passageiros dessa viagem ele divisa a lindíssima Carmen que tentava se esconder dele. Então, ela ergue por duas vezes o dedo indicador pedindo ao narrador que ele guardasse segredo. O mesmo gesto da velha senhora naquele dia em Mar del Plata.


Então, essas histórias podem revelar aspectos interessantes nalgum trecho ou mesmo nas entrelinhas. 

A linguagem é rebuscada. O tradutor, seguramente, manteve o rigor do texto original castelhano. 

O livro contém 330 páginas.  

Eu precisaria ler a obra uma segunda vez. O problema são minhas prioridades.




 







sábado, 27 de janeiro de 2024

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA de Lima Barreto

 LIVRO 117



A guisa de esclarecimentos

Confesso a pouca informação que tinha dessa obra sempre muito referida, do Policarpo Quaresma, patriota exacerbado que propusera oficialmente, retornando às tradições seculares do país que ele amava, introduzir como língua oficial, o idioma tupi-guarani.

O livro foi publicado em 1915.

Então, a obra não se refere apenas a esse tema mas avança em outros.

Gostei do que li.

Os rumos do livro

Policarpo Quaresma era um homem simples, de pequena estatura, metódico, ledor, subsecretário no Arsenal da Guerra havia 20 anos e muito patriota, pôs-se a estudar violão, um instrumento "impudico" no seu tempo e com ele aprender a tocar modinhas, "a mais genuína expressão da poesia nacional".

E seu orientador foi um certo Roberto Coração dos Outros que além de tocar muito bem o instrumento era cantor e compositor.

Era solteiro, como sua irmã Adelaide. Ele e a irmã viviam na mesma casa, sendo bem cuidado por ela que lhe questionava com delicadeza e até o aconselhava.

Era chamado de "major" mas não tinha nada com os militares.

O seu fanatismo pelas tradições patrióticas o levou a remeter à Câmara um requerimento no qual propunha adotar a língua tupi-guarani, por ser "originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir nossas belezas..."

Por causa desse requerimento foi internado num manicômio ficando lá por uns meses.

As lucubrações que faz o Autor sobre os desvios psicológicos (sobre a loucura) são interessantes.

Ao deixar o hospício comprou uma propriedade rural (a qual foi batizada de Sossego) e lá passou a trabalhar com afinco na terra fértil de seu país auxiliado pelo ex-escravo Anastácio e depois também por Felizardo, contando com a colheita de frutas tal os cuidados com as plantas e árvores que estavam abandonadas e que se empenhava em recuperar. 

O Autor pode ter tido a experiência de pouca leitura de livros no seu tempo, revelando isso nessa sua obra, no comentário do general Albernaz:

— Aquele Quaresma podia estar bem, mas foi se meter com livros... É isto! Eu, há bem quarenta anos, que não pego num livro...

Personagens

● Olga, filha de um rico italiano Colleoni, afilhada de Quaresma com quem tinha muita afinidade com o padrinho; ela se casou com o médico Armando Borges que enriqueceu ajudado pela riqueza da esposa.

● Ismênia, filha de general Albernaz e dona Maricota, que estava noiva de Cavalcante.

"A menina foi-se convencendo de que toda a existência só tendia para o casamento".

Noivado por cinco anos, o noivo partira um mês antes do Carnaval e não mais voltou. Seja por desgosto, seja por vergonha foi ela definhando até a morte.

A revolta contra Floriano

No livro de 175 páginas, há "alternativas inesperadas".

Nos capítulos que dão o desfecho da história, o Autor inclui seus personagens ficcionais num episódio real qual seja a revolta dos marinheiro contra o governo de Floriano Peixoto (presidente de 1891-1894) que perdurou por todo o seu mandato. Essa revolta reivindicava maior participação dos marinheiros no governo e menos autoritarismo.

O major Quaresma tivera um breve relacionamento com o presidente e à revolta que enfrentava o presidente, se apresentara para combater os revoltosos. 

Chegou ao presidente, apresentou um memorial propondo medidas drásticas de governo que fora desprezado por Floriano que mais tarde diria que lera o documento chamando Quaresma de "visionário".

Quaresma fora nomeado "major" sem nunca ter pego numa armas até porque era conhecido por essa título. O livro explica a origem do "major".

Participa de estratégias no quartel, é ferido em combate, se recupera.

Floriano vence os revoltosos.

Quaresma fica indignado com o tratamento dispensado aos prisioneiros e remete ao presidente um protesto veemente.

É determinada sua prisão, numa cela imunda, ele que era um homem simples, honesto, de boa índole.

O cancioneiro Ricardo Coração dos Outros que também se engajara nas tropas do "ditador" — assim qualificado no livro — sabendo da prisão do amigo faz todos os esforços para sua libertação. Todos os amigos de Quaresma, mesmo os militares se omitem, não o ajudam. Nem mesmo o general Albernaz que se disse "do governo".

Então, o cancioneiro, sem mais a quem recorrer pede a ajuda de Olga a afilhada do major. Ela corajosamente se propõe a ajudar na libertação do padrinho mas não é conduzida à presença de Floriano.

Então, serenamente refletindo foi ao encontro de Ricardo Coração dos Outros que a esperava ansioso.

...


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

OS MENINOS DA RUA PAULO de Ferenc Molnár

 LIVRO 116











EXPLICAÇÃO:

Há muito lera esse livro que dissera algo da minha infância / juventude. Nunca o esqueci totalmente. Naqueles tempos com pouca televisão, sem computador, sem jogos eletrônicos e, principalmente, sem celular as aventuras se davam pelas ruas, os jogos de taco, as peladas de futebol em terrenos baldios. Mas, a busca pelo "tesouro" escondido, se dava num barranco na Vila Bela (SP), divisa com São Caetano pelo rio Tamanduateí.  Eu também tive uma espécie de forte. Tempos memoráveis.


O livro é considerado "juvenil". Nem sei se hoje, à idade da turma que compõe a história, em torno de 14 anos, com tantos recursos, será atrativo, despertará interesse. Para mim vale a pena.

O livro foi publicado em 1906. A historia transcorre bem no final do século XIX.

A turma da Rua Paulo, na Hungria tinha num terreno ocupado em parte por um serraria e montes de lenha, um barracão, seu reduto para o jogo da péla (jogo "ancestral" do tênis), No grund — um pedacinho de terra — , a turma era organizada em termos de padrões militares.

O presidente da turma era o Boka, um jovem com talento para liderar, muito ético, de poucas palavras muito respeitado pelos demais membros do... 'pelotão'. 

O único soldado raso era Nemecsek, um loirinho franzino. Será em torno dele que a história terá seu epílogo.

Os meninos da rua Paulo tinham rivais, a turma dos "camisas vermelhas" cuja "base" era o Jardim Botânico.

Um dia, os "camisas vermelhas" resolveram declarar guerra à turma da rua Paulo porque queriam o grund para jogar péla. 

Deu-se a batalha e, numa série de escaramuças, nas quais prevaleceram as bolotas de areia molhada, os rivais foram derrotados.

Havia um traidor Géreb, que se arrependeu amargamente, pediu perdão emocionado, sendo perdoado por Boka e pelo grupo e lutando ao lado do "exército" da rua Paulo.

Nemecsek não participou da batalha porque estava muito doente. Ele caíra na lagoa ao adentrar no barco quando já em fuga com Boka e Csónakos após a invasão no reduto dos "camisas vermelhas" uma retaliação à presença de Chico Áts comandante dos inimigos que estivera desafiante no grund. A segunda vez por ordem de Chico Áts quando Nemecsek enfrentou os inimigos no seu próprio reduto e, sendo franzino o soldado raso da rua Paula, determinou que fosse ele jogado na lagoa.

Com tais "banhos" — mal recuperado do primeiro —, adveio a grave doença que prostrou na cama com febre alta o franzino soldado raso.

Chico Áts presidente - general dos "camisas vermelhas" que demonstrara princípios éticos aproximou-se da casa de  Nemecsek como uma forma de se desculpar do "banho" que ordenara, mas não teve coragem de o visitar.

Pela derrota, ele foi demovido da presidência pelos membros da turma dos "camisas vermelhas".

Mas, Nemecsek, inconformado em ser o único soldado raso do grupo, por seus atos de bravura foi promovido a capitão. E seu nome no livro de atas da sociedade do Betume (da rua Paulo),  antes escrito em letras minúsculas, passou a ser escrito em letras maiúsculas: ERNESTO NEMECSEK.

E Nemecsek em desespero ao saber do resultado da batalha e a vitória da rua Paulo, no seu estado febril, disse agitado:

— O grund é um país inteiro! Vocês não sabem, porque nunca lutaram pela pátria."

Ele não acreditava na sua promoção a capitão e o nome escrito em maiúsculas no livro nem mesmo com o Boka confirmando.

Tudo num deslinde comovente naquela família modesta com a mãe carinhosa ao filho franzino e o pai, alfaiate, não menos modesto.

Eu acho que esse livrinho de 120 páginas foi bom pelas mensagens de verdadeira amizade e lealdade da turma da rua Paulo, para as festa de fim do ano de 2023.




segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O SOL TAMBÉM SE LEVANTA de Ernest Hemingway

 LIVRO 115













O livro não deve ser a maior expressão do renomado Autor americano.

Quanto a mim não consegui situar o título do livro com o enredo da história.

Mas, foi um bom passatempo produtivo, digamos.

Os personagens são escritores, a maioria, "perdidos" em Paris e em outros recantos da França num país onde a "serenidade" de viver fora destacada pelo Autor,

A história está situada na década de 20 do século passado.

Os diálogos são curtos com bom efeito e as descrições da "fiesta", dos eventos e dos personagens, impressionam.

Nessa vida de escritores ou acompanhantes, se comportavam como desocupados, não falando em trabalho, de bar em bar, bebendo quase que sem parar a ponto de a embriaguez se constituir num ponto destacado do relato.

São personagens principais:

Jake Barnes: escritor, narrador da história que amava a França, apaixonado por Brett Aschley que, no entanto, iria se casar com Mike. Também um frequentador assíduo de restaurantes e bares, consumindo drinks em profusão.

Uma curiosidade, muito álcool e menos cigarro se se pensar nos filmes americanos nos quais a ligação de cena se dava pelo acender de cigarros. Naqueles idos!

Brett Aschley: linda, meio mundana, depressiva saíra com o judeu Robert Cohn o que o fez um ciumento doentio. Pendeu um pouco para Jake mas, por fim se apaixonou por um jovem toureiro, de beleza impar, com ele se une, mas depois volta a procurar Jake. Ficaria com ele, afinal?

Robert Cohn: boxeador, fora campeão de boxe dos pesos médios em Princeton, apaixonado por Brett com quem tivera um breve caso, ciumento, a ponto de socar Jake levando-o a "nocaute" porque não recebera dele a informação do paradeiro dela — quando ela viajou com o toureiro. Cohn era odiado pelo grupo.

Mike Campbell: falido, dependente de fundos da família seria o virtual marido de Brett mas ela tão libertina, teria evitado o casamento ao se unir ao toureiro Pedro Romero fugazmente .

Bill Gorton: faz parte do enredo, amigo leal de Jake, com ele convive nos momentos de ócio e bares. Odiava Cohn pelo modo como este se relacionava com o grupo:

"Mas, voltando a esse Robert Cohn, já estou farto dele. Pode ir para o inferno e estou contentíssimo porque vai ficar aqui. Assim não irá pescar conosco."

Essa pescaria se dera em Burgete, cidade da Espanha.

Cena "inspiradora" antes da pescaria como relata o personagem Jake:

"Na margem coberta de relva, onde a terra era mais úmida, enterrei a picareta... havia minhocas que desapareceram... Então cavei cuidadosamente e apanhei uma boa porção".

O grupo, mais tarde,  segue a Pamplona (Espanha) para a "fiesta" na qual se destacariam as touradas e a descrição de toda sua covardia, "heróis" da capa  bicolor nas quais até cavalos são vítimas dos ataques alguns fatais.

— É curioso — disse Brett —, mas a gente se torna indiferente ao sangue.

O livro conduzia para a vitória esperada do touro, mas tal não se deu.

Foi então que Brett se impressionou com o jovem toureiro Pedro Romero e com ele estabeleceu um romance. Viajou com ele. Mas durou pouco essas relações. Havia diferença de idade a considerar entre ela e o toureiro.

O livro é isso, mas não é só isso. São 260 páginas.

Foi um bom passatempo de fim de ano.


Outros livros que resenhei de Hemingway (acessar): 

PARIS É UMA FESTA

O VELHO E O MAR



terça-feira, 28 de novembro de 2023

JESUS, O MAIOR PSICÓLOGO QUE JÁ EXISTIU de Mark W. Baker

 LIVRO 114












O Autor é psicólogo terapeuta e nessa sua obra diz que seus relatos são composição de várias  histórias "e não representa ninguém em particular".

Na questão religiosa como indica o próprio título do livro, diz o Autor que Freud "considerava a religião uma muleta que as pessoas usam para lidar com seus sentimentos de desamparo". E diz o Autor, que "esta postura deu início a uma guerra entre psicologia e a religião que continua até hoje".

Neste "até hoje" aqui no Brasil, proliferam seitas nas quais os seus condutores se tornaram recitadores dos Evangelhos e, diga-se, envolvem religião, rendas e rituais que podem até dar alguma razão a Freud. Se dá uma divisão entre os Cristãos e os evangélicos dessas seitas.

Mas, o Autor nos seus inúmeros relatos justifica aplicação dos ensinamentos de Jesus, porque ele "entendia as pessoas". E acentua: "sabemos disso porque talvez ele seja quem mais influenciou a história.” 

Nestes tempos, há que reconhecer o antes e o depois de Jesus. O que seria deste planeta violento sem as palavras do Evangelho muitas vezes freando os desatinos?

E, então, “independentemente das nossas crenças religiosas ou psicológicas, todos podemos nos beneficiar dessa eterna sabedoria.”

O Autor se refere muito ao inconsciente pelo qual as pessoas se tornam infelizes ou problemáticas porque não querem abrir essa porta de más lembranças ou experiências.

Para desvendar o que está por trás dessa porta é que o Autor, como psicólogo, trabalha nas suas sessões de terapia.

Quanto a mim, tenho dúvidas se as pessoas num momento de reflexão, mais maduras, não enfrentem esse “arquivo” e passem a viver com ele “aberto”, superando os traumas que provocou.

E há pessoas que são problemáticas independentemente do que há no inconsciente, aqueles indivíduos violentos sem causa. Mas, aí se ingressa num ambiente… metafísico.

Outro ponto importante posto no livro se refere ao cultivo do relacionamento com outras pessoas, com os amigos, podendo até, o paciente, dividir com eles seus traumas como um modo de superá-los.

Claro que para isso, os amigos têm que ser Amigos.

O Autor reconhece que há os tolos.

Tanto é assim, que Jesus se deparou com os fariseus invejosos e com a traição fatal.

O livro tem duas partes: I – Entendendo as pessoas e II – Conhecendo a si mesmo.

E é a partir dessas duas partes que vai relatando experiências e no final de cada uma as inclui com os ensinamentos de Jesus.

Alguns trechos porque nessa obra há que preservar os direitos do Autor:

Jesus sabia que as pessoas não poderiam entender completamente a vida se usassem apenas o intelecto. Ele dizia: “Vou ensinar a vocês o que é a verdade”. Eu sou a verdade”;

Com essa afirmação, Jesus excluía quaisquer outras “verdades” ele se apresentando como a verdade deveria ser considerada segundo seus ensinamentos.

A autocondenação envolve a crença em uma mentira a respeito de nós mesmos;

Os terapeutas precisam ser humildes a fim de receber os tesouros que aparecem a partir de um bom relacionamento;

O bom relacionamento deve se estender aos outros porque deles precisamos.

Jesus, porém, parecia continuar a dizer às pessoas que elas precisam se relacionar com Deus;

As pessoas sábias estão sempre preparadas para mudar de ideia e de atitude; as tolas, jamais.

No caso da idolatria, as leis e os rituais religiosos se tornam a “droga” proporcionando às pessoas a ilusão de serem melhores do que realmente são;

O ódio aos outros frequentemente é sintoma de uma ferida interna em nós mesmos.

No “Epilogo” há esta frase: “Espero que você tenha se reconhecido em alguma das situações apresentadas e que tenha conseguido se conhecer melhor.”

Eu tenho que confessar, encorajado nas “Confissões” de Santo Agostinho que me “reconheci” num dos relatos, mas que superei há muito. Mas a influência daqueles idos ainda tem resquícios: o alcoolismo paterno.

Eu nunca havia lido, que me lembre, livros de autoajuda.

Penso que este tenho fortes timbres de autoajuda mas num sentido de serenidade demonstrando como tanta gente é igual a tantas outras vivendo seus traumas e os superando.

O livro é bom com relatos sobre as mais diferentes situações psicológicas, incluindo relatos de casamentos salvos pela terapia. E há muito mais.



segunda-feira, 13 de novembro de 2023

O PRÍNCIPE de Nicolau Maquiavel

 APÊNDICE: "DOS DELITOS E DAS PENAS"  de Cesare (Bonesana) Beccaria

LI VRO 113

Pondo-se a ler Maquiavel, constata-se que seu maquiavelismo eclode do texto mas ele não deixa de acentuar sempre que possível, algumas boas práticas visando a harmonia do poder embora, de regra, acentue que o príncipe deve ser mais temido do que amado.

O Autor, nasceu em 1469 em Florença, "O Príncipe" foi escrito em 1513. 

Ele explica as distinções dos modos de poder que predominavam, as monarquias — até mesmo aquelas que decorram do poder usurpado —  mas no tocante ao mandatário, fosse qual fosse, era chamado de "o príncipe".

E é quanto a este ou estes, os príncipes,  faz ele observações de garantia do poder, o modo de agir em relação aos súditos e ao seu exército — acentuando uma má prática a defesa por legião de mercenários que podem se voltar contra o príncipe na vitória.

Esses mercenários, são "soldados desunidos, ambiciosos, sem disciplina é infiéis, ousados entre os amigos, covardes perante os inimigos; não temem a Deus nem são leais aos homens."

Maquiavel em princípio não defende a violência extrema e nem propõe manobras que visem prejudicar seus súditos, embora coloque sempre meios para que o príncipe se mantenha no poder incluindo o uso da violência.

Se o Estado for conquistado pela força, "não bastará aniquilar a família do príncipe, pois permanecerão os nobres, prontos a liderar novas revoluções". E, então, "incapaz de contentá-los ou de exterminá-los, na primeira oportunidade o conquistador perderá o domínio sobre o Estado."

Maquiavel apresenta exemplos de príncipes que assassinaram nobres e senadores para garantia de seu poder.

Se o Estado for organizado por colônias, é necessário tomar casas e terras de antigos moradores que servirão para alojar os novos habitantes. E então, nessas medidas, "os que forem escorraçados, pobres e dispersos nunca poderão fazer mal ao príncipe."

E, quanto aos povos, é fácil persuadi-los  porque sua natureza é "labial". E se não mantiverem sua opinião, "por isso convém ordenar tudo de modo que, quando não mais acreditarem, se lhes possa fazer crer pela força."

"O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal". E o poder, claro.

Ao conquistador, tomado o poder, deverá ele fazer todas as crueldades desde logo, de tal maneira  a não renová-las. Feito isso seduzirá o povo que estará tranquilo, recebendo as benesses do príncipe que chegou ao poder. Se o conquistador assim não agir, estará sempre com as "armas em punho" para garantia de sua conquista.

“Quem quiser praticar sempre a bondade em tudo o que faz será fadado a sofrer, entre tantos que não são bons. É necessário, portanto, que o príncipe que deseja manter-se aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso, conforme seja necessário.” 


E se o príncipe não ganhar o amor dos súditos, então que evite o seu ódio. O príncipe deve ser temido.


O príncipe deve evitar a expropriação de bens, porque é mais fácil o povo esquecer a morte do pai do que dos bens expropriados.


E, sempre que houver oportunidade, incentivar o comércio afastando do comerciante o medo dos tributos e manter o povo entretido com festas e espetáculos, "nas épocas convenientes".


Frase: "De fato, o povo tem objetivos mais honestos do que a nobreza; esta quer oprimir, enquanto o povo deseja apenas evitar a opressão."


Sobretudo, o povo ama a tranquilidade imposta pelo príncipe, embora os soldados no seu espírito belicoso, esperam dele que seja cruel e opressor, significando que eles, os soldados, com esse modo de agir possam dobrar seus salários.

O príncipe, nunca deve abandonar os exercícios bélicos mesmo na paz, sustentndo a  ação e o estudo. Um exercício é a caça porque expõe os soldados às agruras da região.

Os fins justificam os meios:

Porque "na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra a qual não há recursos, os fins justificam os meios". Para a conquista ou a manutenção do poder, todos os meios empregados são honrosos.

E as guerras não podem ser evitadas e, adiadas, porque beneficiam os inimigos:

"... a guerra é justa para aqueles a quem é necessária; e as armas são sagradas quando nelas reside a última esperança." E quanto a Deus, ele não fará tudo para não retirar o livre arbítrio e a glória que advém da luta.

Encerrando:

O pequeno volume não explana só isso. Há muito mais maquiavelismos. O que fiz, nesta pequena resenha foi destacar entre tantos, alguns pontos nos quais Maquiavel é "maquiavélico"...

Tudo para garantia do poder ao príncipe.

Fim: Maquiavel faleceu em 1527, aos 58 anos, pobre e esquecido.


APÊNDICE

"DOS DELITOS E DAS PENAS"  de Cesare (Bonesana) Beccaria

Explicação:

Eu estava em débito com essa livro porque fora ele recomendado por professor de Direito Penal da PUC de São Paulo há décadas. Saldei meu débito, lendo-o agora, em 2023 depois de 260 anos de sua publicação.

Este pequeno livro — não tão pequeno assim — foi escrito em 1764 quando o Autor contava apenas 27 anos. Beccaria nascera em 1738 falecendo em 1794 em Milão.

Na França fora traduzido por André Morellet em 1765/1766, economista e literato. A edição francesa recebeu elogios de filósofos renomados da França pelo modo como expôs Beccaria suas ideias que explicou assim:

"Minha única ocupação é cultivar em paz a filosofia, e contentar assim três sentimentos muito vivos em mim: o amor à reputação literária, o amor à liberdade e a compaixão pelas desgraças dos homens escravos de tantos erros",

[Escravos seriam os condenados submetidos a severos castigos e privação da liberdade pela condenação].

Então, ele preconizou que as nações se preocupassem em estabelecer um corpo de leis penais que impedissem a interpretação pelos juízes, que poderiam se exceder nas penas, levando injustamente o condenado às masmorras e aos suplícios.

A pena será justa se o grau de rigor e limite desviem os homens do crime. Deve haver uma proporção entre o delito e a pena.

As penas daqueles de "alta linhagem" devem ser as mesmas aplicadas ao "ultimo dos cidadãos". 

Um acusado só ficará detido no tempo necessário para a instrução do processo.

As provas do delito só serão perfeitas se não trouxerem no seu âmago a dúvida do crime praticado. E para os abusos, o povo dirá: "Não somos escravos, mas protegidos pelas leis".

Ademias, "a moral política não pode proporcionar à sociedade nenhuma vantagem durável, se não for fundada sobre sentimentos indeléveis do coração do homem".

Claro que no seu tempo ainda sobre os horrores da inquisição há esse princípio ideal do "coração" mas se sabe que o planeta é repleto de diferenças e crueldades. (*)

Ele não aceita o julgamento tomando como base "o espírito das leis" e também rejeita delitos punidos de modo diferente em tempos diferentes pelo mesmo tribunal.

A graça dada pelo soberano a um criminoso pode soar como um aviso de impunidade geral?

Os cidadãos podem fazer tudo que não seja contrário à lei. Nulla poena sine lege.

Beccaria rejeita a tortura de modo veemente porque exige do acusado sob castigo físico que seja acusador de si mesmo e por essa violência, extrair uma "verdade" como se estivesse ela nos músculos do torturado.

Um homem honesto desarmado favorece o bandido armado. 

A pena de morte não é útil nem necessária. Ela se constitui uma 'guerra' contra o homem que a nação a impõe mas quem perde é a humanidade.

O suicídio só pode ser punido por Deus.

O verdadeiro tirano: é aquele que começa reinando sobre a opinião — quando é senhor dela comprime as almas corajosas, das quais tem tudo a temer...

CONCLUINDO:

Sempre digo que essas resenhas tentam trazer as linhas gerais da obra. Mas, o livro de Beccaria  tem mais, muito mais e, reconheça-se, que muito dos conceitos que ele defendeu há 260 anos estão consagrados em muitos códigos penais modernos, inclusive na legislação penal brasileira. De um modo ou outro ele se posicionou em "todos" os crimes mas com base na sua cultura de meados do século XVIII.

Beccaria, à frente do seu tempo, é um desses luminares que de vez em quando aportam no planeta.

Nota:

(*) No tocante à inquisição, em resposta a uma crítica, esclarece Beccaria que a ela não se referiu nem direta nem indiretamente. Mas, a leitura atenta do livro revela que há nas suas linhas e entrelinhas a condenação dos modos perversos adotados pela inquisição.