Livro 19
Não me parece seja este livro daqueles mais festejados do grande escritor americano. São crônicas dos tempos, na década de 20 do século XX, em que vivia em Paris usufruindo das suas belezas e, sobretudo, da boemia. Gostei muito.
Ernest Hemingway reside, então, em Paris,
levando vida modesta, escrevendo contos nem sempre aceitos ou publicados pelos
jornais e revistas que ele remetia.
E essa dificuldade não era só sua. Os
outros escritores – muitos dos quais se consagrariam mais tarde - naqueles dias
também não tinham seus escritos publicados com facilidade. E quando ocorriam as
publicações, os valores pagos não eram expressivos.
Relata o Autor que, para fazer
economia, passava fome mas tinha o sentimento inspirador de que Paris era uma
espiração:
“De qualquer maneira, éramos ainda
muito pobres e eu vivia tendo que enganar minha mulher, dizendo que recebera
convites para almoçar fora. Passava duas horas andando pelos jardins de Luxemburg e, depois, voltava para contar-lhe maravilhas dos tais almoços”.
Uma frase que abre o livro escrita em
1930 para um amigo:
“Se você teve a sorte de viver em
Paris, quando jovem, sua presença continuará a acompanhá-lo pelo resto da vida,
onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa móvel.”
Tinha por hábito trabalhar,
escrevendo seus contos num café, um dos
melhores de Paris, o “Closerie des
Lilas”. Ali, o encontro com os amigos escritores.
A escritora Gertrude Stein ao ouvir
do patron de uma oficina que
admoestava um mecânico que nada fizera no seu Ford exclamara:
- Vocês todos são uma génération
perdue.
Ao que ela emendou tendo Hemingway presente:
- É isso mesmo o que vocês são. Todos
vocês, essa rapaziada que serviu na guerra. Vocês são uma geração perdida.
Hemingway nunca aceitou essa
expressão de “geração perdida”.
Mas, preservava sua amizade com a
escritora Gertrude Stein e quando “já não
era a mesma coisa” observou:
“Quando uma antiga amizade não se
refaz por completo, é na cabeça que a gente sente mais. Mas do que servem essas
palavras? A coisa era muito mais complicada do que isso, e jamais conseguirei explica-la
direito.”
[Numa
legenda sob a foto de Gertrude Stein no livro “Paris é uma festa” lê-se que fora
autora de literatura experimental e influente nos círculos culturais de
vanguarda, colocou Hemingway sob suas asas e lhe deu caloroso apoio].
O escritor Scott Fitzgerald, autor do
livro “O grande gatsby” filmado pelo menos três vezes por Hollywood em épocas
diferentes, certo dia revelou a Hemingway um comentário de sua esposa que se
referira não ao desempenho mas ao volume do seu órgão genital.
Hemingway, o tranquilizou quanto ao
tamanho, ressaltando que a esposa do amigo enlouquecia, recomendando que fosse
ao Louvre e examinasse a proporção das estátuas:
- Depois, vá para casa e olhe-se um
espelho de perfil.
Há muito mais...
.//.
Ernest Hemingway suicidou-se em 1961. Filme relativamente recente, “Papa”, revela sua intimidade nos últimos anos de sua vida atribulada.
Era um suicida em potencial, diga-se.
Poucos anos antes do gesto extremo que consumou em 1961, ele se queixava de que não conseguia mais escrever e que se tornara um impotente sexual.
Recebia carinho dos amigos e da esposa, embora esta muitas vezes se revelasse agressiva e irascível comportamento que poderia ter-lhe enfraquecido a “força do seu espírito”.
Jardim de Luxemburgo - Paris
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