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Depois do "Inferno" e "Purgatório" (*)
Quais as emoções teria
algum mortal de se aproximar do céu, dos vários estágios de santidade?
Pois o relato do Autor
revela sempre alta luminosidade dos espíritos que ofusca sempre sua visão
mortal, um som musical enternecedor tudo inspirando exatamente a presença das santidades.
Afinal de contas, para
chegar aos céus, beirando a Divindade máxima teria que revelar virtudes
incomuns.
E é Beatriz, aquela sua
amada e guia, de pureza angelical que conhecera em criança e preservara aquela imagem, o conduzia aos
vários céus:
“Beatriz, capaz de ler
meus pensamentos tão bem quanto os mesmos os conhecia, disse-me: “Teu espírito
se deixa perder em raciocínio errado, pois julga-te ainda na Terra. Assim, não
vês o que poderias estar vendo. Compreende que nem o raio desce tão veloz para
a Terra quanto estas subindo ao Céu”.
Tratando-se a obra de
Alighieri de “comédia”, os santos que conheceu na sua subida aos vários estágios dos nove céus, não revelaram o erro da crença no geocentrismo, teoria
de que a Terra era estática e todos os astros e o sol giravam em torno dela.
Beatriz:
“O movimento universal,
que mantém a Terra imóvel e faz girar ao seu redor os demais astros, daqui se
endereça ao Universo inteiro”.
A teoria do
geocentrismo foi formulada por Ptolomeu. O matemático Copérnico deu forma à
teoria do heliocentrismo em 1543 que explicava que a Terra e os demais astros giravam
em torno do Sol estático – que seria o centro do universo.
Nem o Sol é estático e
ele se constitui pequena estrela no universo.
No geral, nos encontros
de Dante com os santos nos vários estágios celestiais, havia forte influência
católica.
Se pensada a obra hoje,
ela seria considerada “feminista” tal a influência espiritual de Beatriz sobre o narrador
e mesmo nos vários céus.
O Paraíso de Dante é composto de vários céus.
O 1º Céu, a Lua
O primeiro Céu é aquele que se
concentra na Lua, por ser o astro mais próximo da Terra. E o mais distante do
Empíreo (Céu).
Então, diz o narrador:
“Não tive a partir de então mais
dúvida de que qualquer das partes dos céus é o mesmo Paraíso, e que, contudo, a
graça divina não reside por igual em todas aquelas partes.”
Nem o Céu, então, seria igual para
todos.
Nesse 1° Céu encontra Picarda Donati
que lhe diz que num meigo sorriso:
“Seguimos aqui as leis da caridade,
que Deus implica à Sua corte”.
E diz mais Picarda que é uma alma
bem-aventurada, “apenas espero nesta esfera que é de todas a mais lenta”.
E que,
“A sorte que nos coube, que parece
inferior, devemo-la uns ao mau cumprimento dos votos religiosos, outros ao
esquecimento total de tais votos.”
O 2º Céu, Mercúrio
Nesse Céu, o narrador se depara com
Justiniano que diz ter sido eleito Cesar por inspiração do Espírito Santo e que
expurgara “as leis que tinham de injusto e excessivo”.
E ele diz que,
“Nesta pequena estrela, muitos
espíritos justos se esforçaram bastante no mundo para nele deixar honra e fama
marcantes.”
Há, ainda, os esclarecimentos de
Beatriz às dúvidas de Dante sobre a crucificação de Cristo.
Diz ela entre muitas reflexões, “eis
que mais generoso mostrou-se Deus utilizando Seu sangue para redimir o homem do
que só meramente lhe perdoasse”.
A redenção do homem tem a ver com o
pecado de Adão, referindo-se à natureza humana que expulsa do Paraíso por sua
culpa “pois afastou-se do caminho da verdade e da vida.”
O 3º Céu, Vênus
Informa a introdução desse céu que
nele se encontram almas que embora suscetíveis ao amor físico, “foram
agraciados com a salvação”.
Um dos espíritos que se apresenta ao
narrador respondendo uma dúvida diz,
“O Bem que alegra este reino a que
acabas de subir – Deus – faz com que a Sua obra, nestes corpos celestes manifestada,
tornem-se virtudes aptas a influenciarem os mundos inferiores”.
Diz, também, dos diferentes
nascimentos e pessoas diferentes. Faz referência, entre outros a Esaú e Jacó
irmãos consanguíneos tão diferente. Porque “os céus giram e enviam influxos aos
mortais, sem cuidar de qual casa em que venha a baixar esta ou aquela
essência”.
Em outro ponto, uma outra alma
emitindo luzes, fulgor se justifica dizendo que o fato de terem amado quando na
Terra, foram amores esquecidos, preenchidos pelo amor divino que lhes dispôs
Deus.
E no final, referindo à “flor maldita”
que seria a moeda florentina. Por ela
os Evangelhos foram abandonados pelos papas e cardeais, que passaram a
consultar e seguir a Decretais,
conjunto de leis canônicas e jurídicas.
O 4º Céu, Sol
Neste Céu, pela influência do Sol,
Dante destaca a radiante Beatriz que tornara-se resplandecente em altíssimo
grau.
Ali aproximam-se almas diversas,
inclusive de Salomão, irradiando altíssimo brilho, porque “tão alta foi sua
mente, tão vasto e profundo o seu saber, “que certo quanto a verdade outro
igual não se ergueu na Terra.”
Porém, Salomão mesmo não se manifesta.
Quem se aproxima é Santo Thomaz de
Aquino que relata a Dante a história de São Francisco de Assis que “muito jovem
entrou em conflito com o pai por amor daquela dama (a pobreza) à qual assim
como a morte ninguém abre a porta com prazer.”
São Thomaz de Aquino também reflete
sobre a sabedoria de Salomão: pedira ele a Deus essa sabedoria para discernir
entre o que um rei digno deve praticar e o que não deve.
São Boaventura também se manifesta
narrando a história de São Domingos. Servo de Cristo, que ama muitas vezes
prostrado em terra desperto e silencioso, como a dizer: ‘Para isto fui
destinado!”
O 5º Céu, Marte
Este é o céu do que lutaram em prol
da Igreja.
Destaca-se a presença do trisavô de
Dante que revela que lutara na guerra “contra o infiel que usurpa o vosso direito
na Terra Santa, por culpa do pastor que a negligencia. Por aquela torpe gente
fui tirado ao mundo, pelo martírio da morte subi ao Paraíso, encontrando a paz
eterna”.
Cacciaguída, esse era o seu nome,
informa ao narrador que o seu bisavô cumpria suas penas ainda no purgatório.
Estranha as mudanças nos costumes de
Florença que “vivia em paz, casta, sóbria, cingida por antigos muros dentro dos
quais fora erguido templo que mesmo hoje assinala a passagem das horas!"
Sobre Dante, vaticina que ele será
exilado de Florença, sofrerá com essa ausência como já ouvira em sua passagem pelo
inferno e purgatório.
Mas, diz o seu trisavô sobre seu exílio forçado de Florença por embates políticos:
“Porém, não deves invejar a teus
conterrâneos, pois o teu renome há de ultrapassar em muito o tempo em que as
perfídias daqueles receberão o merecido castigo”.
O 6º Céu, Júpiter
Nesse Céu habitam as almas dos
príncipes bons. O símbolo da Justiça divina é a águia cujas asas são
compostas por almas luminosas.
Um conceito importante transmitido
pela águia se refere aos limites impostos aos extremos do mundo e nesse
entendimento há coisas que são e que não são do “nosso conhecimento” e no
Universos algo ao homem que permanece inexplicado, “pois não pode a vossa
razão por sua natureza, entender Deus para além daquilo em que Ele próprio
desejar”.
“Ó predestinação”. E vós mortais, hão
de cuidar dos julgamentos, porque nem mesmo sabemos dos Seus eleitos.
A águia continuou:
“Jamais subiu a estes reinos quem não
acreditasse em Cristo , nem antes nem depois que Ele fosse cravado ao lenho.
Não obstante, há muitos que, embora bradando ‘Cristo! Cristo!’, quando levados
a juízo serão mandados para lugares mais afastados do que muitos que não O
conheciam”.
O 7º Céu, Saturno
Nesse céu estão as almas que praticam
a contemplação.
À medida que avançavam nas várias
escalas o fulgor que Beatriz emitia em sua santidade poderia até mesmo causar
males físicos no narrador, até mesmo se risse, “pois minha formosura conforme
pudeste verificar, aumenta à medida que subimos os degraus dessa eterna
escada.”
Dante dialoga com São Pedro Damião e
aqui também há a preocupação com os mistérios da predestinação. Considera,
pois, não ser possível entender na Terra aquilo que não se pode compreender nem
no Céu”.
Disse ele que se dedicou ao serviço
divino, alimentando-se parcamente e de azeite, suportando alegremente o verão e
o inverno em contemplação.
Hoje, diz ele, os pastores modernos sempre
precisam ter servos por perto para ajudá-los tão gordo ficam, para se manterem
de pé.
São Benedito também se aproxima e na
sua preleção também estranha os novos tempos em que suas regras monásticas, inúteis,
jazem no papel.
“Tornaram-se espeluncas os muros que
serviam de abadia, e o capuz monástico, transformou-se em saco para farinha de
má qualidade”.
O 8º Céu, Estrelas fixas
Neste Céu, Dante pode ver o esplendor
de Cristo, chamado de “a bela flor” (A Rosa mística): “Vi essa viva estrela,
maior em grandeza e luzimento, que todos as outras supera, no Céu e na Terra”.
Responde o narrador a São Pedro sobre
a fé, “que é a substância do que se espera e argumento que, mesmo sem prova,
leva à convicção”.
São Tiago o interroga sobre a
esperança. Respondeu Dante, o narrador: “A esperança é o aguardar sem nenhuma dúvida,
a glória futura, por efeito da graça divina e do mérito precedente”.
De São João Evangelista, o que
entendia Dante sobre a caridade: “... a divina essência da caridade é por tal
modo avantajada que todo e qualquer bem porventura existente fora dela não será
senão reflexo pálido de sua virtude”.
Por fim, São Pedro mostra sua
indignação contra os desvios da temporal, aqueles que usam vestes de pastores,
mas são lobos vorazes que ocupando os currais. E proclama o santo: “Ó cólera
divina, por que não te fizeste sentir ainda?”.
O Céu - Empíreo
As descrições do Céu são de irradiação
de luzes intensas de difícil fixação pelos olhos humanos.
Beatriz é substituída por São
Bernardo como guia de Dante.
Há o enaltecimento de Maria como
figura gloriosa no Céu.
Os anjos também habitam o Empíreo.
Autorizado a encarar Deus com seus
olhos mortais, ele diz que viu “unido pelo amor em um ser único tudo quanto
contém o Universo”.
“Na profunda e clara essência de
Deus, três círculos surgiram, parecendo de três cores distintas, mas de uma só
conformação”. (Refere-se ao Mistério da Unidade e da Trindade Divina).
(*) Resenhas:
Esta resenha e comentários foram atualizados e republicados conforme o livro de Dante Alighieri num único texto, a saber: Inferno, Purgatório, Paraiso.