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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS de Machado de Assis

LIVRO 54



Partam do princípio de que eu não conhecia a obra nem por fragmentos e no conjunto sou obrigado a confessar que não gostei da obra.

Como o próprio festejado Autor revela, a “obra foi feita aos pedaços na Revista Brasileira pelos anos de 1880”.
Esses pedaços compuseram mais tarde o livro…

Por causa disso é que encontrei capítulos que no meu conceito, apenas preenchiam páginas, destoando da narrativa.

O narrador que conta sua história post mortem fora batizado com o nome de Brás Cubas. Seus pais, descendentes da família Cubas, deram-lhe o prenome de Brás, o mesmo nome do capitão-mor que fundou a Vila de São Vicente em São Paulo: “Brás Cubas”.

De família rica, adorado pelo pai, a vida de Brás Cubas fora dum desocupado, dum parasita como se disse nas páginas de introdução do livro (*).

Mas, na maturidade, sonhava em produzir o “emplastro Brás Cubas” ideia que não prosperou porque morreu antes, por causa da moléstia que o vitimou.

No seu leito de morte, às vezes assistido por sua antiga amante, Virgília, Cubas teve um delírio aparecendo para ele um hipopótamo que o “arrebatou” começando então uma viagem no seu dorso cujo destino seria, na verdade, “à origem dos séculos”.

Este ingênuo leitor de poucas letras imaginou que o nome Virgília de Virgílio e o hipopótamos, um animal poderoso poderia ser um cicerone caricato em relação ao privilegiado guia de Dante Alighieri, o filósofo, na Divina Comédia que o guiou nas plagas do inferno e do purgatório (**)

Teria Virgília algo com Beatriz a musa de Alighieri que o conduziu pelo céu?

Seria esperar demais, ora.

Nessa sua vida de prazeres e riquezas conheceu a linda Marcela, “dama espanhola” por que se apaixonou.

Vendo as dívidas pelos presentes caros que Brás lhe dava, seu pai interveio e o obrigou a estudar em Coimbra.

Ele tentou levar Marcela na viagem, mas foi frustrado por seu pai.

Já no navio, algo incomum: o capitão que tinha sua esposa a bordo muito doente era dado a recitar poesias tendo Brás como ouvinte (!)

Ao retornar ao Rio, um dia reencontrou Marcela, numa pequena loja. Com dificuldade a reconheceu, então com rosto inchado por moléstia, envelhecida. Tão logo pode Brás se afastou para encontrá-la anos depois nos momentos de sua morte.

E é aí que a Virgília se destaca porque apresentada como sua futura esposa, dentro do que pensara o pai de Brás, em arranjar um casamento e introduzi-lo na política.

Mas, Virgília pensava em obter títulos de nobreza e por isso casou-se com Lobo Neves político, indicado para um ministro, cuja nomeação não se efetivou porque se deram algumas coincidências com o número 13 do qual era supersticioso.

O amor entre Virgília e Brás se materializaria numa relação adúltera intensa.

Para facilitar os encontros, Brás aluga uma casinha na Gamboa, de bom padrão e lá o romance floresce.

Esse romance, então, se dá entre duas pessoas da sociedade, embora Brás fosse um bon vivant, desocupado.

Depois de algum tempo, o romance adúltero começa a ser percebido ou desconfiado. Só o marido, Lobo Neves nada desconfia (!).

Brás, começa a ouvir indiretas. Houve uma carta anônima remetida a Lobo Neves que Borba e Virgília desmentem vigorosamente.

[Esses rumores me lembram um pouco o que ocorre no romance de 1857 “Madame Bovary” de Gustave Flaubert. Madame Bovary frequentava seus amantes às claras; a comunidade sabia de seu adultério menos o marido médico Carlos Bovary que ela desprezava.] (***)

Outra noiva lhe é apresentada, D. Eulália mas ela falece prematuramente aos 19 anos de idade.

Mais tarde já nas páginas finais, a obra apresenta Brás Cubas como deputado, sem explicar como guindara ao posto.

E insere um novo personagem Quincas Borba, que pregava uma nova filosofia, o humanitarismo.

Borba quase um indigente, ao se encontrar com Brás, furta seu relógio. Mais tarde, após receber uma herança devolve outro relógio, não o mesmo que subtraíra de Brás, porém.

O humanitarismo exposto é constituído de frases interessantes e um tanto mundano:

- Imagina, por exemplo, que eu não tinha nascido, continuou o Quincas Borba; é positivo que não teria agora o prazer de conversar contigo, comer esta batata, ir ao teatro, e para tudo dizer numa só palavra: viver.

Quincas Borba passa a exercer forte influência sobre Brás.

Depois de viajar para Minas, quando volta revela distúrbios mentais e tempos depois morre semidemente na casa de Brás Cubas.

Brás Cubas, por sua vez, morre externando amarguras por não ter concretizado o sonho do emplastro que levaria o seu nome, o “divino emplastro” que lhe daria o “primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza porque era a genuína e direta inspiração do céu.”

Pelo que, “o acaso determinou o contrário e aí vos ficais eternamente hipocondríacos”.

E também, nas últimas linhas do livro, ao chegar a “este lado do mistério” (porque falecido) achou-se com um “pequeno saldo” no derradeiro capítulo de negativas:

- Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.



Machado de Assis pelo seu personagem dândy pouco fala da escravidão, apenas uns comentários esparsos - nos tempos de criança fora maldoso com eles - e se apresenta um tanto preconceituoso com uma moça bonita, que lhe chamara a atenção e até se beijam, mas por ser coxa ele se afasta. Brás insiste em ressaltar essa deficiência.
Livro "realista" e fantástico? Nem pensar!


(*) A edição do livro foi promovida por um cursinho (“Objetivo”) no qual em notas de rodapé foram inseridos sinônimos de palavras sem ou de pouco uso e também sobre autores da literatura “universal” que Machado de Assis, mencionou à exaustão. Na introdução assinada por Francisco Achcar ele afirma que Machado de Assis é o maior escritor do Brasil na opinião de estudiosos da literatura brasileira… não sei!

(**) Resenhas da "Divina Comédia" de Dante Alghieri:
n° 36 - Inferno
n° 41 - Purgatório
n° 46 - Paraíso 

(***) Resenha de "Madame Bovary" - n° 3


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