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quinta-feira, 12 de maio de 2022

IRACEMA de José de Alencar

 LIVRO 93


Nos meus tempos de ginásio (ou antes), o encanto destas frases que dão início ao romance Iracema escrito em 1865:

Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;

Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;

Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.

Significados de palavras tupis-guaranis expostos pelo Autor em suas "Notas":

 ● Iracema em tupi-guarani significa lábios de mel

 ● Jandaia se refere a "periquito grasnador" que como explica o Autor, deu origem ao nome Ceará que "na língua indígena", segundo a tradição, "significa o canto da Jandaia.

Diz Machado de Assis, em sua crítica à obra Iracema que se trata de poesia em prosa, uma obra prima.

Na edição que tenho em mãos, há notas introdutórias da professora Angela Gutiérrez que ressalta o valor da obra, fazendo referência a nomes que são comuns hoje, personagens ou imagens do romance, como Iracema, Caubi, Irapuã... e nomes de entidades como TV Verdes Mares, Rádio Iracema...

Pois bem, a história muito leve ressalta a virgem Iracema pertencente à tribo dos tabajaras filha do Pajé Araquém que é surpreendida ao se deparar no meio da mata com um jovem branco, Martim. Numa reação de surpresa ela o fere com uma flecha e pergunta como pode ele falar sua língua. Esse incidente apenas aguça a paixão que nasce entre ambos.

  Martim, de origem latina, procedente de Marte - o que pode significar "guerreiro", como aliás a obra revela.

Embora ele fosse aliado dos pitiguaras, inimigos mortais dos tabajaras, tendo um amigo indígena daquela tribo, Poty, considerado seu "irmão", Martim se hospeda na cabana de Araquèm, Pajé, pai de Iracema e lá nasce aquele romance, aquele desejo contido que vai crescendo.

Mesmo quando revela que está grávida, o Autor em alguns episódios ainda a qualifica de "virgem", chamando-a de esposa.

Como se deu o "casamento"?

Iracema, feita por ela, oferece uma bebida a Martim, "o vinho de Tupã" - a bebida sagrada dos tabajaras feita com a jurema. Ao tomar a bebida, "todos sentem a felicidade tão viva e contínua, que no espaço da noite cuidam de viver muitas luas".

Foi nessas "espaço da noite" que Martim faz de Iracema sua esposa mas pelo efeito da bebida ao acordar pensou que vivera apenas um sonho...

"Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras".

 Jurema: árvore com folhagem espessa, que produz fruto amargo que com outros "segredos" era produzida uma bebida alucinógena com os efeitos do haxixe e, dai as alucinações agradáveis, sonhos "tão vivos"... 

Martim, mesmo aliado dos Pitiguaras, permaneceu vivendo na aldeia Tabajara, suscitando a revolta por ser ele aliado dos inimigos e o ciúme de Irapuã que desejava Iracema.

O Pajé para assustar Irapuã furioso de sua cabana e o afastar do ataque a Martim,  pratica um truque que nada tinha de sobrenatural. 

Irapuã: mel redondo.

Com os cuidados de seu irmão Caubi, Iracema e Martim fogem para a aldeia dos pitiguaras e lá ele se depara com guerras entre as duas tribos, vendo ela com amargura o sangue de muitos de seus irmãos tabajaras.

A morte de Iracema fora anunciada por ela: 

- Guerreiro branco, Iracema é filha  do Pajé e guarda o segredo da Jurema. O guerreiro que possuísse a virgem de Tupã morreria.

Vi nessa frase o anúncio possível da morte de Martim se possuísse Iracema mas ele reage porque como guerreiro do seu sangue, "trazem a morte consigo".

Iracema sempre muito insegura, percebendo que Martim poderia estar saudoso de sua terra e de sua virgem loira.

Martim se afasta por "oito Luas"  (cerca de dois meses) em guerra com outras tribos, ao lado de Poty dos Pitiguaras.

Quanto volta trilhando os campos de Porangaba... "tem medo de chegar; e sente que sua alma vai sofrer quando os olhos tristes e magoados da esposa entrarem nele" 

Os latidos do cão Japi poderia ser de alegria.

Porangaba: entre outras origens, significa beleza;

● Japi: significa "nosso pé".

Ao se aproximar, encontra Iracema combalida, segurando o filho:

- Recebe o filho de teu sangue. Era tempo, meus seios ingratos já não tinham alimento para dar-lhe!

Iracema foi sepultada ao pé do coqueiro que ele amava.

Muitas vezes lá esteve Martim para "acalentar no peito a agra saudade".

Mas, o final profundamente real quanto inexorável:

"A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro: mas não repetia já o mavioso nome de Iracema".

"Tudo passa sobre a terra."

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O "poema em prosa" Iracema não é só isso. O pequeno livro tem muito mais do que essas linhas simples. Há todo um vocabulário dos termos indígenas.


Do mesmo Autor acessar:

SENHORA

TIL

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