Partam
do princípio de que eu não conhecia a obra nem por fragmentos e no
conjunto sou obrigado a confessar que não gostei da obra.
Como
o próprio festejado Autor revela, a “obra foi feita aos pedaços
na Revista Brasileira pelos anos de 1880”.
Esses
pedaços compuseram mais tarde o livro…
Por
causa disso é que encontrei capítulos que no meu conceito, apenas
preenchiam páginas, destoando da narrativa.
O
narrador que conta sua história post mortem fora batizado com
o nome de Brás Cubas. Seus pais, descendentes da família Cubas,
deram-lhe o prenome de Brás, o mesmo nome do capitão-mor que fundou
a Vila de São Vicente em São Paulo: “Brás Cubas”.
De
família rica, adorado pelo pai, a vida de Brás Cubas fora dum
desocupado, dum parasita como se disse nas páginas de introdução
do livro (*).
Mas,
na maturidade, sonhava em produzir o “emplastro Brás Cubas”
ideia que não prosperou porque morreu antes, por causa da moléstia
que o vitimou.
No
seu leito de morte, às vezes assistido por sua antiga amante,
Virgília, Cubas teve um delírio aparecendo para ele um hipopótamo
que o “arrebatou” começando então uma viagem no seu dorso cujo
destino seria, na verdade, “à origem dos séculos”.
Este
ingênuo leitor de poucas letras imaginou que o nome Virgília de
Virgílio e o hipopótamos, um animal poderoso poderia ser um
cicerone caricato em relação ao privilegiado guia de Dante
Alighieri, o filósofo, na Divina Comédia que o guiou nas plagas do inferno e do purgatório (**)
Teria
Virgília algo com Beatriz a musa de Alighieri que o conduziu pelo céu?
Seria
esperar demais, ora.
Nessa
sua vida de prazeres e riquezas conheceu a linda Marcela, “dama espanhola”
por que se apaixonou.
Vendo
as dívidas pelos presentes caros que Brás lhe dava, seu pai
interveio e o obrigou a estudar em Coimbra.
Ele
tentou levar Marcela na viagem, mas foi frustrado por seu pai.
Já
no navio, algo incomum: o capitão que tinha sua esposa a bordo muito
doente era dado a recitar poesias tendo Brás como ouvinte (!)
Ao
retornar ao Rio, um dia reencontrou Marcela, numa pequena loja. Com
dificuldade a reconheceu, então com rosto inchado por moléstia,
envelhecida. Tão logo pode Brás se afastou para encontrá-la anos
depois nos momentos de sua morte.
E
é aí que a Virgília se destaca porque apresentada como sua futura
esposa, dentro do que pensara o pai de Brás, em arranjar um
casamento e introduzi-lo na política.
Mas,
Virgília pensava em obter títulos de nobreza e por isso casou-se
com Lobo Neves político, indicado para um ministro, cuja nomeação
não se efetivou porque se deram algumas coincidências com o número
13 do qual era supersticioso.
O
amor entre Virgília e Brás se materializaria numa relação
adúltera intensa.
Para
facilitar os encontros, Brás aluga uma casinha na Gamboa, de bom
padrão e lá o romance floresce.
Esse
romance, então, se dá entre duas pessoas da sociedade, embora Brás
fosse um bon vivant, desocupado.
Depois
de algum tempo, o romance adúltero começa a ser percebido ou
desconfiado. Só o marido, Lobo Neves nada desconfia (!).
Brás,
começa a ouvir indiretas. Houve uma carta anônima remetida a Lobo
Neves que Borba e Virgília desmentem vigorosamente.
[Esses
rumores me lembram um pouco o que ocorre no romance de 1857 “Madame Bovary”
de Gustave Flaubert. Madame Bovary frequentava seus
amantes às claras; a comunidade sabia de seu adultério menos o
marido médico Carlos Bovary que ela desprezava.] (***)
Outra
noiva lhe é apresentada, D. Eulália mas ela falece prematuramente
aos 19 anos de idade.
Mais
tarde já nas páginas finais, a obra apresenta Brás Cubas como
deputado, sem explicar como guindara ao posto.
E
insere um novo personagem Quincas Borba, que pregava uma nova
filosofia, o humanitarismo.
Borba
quase um indigente, ao se encontrar com Brás, furta seu relógio.
Mais tarde, após receber uma herança devolve outro relógio, não o
mesmo que subtraíra de Brás, porém.
O
humanitarismo exposto é constituído de frases interessantes e um
tanto mundano:
— Imagina, por exemplo, que eu não tinha nascido, continuou o Quincas
Borba; é positivo que não teria agora o prazer de conversar
contigo, comer esta batata, ir ao teatro, e para tudo dizer numa só
palavra: viver.
Quincas
Borba passa a exercer forte influência sobre Brás.
Depois
de viajar para Minas, quando volta revela distúrbios mentais e
tempos depois morre semidemente na casa de Brás Cubas.
Brás
Cubas, por sua vez, morre externando amarguras por não ter
concretizado o sonho do emplastro que levaria o seu nome, o “divino
emplastro” que lhe daria o “primeiro lugar entre os homens,
acima da ciência e da riqueza porque era a genuína e direta
inspiração do céu.”
Pelo
que, “o acaso determinou o contrário e aí vos ficais
eternamente hipocondríacos”.
E
também, nas últimas linhas do livro, ao chegar a “este lado do
mistério” (porque falecido) achou-se com um “pequeno saldo” no
derradeiro capítulo de negativas:
-
Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa
miséria.
Machado
de Assis pelo seu personagem dândy pouco fala da escravidão,
apenas uns comentários esparsos — nos tempos de criança fora maldoso com eles — e se apresenta um tanto
preconceituoso com uma moça bonita, que lhe chamara a atenção e até se beijam, mas por ser coxa ele se afasta. Brás insiste em ressaltar
essa deficiência.
Livro "realista" e fantástico? Nem pensar!
Livro "realista" e fantástico? Nem pensar!
(*)
A edição do livro foi promovida por um cursinho (“Objetivo”) no
qual em notas de rodapé foram inseridos sinônimos de palavras sem
ou de pouco uso e também sobre autores da literatura “universal”
que Machado de Assis, mencionou à exaustão. Na introdução
assinada por Francisco Achcar ele afirma que Machado de Assis é o
maior escritor do Brasil na opinião de estudiosos da literatura
brasileira… não sei!
(**) Acessar: A DIVINA COMÉDIA
(***) Acessar: MADAME BOVARY
(**) Acessar: A DIVINA COMÉDIA
(***) Acessar: MADAME BOVARY