Livro 22
Sabem desses livros vendidos em grandes supermercados que vão ficando à deriva, olhados, quando olhados, com indiferença?
São muitos os que leem de tudo, mas eu ainda acredito que as redes sociais tomam tempo demais de leitores menos entusiasmados com livros mas que se empolgam com mensagens curtas, com fofocas e itens assim, de consumo fácil
Pois bem, numa dessas liquidações de livros, encarei um livro do ator negro americano Sidney Poitier, “Uma vida além das expectativas – Cartas para a minha bisneta”. Joguei de volta umas três vezes na caixa na qual continha outros tantos livros.
O que tem esse sujeito a transmitir?
Relutei, mas acabei comprando a obra não pelo preço baixo oferecido mas por curiosidade porque, afinal, quis saber o que tinha o ator a dizer.
A motivação do livro do ator fora sua bisneta já com dois anos de idade, então, e ele com mais de 80 anos.
Em 23 cartas à sua neta Ayele, conta o ator quase sua vida toda, suas imensas dificuldades com a pobreza extrema, sua baixa educação e, também, embora nascido circunstancialmente em Miami, sua vida até a adolescência fora vivida numa ilha, em Cat Island despojada, então, de qualquer infraestrutura mínima.
[Sim, existe essa Ilha e é hoje um dos distritos das Bahamas assim, como Nassau, a maior cidade, capítal do arquipélago das mesmas Bahamas].
Seus pais produziam tomates em Cat Island e um dos melhores adubos, relata o ator, eram os dejetos de morcegos obtidos em cavernas.
Ao se mudarem para Nassau, Sidney com mais de 10 anos de idade, pela primeira vez vira um automóvel pelo que significou para ele um misto de susto e surpresa: “um besouro imenso”- Aquilo é um carro, disse sua mãe.
Ao se mudar para Miami como cidadão americano porque havia nascido nessa cidade, enfrentando forte intolerância racial sem qualquer perspectiva, para sobreviver, passou a lavar pratos.
Mais tarde
Nessa vida de dificuldades uma curandeira profetizara que ele levaria o nome da família Poitier “por todo o mundo”. E assim foi...
Um aspecto que dei pela falta no livro, omitido, infelizmente, foi o que poderemos chamar de “o pulo do gato” para conquistar Hollywood como conquistou, tornando-se o grande ator que ainda hoje é Poitier, já com 90 anos (2017).
Mesmo numa época de racismo intenso nos Estados Unidos, ele ganhou o Oscar em 1964, pela sua interpretação no filme “Uma voz nas sombras”. E um Oscar honorário em 2002
O nível da segregação racial naqueles anos era radical e até homicida.
É o ator que relata um episódio de coragem de uma estudante negra nos idos da década de 60:
“...Chalayne Hunter-Gault, uma dos primeiros afro-americanos a frequentarem a Universidade da Geórgia em 1961. Ela suportou a animosidade que a certa altura incluiu um ataque de uma horda de segregacionistas ao seu dormitório com pedras e garrafas. A polícia da cidade teve que conter a multidão, mas ela se manteve firme com coragem...”
De lavador de pratos e semialfabetizado, o ator venceu com muito sucesso numa profissão de poucos, foi reconhecido e respeitado. Ele filosofa, opina sobre o mundo e explana sobre suas crenças, sobre Deus. Aliás, Poitier nascera prematuro, sua vida periclitou, mas sobreviveu pelo esforço de sua mãe. Ele dá a entender que sua vida foi protegida por Divindades.
O livro é bom.
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