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domingo, 16 de setembro de 2018

A GUERRA DO FIM DO MUNDO de Mario Vargas Llosa

LIVRO 50



O Livro de Mario Vargas Lhosa é um “tijolo”, um “pacote” com 790 páginas.

Diz o Autor no prólogo que o romance é inspirado em “Os Sertões” de Euclides da Cunha após ter conhecido a obra em 1972.

Para escrever seu livro Lhosa informa que fez pesquisas em Londres e Washington, em Salvador e Rio de Janeiro e andanças escaldantes pelos sertões da Bahia e Sergipe.

Com tais pesquisas conseguiu localizar em sua obra, os locais remotos, proximidades que onde se deram os eventos de Canudos e, nesse meio, desenvolveu o romance.

Essa pesquisa se constitui num trabalho surpreendente e excepcional.

Ele situa sua história nos episódios nas quatro expedições militares que se propuseram a pôr fim ao aglomerado de Canudos, a Antônio Conselheiro e seus seguidores.

Antônio Conselheiro fora uma figura incomum. Magro, cabelos compridos, chegando aos ombros, olhos fundos, de sandálias, vestindo túnica azul abraçara o catolicismo à sua maneira, transitando por aqueles sertões por anos reformando igrejas e cemitérios e com o passar do tempo foi obtendo seguidores.

Tudo isso tendo como uma das causas o adultério de sua esposa que fugiu com um militar.

Instalou-se em Canudos.

Canudos era monarquista. A República era o anticristo por tudo que modificava.

O primeiro combate se dera por causa dum boato de invasão dos jagunços de Antônio Conselheiro em Juazeiro porque Canudos havia comprado e pago madeira para construção de uma igreja, material que não fora entregue.

A ameaça da invasão dos jagunços resultou na organização de pequena expedição de soldados para destruir Canudos, mas destroçada inapelavelmente no combate.

A crise se agrava após o fracasso da 3ª expedição na qual fora vítima fatal o conceituado (e epiléptico) coronel Moreira Cesar, famoso pela sua truculência e atos heroicos.

Aos primeiros combates, para vergonha do coronel que ainda vivia mesmo com o grave ferimento a bala na barriga, houve a recuo de suas tropas e muitas deserções.

Por isso, no Rio de Janeiro houve empastelamento de jornais monárquicos, iniciando-se, então, a organização de nova campanha, desta vez que reuniu cerca de seis mil soldados.

As derrotas anteriores das forças oficiais têm explicações: o terreno acidentado e difícil de suplantar naqueles sertões, a seca e até a fome e a sede um inimigo sempre presente nas incursões. 

Do lado de Antônio Conselheiro a defesa de Belo Monte - Canudos, deveu-se à união de jagunços regenerados após ouvir os conselhos do “santo” que conheciam de sobejo a região, a caatinga e o que o terreno inóspito poderia ajudar nos ataques de surpresa às tropas.

Alguns desses jagunços, Lhosa explora e romanceia na obra:

. Pajeú, um bandido perigoso, “de bravura inexcedível e ferocidade rara”, nas expressões de Euclides da Cunha e também

. João Abade, astuto que assassinara a noiva fugindo do liceu onde estudava, tornando-se na defesa de Canudos o seu estrategista, o “comandante da rua”.

[Há outros personagens reais mencionados pelo Autor].

Com os casebres precários de Canudos e a certeza da acolhida muitos sertanejos miseráveis para lá buscava proteção para assumir uma vida religiosa ouvindo o venerado Antônio Conselheiro.

A resistência foi tanta que como disse Euclides, “Canudos não se rendeu”.

A tragédia debitou milhares de mortos de lado a lado. Por fim, Canudos foi invadida por milhares de soldados, destroçada a poder de obuses de canhões e mortos todos os seus inquilinos, ato classificado como verdadeiro genocídio.

Antônio Conselheiro, falecera dias antes, de disenteria. 

Seu corpo foi sepultado, exumado pelas forças oficiais e sua cabeça (cérebro) encaminhado para exame científico. Nada fora encontrado de relevante...


O Livro de Mario Vagas Lhosa é inspirado em 'OS SERTÕES" de Euclides da Cunha. Para um ideia do relato de "Os Sertões" acessar resenha n° 6.

É nesse ambiente que se desenrola a obra de Mario Vargas Lhosa.

E ele descreve bem a angústia dos moradores de Canudos, naqueles barracos quase sem espaço entre um e outro, pequenos corredores e becos., a marca da precariedade.

O Autor, no meu modo de analisar a obra ficou muito mais tempo no ambiente de Canudos sempre sob ameaça e menos no ambiente das forças oficiais que tentavam destruir a “comunidade”.

Os personagens fictícios de Llosa que interagiram com a realidade de Euclides:

GALILEO GALL, escocês, seguidor das ideias de Proudhon e Bakunin, anarquista, acreditava no fim da religião com a revolução que libertaria a “sociedade dos seus flagelos”. 

Para manter absoluta consciência dessa luta revolucionária, deveria abster-se do sexo de tal maneira que a mente se voltasse com mais energia a esses ideais revolucionários.

Desembarca na Bahia e não demora a saber da comunidade de Canudos. 

Pensa que, mesmo com o timbre religioso que a sustem, poderia ser Canudos a demonstração de sua crença política, um local sem governo, que despreza o dinheiro da República e todos viviam em verdadeira comunidade.

Pensando que fosse inglês ou fazendo acreditar que fosse, o Partido Republicano Progressista, engendrando uma conspiração, pretendendo “provar” que Canudos era sustentado pela monarquia inglesa, contrata Gall para fazer um carregamento de armas inglesas até lá, acusando-o mais tarde de ser um agente da Inglaterra.

RUFINO: seria seu guia até Canudos, mas assumira outra missão, adiando o compromisso com Gall. Este fica a sua espera em sua casa de pau a pique.
Passa um tempo e Gall violenta Jurema, esposa de Rufino.

Tem sentimentos de ter perdido parte de seu ideal porque se rendeu ao sexo.

Logo após, o presidente do Partido Republicano envia asseclas para assassinar Gall para provar que ele dispunha de armas inglesas e nessa circunstância propagando a efetiva participação da Inglaterra monárquica nas bases de Canudos.

Jurema o salva porque a vingança deveria vir de seu marido desonrado Rufino.

Os dois se encontram. Gall minimiza a violação sexual, enquanto Rufino busca sua honra.

Nessa luta ambos morrem abraçados com tiros de um militar maltrapilho.

E desaparecem na história.

JUREMA, O JORNALISTA MÍOPE e ANÃO:

Jurema após série de dificuldades segue para Canudos ao lado do jornalista míope que lá estava para acompanhar os acontecimentos da quarta expedição por conta do “Jornal de Notícias” que pertencia ao político Epaminondas Gonçalves do Partido Republicano Progressista,

Nasce aí uma relação de amor de mãe para filho um pouco mais do que isso, especialmente depois que o jornalista teve seus óculos quebrados e é conduzido por ela naqueles terrenos acidentados.

Lhosa inclui na sua história uma espécie de remanescentes de circo de Cigano mambembe que apresentava a mulher barbuda, o Anão, gigante Pedrim e outros que se perdem na história.

Apenas o Anão permanece e se liga a Jurema e ao jornalista.

O trio se protege, mas é Jurema a força da sobrevivência deles nas batalhas em Canudos.

Jurema e seus protegidos se desesperam quando Pajeú informa a Jurema que pretende com ela se casar. Mas, esse casamento não se realiza porque Canudos é destruída.

Salva-se o jornalista, mas o romance não revela os destinos de Jurema e do Anão aos quais estava intimamente ligado.

[Lhosa também descreve sua Quasímodo, personagem de “O Corcunda de Notre Dame”, livros de Victor Hugo, criando o personagem Leão de Natuba, pequeno monstro que andava de quadro, cabeça enorme, curvado mas muito inteligente que aprendera a lei sem qualquer ajuda muito protegido por Antônio Conselheiro].

Outros personagens:

PADRE JOAQUIM:

Padre aliado de Canudos, pai de filhos mas que rezava missas na localidade de Antônio Conselheiro e que pegou em armas para defender a comunidade.

BARÃO DE CANABRAVA E SUA ESPOSA ESTELA:

Político do Partido Autonomista da Bahia, oposição ao Partido Republicano Progressista, acusado por este de conspirar contra a República.

Depois, o barão se reconcilia politicamente com Epaminondas Gonçalves.

Ele era dono da área de Canudos.

A fazenda de Calumbi, de sua propriedade, que produzia, tinha empregados, com prévio aviso de Pajeú foi incendiada porque a terra “tinha que ser purificada”.

Sua amada esposa Estela, entre em colapso e perde a razão, traumatizada pela fazenda incendiada.



O livro tem MUITO MAIS do que isso nas suas 790 páginas.


|Acessar programa Literatura e Direito que debate o livro de Mario Vargas Llosa : https://www.conjur.com.br/2014-jun-27/guerra-fim-mundo-escritor-peruano-mario-vargas-llosa


quinta-feira, 2 de agosto de 2018

TIL de José de Alencar

LIVRO 49

O Livro foi escrito em 1872. Til é romance “regionalista” do Autor cuja história ocorre no interior de São Paulo, precisamente na região de Piracicaba, nas proximidades da confluência do Rio Piracicaba com Atibaia, na fazenda “das Palmas”.

Recebi mais tarde está informação preciosa:

"José de Alencar esteve em Piracicaba, residindo uma temporada na Usina Monte Alegre, onde criou a base para seu livro "Til", publicado em 1872. O título, aliás, é uma homenagem à forma sinuosa do Rio Piracicaba."

Quanto ao "til" referindo-se à sinuosidade do Rio Piracicaba, o livro não confirma essa informação como explico abaixo.

Os caipiras molharam a garganta “com um copázio da boa cachaça de Piracicaba...”
O Autor faz referência também a Santa Bárbara (d’Oeste?­) e Tanquinho um bairro rural de Piracicaba. E, também, Campinas.
Cearense de Fortaleza, sendo o interior de São Paulo o palco da história, há referência à força paulista, em meio à mata virgem, descortinando o deserto e rasgando a terra virgem desconhecida, “partindo pelos caminhos dágua as expedições que os arrojados paulistas levavam às regiões desconhecidas de Cuiabá”...  em busca do ouro.
O Autor sempre teve aquela fama de romancista meloso até porque Til fora escrito na primeira metade do século 19.
Então todo o recato, embora nas linhas da obra sobressaem cenas de sensualismo entre jovens namorados e numa outra cena, meio confusa há algum sentido de incesto "ilegítimo", claro que não consumado.
Uma descrição de corpo de adolescente se tornando mulher. Descrição recatada
“As formas da graciosa pubescência que um corpinho justo debuxaria em doce e palpitante relevo...”
E também a descrição de Berta sobre a amiga Linda:
“Quando ela ri faz cócegas no coração! Do corpinho nem se fala. Que cinturinha de abelha!” (?)
Til, é aquele sinal da língua portuguesa (~) que Braz, um deficiente mental, adolescente, se encantara quando tentado que aprendesse o alfabeto e a ler. E o til o fazia agir de modo insano já não bastassem outras ações próprias de sua doença:
“Súbito no mato soou um grito bravio, e logo após a voz estranha...
- Til!..  Til!..  Til!.. Oh!  Til!..”

 Gostei do livro pelo enredo que de certo modo me surpreendeu. 











A história tem um personagem principal: BERTA
Ela nascera de uma violência sexual.
Besita, mãe de Berta, era muito bonita mas desprezada por Luiz Galvão porque era ela pobre e porque seu pai não admitiria o casamento.
Besita casa-se com Ribeiro que nem se encerram as festas do casamento viaja para resolver negócios importantes. E fica muito tempo afastado do lar.
Uma noite, batem à porta de Besita, entra o “vulto” que ela pensou fosse seu marido mas era Luiz Galvão que a violaria.
Ao voltar o marido, à espreita, constata que a esposa tinha uma filha no colo.
Revoltado mata a mulher e tenta matar a criança, no caso Berta.
A escrava Zena ao ver a cena enlouquece.
Mas Berta bebê é salva por Jão.
A partir dali Jão, o Bugre, o capanga se torna alguém violento e é contratado por um assecla de Ribeiro para matar Luiz Galvão.
Ele, Jão, fora criando na fazenda Pilões, de Afonso Galvão, pai de Luiz Galvão.
Ao saber quem seria a vitima tenta desistir da incumbência, embora odiasse Luiz Galvão porque violentara Besita e por isso fora morta por Ribeiro.
Luiz Galvão era casado com Ermelinda e tinham filhos gêmeos Linda e Afonso.
Berta, criada por Nhá Tudinha, viúva, convivia com Miguel, filho dela. Eles eram apaixonados.
Mas, Berta com muita bondade, encaminhou Miguel para Linda que também amava o jovem, embora pobre.
Afonso se aproxima de Berta mas o romance não prospera porque, afinal, eram irmãos por parte de pai embora isso fosse um segredo.
Berta controla Jão e impede que ele mate Luiz Galvão.
Ela também ajudava muito o deficiente mental (idiota) Braz, sobrinho de Luiz Galvão, cuja mãe falecera de desgosto pelo seu marido e pelo filho que gerara.
Num dia em que estavam Linda, Afonso e Berta na casa dos pais dos gêmeos, Braz arremessou um cascavel pela, janela, no quarto daquela.
Mas, nas brincadeiras amorosas, Berta se esconde no quarto de Linda e se depara com a cascavel, mas o réptil não ataca a menina. Roça nas pontas dos seus dedos, avança sobre os braços da menina, sente cobra a sua maciez e Berta a doçura de uma carícia.
Aí, uma cena “sobrenatural”?
Outra cena não bem ordenada se refere ao ataque dos queixadas (espécie de porco selvagem) ferozes. Lá está Jão e Berta.
Jão sustem a menina em seus braços para preservá-la do ataque dos animais sentindo, então, todo o seu corpo jovem.
Quando conseguem se libertar, Jão controla um terrível “assalto” aos seus sentidos, o que poderia ser considerado uma tentação de natureza incestuosa.
E por quê?
Porque fora ele quem dela cuidara sempre e ela o aconselhava e o impedia de praticar ações violentas.
Mas, Jão, à ameaça que pesava sobre Berta, acabou assassinando Ribeiro sendo terrivelmente repreendido por ela pelo crime.
Ela não soube dos motivos dessa luta violenta.
Quando revelara a paternidade de Berta Luiz Galvão tudo fizera para reconhecê-la como filha. E com a concordância de sua esposa Ermelinda, que tempos antes passara a desconfiar de um segredo de seu marido até que tudo fosse revelado por ele.
Mas, ela recusou voltando-se para Jão que fora realmente o seu pai.
A partir daí, Jão passou a trabalhar na roça, serviço que não admitia porque era atribuição dos escravos.
A cena final do livro: Miguel está partindo para São Paulo para estudar - depois de dois se casaria com Linda.
Na despedida, Berta está abraçada a ele, que se afasta ao ver Braz atirado ao chão com convulsões. Diz:
- Não Miguel. Lá todos são felizes. Meu lugar é aqui, onde todos sofrem.
Aos soluços.


quarta-feira, 18 de julho de 2018

O HOMEM COMUM de Philip Roth

LIVRO 48

Philip Roth foi um escritor americano bastante prestigiado no seu país. Pela sua obra recebeu diversos prêmios importantes nos Estados Unidos.

Nascido em 1933, faleceu recentemente, em 22.05.2018. A grande imprensa ao noticiar sua morte, lembrou suas obras e os prêmios recebidos.

Dele, eu li há pouco “O Homem comum”, um livro composto de 131 páginas, fácil de ler.

A história se refere às dificuldades da velhice e a sempre iminência da morte. E das diferenças entre cada ser humano que são demonstradas no livro entre os irmãos.
























O personagem principal e narrador da história tivera uma infância feliz, vivida com um irmão mais velho, que sempre o protegeu, Howie.

Seus pais, judeus, trabalharam muito para manter o bem estar dos filhos. Seu pai era joelheiro e relojoeiro da pequena cidade de Elizabeth.

Ainda criança o narrador ajudava muito ao pai na joalheria fazendo entrega de alianças e diamantes.

E ainda criança, submeteu-se a uma cirurgia de hérnia, sempre com a presença de sua mãe no hospital.

Começam aí as diferenças com seu irmão mais velho, Howie. Este era saudável e, pelo relato, jamais se aproximara de um hospital que não fosse para cuidar do irmão e dos pais.

O narrador tornou-se publicitário de prestigio e se deu bem na carreira. Seu irmão já aos 30 e poucos anos obtivera, fazendo assessoria de câmbio e investimento em ação o seu primeiro milhão de dólares. Depois, amealhou 50 milhões de dólares fazendo “arbitragem cambial”.

Howie era casado havia décadas e era fiel. Era amado e respeitado por seus quatro filhos.

O irmão mais novo fora casado três vezes. No primeiro casamento tivera dois filhos que o odiavam pelo divórcio que se deu por sua infidelidade. O segundo, com Phoebe, com quem tivera uma filha, Nancy, que ele amava e era amado por ela, também acabou pela sua infidelidade com uma secretária no próprio escritório e com uma modelo dinamarquesa.

Perdendo Phoebe, mulher razoável que o amava, casou-se com a dinamarquesa, revelando o livro que tinham eles vida sexual anormal e, por isso, havia uma ansiedade de gozaram dessa volúpia.

Parece que o Autor Roth valoriza a estabilidade conjugal.

Do ponto de vista físico, enquanto seu irmão mais velho à medida que os anos passavam se mantinha ativo e saudável, o narrador passou a ter sérios problemas cardíacos, sendo submetido a seguidas operações e introdução de pontes de safena e dessas cirurgias, as marcas no seu peito e nas pernas.

E, ao chegar aos 60 e poucos anos, aposentou-se e foi morar na beira da praia, sozinho, passando a pintar quadros, porque tinha talento para tanto. Deu aulas para os vizinhos idosos e se afeiçoou a uma aluna que se  suicidou por não suportar as dores atrozes que sentia nas costas que a obrigava, para amenizar o sofrimento, deitar-se no chão por algum tempo.

Os outros alunos, idosos, todos tinham alguma doença, inclusive o câncer.

O autor demonstra as dificuldades que a idade avançada traz para a vida de muitos idosos.   

Nesse quadro mórbido, triste o enterro de seus pais, em solenidade judaica num cemitério semiabandonado e vandalizado.

O narrador rejeitava qualquer religião, uma mentira “que ele identificara ainda bem jovem.”

Quanto ao seu irmão é sintomático que numa de suas viagens com a esposa visitou o Tibete. O Tibete foi invadido pela China em 1950 quebrando toda a tradição mística daquele pequeno país, materialmente muito atrasado, então. Mas, até que ponto não existiria, ainda, aquele incentivo à meditação e ao recolhimento interior? (*)

Reagindo à solidão experimentada, fez contatos com  antigos colegas de trabalho ainda vivos e que sofriam de incapacidade física pela idade avançada.

Para destacar o evento morte e o enterro a 1,80 metros de profundidade da cova, foi um tanto enfadonho o diálogo que tivera com o coveiro no cemitério onde sepultados seus país num dia que lá esteve, só.

Novamente precisando de outra cirurgia cardíaca, resolveu que a anestesia seria geral de maneira a não saber o que se passava durante os trabalhos médicos.

Nesse procedimento não despertou. A parada cardíaca resultou no seu falecimento sem que se desse conta disso.




quinta-feira, 12 de julho de 2018

O JOGADOR de Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski

LIVRO 47




Aos apreciadores dos livros de Dostoiévski e que não estejam prevenidos, estranharão muito esta obra “O Jogador”.

Não tem a densidade de um “Crime e Castigo” ou “Recordações da casa dos mortos” (v. n° 34) e outros.

O Jogador” fora escrito às pressas para atender exigências dos editores.

A história gira em torno do cassino em Roulettenburg, Alemanha.

O Autor, dizem as biografias, era viciado nos jogos dos cassinos e a história pode ter muito de suas experiência, como se deu no livro "Recordações da casa dos mortos”, quando esteve preso em prisão na Sibéria por quatro anos.

Num dos primeiros capítulos, o narrador e principal personagem do livro, Alexei Ivanovitch em diálogo com a sua amada Paulina pode se dizer frívolo, tal sua submissão à mulher. Apaixonado.

Joga para ela no cassino, ganha e depois perde causando a ela um sentimento de perda.

Os personagens principais do romance são:

O General;

Alexei Ivanovitch, preceptor dos filhos do general;

Antonina Vassilievna, a vovó, tia do general e rica – 75 anos;

Paulina, enteada do general;

Mademoiselle Blanche, noiva do general;

Des Grieux, francês sofisticado, credor do general.

Mister Astley, inglês, tímido, que gostava de Paulina.

Tinha esperança o General que sua tia morresse logo possibilitando que recebesse sua herança e pusesse sua vida financeira em dia.

Há uma cena do General que chega à mesa de jogo e apostou. Ganhou. Não retirou o dinheiro da mesa, renovou a aposta e ganhou novamente. Manteve o valor ganho, mas a sorte mudou. Perdeu tudo.

Assim são as mesas de jogo e todos disso sabiam.

Por um irreverência praticada a um barão e esposa, criou-se um atrito entre o General e Alexei. Este é demitido e se desliga da “família” do General, ocupando pequeno apartamento no hotel.

Então inesperadamente chega até a cidade a vovó Antonina, intratável, impaciente que faz troça do general e de seus telegramas.

Pois, em vez de sua morte, veio ela “responder aos telegramas”. Ele tinha deficiências nas pernas e não andava.

Chama Alexei para apoiá-la e resolve jogar no cassino. Por uma série de vezes joga no “zero” e ganha uma pequena fortuna.

Alexis a aconselha a deixar de jogar, mas ela insiste então ele se afasta dela no cassino.

Depois de horas e horas, a vovó perde uma fortuna e é obrigada, para voltar à Rússia, a pedir valor emprestado do inglês Astley.

Alexei Ivanovitch, num dado momento se coloca à disposição de Paulina. Ele se surpreende ao encontrá-la em seu quarto. Houve a discussão sobre o perdão do francês Des Grieux de parte da dívida que fizera o General com ele.

Emocionado com a presença de Paulina que queria pagar a parte da dívida perdoada, Alexei corre ao cassino e joga de modo alucinado e sem pensar, sem nada calcular ganha pequena fortuna.

Quando volta, Paulina age estranhamente, de modo desequilibrado e sai do quarto.

É acolhida por Mister Astley.

Mademoiselle Blanche fica sabendo da fortuna ganha por Alexei e o convence a viajarem a Paris e lhe dar todo o dinheiro para que passassem a gozar vida temporária de desperdícios.

Essas concessões são inexplicáveis porque houve cenas naqueles dias em que Blanche demonstrava desprezo por Alexis. Mas, ele não se incomodava por isso.

No fim, meses depois, Alexei, arruinado, encontra Astley em Hamburgo para onde se mudara e fica sabendo que Paulina o amava e que vivia com a família do inglês – com ela não se casara (!).

Paulina recebera quinhão após a morte da vovó e tem vida estável.

O General aproximara-se de Mademoiselle Blanche em Paris e permanecera lá até morrer sendo bem cuidado por ela.

O inglês, antes de se despedir de Alexis, lhe dá algum dinheiro, não mais porque sabia que perderia no jogo.

...

Então, quando tinha apenas um florim Alexis volta ao cassino e ganha um valor importante para minimizar a sua penúria.

E se pergunta após constatar o significado do último florim que dispunha:

- E se eu me deixasse abater, se não tivesse tido a coragem de tomar aquela decisão?

Amanhã, amanhã, tudo acabará.












quarta-feira, 4 de julho de 2018

A DIVINA COMÉDIA (Paraíso) de Dante Alighieri

LIVRO 46

VER NOTA IMPORTANTE NO FINAL DO TEXTO

Depois do "Inferno" e "Purgatório" (*)

Quais as emoções teria algum mortal de se aproximar do céu, dos vários estágios de santidade?

Pois o relato do Autor revela sempre alta luminosidade dos espíritos que ofusca sempre sua visão mortal, um som musical enternecedor tudo inspirando exatamente a presença das santidades.

Afinal de contas, para chegar aos céus, beirando a Divindade máxima teria que revelar virtudes incomuns.

E é Beatriz, aquela sua amada e guia, de pureza angelical que conhecera em criança e preservara aquela imagem, o conduzia aos vários céus:

“Beatriz, capaz de ler meus pensamentos tão bem quanto os mesmos os conhecia, disse-me: “Teu espírito se deixa perder em raciocínio errado, pois julga-te ainda na Terra. Assim, não vês o que poderias estar vendo. Compreende que nem o raio desce tão veloz para a Terra quanto estas subindo ao Céu”.

Tratando-se a obra de Alighieri de “comédia”, os santos que conheceu na sua subida aos vários estágios dos nove céus, não revelaram o erro da crença no geocentrismo, teoria de que a Terra era estática e todos os astros e o sol giravam em torno dela.

Beatriz:

“O movimento universal, que mantém a Terra imóvel e faz girar ao seu redor os demais astros, daqui se endereça ao Universo inteiro”.

A teoria do geocentrismo foi formulada por Ptolomeu. O matemático Copérnico deu forma à teoria do heliocentrismo em 1543 que explicava que a Terra e os demais astros giravam em torno do Sol estático – que seria o centro do universo.

Nem o Sol é estático e ele se constitui pequena estrela no universo.

No geral, nos encontros de Dante com os santos nos vários estágios celestiais, havia forte influência católica.

Se pensada a obra hoje, ela seria considerada “feminista” tal a influência espiritual de Beatriz sobre o narrador e mesmo nos vários céus.















O Paraíso de Dante é composto de vários céus.

O 1º Céu, a Lua

O primeiro Céu é aquele que se concentra na Lua, por ser o astro mais próximo da Terra. E o mais distante do Empíreo (Céu).

Então, diz o narrador:

“Não tive a partir de então mais dúvida de que qualquer das partes dos céus é o mesmo Paraíso, e que, contudo, a graça divina não reside por igual em todas aquelas partes.”

Nem o Céu, então, seria igual para todos.

Nesse 1° Céu encontra Picarda Donati que lhe diz que num meigo sorriso:
“Seguimos aqui as leis da caridade, que Deus implica à Sua corte”.

E diz mais Picarda que é uma alma bem-aventurada, “apenas espero nesta esfera que é de todas a mais lenta”.

E que,

“A sorte que nos coube, que parece inferior, devemo-la uns ao mau cumprimento dos votos religiosos, outros ao esquecimento total de tais votos.”

 O 2º Céu, Mercúrio

Nesse Céu, o narrador se depara com Justiniano que diz ter sido eleito Cesar por inspiração do Espírito Santo e que expurgara “as leis que tinham de injusto e excessivo”.

E ele diz que,

“Nesta pequena estrela, muitos espíritos justos se esforçaram bastante no mundo para nele deixar honra e fama marcantes.”

Há, ainda, os esclarecimentos de Beatriz às dúvidas de Dante sobre a crucificação de Cristo.

Diz ela entre muitas reflexões, “eis que mais generoso mostrou-se Deus utilizando Seu sangue para redimir o homem do que só meramente lhe perdoasse”.

A redenção do homem tem a ver com o pecado de Adão, referindo-se à natureza humana que expulsa do Paraíso por sua culpa “pois afastou-se do caminho da verdade e da vida.”

O 3º Céu, Vênus

Informa a introdução desse céu que nele se encontram almas que embora suscetíveis ao amor físico, “foram agraciados com a salvação”.

Um dos espíritos que se apresenta ao narrador respondendo uma dúvida diz,

“O Bem que alegra este reino a que acabas de subir – Deus – faz com que a Sua obra, nestes corpos celestes manifestada, tornem-se virtudes aptas a influenciarem os mundos inferiores”.

Diz, também, dos diferentes nascimentos e pessoas diferentes. Faz referência, entre outros a Esaú e Jacó irmãos consanguíneos tão diferente. Porque “os céus giram e enviam influxos aos mortais, sem cuidar de qual casa em que venha a baixar esta ou aquela essência”.

Em outro ponto, uma outra alma emitindo luzes, fulgor se justifica dizendo que o fato de terem amado quando na Terra, foram amores esquecidos, preenchidos pelo amor divino que lhes dispôs Deus.

E no final, referindo à “flor maldita” que seria a moeda florentina. Por ela os Evangelhos foram abandonados pelos papas e cardeais, que passaram a consultar e seguir a Decretais, conjunto de leis canônicas e jurídicas.

O 4º Céu, Sol

Neste Céu, pela influência do Sol, Dante destaca a radiante Beatriz que tornara-se resplandecente em altíssimo grau.

Ali aproximam-se almas diversas, inclusive de Salomão, irradiando altíssimo brilho, porque “tão alta foi sua mente, tão vasto e profundo o seu saber, “que certo quanto a verdade outro igual não se ergueu na Terra.”

Porém, Salomão mesmo não se manifesta.

Quem se aproxima é Santo Thomaz de Aquino que relata a Dante a história de São Francisco de Assis que “muito jovem entrou em conflito com o pai por amor daquela dama (a pobreza) à qual assim como a morte ninguém abre a porta com prazer.”

São Thomaz de Aquino também reflete sobre a sabedoria de Salomão: pedira ele a Deus essa sabedoria para discernir entre o que um rei digno deve praticar e o que não deve.

São Boaventura também se manifesta narrando a história de São Domingos. Servo de Cristo, que ama muitas vezes prostrado em terra desperto e silencioso, como a dizer: ‘Para isto fui destinado!”

O 5º Céu, Marte

Este é o céu do que lutaram em prol da Igreja.

Destaca-se a presença do trisavô de Dante que revela que lutara na guerra “contra o infiel que usurpa o vosso direito na Terra Santa, por culpa do pastor que a negligencia. Por aquela torpe gente fui tirado ao mundo, pelo martírio da morte subi ao Paraíso, encontrando a paz eterna”.

Cacciaguída, esse era o seu nome, informa ao narrador que o seu bisavô cumpria suas penas ainda no purgatório.

Estranha as mudanças nos costumes de Florença que “vivia em paz, casta, sóbria, cingida por antigos muros dentro dos quais fora erguido templo que mesmo hoje assinala a passagem das horas!"

Sobre Dante, vaticina que ele será exilado de Florença, sofrerá com essa ausência como já ouvira em sua passagem pelo inferno e purgatório.

Mas, diz o seu trisavô sobre seu exílio forçado de Florença por embates políticos:

“Porém, não deves invejar a teus conterrâneos, pois o teu renome há de ultrapassar em muito o tempo em que as perfídias daqueles receberão o merecido castigo”.

O 6º Céu, Júpiter

Nesse Céu habitam as almas dos príncipes bons. O símbolo da Justiça divina é a águia cujas asas são compostas por almas luminosas.

Um conceito importante transmitido pela águia se refere aos limites impostos aos extremos do mundo e nesse entendimento há coisas que são e que não são do “nosso conhecimento” e no Universos algo ao homem que permanece inexplicado, “pois não pode a vossa razão por sua natureza, entender Deus para além daquilo em que Ele próprio desejar”.

“Ó predestinação”. E vós mortais, hão de cuidar dos julgamentos, porque nem mesmo sabemos dos Seus eleitos.

A águia continuou:

“Jamais subiu a estes reinos quem não acreditasse em Cristo , nem antes nem depois que Ele fosse cravado ao lenho. Não obstante, há muitos que, embora bradando ‘Cristo! Cristo!’, quando levados a juízo serão mandados para lugares mais afastados do que muitos que não O conheciam”. 

O 7º Céu, Saturno

Nesse céu estão as almas que praticam a contemplação.

À medida que avançavam nas várias escalas o fulgor que Beatriz emitia em sua santidade poderia até mesmo causar males físicos no narrador, até mesmo se risse, “pois minha formosura conforme pudeste verificar, aumenta à medida que subimos os degraus dessa eterna escada.”

Dante dialoga com São Pedro Damião e aqui também há a preocupação com os mistérios da predestinação. Considera, pois, não ser possível entender na Terra aquilo que não se pode compreender nem no Céu”.

Disse ele que se dedicou ao serviço divino, alimentando-se parcamente e de azeite, suportando alegremente o verão e o inverno em contemplação.

Hoje, diz ele, os pastores modernos sempre precisam ter servos por perto para ajudá-los tão gordo ficam, para se manterem de pé.

São Benedito também se aproxima e na sua preleção também estranha os novos tempos em que suas regras monásticas, inúteis, jazem no papel.

“Tornaram-se espeluncas os muros que serviam de abadia, e o capuz monástico, transformou-se em saco para farinha de má qualidade”.

O 8º Céu, Estrelas fixas

Neste Céu, Dante pode ver o esplendor de Cristo, chamado de “a bela flor” (A Rosa mística): “Vi essa viva estrela, maior em grandeza e luzimento, que todos as outras supera, no Céu e na Terra”.

Responde o narrador a São Pedro sobre a fé, “que é a substância do que se espera e argumento que, mesmo sem prova, leva à convicção”.

São Tiago o interroga sobre a esperança. Respondeu Dante, o narrador: “A esperança é o aguardar sem nenhuma dúvida, a glória futura, por efeito da graça divina e do mérito precedente”.

De São João Evangelista, o que entendia Dante sobre a caridade: “... a divina essência da caridade é por tal modo avantajada que todo e qualquer bem porventura existente fora dela não será senão reflexo pálido de sua virtude”.

Por fim, São Pedro mostra sua indignação contra os desvios da temporal, aqueles que usam vestes de pastores, mas são lobos vorazes que ocupando os currais. E proclama o santo: “Ó cólera divina, por que não te fizeste sentir ainda?”.

O Céu - Empíreo

As descrições do Céu são de irradiação de luzes intensas de difícil fixação pelos olhos humanos.

Beatriz é substituída por São Bernardo como guia de Dante.

Há o enaltecimento de Maria como figura gloriosa no Céu.

Os anjos também habitam o Empíreo.

Autorizado a encarar Deus com seus olhos mortais, ele diz que viu “unido pelo amor em um ser único tudo quanto contém o Universo”.

“Na profunda e clara essência de Deus, três círculos surgiram, parecendo de três cores distintas, mas de uma só conformação”. (Refere-se ao Mistério da Unidade e da Trindade Divina).

(*) Resenhas:



Esta resenha e comentários foram atualizados e republicados conforme o livro de Dante Alighieri num único texto, a saber: Inferno, Purgatório, Paraiso.


sábado, 16 de junho de 2018

AGOSTO de Rubem Fonseca

LIVRO 45

Este livro inspirou série de TV.



Escrito numa linguagem direta, a obra adota linha com poucos desvios na narrativa, isto é, o Autor não deu espaço a descrições, por exemplo, de locais dos eventos, se havia sol ou não. os detalhes da beleza de uma árvore. Aquela intervenção meio poética encontrada na maioria das obras.

Assim, a narrativa avança com facilidade mesclando ficção e realidade.

A ficção se refere às ações policiais, destacando-se os atos do comissário incorruptível Alberto Mattos que começa a investigar o assassinato brutal do empresário Paulo Machado Aguiar Gomes, cuja esposa apaixonara-se pelo empresário Pedro Lomagno.

Mattos tinha uma avançada úlcera estomacal com risco de agravamento pela eclosão de hemorragia. Sofria muito com a doença.

Lomagno era casado com antiga namorada do comissário, Alice, que o abandona passando a viver nos últimos tempos no apartamento de Alberto Mattos.

Mas, este, tinha Salete que o amava, mas sustentada por outro personagem. Com o tempo, Mattos começou a reconhecer que também gostava dela e a preferia e não Alice, que tinha alguns distúrbios mentais.

As pesquisas criminológicas concluíram que o assassino do empresário Aguiar Gomes seria um homem negro.

No começo o comissário pensou que o assassino fosse o guarda-costas de Getúlio Vargas, Gregório Fortunato (personagem real, histórico para dar mais autenticidade à ficção) mas depois percebeu o engano.

Alberto Mattos, considerando as condições precárias das celas em sua delegacia, libertava no seu turno os presos recolhidos no turno anterior.

Essas celas ficaram de tal modo lotadas, muito além de sua capacidade até que, num certo dia, já decidido a deixar de ser policial para voltar a advogar, libertou todos, mesmo os já condenados.

É que as celas exalavam odor insuportável, mistura de suor, hálito e sujeira das celas.

Pelo modo como agia em suas investigações, indispôs-se com um banqueiro do jogo do bicho que, não aceitando a humilhação que a ele impusera o policial, contratou pistoleiro para assassiná-lo.

Voltou atrás por pressão de outros banqueiros do bicho, mas não conseguiu encontrar o pistoleiro.

Este chega ao apartamento do policial, mas é detido por ele e preso.

Depois, o pistoleiro seria assassinado por outro policial que não deixou vestígios do crime, somente a desconfiança de Mattos.

Mattos, na continuidade de suas investigações chegou ao senador Freitas, um homossexual exacerbado que poderia ser o mandante do crime do empresário Aguiar Gomes. Havia negociatas envolvendo o senador que o empresário sabia. Sabia demais.

Clemente, secretário do senador contrata um pistoleiro para “liquidar” o comissário.

Já não mais policial após libertar todos os presos, com o agravamento de sua úlcera, chamara Salete para levá-lo ao hospital. Nesses preparativos, batidas na porta do apartamento. Salete abre a porta e se depara com um homem negro, forte. 

Era o pistoleiro.

Antes que agisse, Mattos lhe entrega um anel com a letra F que retivera quando estivera na cena do crime do empresário Aguiar Gomes.

O pistoleiro Chicão reconhece como seu o anel de ouro e volta a colocar no dedo.

Não poupa nem o comissário e nem Salete, assassinando os dois.

Na ficção há muitos outros personagens e episódios interessantes. A leitura fácil, com capítulos bem divididos entre a ficção e a realidade, incentivam conhecer o desfecho da trama.

No trato da parte histórica, o agosto de 1954 ficou marcado pelo suicídio de Getúlio Vargas.

A origem do agravamento da crise política se dera com o atentado a Carlos Lacerda na rua Tonelero no dia 5 que recebeu um tiro no pé mas um outro fora fatal, atingindo o major-aviador Rubens Florentino Vaz. O militar fazia a segurança de Lacerda.

Lacerda, opositor ferrenho de Getúlio, pelo seu jornal, demolidor nos seus discursos não poderia continuar vivendo e criticando o presidente como fazia.

Com o atentando que resultou na morte de um militar as Forças Armadas que se mantinham acompanhando os eventos políticos, garantindo a ordem constitucional, assumiram o inquérito juntamente com a polícia.

Tudo levava a crer que o atentado partira do Catete, por ordem de Getúlio. Falava-se de um “mar de lama” no palácio.

Mas, as investigações levaram aos culpados. O plano fora estabelecido por Gregório Fortunato, fidelíssimo chefe da segurança de Getúlio que contratou alguns capengas. O 'pistoleiro', um marceneiro desempregado Alcino João Nascimento que disparou os tiros. O major Vaz foi alvejado porque avançara contra o pistoleiro, segurando a arma. E nessa ação, foi atingido por dois tivos. Envolvido, também, diretamente no atentado, um certo Climério de Almeida membro da guarda de segurança de Getúlio.

Todos foram presos e condenados.

Nesse meio tempo, porém, os militares às vezes um pouco indeciso resolveram que Getúlio deveria renunciar.

A solução fora o afastamento temporário de Getúlio, assumindo o vice Café Filho. Mas, se sabia que esse afastamento, na realidade, significava a deposição do presidente.

Getúlio dizia que só sairiam do Catete morto.

No dia 10 com um tiro no peito, praticou o suicídio.

Houve distúrbios populares, jornais depredados, vandalismos, a ação policial severa no Rio de Janeiro.

O Autor, no relato desses episódios, insere detalhes pouco explorados, como discursos a favor e contra Getúlio, tornando a leitura atraente. Afinal, aqueles episódios dos primeiros 15 dias de agosto de 1954 seriam peça de ficção bem engendrada, não fossem reais.