Livro 58
O Livro foi publicado em 1888. Não o tenho como de fácil leitura. É que Autores do século XIX, pelo que tenho visto ou lido, se valem de vocabulário e constituição de frases, mais compreendidas no seu tempo,
Então, por vezes, paro numa frase tentando captar o sentido e não raro passo por ela e vou em frente buscando o conteúdo da obra.
Uma dessas frases (parte): “...improvisou como Desmostenes, inundou a arena, ou degraus do trono, as ordens todas da arquibancada até a oitava, com a mais espantoso chorrilho de fecúndia que se tem feito correr na terra.”
Outra característica que chegou à exaustão, como se deu em “Memórias Póstumas de Braz Cubas” de Machado de Assis, são as referências no texto, citando autores da época ou clássicos, ou da mitologia, frases em latim o que obriga em muitas dessas citações buscar o sentido da frase ou da palavra.
Na edição que li, chegou a 168 notas. Não é pouco.
Sem ler antes a biografia do Autor, mas apenas descobrindo o conteúdo da obra, houve momentos muito maçantes a ponto de ameaçar seriamente a deixar o livro de lado e buscar outro com significado mais apropriado às minhas expectativas.
Mas, então, ao ler a biografia se descobre que o Autor praticou o suicídio com 32 anos de idade no Natal de 1895.
Ademais dos 10 aos 16 anos fora ele, o Autor, estudante de internato.
E a obra “O Ateneu” se refere aos tempos de internato do personagem narrador da história, Sérgio.
Há estudiosos que no livro atestam haver muito de biográfico do Autor.
Sérgio fora aluno interno no Ateneu por dois anos, matriculado aos 11 anos.
O livro começa a pontificar a vaidade do diretor, o professor Aristarco.
Discurso no qual o professor Venâncio o homenageia:
“Acima de Aristarco – Deus! Deus tão somente; abaixo de Deus – Aristarco!”
Embora “comerciante” porque dono do internato, não era indiferente aos alunos. Há momentos em que ele apoia alguns em suas dificuldades. Não poucas vezes, os mais destacados são convidados a almoçarem em sua residência.
Não há meias palavras: o livro em momentos vários faz referência ao homossexualismo.
Mas, o colega Rabelo desde logo orientara Sérgio a ser forte, a ser homem; “os fracos perdem-se”.
Sérgio, é assediado pelo seu instrutor Sanches, aluno mais velho que o ajudava nas lições. Num certo momento desses contatos, Sanches passou a abraçar Sérgio pelos ombros e até o convidando que sentasse em seus joelhos.
Mas, Sérgio passou a ter asco do colega mais velho e dele se afastou.
Outra relação de íntima amizade se deu entre Sérgio e Bento Alves. Este se tornara “célebre” por deter um assassino – um jardineiro - que matara um desafeto dentro do colégio, por causa de disputa do amor da jovem Ângela, que trabalhava na escola.
Então, Sérgio e Bento Alves se aproximaram muito a ponto deste remeter flores ao narrador.
Num momento dado, porém, Bento Alves parte para cima de Sérgio, dando-se uma briga sem explicações, mas a ilação que se pode fazer é que o agressor reconhecera tratar-se de “amor impossível”.
Ao ser questionado por Aristarco que explicasse a briga havida Sérgio, transtornado ao afirmar que fora atacado primeiro agride o diretor, ao que ele diz:
– Criança, feriste um velho.
E depois:
– Ah! Meu filho, ferir a um mestre e como ferir o próprio pai e os parricidas serão malditos.
Esse incidente não teve consequências.
Sérgio também manteve estreita amizade com Egberto, aluno aplicado, “bonito” mas com o tempo esse relacionamento esfriou.
Mas, nos seus momentos de solidão, Sérgio encontrava a paz e a fé na Santa Rosália cuja imagem ele tinha num cartão, numa figura.
Mas, nos seus momentos de solidão, Sérgio encontrava a paz e a fé na Santa Rosália cuja imagem ele tinha num cartão, numa figura.
Eventualmente, ao longo do relato, Ângela reaparecia, sensual, provocando à distância os alunos.
Mas, a figura mais emblemática é Ema, esposa de Aristarco que se afeiçoou muito a Sérgio.
Quando ele doente, o nível de carinho se excedeu. Ela dele cuidava com um “filhinho” mas àqueles que interpretaram a obra, dizem que essa relação fora tal qual o conceito do “complexo de Édipo”.
Não para mim, porque havia reciprocidade, beirando o incesto se tal se aplica num caso desses.
A registrar que Sérgio se ressentia da falta de afeto da mãe que viajava pelo exterior.
[Há autores que ligam essa Ema do “Ateneu” com aquela da obra “Madame Bovary” de Gustave Flaubert cuja personagem é, exatamente Ema Bovary que fora tragicamente infiel ao seu marido Carlos.](*)
Então, poderia haver uma ligação entre as duas “Emas” no que se refere à infidelidade.
Ainda se recuperando da doença Sérgio assiste a incêndio devastador do Ateneu que o destrói quase que inteiramente.
Aristarco derrotado recebe apoios, mas a escola está destruída.
E então:
“Que vale a estátua se não somos nós?”
O que vale uma estátua, talvez pensasse Aristarco tão vaidoso.
Incêndio debelado se descobre que o incendiário fora Américo que desviara dutos de gás. Américo desaparece.
E desaparece Ema, a esposa de Aristarco.
O livro é constituído, também, de textos monótonos, explanações confusas, descrição de excursões, grandes festas e solenidades com detalhes que se perdem no inexpressivo.
Li até o fim mais por teimosia e menos pela arte.
Li até o fim mais por teimosia e menos pela arte.
MORAL DA HISTÓRIA: Num livro de menor expressão como é "O Ateneu", se sobressai a opressão do internato, o "bullying sexual vitimando os alunos menores, relatos de festas fastidiosas e excursões monótonas, culminando com punição ao diretor vaidoso ao ver seu estabelecimento sob fogo. A presença de Ema, esposa do diretor, adúltera, um pouco mãe, um pouco amante, numa relação incestuosa ou edipiana com o narrador Sérgio. Ela mais humilha o diretor vaidoso ao abandoná-lo. A religiosidade de Sérgio, a solidão, as amizades íntimas havidas com colegas que não avançaram além da...amizade. Esse o clima do Ateneu.
(*) “Madame Bovary”, acessar: