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domingo, 29 de maio de 2022

O FIO DA NAVALHA de W. Somerset Maugham

LIVRO 94



 

O escritor consagrado, inglês (1874-1965) é autor de vasta obra.

O livro é de 1944. "O fio da navalha" foi filmado em 1946.

A edição que está comigo tem 440 páginas.


Há muitos anos li esse livro porque me dissera que havia uma "discussão" afinal não resolvida sobre aquele velho tema que a todos intriga: o sentido da vida.


E a quem é revelado o essencial da vida, suas contradições, suas diferenças e suas exigências?


De regra, o livro pelo seu enredo, constitui-se leitura agradável embora, digamos, irrite um pouco os detalhes expostos sobre a vida fútil de um dos principais personagens (Elliott) - talvez uma estratégia do Autor - e também descrições de caracteres de todos eles, de modo exaustivo. De uma das personagens, foram tomadas duas páginas de descrição física destacando também sua beleza (Isabel).

A história se desenrola após o encerramento da 1º Grande Guerra (novembro de 1918) até se aproximar dos tempos em que já a 2ª guerra mostrava fortes sinais de eclosão.

Seus principais episódios se dão em Chicago, Paris e Londres. 


Pois bem, nesse romance, o próprio Autor se coloca como um dos personagens compartilhando com suas riquezas, angústias e fraquezas.

Então, pelos personagens tentarei transmitir a essência do que retive do livro.


Personagens



O próprio escritor Maugham


Começa informando que tivera projeção num romance que escrevera e, de passagem por Chicago, entrevistado, chamou a atenção de Elliott Templeton. A partir dele o Autor-personagem  se envolve na sociedade e conhece a família de Elliott, sua irmã Mrs. Bradley e sua sobrinha Isabel.


Também Larry personagem que teria papel fundamental no romance.



Elliott Templeton



A atividade básica de Elliott  era a de intermediar a venda de obras de arte.

É descrito como um personagem esnobe, superficial, afetado, afeito a patrocinar e aproveitar inumeráveis almoços e jantares da alta sociedade fosse americana, parisiense, londrina... 

Tudo para ele se referia à linguagem do dinheiro e à manutenção desse seu status perante a sociedade, preocupando-se com roupas esmeradas e às boas maneiras de modo exacerbado.

Escapou da quebra da bolsa de Nova York em 1929 porque se antecipou nos seus vencimentos e, a partir daí foi enriquecendo (!)

Seu nível elevado de riqueza permitiu que tivesse um apartamento em Paris e uma residência luxuosa que construíra na Riviera francesa.

Sua riqueza permitiu que sustentação sua sobrinha Isabel e seu marido Gray Maturin quando este e seu pai faliram como decorrência da quebra da bolsa de Nova York.


Então, fútil mas generoso.


Levando essa vida de ostentação, requintada, doente, sofrendo com a indiferença dos seus conviventes sociais, ao falecer, em seu testamento, exigiu que fosse sepultado com a fantasia inspirada no que fora a vestimenta de um ancestral. 

Era solteiro, não demonstrara interesse pelo sexo oposto. O Autor o leva a superar, parece, esse interesse pela vida "tola" que levava Elliott.


Mas, a ironia é que o Autor o seguindo tantas vezes nas suas manias, recepções, almoços e jantares participou frequentemente dessa vida tola...



Isabel



Sobrinha  de Elliot, filha de Louise Bradley, viúva que tinha cuidados especiais com a filha.

Isabel amava Larry, seu noivo que não queria trabalhar e, como diz o livro, apenas "vadiar". 

Então, havia uma pressão  para que seu noivo, afinal, trabalhasse para conquistarem um casamento rico.

Aliás, seu amigo Grey Maturin que trabalhava com seu pai Henry, milionário comandando um escritório de investimentos, o convidara a trabalhar no escritório com ele.

Grey morria de amores por Isabel.

Mas, Larry não aceitou o emprego e ficou meio à margem do conjunto social e da influência de Elliott que deseja um casamento faustoso para a sobrinha, pensando na repercussão social.

Larry um dia ofereceu o casamento a Isabel, mas levando uma vida simples, ambos vivendo com uma renda anual de 3 mil dólares que ele fazia jus. Uma vida sem ostentação, sem futilidades.

Não aceitando, Isabel se casou com Grey mas sempre amando Larry.

Foram pais de duas meninas.


Os Maturin faliram de modo irremediável com a quebra da bolsa de Nova York.

Sem emprego e sem recursos, o casal foi ajudado de modo generoso por Elliott que o fez mudar para um apartamento que tinha em Paris enquanto Grey procurava emprego.

 

Com a morte do tio, Isabel herdou razoável fortuna e o casal mudou-se para Dallas - Texas onde Grey iniciaria, um novo empreendimento, aplicando o dinheiro da esposa.

Quando Larry anunciou que se casaria com Sophie uma moça conhecida desde a infância de ambos, mas que se perdera frequentando os cafés e cabarés mal afamados de Paris, Isabel ficou transtornada e armou um ardil para que a moça se embriagasse no dia de escolher o vestido, fugisse do casamento e voltasse à vida anterior, bebendo, até ser assassinada.



Larry



Esse personagem é o contraponto de toda a futilidade da vida dos demais personagens.

Falsificando a idade, pelo Canadá, foi para a guerra, como aviador.

Nas missões, viu a morte de um amigo, também aviador, que morrera após o salvar.

Essa tragédia fê-lo mudar de atitude e pensara a partir desse trauma encontrar razões para a própria vida.

Dai o desejo de "vadiar". 

Permanecia horas estudando línguas, inclusive algumas orientais.

Saiu pelo mundo, trabalhou em mina de carvão, com todos os percalços de convivência com um companheiro polonês desbocado, mas culto, com mulheres de seu alojamento...


Mas, foi na Índia que teve experiências espirituais que mexeram com sua interioridade.

Num ritual que lá aprendera, curara a "terrível" enxaqueca que atormentava seu amigo Grey.

Em contato com Shri Ganecha (shri, termo de respeito ao praticante da espiritualidade, entre outros), vendo nele santidade, apreendeu sobre princípios da vida terrena, da maldade - porque existir esse jogo do bem e do mal promovido pelo Absoluto? -, da falta de respostas que a existência impõe, a questão da reencarnação cujo objetivo dessa sequência de vidas, muitas com sofrimento se perde no silêncio da alma...


Mas, o personagem descreve nesse clima místico, um êxtase de felicidade espiritual ao contemplar a beleza das montanhas e da floresta quando na Índia:


"Felicidade tão intensa que chegava a ser dolorosa, procurei libertar-me dela, pois sentia que se durasse mais um momento, eu morreria: e no entanto era um êxtase tão grande que seria preferível morrer  a ter que renunciar a ele." 


E onde estaria Larry, no final da história com seu desprendimento, pela renúncia à "glória" e à riqueza?

Talvez empregado numa oficina mecânica ou motorista de taxi em Nova York.



O livro não é só isso, isso é muito pouco. Como disse o livro beira a 450 páginas.





 




quinta-feira, 12 de maio de 2022

IRACEMA de José de Alencar

 LIVRO 93


Nos meus tempos de ginásio (ou antes), o encanto destas frases que dão início ao romance Iracema escrito em 1865:

Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;

Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;

Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.

Significados de palavras tupis-guaranis expostos pelo Autor em suas "Notas":

 ● Iracema em tupi-guarani significa lábios de mel

 ● Jandaia se refere a "periquito grasnador" que como explica o Autor, deu origem ao nome Ceará que "na língua indígena", segundo a tradição, "significa o canto da Jandaia.

Diz Machado de Assis, em sua crítica à obra Iracema que se trata de poesia em prosa, uma obra prima.

Na edição que tenho em mãos, há notas introdutórias da professora Angela Gutiérrez que ressalta o valor da obra, fazendo referência a nomes que são comuns hoje, personagens ou imagens do romance, como Iracema, Caubi, Irapuã... e nomes de entidades como TV Verdes Mares, Rádio Iracema...

Pois bem, a história muito leve ressalta a virgem Iracema pertencente à tribo dos tabajaras filha do Pajé Araquém que é surpreendida ao se deparar no meio da mata com um jovem branco, Martim. Numa reação de surpresa ela o fere com uma flecha e pergunta como pode ele falar sua língua. Esse incidente apenas aguça a paixão que nasce entre ambos.

  Martim, de origem latina, procedente de Marte - o que pode significar "guerreiro", como aliás a obra revela.

Embora ele fosse aliado dos pitiguaras, inimigos mortais dos tabajaras, tendo um amigo indígena daquela tribo, Poty, considerado seu "irmão", Martim se hospeda na cabana de Araquèm, Pajé, pai de Iracema e lá nasce aquele romance, aquele desejo contido que vai crescendo.

Mesmo quando revela que está grávida, o Autor em alguns episódios ainda a qualifica de "virgem", chamando-a de esposa.

Como se deu o "casamento"?

Iracema, feita por ela, oferece uma bebida a Martim, "o vinho de Tupã" - a bebida sagrada dos tabajaras feita com a jurema. Ao tomar a bebida, "todos sentem a felicidade tão viva e contínua, que no espaço da noite cuidam de viver muitas luas".

Foi nessas "espaço da noite" que Martim faz de Iracema sua esposa mas pelo efeito da bebida ao acordar pensou que vivera apenas um sonho...

"Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras".

 Jurema: árvore com folhagem espessa, que produz fruto amargo que com outros "segredos" era produzida uma bebida alucinógena com os efeitos do haxixe e, dai as alucinações agradáveis, sonhos "tão vivos"... 

Martim, mesmo aliado dos Pitiguaras, permaneceu vivendo na aldeia Tabajara, suscitando a revolta por ser ele aliado dos inimigos e o ciúme de Irapuã que desejava Iracema.

O Pajé para assustar Irapuã furioso de sua cabana e o afastar do ataque a Martim,  pratica um truque que nada tinha de sobrenatural. 

Irapuã: mel redondo.

Com os cuidados de seu irmão Caubi, Iracema e Martim fogem para a aldeia dos pitiguaras e lá ele se depara com guerras entre as duas tribos, vendo ela com amargura o sangue de muitos de seus irmãos tabajaras.

A morte de Iracema fora anunciada por ela: 

- Guerreiro branco, Iracema é filha  do Pajé e guarda o segredo da Jurema. O guerreiro que possuísse a virgem de Tupã morreria.

Vi nessa frase o anúncio possível da morte de Martim se possuísse Iracema mas ele reage porque como guerreiro do seu sangue, "trazem a morte consigo".

Iracema sempre muito insegura, percebendo que Martim poderia estar saudoso de sua terra e de sua virgem loira.

Martim se afasta por "oito Luas"  (cerca de dois meses) em guerra com outras tribos, ao lado de Poty dos Pitiguaras.

Quanto volta trilhando os campos de Porangaba... "tem medo de chegar; e sente que sua alma vai sofrer quando os olhos tristes e magoados da esposa entrarem nele" 

Os latidos do cão Japi poderia ser de alegria.

Porangaba: entre outras origens, significa beleza;

● Japi: significa "nosso pé".

Ao se aproximar, encontra Iracema combalida, segurando o filho:

- Recebe o filho de teu sangue. Era tempo, meus seios ingratos já não tinham alimento para dar-lhe!

Iracema foi sepultada ao pé do coqueiro que ele amava.

Muitas vezes lá esteve Martim para "acalentar no peito a agra saudade".

Mas, o final profundamente real quanto inexorável:

"A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro: mas não repetia já o mavioso nome de Iracema".

"Tudo passa sobre a terra."

 ▬

O "poema em prosa" Iracema não é só isso. O pequeno livro tem muito mais do que essas linhas simples. Há todo um vocabulário dos termos indígenas.


Do mesmo Autor acessar:

SENHORA

TIL

domingo, 1 de maio de 2022

PROMETEU ACORRENTADO de Ésquilo

LIVRO 92

VER NO FINAL INFORMAÇÃO IMPORTANTE


  

Ésquilo nasceu por volta de 525 AC em  Elêusis, próximo de Atenas e faleceu em 456 na Sicília. 

PROMETEU ACORRENTDO, escrita em 470 AC é mais uma tragédia grega. 

Em Édipo Rei (*) e Prometeu, há a predominância do cumprimento inexorável do destino. 

Nesta obra de Ésquilo o destino tem a ver com o castigo de Zeus tal qual proclamam hoje correntes espirituais que falam na "lei do retorno", na "lei da causa e efeito."

Mas, há que se afirmar que Zeus é um deus pagão. 

Essa tragédia tem os personagens seguintes além de Prometeu:

Poder e Força: Sob cujas ordens é executada a punição a Prometeu;

Hefesto: designado para acorrentar Prometeu numa "rocha varrida", que lamenta muito cumprir a missão imposta mas a executa, deixando Prometeu numa situação "ultrajante".

Oceano: Aliado de Prometeu que dele se aproxima em seu local do castigo e demonstra o desejo de interceder perante Zeus para minorar seus sofrimentos. E chega a aconselhar: "E por inteligente que sejas, desejo dar-te o mais salutar conselho. Conhece-te a ti mesmo e adota modos novos, pois um novo senhor reina sobre os deuses". Prometeu, porém, rejeitou a ajuda porque receava que Zeus fizesse contra o Oceano, algum tipo de retaliação.

Io: filha de Ínaco: que Zeus amava, mas pelo ciúmes de Hera (esposa de Zeus) foi expulsa pelo pai de casa e deixada à própria sorte no deserto, por terras estranhas, habitantes perigosos. Ela chega até Prometeu mas segundo as profecias dele, Io finalmente, pelo "capricho do Destino, uma grande colônia será fundada por ti Io e pelos teus filhos". 

Hermes: filho de Zeus que vai até Prometeu para saber de suas previsões sobre a perda do trono pelo pai, após um casamento...

Coro das Oceânidas: Aliado de Prometeu que sofre com ele o castigo que lhe impôs Zeus. 

Prometeu fora duramente castigado por Zeus por ter dado aos mortais, aos homens, ensinamentos e segredos conforme explana já acorrentado nas rochas. Ele se refere ao que ensinou e inventou em benefício dos mortais:

 ● A construir moradias  com tijolos e madeira para que saíssem os mortais das cavernas escuras;

 ● A distinguir as estações de inverno e a das flores , dos frutos e da colheita;

 ● Inventou o sistema de números e o alfabeto;

 ● A subjugar os animais para fazerem os trabalhos mais pesados;

 ● Os navios para os marinheiros correrem os mares;

 ● A utilização do fogo...

"Vede como está preso em correntes o miserável  deus que sou, o inimigo de Zeus, que incorreu no ódio de todos os que frequentam a corte de Zeus porque amou demasiado os homens."

Mas, Prometeu exalando o ódio contra Zeus, declara que ele perderá o trono depois de um casamento do qual se arrependerá, porque a esposa lhe dará um filho mais forte que ele.

Então, a tais presságios se apresenta Hermes a mando de seu pai Zeus para saber "que casamento é esse que fazes tanto barulho".

Prometeu, ao ser acusado por Hermes de que delira e está doente, ele responde:

"Se estar doente e odiar os inimigos, então, sim, estou doente."

Então, Hermes, agrava o castigo de Prometeu informando que o "cão alado" de Zeus, o "abutre sanguinário", devorará "com voracidade grandes pedaços do seu corpo (...) que virá todo o dia fazer seu repasto e o dia inteiro vai mastigar a negra iguaria que é o teu fígado". 

No dia seguinte, o fígado recuperado era novamente devorado.

E Hermes não lhe dá esperança de breve reparo ao castigo, mas lhe diz:

"Então olha ao teu redor, reflete, e não acredites que a teimosia valha mais que uma sábia deliberação."

E o Coro aliado de Prometeu, no final, sob ameaça de Hermes a possíveis retaliações de Zeus contra ele, Coro, diz:

"Usa de outra linguagem e dá-me conselhos que eu possa escutar. Acaba de dizer frases intoleráveis. Como podes ordenar que eu cometa uma covardia? O que ele deve sofrer, quero sofrer com ele. Aprendi a odiar os traidores. De nenhum outro vício tenho mais horror."

E a frase final de Prometeu:

"Ó minha venerável mãe e tu, Éter, que fazes rodar ao redor do mundo a luz comum a todos, vede o tratamento ultrajante que me infligem?"


FINAL DA HISTÓRIA

Em Prometeu Acorrentado, o destino dele está ligado aos desígnios de Zeus que o castiga pela ajuda aos mortais e mesmo ao ódio externado ao deus.

Há excessos? 

Depois dessas obras (Prometeu, Édipo Rei) filósofos gregos tentaram mudar os rumos adotando a liberdade de pensar se afastando dos desígnios do destino.

Porém, depois de 2500 anos, até hoje, com tanto "progresso" sabemos ou controlamos o essencial da vida? Como explicar tantas diferenças entre os semelhantes, as dores físicas, morais. Seriam castigos? Se sim, por quê? Por quem?

O essencial da vida não entendemos ou não nos é dada a compreensão.

 

 (*) Acessar:

ÉDIPO REI de Sófocles


ESSA RESENHA PODE SER COMPARADA COM AS OBRAS: ÉDIPO REI de Sófocles e MEDÉIA de Eurípedes. bastando acessar EDIÇÃO ESPECIAL DAS TRÊS TRAGÉDIAS:

TRÊS TRAGÉDIAS GREGAS


quarta-feira, 20 de abril de 2022

STÁLIN NOVA BIOGRAFIA DE UM DITADOR de Oleg V. Khlevniuk

LIVRO 91



EXPLICAÇÃO:

Com a invasão russa à Ucrânia com toda sua violência e crimes de guerra, apressei-me em ler o livro como um modo de achar alguma explicação ao desrespeito à vida que motiva Wladimir Putin e seus asseclas militares e políticos em promover essa guerra insana.

Com o livro "Stálin nova biografia de um ditador" encontrei a causa histórica da tragédia que se dá na Ucrânia - um país que decidira apenas ser europeu. Com efeito, a crise se apoia entre políticos e militares russos submissos ao ditador. Os russos que protestam ou são presos ou perseguidos. É forte a censura nos meios de comunicação.

Na biografia de Stálin encontrei infelizmente, o DNA dessa barbárie.


O livro, nas suas mais de 450 páginas é a descrição sem ressalvas do horror na União Soviética nos tempos de Stálin de 1927 a 1953. (*)

Stálin ao longo de cerca de 26 anos, ditador implacável causava medo até mesmo nos seus subordinados diretos que, dependendo do momento político ou erros os humilhava, os rebaixava publicamente e até mesmo os mandava fuzilar pela simples suspeita de traição e, em muitos casos, com falsas acusações.

Para se ter uma ideia: o livro traz uma série de fotos; em muitas delas fotografados ao  lado de Stálin estão aliados em número de 19. Dentre esses 6 foram fuzilado, um suicida e outro teve morte misteriosa.

Já no fim de seus dias, em 1953 foi vítima de um derrame, causa de sua morte. Seus guarda-costas estranharam que ele não os chamasse para nada. Tinham muito medo de aborrecer o chefe. Um guarda-costas, então, se aproximou das instalações de Stálin e o viu caído ao chão tendo vertido uma poça de urina.

Encorajou-se,  levantou Stálin e o acomodou numa poltrona. Foram, então, chamados seus principais assessores que não se encorajaram em obter ajuda médica com receio de explosões de ódio do chefe mais ainda pelo seu estado físico humilhante. E também porque havia perseguido médicos determinando que alguns deles fossem fuzilados.

Somente horas depois médicos foram chamados e atestaram sua morte.

Em vida fora ele uma tragédia humana. Até nas homenagens ao morto, tal a desorganização do local de seu corpo exposto, morreram na confusão mais de 100 cidadãos soviéticos que o tinham como salvador. 

Stálin foi o agente da morte.

Ao longo de sua ditadura e sob controle seu, absolutamente, foram fuzilados a seu mando, milhares de supostos antirrevolucionários, antissoviéticos, monarquistas, judeus...

Ele "decretou", no campo, a morte pela fome a milhões de camponeses ao converter a produção particular em fazendas comunitárias confiscando a maior parte da produção de grãos, deixando-os em estado de penúria, de abandono. E muitos que protestavam contra esse estado de escassez foram fuzilados.

"No final de 1939 , foi banida a venda de farinha e pão na área rural. Camponeses famintos correram às cidades (...) para comprar esses itens que também estavam escassos por ali."

Há referências até mesmo ao canibalismo para conter a fome.

Stálin, pela desejo de sua mãe, foi matriculado num Seminário para seguir o caminho da religião, tornando-se padre.

Mas, rebelde demais, nunca se adaptou aos estudos religiosos. 

Já jovem adulto, conheceu a obra de Marx e dela não mais se afastou.

Com a queda do tzar (imperador), já então ligado Stalin ao partido bolchevique (da maioria) aceitaria, juntamente com o partido menchevique (da minoria) apoiar um governo de transição liderado por Kerensky.

Mas, Lênin exilado chega à Rússia, defende não o apoio ao governo de transição mas a tomada do poder, implantando o socialismo no mundo todo.

Dá-se a Revolução de Outubro de 1918, os bolchevique vencem e assumem o poder e Lênin torna-se o mandatário máximo do novo governo.

"A maioria dos historiadores concorda que, sem Lênin, a Revolução de Outubro provavelmente não teria ocorrido".

Stalin se aproxima de Lênin e se torna dele um tipo de discípulo. Como diz o livro, Stalin vive à sombra de Lênin.

Stalin em Tsarítsin inicia um expurgo, promovendo milhares de fuzilamentos. Essas execuções eram do conhecimento do Alto Comando do governo, mesmo de Lênin que acabou por aceitar esses assassinatos de opositores e suspeitos.

Havia conflitos sérios no interior do poder, especialmente entre o grupo stalinista e o grupo de Trotsky.  

Com a morte de Lênin em janeiro de 1924 Stálin pela sua truculência vai assumindo poderes  e seu método de se firmar no governo, foram as execuções aos milhares, muitas com falsas acusações.

Trotsky superado pelo ditador, se exila no México onde seria assassinado em 1940 a mando de Stalin.

Nesse ano foram executados 21.857 supostos antissoviéticos pertencentes à elite polonesa.  

Temido, vai se tornando o ditador implacável. Embora houvesse órgãos governamentais, incluindo o Politburo, as ordens vinham de uma única "fonte": de Stalin.

O Autor, na fase de guerra iminente, chama esse período stalinista de "terror" tal as mortes que provocou do modo mais vil com falsas acusações.

Com os primeiros movimentos da 2ª Grande Guerra, Stalin mostrava-se inseguro e receoso da invasão alemã mas invocava, sempre, o tratado de não agressão que firmara com Hitler.

Ele somente acreditou na invasão alemã, quando ela começou e enquanto vacilava na defesa improvisada, os soldados russos iam sendo dizimados aos milhares.

A obra menciona em poucas linhas a adversidade climática enfrentada pelos alemães na Rússia que, por fim seriam derrotados pelos soviéticos, não se esquecendo que eles, os alemães, vinham sendo derrotados, em outras frentes, pelos aliados.

O êxito de Stálin foi reconhecido por Churchill (Reino Unido) e Roosevelt (Estados Unidos). 

Mas, houve apoio material pelos Estados Unidos. No final da guerra os soviéticos estavam dirigindo caminhões feitos nos Estados Unidos. De lá vieram, também, locomotivas, vagões e alimentos. Essa ajuda material foi reconhecida por Stálin: "Se não fosse pela Política de Empréstimo e Arrendamento, a vitória teria sido altamente prejudicada."

 No fim da guerra, houve alguma animosidade em dividir territórios conquistados. Stálin apressou-se em tomar a capital alemã reunindo para tanto 2 milhões de soldados. A batalha foi difícil perdendo o exército soviético 360 mil soldados.

Diz o Autor que a vitória sobre os nazistas teve como débito total,  27 milhões de vidas.

A partir de janeiro de 1953, o Gulag (espécie de campo de concentração) e colônias penais e prisões  mantinham 2,3 milhões de pessoas e em assentamentos especiais, em regiões remotas do país, 2,8 milhões, ou algo próximo de 3% da população soviética... 

A família de Stalin foi desagregada e problemática. Sua primeira esposa se suicidou em 1932. O Autor não explanou mas o gesto extremos seria divergências políticas com o marido. Seus filhos foram problemáticos e sua filha Svetlana, quando a oportunidade surgiu mudou-se para os Estados Unidos onde faleceu em 2011.

 

Referência

(*) Recomendo fortemente, sobre o mesmo tema, o livro "Rumo à Estação Finlândia" de Edmund Wilson cuja resenha pode ser conhecida, acessando: 

RUMO À ESTAÇÃO FINLÂNDIA

quinta-feira, 17 de março de 2022

MEMÓRIAS DE ADRIANO de Marguerite Yourcenar


LIVRO 90

 


A escritora:

A Autora, diz a contracapa, "só conheceu alguma repercussão maior no Brasil em 1980: no começo desse ano foi eleita para a Academia Francesa", Tornou-se a primeira mulher a entrar para aquela instituição.

A obra:

Explica a tradutora Martha Calderaro: "Descobri Marguerite Youcenar em Paris, em 1962 através deste livro monumental, elaborado, escrito e construído à maneira das antigas catedrais, durante anos de trabalho, de pesquisas, de aprimoramentos. Iniciado em 1924 e concluído cerca de vinte e sete anos depois..."

O livro seria o relato de cartas de Adriano, suas memórias, dirigidas a Marco que creio seja explicado no livro quem seja: "A cada regressio a Roma, nunca deixei de ir saudar meus velhos amigos, os Veros, espanhóis como eu, uma das familias mais liberais da alta magistratura. Conheci-te desde o berço, pequeno Anio Vero que por minha iniciativa, te chamas Marco Aurélio."

Quem foi o "divino" Adriano Augusto:

Imperador romano de 117 a 138, "filho" de Trajano a quem sucedeu. Não teve filhos, mas "adotara Lúcio Élio César" que seria seu sucessor mas faleceu antes e, então,  "adotara" Antonino, que foi seu sucessor. Era casado  com Sabina, um casamento "distante".

Adriano, antes de se tornar Imperador, participara de campanhas militares, fora cônsul sempre com êxito.

Há indicações de que Trajano não pretendia "adotar" Adriano como seu sucessor. A digna esposa do Imperador, Plotina, porém, demonstrava muito afeto por Adriano - se conheciam havia muitos anos - pelo que teria forjado o édito de adoção permitindo que ele se tornasse, por sua vez, o sucessor de seu marido moribundo.

Adriano, na velhice, teria tendências suicidas.

Relendo o livro:

A obra já foi bestseller na década 80 salvo severo engano meu. Eu o li por aqueles anos, num processo de dificuldades soníferas: o livro é denso, páginas fechadas muitas sem parágrafos, os pensamentos e relatos se alteram e por aí vai.

Mais atento agora, "descobri" que o livro não é, digamos, a biografia de Adriano. Não. A obra é de ficção, um romance, com diversos eventos históricos que foram possíveis apurar do Imperador.

Notas no final do livro revelam essa realidade explanando sobre as dificuldades em encontrar fontes seguras sobre Adriano.

José Saramago, na sua obra "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", também imagina fatos e pensamentos sobre a vida de Jesus. Nesse caso e por causa disso, qualifiquei seu livro como "OEvangelho segundo Saramago" (*) 

Então, os pensamentos íntimos de Adriano, são pensamentos da Autora que muitas vezes tenta os aproximar do imperador, valendo-se de fragmentos dalgum documento encontrado, não necessariamente convalidado. Incertezas da originalidade, da autenticidade.  

O que há de certeza é que Adriano fora considerado um pacifista. Viajava por todo o império romano, ficava pouco em Roma, tinha paixão por Atenas, seus monumentos, seus filósofos e sua arte.

"Roma já não cabe mais em Roma: a partir de agora deve decair ou igualar-se à metade do mundo."  


É verdadeiro também, pelo conjunto da obra, que o Imperador não era muito próximo de mulheres, mesmo de sua esposa. Mas, há relatos de seu envolvimento com amantes, uma delas a amou "deliciosamente".

Sua paixão incontrolado fora o jovem Antinoo com seus 17, 18 anos que ele venerava, numa relação homoafetiva.

Quando o jovem faleceu com seus 19 anos, afogado, nada muito explicado, Adriano  sofrera muito. Mas, fatos que confirmam essa paixão exacerbada foram os monumentos que erigiu em homenagem a Antinoo e as moedas que mandou cunhar com sua efígie.

Curioso que, para tecer uma identidade dessa paixão Adriano - Antinoo, a Autora algumas vezes na obra lembra a paixão entre o mítico Aquiles e seu fiel parceiro Pátroclo. Ao ser morto Pátroclo por Heitor na guerra de Troia, profundamente amargurado Achiles homenageia seu parceiro em lágrimas e lamentações. Ao "relatar" os episódios principais da Ilíada de Homero destaquei este trecho, quando Zeus, vendo que Heitor fora morto por Aquiles remete a deusa Tétis - mãe de Aquiles - com a ordem de que teria ele que devolver o cadáver do inimigo aos troianos:

Assim se deu, observando Tétis que Aquiles já chorara demais pela morte de Pátroclo:

- Meu filho, por quanto tempo consumirás teu coração chorando e sofrendo, sem pensar no alimento e no leito? Coisa agradável é deitar-se com uma mulher para o amor. (**).

Então eu me pergunto até que ponto há relevâncias fundamentais na obra densa da escritora francesa? Não sei como responder. 

Algumas "reflexões" de Adriano (?):

 ● Os escrúpulos religiosos dos gimnosofistas e sua repugnância pelas carnes sangrentas ter-me-iam impressionado, se não perguntasse a mim mesmo em que o sofrimento da erva que se corta diferia essencialmente do sofrimento dos carneiros que se degolam. E refletia se nosso horror ante os animais assassinados não estaria condicionado ao fato de nossa sensibilidade pertencer ao mesmo reino;

● De todas as venturas que lentamente me abandonam, o sono é uma das mais preciosas, embora seja das mais comuns também. Um homem que dorme pouco e mal, apoiado sobre dezenas de almofadas, medita com vagar sobre essa volúpia diferente. Concordo em que o sono mais perfeito é necessariamente um complemento do amor: repouso tranquilo, refletido sobre dois corpos. Mas o que me interessa aqui é o mistério específico do sono saboreado por si mesmo, o incontrolável e arriscado mergulho a que se aventura todas as noites o homem nu, só e desarmado, num oceano onde tudo é novo: cores, densidades, o próprio ritmo da respiração, e onde reencontramos os mortos;

● O homem mais tenebroso tem seus momentos iluminados: tal assassino toca corretamente a flauta; tal feitor, que dilacera a chicotadas o dorso dos escravos, é talvez um bom filho; tal idiota partilharia comigo seu último pedaço de pão. Existem poucos a quem não se possa ensinar convenientemente alguma coisa;

● Confessei-lhe meus temores: não me sentia inteiramente isento de crueldade nem de outras taras humanas: acreditava no lugar-comum que prescreve que o crime atrai o crime, e na imagem do animal que já provou o gosto do sangue;

Considero a maior objeção a todo e qualquer esforço para melhorar a condição humana o fato de os homens serem, talvez, indignos dele;

● Ser deus obriga, em suma, a possuir mais virtudes do que as de um imperador;

● E quem diz morte diz também mundo misterioso ao qual talvez tenhamos acesso através dela. Depois de tantas reflexões e experiências por vezes condenáveis, ignoro ainda o que se passa do outro lado dessa cortina negra. Mas a noite síria representa minha parte consciente de imortalidade;

● Passei toda uma noite (com Quadrato, bispo dos cristãos – que eram protegidos pelas leis romanas) a discutir com ele a injunção que consiste em amar ao próximo como a si mesmo; é demasiado contrária à natureza humana para ser sinceramente obedecida pelo homem comum, que sempre amará a si mesmo, e não convém de modo algum ao sábio, que nunca ama particularmente a si próprio.   


Referências:

(*) Acessar:"O Evangelho Segundo Jesus Cristo" 

(**) Acessar: "A Ilíada"


sábado, 29 de janeiro de 2022

MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS de Manuel Antônio de Almeida

LIVRO 89




Como foi difícil para mim, (re) ler esse livro! Quando pela primeira  vez li a obra, era adolescente. Nem sei dizer se naqueles idos o livro me agradou. O livro foi publicado em meados do século XIX. Esta edição que está comigo, publicação de um curso preparatório de vestibulares (edição de 1999) são de 180 páginas que não evoluíam. Salvo um ou outro costume daqueles tempos, nada me acrescentou. 

Seria o livro um clássico pelos seus 170 anos?

E a história de dois Leonardo (s), pai e filho. O pai era português, meirinho, que atuava na praça do Rio de Janeiro. Na viagem de Portugal, Leonardo se relacionara com Maria e quando desembarcaram no Rio de Janeiro ela sentia alguns enjoos. 

E nasceu o filho. 

Não demora muito e Maria trai Leonardo-Pataca, assim chamado na história.

Uma explosão de ciúmes e agressões que avançou até mesmo na barbearia do compadre.

E nesse dia, o filho Leonardo foi ignorado pelo pai, 

Foi, então, "adotado" pelo barbeiro e criado por ele. À medida que ia crescendo o menino Leonardo demonstrava um "gênio" terrível.

Mas, o barbeiro o amava e fazia tudo por ele. Queria fazê-lo padre, mas tão travesso que era que essa aspiração não poderia dar certo. Havia as vizinhas "cortadeiras" que debochavam das travessuras do garoto.

Também a Comadre do barbeiro também muito o jovem Leonardo.

Numa visita de seu padrinho a d. Maria idosa abastada,  Leonardo se encantou pela sobrinha órfã da mulher com que vivia. Tímida e feinha o que se deu fora paixão à primeira vista.

Houve algum enlace entre ambos, mas passou a frequentar a casa de d. Maria, um certo aproveitador José Manuel contador de vantagens que mesmo com as intrigas da comadre  atribuindo-lhe falso crime. Tudo desmentido. Assim, acabou se casando de modo arranjado com a Luisinha. Melhor: convenceu d. Maria que era um bom partido.

Essa sofreu muito com o malandro que a aprisionava em casa até que deu-se sua morte repentina e Luisinha voltou a ter liberdade...

Com a morte do padrinho barbeiro, Leonardo volta ao convívio do pai que vivia com Chiquinha.

Os atritos entre Leonardo (filho) e a madrasta resultou na sua expulsão da casa do pai.

Sem ter onde ficar, "agregou-se" na casa dos Thomaz da Sé por injunção de um amigo, na qual havia duas irmãs solteironas e a jovem Vidinha, moça corajosa, cantora.

O terror dos desocupados era o major Vidigal e seus carabineiros que chegaram a prender o Leonardo -Pataca por participar de uma festa de ciganos. 

Leonardo, filho, foi detido também,  mas por desocupação. A corajosa Vidinha saiu em sua defesa. Ele, porém desaparece por um tempo.

Quando volta, surpreende a todos: volta como carabineiro sob o comendo do... major Vidigal (!).

Mas, entre peripécias próprias do seu temperamento, por dó, ele facilita a fuga de Teotônio, um tipo de comediante, fazedor de caretas que o major Vidigal aguardava o momento propício para levá-lo a "Casa da Guarda" porque o artista não tinha o que se chamaria hoje de "emprego fixo". Vivia dessas apresentações.

Descoberta a ajuda de Leonardo na fuga de Teotônio, é ele preso de novo desta vez sob grave acusação a ponto de ser mesmo açoitado.

Então,  em desespero, a comadre vai até d. Maria e ambas resolvem visitar Maria Regalada que sabidamente recebia atenções especiais do major Vidigal.

As três vão à casa dele.

Ele rejeita os apelos, dizendo que a falta praticada por Leonardo fora muito grave.

Mas, Maria Regalada chega aos ouvidos do major, cochicha por uns instantes. 

Não demora, dá-se a liberdade de Leonardo.

O major Vidigal passa a frequentar a casa de Maria Regalada. Os cochichos deram certo...

Libertado, Leonardo se apresenta perante todos com a farda de um sargento, sargento de milícias.

Seu pai o chama para receber os bens deixado por seu padrinho barbeiro falecido.

E nesse quadro de redenção Leonardo se casa com seu amor a viúva Luisinha.

Morria depois d. Maria e seu pai Leonardo-Pataca.  O livro não diz mas e possível que a vida do casal tenha melhorado muito em termos patrimoniais pelas possíveis heranças.


O livro não é somente isso. Mas, para mim foi muito difícil concluir as 180 páginas. Nem sei dizer se o livro é do agrado dos jovens pré-universitários. 



  


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO de José Saramago


LIVRO 88



 

Li três livros de José Saramago, este, também "Memorial do Convento" (resenhado *) que não gostei da ficção referente ao voo da "passarola" suposta engenhoca do brasileiro Bartolomeu de Gusmão, conhecido nas cortes portuguesas nos tempos de João V com experiências de balões leves que subiam impulsionados por ar quente e também "Ensaio sobre a cegueira" (não resenhado) que também não gostei.

A despeito de ser Saramago "Prêmio Nobel" (1998), achei o título desse livro uma elevada presunção, quando muito deveria ser identificado, sim, como "O Evangelho segundo Saramago".

O livro é um ROMANCE e como tal as proposições do Autor são livres. 

"Os Evangelhos" de Saramago:

● A concepção de Jesus, no casamento de Maria e José foi natural, não divina. Mas, nas páginas finais maçantes do livro, Deus informa que à semente de José ele misturou a sua;

● Maria na fase de gestação recebeu a visita de um mendigo a quem ela alimentou. Mas, esse personagem se transformava em "anjo". Mas, não, era o demônio. Ele deixou com ela uma tigela com terra que brilhava, sendo enterrada pelos sacerdotes da sinagoga a pedido de José (!)

Já aqui o Autor deixa uma linha muito tênue que separa o bem e o mal e, aliás, sustenta "... que não há diferença entre um  e outro, ou, se diferença há, não é essa, pois o Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um deles é somente a ausência do outro".

Maria e José moravam em Nazaré, mas rumam para Belém para cumprir exigências do recenseamento imposto pelos romanos. Não houve os Reis Magos seguindo a estrela até chegar na manjedoura.  Herodes soube que havia nascido o rei dos judeus por um sacerdote que lera para ele revelações de Miqueias:

"Mas, tu Belém tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que me há-de sair aquele que governará em Israel."

Herodes, então, resolveu assassinar crianças com até dois anos. 

● Herodes, assassino cruel da própria família, os seus últimos foram terríveis. Ele fora atacado por vermes apodrecendo em vida, sofrendo fortes dores. Cheirava mal e assim morreu.

● Não houve um sonho divino, o anjo que informara a José que deveria fugir de Belém com seu filho e Maria porque haveria essa matança. Ele ouvira soldados romanos comentando essa matança encomendada por Herodes e resolveu se esconder numa caverna sendo seu filho Jesus, poupado;

● Mas, ele tem forte dor de consciência por não ter avisado as outras famílias para esconderam seus filhos nessa tenra idade que poderiam ser salvos;

● José é preso injustamente pelas forças romanas porque resolvera procurar por seu vizinho Ananias  que se aliara as forças rebeldes comandadas por Judas, o Galileu, combatendo o exército romano. Embora inocente, mas sem gritar por sua inocência, foi condenado à crucificação e morreu. O Autor abreviara a vida de José para dar andamento ao seu romance...;

● Essa morte afetou a família, Maria já dera a luz a outros filhos e Jesus passaria a ser o chefe da família porque era o mais velho. Mas, ele sofrera o impacto da morte prematura do pai e sutilmente sentira a culpa dele pela omissão em não avisar famílias sobre o massacre de crianças por ordem de Herodes. Só Jesus fora salvo das armas dos soldados de Herodes. A escrava-parteira Zelomi que trouxera Jesus ao mundo confirmara esses eventos;

 ● Mas, resolvera Jesus abandonar a família embora pré-adolescente, 13 anos, e caminhou de cidade em cidade, sem destino, desocupado, um carpinteiro aprendiz sem muito talento, vivendo de caridade. Então, ele não foi instruído pelos essênios ampliando sua espiritualidade, como muitos autores e estudiosos sustentam (**).

● Tornou-se pastor num rebanho de muitas ovelhas,  ao ser aceito por alguém que ele chamava de Pastor que, na verdade, era o demônio. Essa constatação se dera quando Pastor insinuou que Jesus poderia abusar das ovelhas; 

O primeiro contato com Deus: Jesus salvara do sacrifício no Templo uma ovelhinha que ganhara de um samaritano. Então, de modo pouco claro, uma imagem acobertada por uma névoa, se apresentou a Jesus como sendo a Deus que sugeriu que ele sacrificasse o animal. Isso feito, e "Deus" se regozijara pelo sacrifício. Ao saber do sacrifício, Pastor dissera que Jesus nada entendera...

O Autor discute a ausência de Deus perante os homens: "Quando chegará, Senhor, o dia em que virás a nós para reconheceres os teus erros perante os homens."

É que nunca se compreendeu as tragédias, suas causas, que vitimam os homens... os homens seriam "joguetes" na mão do Senhor;

Um dia pensando em voltar para casa, um ferimento no pé que o impedia de bem caminhar, parou numa casinha bem cuidada. Foi atendido por uma mulher prostituta, Maria de Magdala, que fez os curativos e se impressionou de tal modo por Jesus, que não só abandonara aquele modo de sobrevivência como passou a ser sua companheira em todos os seus passos. Não há unanimidade de que Maria Madalena fosse prostituta (***).

Os primeiros milagres de Jesus se deram na pescaria no barco dos irmãos Simão e André. Os pescadores nada pescavam ate que Jesus orientou-os a jogar a rede para um determinado lado. A rede voltou cheia. Um prodígio. A partir dai ele passara a ser bem-vindo entre os pescadores e outros milagres se sucederam com cura de doentes e aleijões;

Jesus soube que poderia ser o filho de Deus ao se aproximar de um homem endemoninhado. O demônio que dominava o espírito do homem disse que mesmo sendo Jesus filho de Deus, deveria deixá-lo "em paz"; 

Seu contato direto com Deus se deu nos águas do mar, com a presença de Pastor, o demônio acobertado por uma bruma espessa que inclusive impediu a pesca. Ao revelar Deus que Jesus era seu filho, o informou que seu modo de vida e sacrifício tinha por objetivo levar as "boas novas", o Evangelho a todos os rincões da Terra, de modo indelével, "...espalhar uma crença e afervorar uma fé". Talvez o Autor tivesse se inspirado no versículo 5.36 do Evangelho de João: "Mas eu tenho maior testemunho que o do João, porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim que o Pai me enviou";

Pelos seus milagres, pela multidão que o seguia, os sacerdotes judeus estavam tentando assassinar Jesus, até que Judas de Iscariotes, com uma posição ambígua de Jesus sobre a traição, o denúncia. Judas se enforca. Em seus bolsos não havia moedas;

Perante Pilatos, Jesus se apresentara como rei dos Judeus. Pouco se defendeu sendo condenado à crucificação.

O livro naquela linguagem densa do Autor não é só isso. A edição "de bolso" que li contém 370 páginas. 


 

Indicações no texto


(*) Acessar: MEMORIAL DO CONVENTO


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

ZANONI de Edward Bulwer-Lytton

 LIVRO 87


INTRODUÇÃO E IMPRESSÕES

I
O livro foi publicado, a primeira vez, em 1842.

A edição recente aqui publicada contem 480 páginas.

Diz a contracapa que se trata de um obra de "ocultismo fantástico".

E, como explicitado nas primeiras páginas do livro, o Autor interessado nos ensinamentos rosacruzes, recebe um manuscrito com linguagem cifrada. Decifrada a linguagem, lê o relato de uma história de dois personagens misteriosos que obtiveram a imortalidade.

A história se encerra na queda do sanguinário Robespierre, na França, que tinha como cumprimento de julgamentos contra seus opositores, a guilhotina.

No tocante ao mencionado "ocultitsmo fantástico", com efeito, não se pode dizer que assim não seja.

Li alhures, aliás, que aqueles que se envolvem com o ocultismo dele não mais se livram. Ficaria um resíduo qualquer, uma lembrança que poderá aflorar num momento especial que pode nem significar muito mas lembra sutilmente sua origem pelo menos na visão daqueles que acreditam nessas influências.

II

Nas paginas finais do livro, há uma nota que tenta explicar a posição do autor sobre o seu romance. Talvez uma defesa às críticas que podem ter se dado ao longo de quase dois séculos do livro para mim um texto sem sentido.

Ora, o livro teve sua mensagem, um propósito que pode ou não ser aceito.
Digo que gostei do "Zanoni", mais nesta segunda leitura. 


O LIVRO "ZANONI"

Zanoni é um homem, descrito no livro, de rara beleza que vive em Nápoles, que dizia-se, muito rico sem registro de sua origem e, muitos acreditavam vivia já há séculos, uma figura imortal que desvendara os segredos insondáveis da existência, iniciado nos mistérios mais elevados do espírito humano.

Além dele, sempre presente quando chamado por Zanoni, Mejnour distante das contradições humanas, indiferente a elas. Mas, com idade imprecisa, dominando os mistérios da existência, com seus poderes a serem invocados sempre que as situações  exigissem.   

Como obtiveram esses poderes e a imortalidade?

Há referências ao Rosacrucianismo, mas há quantos séculos se dava a iniciação nessa Ordem? Fica por conta do leitor, até porque uma delas informa que sua origem remonta ao Egito Antigo.

E assim, 

"Não é do conhecimento das coisas exteriores, mas no aperfeiçoamento da alma interior que está o império do homem que aspira ser mais que homem."

Pois bem, Zanoni, a despeito de sua existência excepcional, era humano. Esse sentimento é despertado quando se depara com Viola, uma jovem com pureza de alma, aquele ideal feminino que certamente predominava mais intensamente nos tempos em que o livro fora escrito.

Ela se tornara cantora de opera e estava nervosa na sua primeira apresentação como tal e exatamente na obra de seu pai, Caetano Pisani, que passara a ser reconhecido.
 
Zanoni por um olhar a tranquiliza e sua estreia se torna um sucesso.

Ele se apaixona por ela e se mantinha sempre por perto, a salvando de muitos transtorno, inclusive de rapto de um pretendente violento.

Sendo um homem acima dos padrões humanos, ele percebe que sua paixão não poderia ser alimentada, Então, Zanoni tenta convencer o inglês Glyndon a se casar com Viola, mas ele gostava muito dela mas não para casar...

Então, Zanini depois de muitos enfrentamentos com rivais se casa com Viola e passam a viver numa ilha paradisíaca. 

Nessa ilha, Zanoni que gostava de caminhar sozinho a noite quando a lua estivesse clara, colhia "ervas e flores que ele acumulava com cuidado zeloso".

Nasce um filho.

E, então, Zanoni, percebe que como homem comum começa a perder seus poderes. 

Apela para Mejnour mas sabe que já não seria o mesmo, um imortal com poderes premonitórios e outros (ele não fazia mágicas, mas seus atos eram praticados com as possibilidades materiais que dispunha - tal qual se dá na vida cotidiana de cada com os eventos que ocorrem, graves ou não).

Adonai em todo o seu esplendor divino, não podia mais ajudar Zanoni.

Mesmo com a interpretação que o próprio livro contém dos personagens, parece que o Autor quis dizer que a vida humana, comum, com amor, com a paternidade e a maternidade, vale a pena ser vivida, mesmo que se vislumbre a mortalidade nalgum dia.

Mejnour, na sua vida mística, imortal é apresentada como personagem indiferente aos homens. Na interpretação nas páginas finais do próprio livro ele é qualificado como a "ciência", o que não me parece adequado. Afinal, a ciência não trata os homens indiferentemente. Compreende-se que não tão contemporâneos, mas que existiam, havia os filósofos e alquimistas que se encerravam em seus laboratórios em busca de fórmulas superiores pelos experimentos repetidos na matéria e mesmo nos vegetais. (*)

O próprio Majnour tinha o seu local secreto de experiências.

Com a perda gradativa de poderes, Zanoni vai até Mejnour em busca de algum apoio,  deixando Viola e filho sozinhos, em Nápoles.

Glyndon a visita e ainda sob o assombro daquela figura horrenda que o perseguia, desde que tentara desvendar os segredos de Mejnour e a convence a se "libertar" de Zanoni, um homem dotado de poderes malignos tanto que ele era atormentado pelas sombras horrendas.  

Zanoni, mesmo para ela era um homem estranho e convencida por Glyndon, foge para Paris numa época de terror político, na qual a punição de culpados ou inocentes desde que contrários ao governo, era a guilhotina inapelável sob as ordens de Robespierre. 

Já em Paris, Glyndon e Viola são traídos por Nicot, um pintor tanto quando Glyndon, com deformações físicas, vingativo, rancoroso que pretendera se casar com Viola, mas rejeitado.

Ambos são denunciados por Nicot como conspiradores a Robespierre sendo incluídos na lista de execuções que se daria dois dias depois.

Viola e os prisioneiros não seriam executados porque Zanoni previra que o governo do terror de Robespierre cairia antes. Mas, o tirano, antecipa em um dia essas execuções.

Glyndon é salvo por Zanoni antes da prisão. E ele exorcizado por Zanoni livrando-o da figura demoníaca que o atormentava mas antes, ao enfrentá-la e a repudiá-la já vinha amenizando sua influência negativa.

No tocante â Viola por uma série de manobras Zanoni chega à cela da esposa que a questiona por tê-lo abandonado.

O amor entre ambos renasce. Fica, porém,  a dúvida do amor de Viola porque ela acreditara na versão de Glyndon e seguiu com ele para Paris, abandonando o marido.

Zanoni a substitui na lista dos condenados e é executado juntamente com outros 79 "condenados" para salvar Viola. Mas, esta falece na prisão certamente que por desgosto. Seu filho é acolhido por uma mulher que chegara à prisão com a queda de Robespierre poucas horas depois.


Esse é o livro, mas não é só isso. Estas linhas são um esboço. Como disse, são quase 500 páginas, e o desenvolvimento da história apresenta momentos empolgantes, sem faltar reflexões filosóficas.

Há uma sutil mensagem que as forças do mal atuam com os descuidos daqueles que enveredam por essa senda mística.

Valem a pena as quase 500 páginas. 


Referências 

(*) "Imagens de magia e de ciência" obra de Maria Helena Roxo Beltran (Educ - Fapesp): "Também costuma-se extrair quintessência dos diferentes materiais considerados medicinais, Para isso o material era diretamente destilado ou, então, poderia ser primeiramente putrificado (fermentado) e, em seguida, destilado várias vezes" (quintessência).




segunda-feira, 20 de setembro de 2021

SÃO BERNARDO de Graciliano Ramos

LIVRO 86



Essa obra de Graciliano Ramos (alagoano de Quebrangulo nascido em 1892 e falecido no Rio de Janeiro em 1953) foi bastante prestigiada, a ponto de ser adaptada, em 1972, para o cinema, filme dirigido por Leon Hirszman.

Trata-se, sobretudo, da história de um homem rude, Paulo Honório que o Autor assim se "qualifica", já no fim do romance:

"Madalena  entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos  e os propósitos esbarraram com a brutalidade e o meu egoísmo." 

Paulo Honório havia decidido escrever um livro sobre sua vida. estava com 50 anos e pesava 89 quilos. Mãos rudes que não eram próprias ao carinho, dizia.

Quanto ao seu livro, tentou dividir a tarefa com seus companheiros de sempre, padre Silvestre, João Nogueira, letrado e Lúcio Gondin, jornalista, diretor do jornal "Cruzeiro".

Essa parceria não deu certo.

Então o livro foi escrito por ele, curtindo a solidão de sua viuvez. Madalena, sua esposa teria se suicidado, mas não há detalhes sofre a morte da mulher.

Não há notícias de seus pais. Sem muita clareza, é revelado que ele fora criado pela velha Margarida que morava tranquilamente na sua fazenda São Bernardo.

Paulo assassinara um certo João Fagundes a facadas por um caso envolvendo a mulher Germana. Esteve preso por quase 4 anos.

Como adquiriu a fazenda São Bernardo? Estava abandonada  e o herdeiro Luiz Padilha dela não cuidava, tinha vida desregrada, recebeu empréstimo de Paulo que por sua vez obtivera do agiota Pereira 100 mil reis. Não podendo Luiz Padilha pagar, com um pagamento complementar irrisório, Paulo Honório tornou-se proprietário da fazenda.

A partir daí, entra no grupo de "companheiros" o próprio Luiz Padilha que, de modo submisso, passou a trabalhar para Paulo Honório que o desprezava.

Então, a uma visita do governador na fazenda, este observara que não havia escola para o ensino básico.

Então, o mestre-escola designado por Paulo foi o próprio Luiz Padilha (!)

Havia uma pendência de divisas entre as terras do engenho de Mendonça e São Bernardo. A cerca na visão de Paulo Honório havia invadido áreas de sua propriedade. Depois de tratativas sem êxito, Mendonça foi assassinado a tiros. 

Mas, havia comentários surdos de que a morte de Mendonça fora obra de Paulo Honório. Com a morte do vizinho desde logo reinstalou a cerca  beneficiando sua propriedade. 

Numa "seção livre" no jornal "A Gazeta", Paulo Honório foi chamado de assassino. Por isso, mesmo explicando que se tratava de matéria paga, Paulo Honório agrediu o jornalista Costa Brito dono do jornal.

Paulo desmentia o envolvimento com esse assassinato.

Há o relato de um arremedo de revolução da qual a ela aderem o padre Silvestre e ninguém menos que Luiz Padilha. Sobre esse tema "meio fora de esquadro" disse o Autor sobre São Paulo (o livro é de 1934, escrito após a Revolução Constitucionalista de 1932):

"São Paulo havia de se erguer, intrépidos, em São Paulo ardia o fogo sagrado, de São Paulo, terra de bandeirantes, sairiam novas bandeiras para a conquista da liberdade postergada."

O juiz dr. Magalhães, o único da comarca (Viçosa - Alagoas) tinha lá suas manias e o história deixa transparecer que ele não produzia muitas decisões.

Pois foi na casa do juiz que Paulo Honório se encantou pela loira Madalena, bonita, professora, culta, escrevia bem. Conhecera, também, a tia da jovem, dona Glória ledora de romances.

Não muito tempo depois, Paulo Honório e Madalena se casam.

Dá-se, então, aquele confronto próprio das diferenças de formação educacional,

Madalena criticava o marido pelo modo bruto como tratava os empregado até deixando-os à míngua.

Sendo educada e interessada em assuntos fora dos rigores da fazenda, passou a ajudar o guarda-livros Ribeiro na sua administração e, com o tempo passou a criar amizades na fazenda, mas nada além de amizade.

Na sua rudeza, Paulo Honório passou a sentir um ciúme doentio.

A página de um longo texto que Madalena escrevera escapou pela janela. Paulo leu, entendeu pouco e achou que estava ali a prova do adultério.

Mas, assim não era. Tratava-se de uma longa carta de despedida a ele à sua morte iminente. 

O casal teve um filho. Paulo Honório não morria de amores por ele e o livro não dá um destino ao menino do ponto de vista da escolha da vida futura.

Dona Glória, tia de Madalena, já sem a sobrinha, um dia avisa que vai embora e vai.

A solidão bate forte e até mesmo a produção da fazenda, algodão, deixara de ter a comercialização de antes.

E com tudo isso o livro vai sendo escrito por Paulo Honório em meio ao chirriar arrepiante das corujas. Ele manda exterminá-las ao que parece mais por superstição. Não tenho por hábito interpretar passagens escritas pelo Autor, porque há o risco de pensar o que o ele não pensou.

É isso em 156 páginas, mas, claro que há mais do que essas linhas. Estas notas são um incentivo à leitura.

Se gostei do livro? Não.