Querem conhecer um livro repleto de lances inesperados e
até mesmo suspense em meio a tragédias? Então “Germinal” é um prato cheio. Publicado em 1885, o livro detalha a vida
inumana dos mineiros em minas de carvão, que desciam a 700 metros até o fundo
dos poços. E nesse ambiente de insalubridade absoluta cavavam o carvão numa
jornada exaustiva, na escuridão, enfrentando calor intenso, recebendo a água
preta nos rostos que vazava de todas as frestas dos estaqueamentos.
A preocupação com o grisu um composto de metano e gás
natural, uma mistura explosiva perto de chamas.
Na apresentação do livro, a informação é que Zola visitou
minas, desceu ao fundos do poço, viveu num cortiço, bebeu cerveja nos botecos
e, sobretudo, constatou a pobreza imensa pelos baixos salários e, nesse quadro
desolador, a fome.
O romance começa
descrevendo exatamente essa pobreza, a busca por “pão”, a preocupação em
alimentar toda a família, geralmente numerosa, as sopas ralas. As moradias
pertenciam às usinas que cobravam aluguel, eram pequenas e todos se acomodavam
como podiam, amontoados um sobre os outros, sem muito pudor na intimidade entre
irmãos e irmãs.
Do outro lado, do
lado do sócio-empresário de uma das minas, ele recebia dividendos suficientes
para não trabalhar, viver no luxo duma mansão juntamente com sua família,
servido por criados que se serviam, até, da caleça dos patrões.
Tudo era suportado,
os mineiros expostos àquelas condições de trabalho degradantes e os patrões
usufruindo dos lucros, até que começa a trabalhar na mina, nas mesmas
condições, Etienne até então um desempregado rebelde que fora com seus
superiores em outros empregos.
Num dado momento a
administração da mina decidiu que os reparos no estaqueamentos não faziam parte
da jornada de extração fato que reduzia os salários já minguados.
A revolta é geral.
Etienne que agora residia na casa de Maheu e família, dormindo num cama num
aposento minúsculo vinha se cultuado em teses socialistas e anarquistas,
misturando conceitos nietzchinianos:
“Já que Deus estava morto a
justiça asseguraria a felicidade humana, fazendo reinar e igualdade e
fraternidade. Uma sociedade nova surgiria em um dia, como nos sonhos, uma
sociedade imensa, esplêndida como uma miragem, onde cada cidadão viveria do seu
trabalho e teria o seu quinhão nas alegrias comuns.”
Com essas ideias e a fome aumentando
a cada dia, eclodiu a greve em todas as minas, muito forte, com o apoio, ainda
que distante da Internacional e não poderia faltar até mesmo um padre que
criticava os patrões acerbamente.
Os grevistas às centenas saem em
passeata, gritando por “pão, pão, pão” sem que houvesse a reação dos patrões.
[Um aspecto que me chamou a atenção: havia uma usina de açúcar nas proximidades que se
utilizava da beterraba como matéria prima. Ela também foi afetada pela greve.
Não saberiam os grevistas que as folhas da beterraba engrossariam a sopa rala?
O furto famélico das próprias beterrabas não seria aceitável? O Autor não se
referiu a esse ponto. Talvez complicasse a história].
A greve resulta no confronto entre
policiais armados e a massa esfomeada. Os tiros matam 14 grevistas, incluindo o
aliado de Etienne, Maheu,
aumentando a tragédia de sua família e o desespero de sua esposa corajosa.
O tratamento dado ás
mulheres era ríspido. Meninas sem perspectiva se entregavam aos namorados e
muitas engravidam e tinham filhos precocemente. A tragédia com mais destaque
fora Catherine, filha de Maheu que, deflorada por Chaval, era tratada a
pontapés por ele que, na história, é o vilão que morre pelas mãos de Etienne.
Com o passar dos
dias, os mineiros envergonhados voltam ao trabalho, inclusive Etienne – que
deixara de ser hostilizado pelos mineiros. Ele acompanhava Catherine que
decidiu trabalhar para diminuir a fome da família, agora sem o pai.
Suvarin, um polonês
taciturno, que ironizava os ideais de Etienne por fim desabafa falando do
enforcamento de sua esposa na Rússia que explodira uma linha de ferro,
atingindo um trem de passageiros e não o trem imperial como era o plano.
Suvarin: “Você nunca serão dignos da felicidade enquanto possuírem
alguma coisa, enquanto esse ódio aos burgueses for apenas o desejo desesperado
de serem burgueses também.”
Nessa noite o polonês
sabotou a mina onde Etienne voltaria a trabalhar. Arruinara as escoras e os
estaqueamentos de tal modo que a água passou a verter pelas frestas e a descer
sobre o poço da mina com muita força. O desbarrancamento atingiu um riacho perto
que passou a despejar água no mesmo poço enquanto não estancada.
Salvaram-se os que
puderam, mas Etienne, Catherine e Chaval ficaram retidos num beco em perigo porque
a água avançava.
O ciúme de Chaval por Catherine provocou Etienne - que já haviam brigado - que o matou
com uma pedra.
Duas semanas depois
fora resgatado porque a turma de socorro ouvira as batidas de Etienne. Poucas
horas antes Catherine falecera.
Tragédias.
Etienne, salvo, grisalho, teve
que se acostumar à claridade, deixa a região rumando para Paris, chamado pelo
dirigente da Internacional que o conhecia.
Mas, em sua mente não
perdera a esperança de dias melhores para os trabalhadores, “crescendo para as
colheitas do século futuro.”
O livro tem muito,
muito mais. Gostei bastante.