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sexta-feira, 17 de março de 2023

ILÍADA, ODISSEIA E ENEIDA (TRÊS OBRAS CLÁSSICAS EM UM ÚNICO TEXTO)

EDIÇÃO ESPECIAL (I)

RAZÕES QUE ADOTEI PARA ORDENAR AS OBRAS CLÁSSICAS ILÍADA, ODISSEIA E ENEIDA. 

As resenhas das obras clássicas “Ilíada” e “Odisseia” de Homero e “Eneida” de Virgílio podem ser consideradas capítulos de uma mesma narrativa épica. "Eneida" também tem origem na guerra de Troia, com a fuga de Eneias de sua cidade destruída pelos gregos.

Com efeito, na “Iliada” Homero descreve a guerra de Troia, na qual os gregos (ou aqueus) avançam sobre os troianos tendo como causa, o rapto de Helena, esposa de Menelau por Páris. Na “Odisseia” dá-se a narrativa da volta de Ulisses à Ítaca, depois de vencida a guerra de Troia, viagens cheias de percalços, com castigos dos deuses do Olimpo, que perduraria por 10 anos.

Quando foram escritas a "Ilíada" e a "Odisseia", por Homero? No século dez antes de Cristo? Ou no século sétimo?

Mas, quem foi Homero?

Poeta épico grego, cuja data de nascimento é controversa, mas pode-se situar há cerca de 900 anos antes de Cristo. Teria vivido uns 30 anos, pouco mais.

Estudiosos chegam a admitir que Homero nunca existiu e que essas obras foram escritas por vários autores ou, por outra, elas são constituídas de textos de poemas diversos compilados.

No andamento da leitura, em determinadas narrativas parece haver alguma desconexão, mas isso não tira o interesse por ambas as obras.

Na obra “Eneida”, poema épico de Virgílio conta a história de Eneias (Eneas), troiano que escapou da guerra de Troia, como herói mesmo sendo seus exércitos derrotados pelos gregos. Há referência ao “cavalo de madeira” grego de proporções que possibilitou entrarem em Troia derrotando seu exército.

Eneida” foi escrita há mais de dois mil anos.


ILÍADA












O volume que li da “Ilíada", não é em verso, mas em prosa numa tradução esmerada.

A obra para quem a ler integralmente, pode se surpreender.

Desfilam em suas páginas os deuses que influenciaram diretamente os eventos da guerra, protegendo ou os gregos ou os troianos, saindo dessas posições até mesmo contatos ríspidos no Olimpo:

Zeus, o deus pai tem interferência direta nos combates. Há deuses protegendo os troianos na figura do valente Heitor enquanto que do lado dos gregos, Heras, "a dos olhos bovinos", irmã e esposa do próprio Zeus, "o ajuntador de nuvens" e Poseidon - "o abalador da terra". Mas, não só, outros participam influenciando no desfecho de lutas e batalhas.

[Três mil anos a idade das obras de Homero, e ele descreve desavenças sérias entre Hera e Zeus, irmãos e cônjuges. Coisas do tipo: "traiçoeiro", acusa Hera, Em outro trecho, agora o qualificativo de Zeus: "Louca, és sempre desconfiada, nem eu escapo de ti". E as divergência do casal não param aí].

Os deuses, então, menos que paz, incitando a guerra.

Heróis na narrativa, que se destacam

ULISSES, "de muitos ardis" sempre citado pelo protagonismo na construção do "cavalo de Troia" que, como presente "de grego", foi introduzido livremente na cidade inimiga  levando em seu "corpo", soldados gregos que dele saíram propiciando o ataque e a destruição de Troia, também denominada Ílion.

O que surpreende em a “Ilíada", porém, é que nas suas 421 páginas, Ulisses aparece como um personagem de pouca expressão ou participação nos combates.

Não há referências ao "cavalo de Tróia" nessa obra. Disso falarei à frente. 

AQUILES "dos pés ligeiros", sim, é o protagonista, mas nada é explanado na obra em relação ao seu calcanhar vulnerável. É um herói sanguinário que não faz concessão aos inimigos que derruba: ou a morte pela lança, ou a morte quando fisicamente dominados.

A obra revela outros heróis, como Agamenon - "rei dos homens" -, Diomedes, os dois Ajax, Pátroclo e mesmo Menelau entre os gregos, chamados na obra também como aqueus e entre os troianos, principalmente Heitor, "semelhante aos deuses" e Eneias. 

ENEIAS poderia ter sido morto por Diomedes, mas foi protegido pelo deus Apolo.

De certa maneira, Menelau foi aconselhado por Agamenon, seu irmão, a não se expor muito nas batalhas.

MENELAU é lembrado por causa da Helena, sua mulher, vítima de rapto consentido (?) e PÁRIS, o raptor, também chamado na obra de Alexandre.

HELENA se fixou bem em Troia mas arrependida como veremos.

No bom texto da dobra da capa, lê-se que

"Estamos diante de Troia. A guerra já dura nove anos. Páris ou Alexandre, príncipe de Tróia havia sequestrado durante sua visita, a mulher de Menelau, rei de Esparta, Helena, a mais bela das mulheres. Menelau recorre  aos outros líderes gregos  e vai atacar a famosa cidade."

Há, aqui, no meu modo de ver, imprecisões de datas que afetará até a ausência de Ulisses de sua pátria, Ítaca, em vez de 10 anos – lapso muitas vezes citado, mas beirando 20 anos (dez anos na guerra de Troia e dez anos para conseguir o retorno à pátria).

Na “Ilíada” a narrativa começa com um desentendimento severo entre Aquiles e Agamenon, “rei dos homens”, que o obriga a lhe entregar um "troféu" de guerra, uma linda mulher, Briseis, virginal.

Aquiles obedece, os deuses intervém e não se dá a violência entre eles, mas guarda um ódio mortal contra Agamenon a ponto de não participar das batalhas ao lado dos aqueus (gregos), Aquiles chora muito essa contrariedade, sendo consolado por sua mãe, a deusa Tétis que chegara mesmo a Zeus, pedindo a proteção ao filho ultrajado, "cujo destino é bem curto".

De um modo ou outro, Aquiles seria decisivo na guerra. Ele só entrará nos combates, com sua poderosa lança e armadura de bronze muito forte, quando seu companheiro e amigo muito estimado, Pátroclo fora morto por Heitor.

Zeus dissera que Heitor seria morto por Aquiles e tal se confirmaria após muitas rusgas entre eles com deuses interferindo protegendo um e outro.

Boa parte do livro se refere a descrição de batalhas sangrentas porque as vítimas caiam a poder de lanças de bronze ou de espadas.

Não havia compaixão de parte a parte, ninguém era perdoado na hora do confronto. A glória era abater o inimigo e mais a glória seria exaltada se a vítima tivesse fama de lutador invencível. E a obtenção da armadura do morto era o troféu.

Algumas descrições às vítimas de lança certeira:

● A lança atingiu o nariz da vítima, junto dos olhos e passou pelos dentes, cortando a língua sob a raiz e a ponta apareceu sobre a mandíbula...

Ou então,

● ...atirou uma seta de sete pontas, quando ele se retirava, atingindo nádega direita do inimigo. A seta penetrou na bexiga, embaixo do osso. Ele caiu e o sangue ensopou a terra... 

E mais,

● A pontiaguda lança atingiu a testa do combatente e os miolos se "dispersaram do lado de dentro" e ele morreu. 

Com Ulisses, Agamenon e Diomedes feridos, com a ajuda dos deuses e com Heitor protegido por alguns deles, inclusive por Zeus, os troianos se aproximam ameaçadoramente dos redutos gregos inclusive incendiando seus "côncavos" navios.

Então, Pátroclo, aliado e companheiro de Aquiles, chega até ele implorando que entre na guerra para vencer os troianos.

Aquiles não se emociona, mantém ainda o rancor pelo ato de Agamenon em retirar dele, a bela Briseis, "troféu" de conquista de batalha, a tal ponto em recusar até valiosos presentes dele na tentativa de reparar a humilhação que lhe impusera.

Então, Aquiles incentiva Pátroclo a partir para a batalha e para isso cede-lhe sua armadura e armas.

Pátroclo assim age e vai matando muitos troianos, até ser morto por Heitor, "o matador de homens".

Há, então, uma disputa  pelo corpo de Pátroclo: os troianos o querem como troféu e os aqueus o querem para a devida cerimônia fúnebre.

Conseguido o corpo, os aqueus informam da morte do amigo a Aquiles. Este porque chorão como era, se emociona e chora copiosamente enquanto se preparam as cerimônias fúnebres.

Decide partir para a guerra, sabendo que era temido pelos inimigos. O deus Hefestos fabrica nova armadura e armas para Aquiles a pedido de sua mãe Tétis.

Ao saberem da entrada de Aquiles na guerra, os pais de Heitor (Príamo e Andrômaca), que já choravam a perda de filhos na guerra, imploram: 

- Heitor, querido filho, não enfrentes sozinho aquele homem. longe dos outros, para que não encontres sem demora o teu destino, abatido pelo filho de Peleu, eis que aquele homem cruel é muito mais forte. 

Não demoraria, e Heitor, enfrentando Aquiles seria morto por um golpe de lança que atravessaria facilmente seu "macio pescoço". Heitor ainda teve tempo de pedir a Aquiles, em nome dos seus pais, que não o deixasse como alimento dos cães gregos.

Mas, Aquiles, com desprezo e rancor:

- Cão, não me supliques pelos meus joelhos e por meus país.

Morto Heitor, uma grande consternação em Troia, o desespero de seus país, tudo agravado pelo modo como agiu o algoz, arrastando o corpo do morto em volta do túmulo de Pátroclo.

Zeus e outros imortais, apiedam-se daquele modo de agir de Aquiles. Então, Zeus chamou a deusa Tétis para que levasse uma mensagem ao filho, determinando que ele entregasse o corpo de Heitor aos seus pais.

Assim se deu, observando Tétis que Aquiles já chorara demais pela morte de Pátroclo:

- Meu filho, por quanto tempo consumirás teu coração chorando e sofrendo, sem pensar no alimento e no leito? Coisa agradável é deitar-se com uma mulher para o amor.(?)

Príamo por mensageira de Zeus foi informado que deveria ir aos redutos gregos com ricos presentes a título de resgate e levasse para Troia o corpo de Heitor. 

Vacilando muito, o velho Príamo (pai de Heitor), assim fez. Tratado com frieza mas com respeito, acabou por levar o corpo do filho à sua cidade, dando-se, então, a cerimônia fúnebre.

Ilíada" assim se encerra no relato dessa cerimônia, sem narrar o desfecho da guerra…

O CALCANHAR DE AQUILES

Esse mito não é encontrado na “Ilíada” ou em qualquer obra.

É um mito oral, pode-se assim dizer, inserido num outro mito.

Aquiles era filho de Tétis, deusa do mar e de Peleu, rei dos Mirmidões (Tessália). Quando criança, sua mãe, segurando-o pelo calcanhar o mergulhou nas águas do rio Estinge como um modo de lhe dar a imortalidade. Mas, onde Tétis o segurou no calcanhar não foi banhado pelas águas, deixando-o vulnerável, então, nesse pequeno ponto.

Continua o mito revelando que Aquiles fora morto por uma flecha envenenada atirada por Páris certeira no calcanhar vulnerável dirigida pelo deus Apolo que passara a odiar o herói grego.

E O CAVALO DE TROIA, O FAMOSO "PRESENTE DE GREGO"?

Não há menção sobre essa lenda na "Ilíada".

Mas, a menção se dá sem detalhes na "Odisseia" do mesmo Homero.

Comentário de Menelau às lembranças de Helena de volta ao lar grego sobre Ulisses e o "cavalo de Troia":

"(...) Conheci por experiência os pensamentos e a bravura de muitos heróis, percorri o vasto mundo nunca, porém, meus olhos viram quem possuísse um coração como o do paciente Ulisses. Atentai no que ousou e empreendeu este homem enérgico, dentro do cavalo de madeira, onde os mais valentes dos Argivos (gregos) estávamos emboscados, para levar extermínio e morte aos troianos." (*)

E na "Eneida" de Virgílio que narra a fuga de Eneias da Troia destruída:

"Já fatigados da guerra e repelido pelos fados (destinos), no correr de tantos anos, os chefes gregos, por inspiração de Minerva, constroem um cavalo, tão grande como um monte, tecendo-lhe os costados de pranchas de abeto, e fazem divulgar ser aquilo um voto pelo seu feliz regresso. Dentro, no bojo escuro lhe metem escondidos guerreiros e de armada soldadesca enchem-lhe o ventre e todas as cavidades." (**)

HELENA

A guerra de Troia está muita acima do ousado sequestro da linda Helena, esposa de Menelau, por Páris (Alexandre).

Claro que na obra de Homero, há referências a essa ato ousado (e consentido) de Páris, pensado pelo seu próprio irmão, Heitor.

Diz ele:

"E se eu pusesse no chão meu escudo e o pesado elmo e fosse ao encontro do admirável Aquiles e prometesse entregar Helena aos filhos de Atreu (Agamenon e Menelau), para que a levassem e, com ela, todos os bens que Alexandre trouxe nos côncavos navios para Troia que foi o começo de toda a guerra..."

Escreveu Virgílio na sua "Eneida":

"Não lances a culpa à formosa e odiada Helena nem a Páris tampouco; foi a inclemência dos deuses que destruiu a poderosa Troia."

Em todas as linhas de a "Ilíada", Helena era qualificada como a esposa de Páris (ou Alexandre), mas quando chamada carinhosamente por seu sogro Príamo para ver em batalha seus  irmãos e conhecidos gregos, inclusive Agamenon, seu cunhado, ela mostra arrependimento por estar em Troia, mas não fora forçada a seguir o troiano, seu marido:

- Oh! oxalá a negra morte tivesse me tomado quando segui teu filho até aqui, deixando meus aposentos, meus irmãos, meu filhinho e o grupo alegre de minhas companheiras. Já, porém, que tal não se deu, eu me consumo com o pranto."

Na solenidade fúnebre de Heitor - e aqui uma questão de datas - Helena agradece o falecido pelo modo carinhoso como fora sempre tratada por ele, reafirma que melhor tivesse perecido em seguir o marido Páris, dizendo:

"Eis que faz vinte anos que aqui estou e deixei minha pátria.

Vinte anos! Esse tempo posterga muitos eventos situados na obra de Homero!

Referindo aos feitos de Ulisses, relatados na "Odisseia" explica Helena:

"E após ter massacrado muitos troianos com o bronze de afiada ponta, voltou a reunir-se aos Argivos (gregos) de posse de muitas informações. Então as outras mulheres troianas soltavam lancinantes lamentações, mas eu exultava de alegria, porque meu coração já era outro. Ansiava por voltar para casa e lamentava a cegueira com que Afrodite me ferira ao conduzir-me para lá, longe da pátria. deixando atrás de mim a filha (na "Iliada" ela se refere a filhinho), o tálamo (leito nupcial) e o esposo, que a ninguém é inferior em espírito e beleza".

Não parece muito claro a fidelidade de Helena a Menelau. Tome-se o exemplo de Penélope, a esposa de Ulisses.

Mas, tudo isso é literatura rica e fantástica.


ODISSEIA













Ulisses embora valente, o saqueador de cidades, chorava de saudade de sua Ítaca, de sua esposa Penélope - "a mais cordata das mulheres" e de seu filho Telêmaco.

Esses sentimentos, no longo poema de Homero, brotaram pela série de desafios enfrentados por Ulisses - especialmente 
os obstáculos impostos pelo deuses imortais para que voltasse ele para o lar, para Ítaca, após participar da guerra de Troia - o livro o coloca mesmo como um dos membros que conduziram o cavalo monumento de madeira, "presente de grego" aos troianos que os levou à derrota.

O poema - que li numa boa edição em prosa mas que não difere muito de edição da década de 40 que 
examinei - para mim realça estas virtudes do herói: fidelidade, coragem e heroísmo.

No poema os deuses do Olimpo e os homens mortais tinham relação muito próxima. Muitas vezes os mortais recebiam auxílio ou castigo direto de Zeus e de outros deuses tanto que a deusa Atena, de "olhos brilhantes" protege Ulisses até que voltasse a Ítaca mesmo enfrentado todo tipo de desafios e indivíduos monstruosos.

Depois de anos de ausência, após participar ativamente da guerra de Troia, o destino de Ulisses era uma grande dúvida: fora morto nalguma batalha? Ele teria morrido num naufrágio? Ou estaria vivo ainda prisioneiro nalguma terra distante?

Essa dúvida magoava demais sua esposa Penélope e seu filho Telêmaco já adulto.

Então, com essa dúvida, Telêmaco viaja por outras terras tentando obter informações seguras do paradeiro do pai, sem sucesso.

Ao mesmo tempo, sua mãe chorava muito a ausência do marido e, tanta a demora de notícias que na sua rica morada, acumularam-se varões de Ítaca pretendentes em receber um sim matrimonial de Penélope. Eles acreditavam que Ulisses morrera pelo que Penélope viúva, de notável beleza, poderia se casar com algum dos pretendentes, aquele mais rico e que lhe oferecesse os presentes mais valiosos.

Esses pretendentes praticamente viviam na mansão de Ulisses, alimentando-se de seus rebanhos atitude abusada porque dilapidavam suas riquezas. Houve revolta desses assediadores quando descobriram que o véu tecido por Penélope, futura mortalha para embalar seu sogro Laertes ao morrer, se casaria quando estivesse pronta, mas à noite desmanchava o que de dia tecera.

Telêmaco ao retornar da viagem sem a confirmação se seu pai vivia ou morrera, cuidara que não fosse assassinado pelos pretendentes que o tinham como empecilho ao casamento de sua mãe.

Por sete anos viveu Ulisses com a deusa-ninfa Calipso na Ilha Ogigia depois que sua nau fora destroçada e mortos seus companheiros por violenta tempestade como castigo imposto por Zeus, a pedido do deus Helio pelo abate de vacas deste criadas em suas terras. 

Linhas à frente, volto a esse episódio.

Calipso queria ter Ulisses como esposo. E ele era o amante dela.

Tal perdurou até que a deusa Atena interveio por Ulisses perante Zeus, que determinou que Hermes fosse até Calipso para lhe comunicar que Ulisses deveria retornar à sua terra natal, Ítaca. 

Calipso  promete a Ulisses, se ficasse, se tornaria imortal. Para voltar à esposa Penélope em Ítaca, enfrentaria grandes dificuldades. Mas, ela o auxilia na construção de uma jangada e ele parte.

Essa embarcação é destruída por ato de Posídon que provocara severa tormenta no mar.

O herói se salva chegando à terra dos Féaces.

Recebido com honras pelo rei Alcino – que lhe oferece múltiplos e valiosos presentes - mesmo sem que fosse conhecida sua identidade, depois de um tempo, afirma ser Ulisses e, a pedido do monarca, relata toda sua odisseia até chegar ali.

Relata que ao deixar Ílion, os ventos o levam a Ísmaro, saqueiam a cidade, ficam com as mulheres mas são atacados pelos cícones. Das batalhas havidas, morrem alguns de seus companheiros.

Na fuga suas naus são desviadas para terras dos Ciclopes e lá se depara com o gigante Polifemo, dotado de apenas um olho, hábil pastor. 

O gigante os aprisiona em sua caverna, devora seis dos companheiros de Ulisses e mantém refém os demais para a mesma finalidade.

Então, Ulisses e seus companheiros sobreviventes, embebedam Polifeno com vinho, preparam um grande tronco fino comprido, aproveitam sua embriagues e o cegam. 

Na fuga que se segue, Polifeno tenta os atingir com enormes pedras atiradas a esmo e sem direção ao mar.

Polifeno, filho de Posídon, roga ao pai que nunca permita que Ulisses retorne ao lar, a Ítaca.

Aporta Ulisses na Ilha de Eólia terra dos guardiões do vento, onde vivia Éolo. Bem recebido, para que Ulisses e os seus companheiros partissem, Éolo garantiu que os ventos os conduziriam ao destino. Para tanto lhe presenteara com um odre que aprisionava os ventos desfavoráveis. 

Mas na viagem, esse odre foi aberto desencadeando o sopro de ventos desfavoráveis. Suas naus voltam à Ilha de Eólia. Éolo não os recebe de novo e, então, aportam na terra dos Lestrigões.

Dos dois grupos para conhecer a região, um deles, no qual não estava Ulisses, dera-se com Circe, feiticeira que lhes ofereceu uma bebida, transformando-os em porcos.

Hermes aparece para Ulisses e lhe ensina o truque para salvar seus companheiros vítimas do feitiço: ervas lhe foram entregues que impediriam o feitiço de Circe.

Assim, feito, Ulisses por recomendação do deus, ameaça matá-la. Circe assustada liberta seus companheiros do feitiço.

Depois de um ano com Circe e seus banquetes, Ulisses lhe informa que partiriam para a terra natal.

Mas, Circe lhe diz que, antes, deve viajar até a região de Hades - morada dos mortos - e da "terrível Perséfone" para consultar o adivinho Tirésias, já morto mas que mantinha os mesmos poderes de quando vivo. (*)

Ulisses chora muito esse novo desafio, mas para lá vai.

A primeira alma que aparece, já na região de Hades, é Elpenor, companheiro de Ulisses que morrera de acidente na morada de Circe e estava, ainda, sem sepultura.

Para receber Tirésias imola um carneiro negro e deixa correr "o seu negro sangue". (**)

Este, após beber o "negro sangue", informa que a chegada de Ulisses a Ítaca será dificultada pelo "Sacudidor da terra ", Posídon, que pretenderia vingar a cegueira imposta ao seu filho Polifeno.

Mas, disse, também, o adivinho, que conseguiria escapar das tormentas aportando na ilha do Tridente mas não deveria se aproximar dos carneiros e vacas do deus Hélio.

Ulisses, depois de deixar Tirésias encontra sua mãe e, emocionado, tenta abraçá-la mas, ela evitava a aproximação como se "fosse uma sombra ou um sonho."

Todos os mortos se aproximaram de Ulisses, tentando expor suas angústia. 

Reconheceu a bela mãe de Édipo, o aqui chamada de Epicasta que se casara, sem o saber, com o próprio filho. (**)

Viu Tício, sendo atacado por dois abutres que dilaceravam seu fígado por ter violentado Leto, a "ilustre esposa de Zeus".

E outros conhecidos de Ulisses sofriam castigos.

Todos estavam ávidos em sorver o "sangue negro" dos animais abatidos. 

Então, vencida essa etapa, volta aos domínios de Circe para sepultar seu companheiro Elpenor.

Ela o avisa para ser cauteloso quando chegasse na região das sereias porque seu cantar melodioso encantava os viajantes que não resistiam à sedução e por lá ficavam cativos, numa espécie de deslumbramento.

Também haveria que cuidar muito quando se aproximasse da região de Cila e Caríbedes, devendo ficar mais próximo de Cila.

Para não ouvir o canto das sereias, ele obriga que seus companheiros tapem os ouvidos com cera. Ulisses pede para ser amarrado num mastro e suporta  a sedução das sereias que 'inundavam  seu coração'. 

Cila era um monstro horrendo com 12 pés e seis cabeças descomunais das quais não havia quem escapasse. 

Circe recomendara a Ulisses que não empunhasse qualquer de suas armas para não provocar Cila.

Esquecido desse conselho, Ulisses arma-se. Cila atacou a nau  apreendendo e devorando seis dos companheiros de Ulisses,

Caríbedes tinha o poder, ao engolir a água salgada e quando a vomitava o mar se tornava revolto e efervescente.

Mas, ao escaparem, mesmo com os seis companheiros devorados aportam na ilha de Hélio. 

Os companheiros de Ulisses, quando não havia mais alimentos, abatem vacas do deus Hélio que pede a Zeus que todos eles sejam mortos como castigo.

Tal ocorre, apenas Ulisses é poupado e ele é atirado na ilha da deusa Calipso. 

Dai, vai em busca de sua terra, Ítaca, numa jangada e, poupado, chega à terra dos Féaces.

Depois de ouvir tudo o que Ulisses enfrentara, Alcino, rei dos Féaces, resolve equipar uma nau e conduzi-lo a Ítaca, não sem antes dar-lhe muitos presentes.

E Ulisses chega a Ítaca. A deusa Atena que o protegia, o "transforma" num mendigo irreconhecível de tal ordem a que conhecesse a quem poderia confiar e quem o traia.

O único que o reconheceu foi seu fiel cão Argos, meio abandonado, que se ergue à chegada do dono.

Seu porqueiro fiel se emociona porque acreditava na morte de seu senhor.

Algum tempo depois Ulisses se dá a conhecer a seu filho Telêmaco e ambos engendram um plano para se vingar dos pretendentes matando todos eles.

Ulisses mendigo aos poucos vai se aproximando de sua mansão sob escárnio e protesto dos pretendentes que ainda assim lhe davam algum alimento como esmola.

A velha escrava Euricléia ao lavar os pés do mendigo por ordem de Penélope, reconheceu que era Ulisses por uma cicatriz profunda na perna que ficara após o ataque de um javali. Ele pede à escrava que mantenha o segredo de sua identidade.

Penélope também não o reconhecera. Ela sugere uma prova aos pretendentes: que aquele que vergasse o arco de Ulisses, fixasse a corda e armá-lo, ao mirar uma flecha, deveria ela ultrapassar o furo de 12 machados devidamente postos em linha.

Telêmaco parecia  conseguir vergar o arco, mas Ulisses com um gesto imperceptível o impediu de prosseguir.

Então o arco é dado ao mendigo sob protestos. Este não só consegue vergá-lo como mira a flecha que ultrapassa o orifício dos machados.

Feito isso, apoiado pelo porqueiro Eumeu, com o boieiro Filécio  e Telêmaco, começam a matar todos os pretendentes.

E conseguem. Os corpos são levados para um local da morada enquanto Ulisses vai em busca do pai Laertes nos campos porque esperava a reação de toda Ítaca. Foram mortas figuras destacadas da cidade. 

[É nessa visita emocionada entre pai e filho que se sabe que o velho Laertes cultivava frutas em seus campos. Essa é única referência a esse tipo de alimento em toda a Odisseia. A predominância sempre fora nos festins constantes, a carne. o pão e o vinho].

Zeus, todavia, a pedido da deusa Atena, decreta a paz em Ítaca, mesmo após aquelas mortes todas.

Quando Penélope, "a mais cordata das mulheres", finalmente reconhece que o mendigo estrangeiro era Ulisses, agora devidamente apresentado com vestes ricas, se emociona muito e seguem para recuperar o amor de tantos anos passados.

Haviam se passado 20 anos.

MORAL DA HISTÓRIA

A "Odisseia" de Homero traz no seu conteúdo, timbres de fidelidade matrimonial, o amor filial, a coragem e a sensibilidade porque o herói chorava. Mas, também, a vingança para salvar a honra. Todos os sacrifícios, os percalços e os monstros extraordinários (Polifeno e Cila) enfrentados por Ulisses, podem ser qualificados como as dificuldades da própria vida de cada um e, quanto aos monstros aqueles pensamentos de ódio, destrutivos, que frequentemente habitam a mente mais de uns do que de outros.

E os deuses sempre dirigindo a vida e a morte do mortais. 

E há que destacar a fidelidade de Penélope.


Referências:

(*) Sócrates, diz ele que há almas perdidas fora do mundo invisível que temem a região de Hades, afastam-se do corpo e se tornam visíveis, vagando em volta dos túmulos, dos cemitérios, fantasmas medonhos, espectros assustadores. 

Acessar: SÓCRATES DE PLATÃO

(**) Tirésias é o mesmo adivinho da obra teatral "Edipo Rei" de Sófocles. Epicasta n obra de Sófocles é chamada de Jocasta.

Acessar: ÉDIPO REI de Sófocles


ENEIDA













ENEIDA é um poema épico de Virgílio que conta a história de Eneias, troiano que escapou da guerra de Troia como herói mesmo sendo seus exércitos derrotados pelos gregos que conseguiram entrar na cidade tendo como meio, o famoso cavalo de madeira ("o presente de grego").

Nesse cavalo de madeira, de proporções, se escondiam militares gregos que praticamente destruíram Troia.

O exemplar que tenho de Eneida é 
também em prosa, não em verso, como se constitui a obra original de Virgílio, edição dos primeiros anos da década de 1940.

A obra de Virgílio foi 
conhecida há mais de 2000 anos, pouco tempo antes do surgimento do cristianismo.

Na “Eneida” dá-se relato das lutas de Eneias, guerreiro heroico de Troia que dela foge para se instalar no Lácio, Itália.

Eneias com a ajuda de sua mãe, a deusa Vênus, escapa de Troia devastada pel
os gregos. No trajeto da fuga, na qual o acompanha seu filho Ascânio, desaparece sua esposa Creusa por ordem dos deuses do Olimpo.

Também ele vence obstáculos de toda natureza, o ódio e as ciladas da deusa Juno. 

Na obra  cenas de amor, de suicídio por amor e muitas lutas violentas, a poder de lanças e flechas. Essas lutas ou guerras tinham por objetivo, além de conseguirem os troianos territórios da Itália para fundarem os troianos uma nova cidade. E, também, a conquista por Eneias, de Lavínia, noiva que lhe fora prometida pelo rei Latino mas que seria depois seu inimigo na guerra por influência de Turno também seu inimigo.

Na obra Eneida há também, como na
s obras de Homero, monstros.  Destaco as harpias que voando dos montes, batendo suas asas com "horripilante ruído", roubam as iguarias "sujam  tudo com seu imundo contato" e exalam mau cheiro e seus gritos selváticos.

Quando conseguiu, com seus navios se afastar da região de Troia devastada, por má influência da deusa Juno, os ventos soprados pelo deus Eólio fazendo o mar revolto, os troianos aportam sem o saber nas terras Líbias, na cidade de Cartago na qual a bela Dido, a rainha, vinha construindo.


Enéias e seu grupo são bem recebidos em Cartago. En
eias  relata a Dido todas as suas aventuras, as batalhas em Troia destruída e incendiada, evitado o reino de Ítaca, berço do cruel Ulisses, a morte brutal do velho Príamo, rei troiano...

Por obra de Citereia (Vênus), atacada por Cupido disfarçado, Dido se apaixona por En
eias e pensa em retê-lo para com ele viver. Se entrega a ele, mas Júpiter ordena que seja o herói avisado pelo mensageiro Mercúrio que não seria Cartago o seu destino e o obriga a viajar nos rumos do seu reservado destino (fados), a Itália.

Eneias se emociona em deixar Dido. Esta, perdida de amor e pela fuga de seu amante, envergonhada, se suicida.

Chegando à Sicília, em homenagem a seu pai, Anquises, promove jogos fúnebres mas as mulheres troianas, cansadas das viagens e por sugestão de Juno, incendeiam navios. Então Eneias, funda a cidade de Acesta, deixando lá as mulheres e os inválidos, seguindo seu destino.

Aporta então em Cumas e lá se encontra com Sibila, aquela que "inspira o furor divino e revela o futuro". Com ela desce aos infernos para ver a sombra" do pai, Anquises. Nesse ambiente sombrio constata todo o sofrimento daqueles que em vida pecaram gravemente, as desgraças que afetam os mortais, horríveis monstros...

Chegam na caminhada num ambiente mais sereno, nos "Campos Fortunados" onde se reúnem aqueles  heróis, "dos que em peleja morreram pela pátria, os sacerdotes puros durante a vida, os vates piedosos, que disseram coisas dignas de Apolo, os que inventaram artes para  melhorar a vida..."


Eneias encontrou a sombra do pai. Tenta abraçá-lo mas sendo uma sombra escapa pelos seus braços.


Anquises então explica ao filho o modo de renascer na terra, muita semelhança com os que 
acreditam em reencarnação. São "almas depuradas" as que voltam à vida, "para que deslembrados do passado, tornem a ver a face da terra e queiram voltar aos novos corpos".

Prosseguindo na viagem chega à foz do Rio Tibre.


O rei Latino percebe a presença de estrangeiros e que pretendiam se apossar de 
territórios da Itália.

Nessa perspectiva estava Lavínia acendendo as chamas dos altares dos deuses ao lado do seu pai quando um prodígio se realizou ampliando-se o fogo por todo o recinto e queimando parte dos longos cabelos dela.


Foi considerado um presságio.


Então Latino consultou um oráculo. Este confirmou que um estrangeiro ilustre  chegaria e deveria desposar sua filha Lavínia.


Latino recebeu En
eias e sua comitiva muito bem. Ofereceu território para que construísse uma cidade e ofereceu sua filha em casamento.

Eis que Juno, esposa de Júpiter que odiava os troianos, interveio para, por uma divindade do mal, "envenenar" Amata que cuidava do casamento de Lavínia com Turno.


El
a não convence Latino a romper com o prometido a Eneias. 

Então, instiga o ódio em Turno que declara guerra os troianos, buscando somar ao exército italiano outros exércitos de reinos vizinhas. E sob essas forças revoltas em sua volta, então, Latino se volta contra Eneias

En
eias, por sua vez, ao saber da guerra declarada também busca outros aliados. Orientado pelo deus Tiberino busca Arcade e pede o apoio do rei Evandro.

Evandro aceita ajudar destacando seu filho Palante para comandar o seu exército em apoio a En
eias.

Os combates violentos são descritos por Virgílio de modo realista, como neste trecho:


"Ouvem-se os gemidos dos moribundos, na sangueira rolam armas, cadáveres e cavalos a morrer acende-se áspera batalha".


Latino percebendo o mal que fizera a guerra em seu reino, se arrepende muito de não ter mantido a promessa feita a En
eias, aceitando a guerra proclamada por Turno também pretendente de sua filha Lavínia.

"De todos os pontos da cidade corre-se aos muros. O rei Latino dissolve a assembleia e adia o conselho, lastimando-se por não ter espontaneamente recebido e como genro associado ao reino o dardânio Eneias."

Turno é auxiliado por sua irmã Juturna que pode ter ferido Enéias com uma flecha (
a obra não revela isso) mas ele se recupera logo com a ajuda de Vênus.

En
eias e Turno eram exímios lutadores e praticamente venciam todos os adversários a frente. E o final dos combates se daria em duelo entre Turno e Eneias.

Nessa luta final entre Eneias e Turno, havia a sensação de que este seria morto pelo adversário.

Turno permanece indeciso, medroso e 
à distância. Eneias, então, atira de longe a lança que trespassa a coxa de Turno que se ajoelha indo ao chão aquele corpo avantajado (v. ilustração na capa do livro).

Ao se aproximar do adversário caído, En
eias até vacilava em matá-lo, ouve dele que Lavínia lhe pertence, que ele vencera a guerra,  mas vê nos ombros despojos do jovem Palante - filho de seu aliado Evandro - morto por Turno e, então, cheio de ira, "impetuoso embebe a espada no peito do inimigo".

A heroína: Camila, de peitos nus, luta bravamente ao lado de Turno, inimigo de Eneias mas é morta em combate. 

MORAL DA HISTÓRIA

Não se subestime a fé dos mortais nesses poemas épicos tributada aos seus deuses pagãos, porque as orações nos momentos difíceis eram parecidas às de hoje nas quais os crentes rezam para Deus ou suas Divindades: as orações dos mortais gregos e troianos pediam aos deuses, a vitória, a preservação da vida nas batalhas e nas intempéries, realização de desejos...

Então, nem se estranhe a presença permanentes dos deuses do Olimpo muitas vezes se relacionando com os mortais, porque tantos são os que creem que Deus e as Divindades de hoje também agem respondendo orações piedosas.


Há inclusive o cumprimento dos fados (do destino) que Júpiter reluta em mudar ao pedido que ajudasse En
eias nas batalhas.


MITOLOGIA GREGA: MUITO EXTENSAS ESTAS RESENHAS E COMENTÁRIOS DOS TRÊS LIVROS. E NÃO É SÓ ISSO, HÁ MUITO MAIS.  OS TEXTOS SÃO DENSOS MESMO "EM PROSA" COMO SÃO ESSAS OBRAS RELATADAS.

SERÁ SEMPRE BOM RECEBER CRÍTICAS E CORREÇÕES TANTAS AS ALTERNATIVAS QUE AS OBRAS APRESENTAM.


quarta-feira, 15 de março de 2023

O DOSSIÊ PELICANO de John Grisham

 LIVRO 105












É bom vez por outra, sair um pouco dos livros que exigem indagação e até com enredo amargo e me dedicar por alguns dias em ler "O Dossiê Pelicano", um romance onde o suspense, as perseguições e os assassinatos, a despeito dessas implicações, significaram uma leitura amena e agradável.

Eu não quero com esta impressão tirar o mérito da obra, mas não somente este, me parece que há uma pitada de "O dia do Chacal" de Frederick Forsyth.

O enredo do livro foi filmado em 1993 com Julia Roberts e Denzel Washington dirigido por Alan Pakula.

ENREDO

Dá-se assassinato duplo de dois juízes da Suprema Corte americana:

O nonagenário Abraham Rosenberg morto por um tiro a "queima-roupa", em sua casa mal vigiada por implicâncias dele aos cuidados sugeridos pelo FBI e

de Glenn Jensen, magistrado homossexual, morto asfixiado num cinema pornô-gay.

E o que os dois tinham em comum? Nada, apenas que Jensen acompanhava todos os votos do nonagenário Rosenberg nos julgamentos.

O assassino não deixara marcas de qualquer natureza, era um profissional, na verdade um certo Khamel que para esses assassinatos cobrara dez milhões de dólares.

Surgem as mais variadas teorias sobre os crimes.

A estudante de direito Darby Shaw se interessa pelo trágico acontecimento e faz uma pesquisa simples na biblioteca da faculdade, busca casos pendentes na Suprema Corte e chega a uma conclusão das causas do assassinato e quem poderia ser o mandante.

Seria confirmado, depois, que o empreendedor Victor Mattiece tinha interesses em regularizar extração de petróleo numa região de pântanos na Louisiana na qual muitos animais se abrigavam incluindo o pelicano-marrom.

"O pelicano tornou-se o herói da batalha. Depois de trinta anos de insidiosa contaminação por DDT e outros pesticidas, o pelicano-marrom da Louisiana estava ameaçado de extinção."  

E fora o pelicano herói de qual batalha? 

E que numa demanda judicial o "Fundo Verde" vinha obtendo êxitos conseguindo adiar a exploração de petróleo naquela região.

Então, o vilão Mattiece foi informado por alguns dos seus advogados entre as dezenas com os quais contava, que sem os juízes Rosenberg e Jensen suas chances de reverter as decisões judiciais desfavoráveis em tribunais regionais se acentuariam na Suprema Corte.

Ampliação dos assassinatos

Thomaz Callahan professor de direito amante de sua aluna Darby Shaw de quem era apaixonado, com o dossiê que ela lhe entregara, resolve, por sua vez passar às mãos do advogado do FBI Gavin Verheek que teria feito a divulgação para outros membros.

Esse o dossiê, o DOSSIÊ PELICANO.

Em almoço em New Orleans, Callahan excedendo-se na bebida, completamente embriagado, sob protesto de Darby que queria dirigir pelo estado de seu amante, ele não aceita, entra só no carro e esse explode violentamente. Darby se fere mas o professor morre.

No tumulto que se instala, aparece para acudi-la, o suposto policial sargento Rupert que a coloca num veículo e desaparece.  Ninguém da polícia de New Orleans o conhece.

É assassinado, mais tarde, também, Gavin Yerheek aquele que recebera a cópia do dossiê de Callahan.

Darby passa a ser perseguida pelo assassino Khamel e se passando este por Gavin já assassinado chega até ela e na iminência de a assassinar, é morto de surpresa com um tiro na cabeça.

O tiro fora dado por Rupert que na verdade era um agente da Cia. que já a protegia porque o dossiê se tornara conhecido. E o atentado que vitimara Callahan.

O assunto, pela gravidade foi levado ao presidente dos Estados Unidos, tratado pelo Autor com um político medíocre - que fazia lances de golfe no salão oval -, mas praticamente subimisso ao seu assistente Fletcher Coal que a tudo aprovava ou desaprovava.

Entram nas investigações o FBI e a Cia, representados pelo poderoso Danton Voyles e Robert Gminsky, respectivamente.

As investigações no tocante ao dossiê são adiadas porque Mattiece era doador da campanha do presidente e a sua relação com o mandante poderia prejudicar sua campanha à reeleição. Havia uma foto antiga na qual ambos trocavam aperto de mão.

Então Darby, ameaçada de morte mesmo com a morte de Khamel, se disfarçando e mudando de endereço e roupas constantemente, resolve manter contato com o repórter do Washington Post, Gary Granthan para a ajudar nas investigações e, tudo esclarecido, divulgar no jornal, como uma reportagem extraordinária superior mesmo àquela da renúncia de Nixon.

A partir daí, com a ajuda do FBI que se integra ao jornal, garantindo a Darby sua segurança, esclarecido a reportagem no jornal explode e se expande por todo o país. Darby foge para o Caribe, e por lá fica até que as coisas se acalmem.

Final feliz. Paro por aqui. O livro precisa ser lido para que o final seja conhecido.

O livro é um excelente passatempo ou, não o diminuindo como tal, um livro bem desenvolvido que gostei.






quarta-feira, 1 de março de 2023

ANGÚSTIA de Graciliano Ramos

 LIVRO 104




















Não é esse o primeiro livro que li do Autor. O outro foi "São Bernardo" que não pude elogiar pelo que relatei quando de sua resenha e comentários (*)

Este de agora, "Angústia" de 1936me animei a conhecê-lo após comentário elogioso de professor do ensino médio que disse que o Autor conseguira ao transpor as  "angústias" do persona gem, conseguira transferi-las, também, aos leitores.

Não sei. Há páginas eloquentes que transmitem angústia do personagem principal, Luiz da Silva mas ele não tem o perfil de um personagem complexo como muitos admitem.

Nessa linha de "angústia", complexo é o personagem Roskónikov na obra fundamental "Crime e Castigo" de Dostoiévski da qual em algumas passagens "Angústia" me lembrou episódios pensados pelo Autor russo. (**)

Mas, quais as "angústias" do personagem Luiz da Silva?

Funcionário público, mal remunerado, reconhecendo que era na repartição que tinha algum sossego, vivendo de modo precário numa pensão, sem muita perspectiva de melhoras.  Passava os dias ouvindo ruídos e vozes de outros moradores e vizinhos, alguns partícipes de suas "angústias".

Frequentemente voltavam lembranças do avô e do pai até mesmo dos tempos da escravidão. 

Escrevia artigos para um jornal - que dizia não prestarem -, a pedido de seu amigo Pimentel e tendo boa amizade com o judeu Moises.

Uma frase de Moises, loquaz quando bebia:

- História! Essa porcaria não endireita. Revolução no Brasil! Conversa! Quem vai fazer a revolução? Os operários? Espere por isso. Estão encolhidos, homem. E os camponeses votam com o governo, gostam do vigário.

E nessas proximidades da vizinhança, encantou-se com a jovem  Marina, filha do casal Ramalho / Adélia. O pai não gostava dos modos da filha, desobediente e ociosa.

Luiz da Silva se apaixona por ela e nesses contatos breves há até uma "cena" sensual mas Marina não deixa as coisas avançarem. Luiz, então, propôs casamento e presenteou-a com algumas joias comprometendo muito seu modesto orçamento.

O pai de Marina dizia a Luiz para não se casar com a filha.

Ela não só não usava os presentes que aceitara como voltou-se para um outro pretendente ou sedutor: Julião Tavares.

Então, o personagem Luiz passa a rejeitar Marina e com o tempo passou a odiar o sedutor Julião Tavares, de família rica, comerciantes. Julião "tinha os dentes miúdos, afiados, e devia ser um rato, como o pai. Reacionário e católico",

Marina teria ficado grávida de Julião e busca num bairro remoto a parteira D. Albertina - mulher grosseira, não primando pela higiene - para praticar um aborto:

- Era melhor deixar-se de vergonhas e descobrir a cara. Quando andam na pândega não têm esses luxos. E depois parem bem na bananeira. Feias coisas.

Luiz da Silva que a seguira, esperando que ela saísse da casa da parteira, caminha ao lado de Marina, chamando-a de "puta" sem parar.

Ela, resignada diz que nada de mal fizera ao ofensor. 

Ai, a angústia se manifesta forte.

No quadro de ódio que alimenta de Julião Tavares, Luiz numa oportunidade o estrangula e tenta pendurá-lo num galho. A corda fora um "presente" do desocupado 'Seu' Ivo que sempre o aborrecia mas ele não só não ignorava a presença do mendigo, alcoólatra como perguntava para si mesmo por onde ela andava

Muitos esforços, ferimentos nas mãos, roupa suja, a "angústia" da possibilidade de prisão por 30 anos.

Transeuntes não viram o cadáver dependurado.

Luiz consegue chegar ao seu quarto, sem ser visto. Lava-se, cuida das mãos feridas, se recupera, fica adoentado, não vai trabalhar mas a qualquer batida em sua porta, pensa ser a polícia e vai logo assumindo que confessaria o crime. Mas, não foi assim.

As páginas finais, no meu modo de ver, não convencem. Há confrontos e desencontros de pensamentos, da imaginação, delírios e pesadelos - idas e vindas de "cenas vividas por ele ao longo da obra que poderiam significar a "angústia" de Luiz da Silva pelo crime praticado e, então, fica por conta do leitor se fora ele condenado pelo crime ou se sua penalização fora apenas de natureza moral.

Freud não explica.

O livro talvez merecesse um final...   

(Críticas serão bem-vindas)



Referências
(*) Acessar: SÃO BERNARDO

(**) Acessar: CRIME E CASTIGO
 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

SUAVE É A NOITE de F. Scott Fitzgerald

 LIVRO 103













O Autor é americano nascido em Saint Paul, Estado de Minnesota (n. 1896 - m. 1940).

Essa obra foi lançada em 1934. 

Em 1962 foi lançado o filme dirigido por Henry King com o mesmo título inspirado na obra.

Curioso que esse Autor, também americano, faz seu romance se passar principalmente em Paris, assim como Ernest Hemingway ("Paris é uma festa") (*), W. Somerset Maughan ("O fio da navalha") (**) e Henry Miller ("Trópico de Câncer") (***)

A preferência especialmente por Paris talvez signifique um modo de sofisticar a história que cada um contou.  

Quando comecei a ler achei que o livro, a despeito de suas 320 páginas não teria muito a acrescentar, mas ele evolui a partir da parte 2. 

Estava, ainda, nessa dúvida quanto ao interesse do livro, afinal fora lançado em 1934, quando li que fora relançado agora em 2023, fazendo referência a notícia de que o obra poderia ser um "retrato autobiográfico de Fitzgerald e sua mulher Zelda". Com efeito, em momentos de um casamento feliz, com ambos levando vida conturbada ela começou a demonstrar distúrbios psicológicos.

Enredo

Uma história de ricos, americanos na maioria, que esbanjam riquezas em recepções constantes, predominante em Paris,  comandadas pelo casal Dick Diver e Nicole Warren.

Ele médico psiquiatra e ela com distúrbios mentais sérios, tendo como causa, tudo indica, após uma relação incestuosa com o próprio pai.

Como médico, Dick conhece Nicole, multimilionária, lindíssima, se apaixonam e se casam. Desse casamento nascem dois filhos.

Essa relação é relativamente normal, embora haja momentos em que Nicole tem recaídas de natureza psicológica, a ponto de chamar a atenção de uma das frequentadoras numa das recepções. Tentando a sra. Violet McKisco fazer fofoca sobre o que vira entre o casal Diver, fora ela proibida de continuar o relato por Tommy Barban. Chamado de prepotente pelo marido (sr. McKisco), Tommy o esbofeteou. A querela seria resolvida num duelo que se realizou sem consequências porque ambos erraram os tiros (?)

Dick num desses encontros num praia conhece a jovem e linda atriz, Rosemary. Nessa relação um tanto livre ela desde logo disse à mãe, que a dominava, que se apaixonara por ele. Dick por sua vez por ela também se apaixona, e dá-se "um caso" entre eles num hotel.

Há uma episódio mal contado de um assassinato no qual o cadáver do negro Jules Peterson é encontrado na cama de Rosemary. Para evitar um escândalo podendo afetar o nome da atriz, o cadáver e envolvido pelas roupas da cama, é transportado para o corredor, a polícia é chamada, não pergunta nada e tudo acaba bem, como um bom filme americano.

Mas, Dick refletindo sobre essa relação com Rosemary, vai confessar no final das contas que Nicole é a mulher de sua vida (!)

No decorrer do romance, Dick começa a dar mostra de decadência, bebendo além da conta, a ponto de, em Roma, se indispor com um motorista de taxi, por uma diferença de preço, o agredir, agredir um policial, é por sua vez agredido e é preso. Com muito esforço a cunhada Baby Warren com a ajuda do cônsul americano, consegue libertá-lo, muito ferido.

Dick, associado numa clínica com Franz montada com dinheiro de Nicole, fugia com alguma regularidade do trabalho, até para se afastar um tempo da esposa.

Então Nicole, já num estágio mais controlado de seus problemas psicológicos, reconhece amar Tommy, que fazia parte de suas relações e revela esse sentimento a ele que confessa que o amor é correspondido.

Diante do amor de Nicole, Tommy revela a Dick que seu casamento é insustentável, propõe o divórcio e assim se dá. Tommy e Nicole se casam.

Dick, então, volta aos Estados Unidos e passa a clinicar em pequenas localidades em volta de Nova York até que Nicole o perde de vista.

Há outros personagens que trafegam em torno de Dick e Nicole.

Dramalhão, hein?

Detalhes

O Autor, chega a fazer viagem para o futuro. Um relato nessa ordem se dá quando  relatada uma viagem de avião de Dick que vai de Zurique a Munique, "voando em meio às nuvens". E nessa viagem, "um inglês dirigi-lhe a palavra do outro lado do corredor..." (do avião). Isso na década de 20 (!)

Um relato "estranho" envolvendo duas personagens, mulheres ricas, detidas no posto policial de Antibes, Mary North e lady Caroline. Pediram ajuda de Dick para serem postas em liberdade o quanto antes, porque

"- Foi apenas uma brincadeira - dizia lady Caroline com desdém - Fingíamos que éramos marinheiros em férias, e apanhamos duas pequenas tolas. Elas desconfiaram e fizeram uma cena horrível, numa pensão."

Uma cena "camuflada" de lesbianismo?

 O livro não é só isso. Há muitas cenas do cotidiano dos ricos, descrição de paisagens europeias e outros episódios de interesse. Digo que acabei gostando do livro, a despeito do drama muito comum nos velhos filmes americanos. 

E não posso concordar com esta análise da obra na própria edição que li. O texto é esse:

"Suave é  Noite" é o romance mais amargo de todos. Com os mesmos traços autobiográficos de outros livros, a sociedade retratada por Fitzgerald está entregue ao ceticismo e ao desespero. A crise dos anos 20, particularmente a derrocada econômica de 1929, abalam a fé nas instituições, na moral e na religião. Apenas o prazer - imediato - parecia ter algum valor, e o amor reduzia-se a uma mera satisfação da necessidade física."

Ora, não há qualquer referência à religião, a busca de proteção das divindades, mas há um tipo de redenção de Nicole recuperada de suas crises psicológicas, cuidados com os filhos e a volta do amor ao se divorciar de Dick, decadente e, quem sabe, o Autor não disse isso, ser ele feliz à sua maneira, clinicando solitariamente em pequenas localidades.

Referências:

Acessar:

(*) PARIS É UMA FESTA

(**)  O FIO DA NAVALHA

(***) TRÓPICO DE CÂNCER






quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

TRÓPICO DE CÂNCER de Henry Miller

LIVRO  102



Esse livro vinha me desafiando havia anos. 

Estava bem posto a espera que eu me encorajasse a lê-lo, nesse exercício que tenho feito de ler de tudo (ou quase) e, se começada a leitura, o compromisso de não a abandonar até o final.

Por isso, li muito livro que considerei ruim, como este. Porém, o livro foi enredo dum filme com o mesmo nome de 1970.

Eu precisava conhecer o Autor. Henry Miller era americano de Nova York (1891-1980).

De modo muito distante ouvira que nos Estados Unidos esse livro fora censurado, desde o seu lançamento em 1934 perdurando até 1961.Qual o nível dos conceitos morais mesmo na longínqua década de 30 e seguintes do século passado?

O Autor usa alguns nomes para se identificar no livro, inclusive o seu próprio.

À medida que lia constatava o forte apelo pornográfico, aquela linguagem da boemia, da vulgaridade. 

As mulheres, conseguidas facilmente naqueles cantos e becos sórdidos de Paris, a boemia, as prostitutas que não eram chamadas como "mulheres", mas identificadas pelo Autor e seus amigos, pelo seu órgão genital, mas naquele termo, digamos, vulgar.

Pouco trabalho, vadiagem, refeição e sexo constante com prostitutas.

As mulheres, no relato do livro, não são respeitadas. Aquela de "objeto sexual", no livro, cai bem ... demais.

São relatos da vida precária em Paris, jornalistas sem jornal ou pouco definidos, escritores que não escrevem, como o caso do Autor, pintores com pouco talento, todos sem ou pouco dinheiro, a cata permanente de alguns trocados para pagar um quarto precário e, especialmente, para se alimentarem.

No caso do Autor, a busca diária por refeições era uma prioridade.

Paris os encantava, mesmo com aquela vida precária. Até os moradores de ruas pareciam felizes segundo o Autor quando o dia amanhecia e lá estava, a recepcioná-los por mais um dia a grande cidade, mesmo que frequentassem ruas de periferia, sórdidas, sujas:

"Esta Paris, cuja chave só eu possuo, não se presta bem a uma excursão, mesmo com a melhor da intenções; é uma Paris que tem de ser vivida, que tem de ser experimentada cada dia em mil formas diferentes de tortura, uma Paris que cresce dentro da gente como um câncer e cresce e cresce até nos devorar". 

Os amigos do Autor se sucedem. Eles são personagens ocasionais da obra e desaparecem, significando, de regra, que fazem parte de capítulos que não aparecerão em outros.

Um detalhe notável: raramente alguém se "salva" da vida precária e do mau conceito. O Autor, de todos os personagens, realça o lado negativo de cada um, predominantemente, todos um tanto desequilibrados, carentes. Há o desrespeito figuras sacras por misturá-las sistematicamente com aquele linguajar descontrolado, sujo, com o chulo.

Sobre um jovem hindu, discípulo de Gândi, ele o desmoraliza ao levá-lo a um prostíbulo no qual ele confunde o bidê com a privada. Parede engraçado, mas não é.

As coisas são nesse nível. E tendo em conta esse jovem que conheceu os Estados Unidos, diz o Autor sobre o seu próprio país:

"O inimigo da Índia é o espirito do tempo, o ponteiro que não pode ser virado para trás. Nada servirá para vencer esse vírus que está envenenando o mundo inteiro. A América é a própria encarnação da ruína. Arrastará o mundo inteiro para o poço sem fundo." (!)

Outro caso de escárnio que o Autor apresenta se trata de um corcunda servidor de uma escola na qual fora contratado para ministrar aulas de inglês. Num dado momento, para não perder o costume da zombaria, o chama de Quasímodo, aquele personagem deformado de Victor Hugo, no romance "O Corcunda de Notre Dame".

Uma frase: 

"Mas esses imundos mendigos deitados na chuva, a que propósito servem? Que em nos podem fazer? Eles nos fazem sangrar durante cinco minutos, mais nada."

                                            ● ● ●
Tudo bem que o corpo humano tem reações naturais, mas a menção constante dessas reações fisiológicas representam o desencanto, a mente perdida na falta de um sentido com um mínimo senso da condição humana.
                                           ● ● ●

Quando o Autor se propõe a explanar sobre suas reflexões, o que pensaria sobre a própria vida, digamos, constitui-se um amontoado de frases confusas que não levam a um sentido mínimo de lógica, e que não seja lógica, pelo menos alguma consistência no que pensa de sua existência, ainda que precária naqueles dias em Paris. 

A falta de trabalho ou a pouca vontade em trabalhar, jornalistas medíocres, escritores que pouco escreviam a angústia por uma refeição parece que no final da obra o Autor se daria bem.

Sim,

Ele encontra o amigo Fillmore no momento em que saíra do Banco após tirar "algum dinheiro". Estava angustiado esse amigdo com a opressão que a esposa Ginette lhe fazia, explosiva, controlando-o muito de perto. É nessa conversa o Autor o convence a fugir da esposa, viajando para Londres com a roupa do corpo.  

Mas, não era algum dinheiro, que Fillmore sacara, era muito dinheiro. Nervoso com a fuga iminente, de trem,  deixa importância significativa aos cuidados do Autor para ser entregue à esposa Ginette ... mas o livro não revela que ele isso tenha feito. 

O leitor que decida.

Um livro sem luz mesmo em Paris. Taciturno. 
O livro é ruim mas circula por aí até hoje há quase 90 anos de seu lançamento.


domingo, 27 de novembro de 2022

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS de Markus Zusak

 LIVRO 101




Achei o livro bonito. Quase uma fantasia.

Trata-se a edição que esta aqui comigo esmerada com 480 páginas mas pelas páginas divisórias em branco deve ter cerca de 450.

A contracapa avisa o seguinte: "Quando a Morte conta uma história você deve parar para ler."

Com efeito ela explica o modo como eram recebidas as almas que se "libertavam" do corpo físico. 

E, então, vai alertando: "você vai morrer."

"- Insisto - não tenha medo. Sou tudo, menos injusta." 

Para quem ignora tudo sobre o que se passa neste planeta das diferenças e penitências, posso discutir, porém, a justiça de muitas mortes.


PERSONAGENS


LIESEL MEMINGER

A menina que roubava livros. No trem ela vira a morte de seu irmão por crise de tosse. Ela e o irmão estavam sendo conduzidos pela mãe aos pais adotivos em Munique.

No cemitério ela "roubou" um livro caído na neve, "O Manual do coveiro". Ela guardou aquele primeiro livro como um tesouro. Depois, o segundo, junto com seu pai de criação, "roubou" um livro duma fogueira acendida por nazista na qual, as vítimas eram... livros.

E esses "roubos" tiveram a ajuda de seu amigo Rudy.

Ah, sim, a história se situa durante os horrores da Alemanha nazista. Adolf Hitler, o Fürher passou a ser seu pesadelo e o pesadelo de sua família de criação.

A obra dá a entender que a mãe de Liesel pode ter sido executada por ser "comunista". 

Foi difícil a separação de sua mãe quando Liesel foi deixada com os pais adotivos.

A cidade onde passaria a morar era pequena, Molching (fictícia), vizinha de Munique. na rua Himmel, 33 (Himmel = céu, paraíso).


HANS E ROSA HUBERMANN (Os pais adotivos de Liesel)

Moravam numa casa modesta na rua Himmel, 33 [himmel = paraíso, céu].

Rosa era uma mulher desbocada, impaciente e o marido Hans, o oposto, calmo e músico porque era exímio acordeonista. Ele que fora soldado na1ª Guerra, com o acordeão "enfeitava" a vida dura dos tempos nazistas que ia se firmando.

Ele era pintor de parede mas também obtinha algum dinheiro se apresentando com o acordeão.

E a perseguição aos judeus.

Rosa exigiu de Liesel ser chamada de "mamãe". 

O papai Hans se afeiçoara muito à menina, ensinando-a ler, lendo para ela e tocando o acordeão. A menina que roubava livros, por sua vez, em pouco tempo passou a amar os país adotivos, mesmo Rosa, com suas imprecações. 

Hans não era nazista embora tivesse pedido inscrição no partido sempre sem resposta, mas um dia houve a confirmação.

Numa "marcha" de judeus pela sua cidade, penalizou-se ao ver um idoso com dificuldades de seguir o grupo de farrapos. Tentou dar-lhe um pedaço de pão, auxiliá-lo em se aguentar nas próprias pernas. Ao presenciar a cena o militar nazista, aplicou-lhe fortes chicotadas ficando a marca do açoite. Até pensou que seria preso por essa solidariedade ao judeu idoso, mas isso não ocorreu.

Hans e Alex Steiner (pai de Rudy, amigo de Liesel) foram convocados para a guerra, mas não foram remetidos aos locais das batalhas sangrentas, na Rússia por exemplo.

Mas, um dia os Aliados bombardearam a cidade, arrasam a rua Himmel mas Liesel sobreviveu porque estava no porão lendo e escrevendo seu livro.

Seus amados pais, Hans e Rosa...

Mas, o livro de Liesel foi salvo dos escombros.


MAX

Um jovem judeu em fuga, filho de um soldado que "salvou a vida" de Hans, na Primeira Guerra. Sua família perseguida pelo nazismo não teria condescendência.

Sua mãe deu o endereço dos Hubermann e ele chegou à rua Himmel, tendo como passaporte o livro de Hitler, Mein Kamph ("Minha Luta").

Foi alojado precariamente nos porões da pequena moradia, sem sair sequer para ver o tempo lá fora, sendo alimentado pela sempre mencionada sopa de ervilhas de Rosa.

Fez amizade com a família e se tornou muito querido, especialmente por  Liesel, com quem trocava histórias a ponto de desenhar ele em páginas do livro de Hitler arrancadas e depois pintadas de branco (Hans era pintor) uma historieta na qual contava sua presença no porão, a amizade com a menina, os sonhos. 

"Agora acho que somos amigos, essa menina e eu."

Max fugiu após com medo de ser capturado pela polícia nazista após a tentativa de Hans em ajudar o idoso judeu na marcha que assistira. Hans, esperava a polícia nazista no número 33 da rua Himmel para o prender por ter se revelado "amigo dos judeus. 

Mas, tal não se deu.

A toda "marcha" de judeus presos, Liesel se aproximava para o encontrar entre as vítimas das crueldades nazistas. Um dia ela o reconhece...

Mas, ele sobreviveu... e procurou Liesel.  


RUDY STEINER 

Vizinho de Liesel, na mesma idade, era o principal amigo dela. Jogavam bola na rua Himmel, faziam travessuras, roubavam frutas e, em tudo, eram cúmplices naqueles tempos em que havia recato nas amizades.

Era briguento para alguns meio maluco.

Rudy, se inspirando no atleta americano, negro, Jesse Owens - e chegara a se pintar de preto com carvão para se parecer com o ídolo (*) - havia se tornado um atleta destacado no âmbito da Juventude hitlerista.

Ele inclusive a ajudou a "roubar" com Liesel livros da biblioteca do prefeito mas ele constatou, mais tarde, que a esposa Ilsa dele sabia dos "roubos", facilitava o acesso da menina na sala dos livros chegando mesmo a deixar, disponível, um dicionário na janela.

Sempre que Rudy fazia alguma coisa positiva à sua amiga, lhe pedia um beijo nunca concedido.

Mas, o bombardeio à rua Himmel reduzindo as casas a escombro vitimou Rudy mortalmente. Teve, então, o carinho e o beijo de Liesel.

(*) Atleta americano que participou dos Jogos Olímpicos de Verão em 1936 em Berlim, na Alemanha Nazista ganhando quatro medalhas de ouro nos 100 e 200 metros rasos, no salto em distância e no revezamento 4 x 100.


ILSA HERMANN

Esposa do prefeito.

Rosa, a mamãe de Liesel lavava e passava roupas de vários moradores da cidade, inclusive das da casa do prefeito.

Então Liesel ia frequentemente bater nas portas do prefeito.

Ilsa vira um dia Liesel roubar um livro da fogueira nazista e a convida para visitar a biblioteca.

A menina que roubava livros ficou deslumbrada e, com a aquiescência de Ilsa, ficava um tempo sentado no chão, folheando e lendo os livros que escolhia.

Até que um dia ela rompe com a mulher quando é avisada que, pelos tempos difíceis, deixaria de entregar suas roupas para sua mãe lavar e passar.

Mas, então, junto com Rudy ela resolve roubar os livros da biblioteca do prefeito pela facilidade em vencer a janela da biblioteca sempre aberta.

Claro que um dia Ilsa visita a menina na rua Himmel e lhe diz que deveria interromper esse modo de obter os livros sendo mais fácil usar a porta da casa.

Bom, após o trágico bombardeio na rua Himmel, Ilsa foi buscar Liesel que ficara sozinha. Ela era já uma adolescente com seus 14 anos. 

Mais tarde Liesel foi residir na Austrália.


Vou evitar o "spoiler"

Eu não vou prosseguir. Não vou dar os detalhes do seu epílogo, não vou revelar o final do livro nos pormenores de modo a tirar o impacto de quem não o leu ainda, mas que pretenda fazê-lo.

(*) "Spoiler" é o ato de contar episódios ou o final de um filme, uma peça, um livro a quem não assistiu nem o filme, nem a peça e nem leu o livro, estragando a surpresa e as emoções que poderiam essas obras provocar.

Eu disse que esse livro tem mais de 480 páginas. Não é pouco. As linhas acima dão uma pálida ideia do que se haverá de ler, mas quem se puser a lê-lo e eu recomendo, que relate suas próprias emoções.











terça-feira, 1 de novembro de 2022

A ILHA de Aldous Huxley

 LIVRO 100



Este livro é de 1962.

Os outros livros do Autor que li, são "Admirável Mundo Novo" (*) e "Às Portas da percepção - Céu e Inferno". (**) 

Nestes últimos o Autor relata sua experiência ao consumir LSD e a mescalina.

Na obra "Céu e Inferno" diz ele:

"O Autor, então, revela que até aquele momento se dedicara à projeção visionária bem-aventurada de sua experiência com a mescalina, referindo-se à teologia e a arte como manifestações, digamos, "celestes", desse "outro mundo".

Mas, no tocante ao inferno, a mescalina terá efeito perverso quando o paciente apresenta emoções negativas, falta de confiança, o ódio, a ira  e a maldade - "que elimina o amor" - fazem a experiência se tornar aterradora".

Nessa linha, o livro "A Ilha" vai revelar, no final, que o personagem Will - que tendo naufragado chega à ilha fictícia de Pala - "toma" o moksha, um suposta droga alucinógena.

Mas, isso é simbólico, me parece, porque a "definição" simplificada de "moksha" é esta:

Moksha ou Mukti refere-se, em termos gerais, à libertação do ciclo do renascimento e da morte e à iluminação espiritual. Na mais alta filosofia hindu, é visto como a transcendência do fenômeno de existir, de qualquer senso de consciência do tempo, espaço e causa.

Então não se trata de uma droga consumível, mas uma conquista espiritual. Mas, não ficam afastados os prazeres que a vida oferece, como o sexo. 

Maithuna é a ioga do amor. Isso significa a liberdade sexual, prática muito bem explanada por um casal de jovens amantes que explicaram ao personagem Will quando ainda hospitalizado. Busca de uma vida feliz com a prática do budismo.

Mas há, no outro extremo, o apelo à  vida virtuosa. 

O enredo do livro tem muito do uso do moksha até pelas crianças.

Frase: 

● “O conceito “Faça aquilo que gostaria de receber” se aplica em nossas relações com todas espécies de vida nas várias partes do mundo. Somente teremos permissão de viver neste planeta enquanto tratarmos a Natureza com inteligência e compaixão. A Ecologia elementar nos leva diretamente ao Budismo elementar”.


ENREDO

Will Farnaby é um jornalista inglês famoso que aporta na ilha Rendang para artigos do novo regime ditatorial, implantado pelo coronel Dipa.

A localização dessa ilha fictícia que o livro não dá as coordenadas de sua localização. A contracapa fala em "mares do Sul".

Pois bem, provavelmente explorando a área de barco, ele é vítima de um naufrágio provocada por uma tempestade.

Ele consegue chegar na Ilha de Pala, muito ferido escala um monte sendo encontrado pela menina Mary que providência o socorro de seu avô médico Dr. Robert MacPhail.

Enquanto espera o socorro ele ouve repetição da palavra "atenção" e "karuna". Era a "voz" do pássaro mainá.



   Mainá

O evento morte estará sempre presente no romance. O "horror fundamental".

Enquanto prostrado, sujo, ferido, rosto na lama, lembra-se da esposa Molly a quem traíra e de certo modo se culpando pela sua morte num acidente de automóvel.

Com grave ferimento no joelho, sua perna é imobilizada e a partir daí começa a se inteirar da cultura de Pala.

Conhece Susila, nora do Dr. MacPhail, viúva, que tendo talento em técnicas de relaxamento se aproxima do paciente Will e o conduz, nesse processo, a o afastar da realidade em algo próximo do hipnotismo:

- Flutuando sem esforço - disse para si mesmo - Flutuando sem esforço - E essas palavras lhe deram uma profunda satisfação.

E a partir daí que ele vai se inteirando da budismo praticado na Ilha.


Pala era administrada pela rami assim chamada, mãe do futuro rajá Murugan, ainda sem idade para assumir o governo.

Rami meditava no seu oratório para aumentar sua espiritualidade chegando mesmo, segundo ela a sentir a "presença" do mestre Koot Hoomi que seria um mestre espiritual. 

Tanto rami como o filho eram influenciados pelo ditador Dipa, de Rendang.

Havia, aí, interesses em reservas de petróleo em Pala e a preocupação de que o ditador a invadisse.

A ideia era promover o progresso material e tanto a rami como o filho veladamente aceitavam essa "nova" Ilha.

[Não sei, talvez até baseado nisso, mas me lembra um pouco a ocupação do Tibete pela China em 1950 - até hoje a China tem ambições expansionistas pela pressão que faz sobre Taiwan]

Murugan era filho único, mimado, com alguma vacilação sexual o que o tornava crítico de aspectos do modo de vida de sua própria Ilha. 

Me parece que, sobre a educação do futuro rajá, há uma discussão sobre o complexo de Peter Pan, exposto pelos personagens dr. Robert MacPhail e Vijaya.

Hitler teria esse "distúrbio" porque fora um fracasso na escola, incapaz de competir e de cooperar, invejando os meninos bem sucedidos, desprezando-os, um mau pintor  e quando chegou à puberdade atrasou-se sexualmente e não tinha como os jovens tinham  relacionamento com as garotas. A Humanidade pagou caro por esse perfil de Hitler.

Já Stalin seria um tipo de "homem músculo" tão cruel e incontrolável quanto Hitler mas com um perfil extrovertido de domínio, em obter o poder, rodear-se de bajuladores que muitas vezes ele não poupou. Ocupou-se em exterminar os fazendeiros, criou cooperativas, voltou-se à indústria bélica, a par de deslocar os camponeses para as fábricas. (***)

Com perfis diferentes, ambos  foram monstros, antes, durante e depois da guerra, nesse caso, Stalin que a ela sobreviveu vitorioso.


A experiência de Will "tomando" moksha

Muita intensa, "numa sucessão de revelações, a luz ficou mais intensa, a compreensão se aprofundou e o êxtase atingiu tal intensidade que se tornou insuportável".

E no seu êxtase inimaginado:

- Meu Deus! - disse para si mesmo - Oh, Deus meu!

Nesse êxtase, ao se referir à Luz, diz que ela estava nele.

A música de Bach que tocava se incorpora à sua Luz.

Mas, quando volta ao seu estado "normal", olha para o rosto de Susila, que o assistia na experiência e diz:

- Você é tão incrivelmente bela.

E já refeito Will, aproximam-se da janela e ouvem a voz de Murugan num alto-falante instalado num carro, gritando que fora constituído o Reino Unido de Rendang e Pala. 

O Primeiro Ministro desse Reino  "é o grande político e líder espiritual Coronel Dipa". Tudo pelo progresso.

Susila cobre o rosto com as mãos. Will passou o braço em volta de seus ombros. "Todo o trabalho de cem anos destruído numa noite."


FRASES

● “Sabe também que, se as preces algumas vezes são atendidas, é porque neste nosso estranho mundo psicossomático os desejos têm tendência a se realizarem, quando neles nos concentramos”.

● "Com exceção do peixe a comida e toda  budista (...) Decidimos que os peixes são vegetais, no sentido estrito do termo".

● "Que acontece quando se está doente ou quando ferido? Quem promove a cicatrização? Quem trata dos ferimentos e debela a infecção? É você".


O LIVRO

O livro é denso, tem outras abordagens, achei maçante as páginas sobre a educação infantil, há críticas contundentes sobre a educação sexual calvinista do passado, há o controle da natalidade proporcional à produção de alimentos. E por aí vai.

O livro contém 358 e penso que não seja para todos os gostos.

Mas, há muitos aspectos positivos. 


REFERÊNCIAS

(*) Acessar: ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

(**) Acessar: AS PORTAS DA PERCEPÇÃO /CÉU E INFERNO

(***) Acessar: STALIN NOVA BIOGRAFIA








domingo, 9 de outubro de 2022

O HISTORIADOR de Elizabeth Kostova

LIVRO 99


Esse livro tem 900 páginas, mas regulando o tamanho delas, numa edição convencional creio que chegaria a umas 700 páginas.

Nunca dele ouvira falar embora traduzido em vários idiomas. Pensei em desistir da leitura mas assumi que livro começado tem que ser terminado. E, por isso, andei lendo livros ruins nestes tempos.

Por isso, vacilei muito em falar aqui sobre a obra porque ela trata do vampirismo, de Drácula que, no fundo, no modo de tratar o personagem, ele se confunde com o próprio demônio. 

Nas páginas finais as descrições do personagem Vlad III (Drácula)  num tempo em que poupara por um fio a vida e convivendo "amistosamente" com o professor Rossi, já combalido porque fora vítima da sanha por sangue do vampiro, são muito convincentes a ponto de mexer um pouco com aquilo que costumo chamar de "porão do psiquismo" ao soprar "poeira tóxica assentada" na interioridade, afetando o equilíbrio espiritual.

Há filmes que a mim tiveram esse efeito de modo mais intenso.

O livro não é destituído de interesse. Há suspense, literatura - a descrição das belezas de Budapeste, capital da Hungria - de vilas remotas da Bulgária, viagens e impressões outras que dão valor ao livro.

No tocante ao enredo propriamente dito, a própria Autora, "não consegue" estabelecer as razões que motivaram o personagem professor Rossi a se interessar pela vida de Drácula, encontrar seu túmulo e se fora ou não decapitado.

Alguns motivos disponíveis: por que fora um forte combatente à invasão otomana na Europa? Pelos seus atos de crueldade infligidos aos inimigos e desafetos?

Sobretudo, claro, o interesse literário de contar uma boa história o quanto possível.

Não diz o livro mas digo eu: a busca pelo mal de modo tão intenso faz com que se conviva muito com ele. Assim com o personagem Rossi. As drogas podem ser tomadas como exemplo: começam como experimento e depois ela simplesmente destrói a saúde mental / espiritual do viciado.

Pois Vlad III (Drácula) que reinou na Valáquia, na Romênia entre 1450 e 1460, ao fazer prisioneiros nas batalhas contra os otomanos, era de extrema crueldade. Esses infelizes eram empalados e permaneciam pendurados nessas estacas enfrentando sofrimento atroz até que a morte ocorresse.

O conde Drácula faleceu em 1476

A fama de Drácula vampiro não fica muito clara o que parece ser, rigorosamente, um mito.

Há momentos sutis no livros que ocasionalmente a Autora o compara com Stalin e Hitler.

ARGUMENTOS DA OBRA

O professor Bartholomeu Rossi era famoso historiador e professor, especialista na história medieval que sem um motivo claro, passou a se interessar pela vida de Drácula.

Aproximando-se demais desse personagem, um dia recebeu sem saber a origem um estranho livro no qual entre páginas em branco, havia um desenho bem elaborado de um dragão.

Seu aluno Paul, que fazia doutorado sob sua orientação sobre assunto diferente do vampirismo, também recebeu esse livro misterioso passando a haver aí uma identidade de pesquisa entre orientador e orientado: onde estaria o túmulo de Vlad, ele fora decapitado ao ser derrotado pelos otomanos?

Nesses envolvimento todo, há pelo menos uma morte, um aliado de Rossi, com um corte profundo na garganta. E outro em Istambul.

Nessa pesquisa, um dia, Paul,  na biblioteca se depara com um mulher jovem, que descobre ser antropóloga, que se interessara pelo mesmo assunto. Buscando na biblioteca, descobre que o nome dela era Helen Rossi.

Ambos se aproximam. Certo dia, Helen é atacada por um estranho bibliotecário que vigiava seus passos a os de Paul, um vampiro que consegue feri-la com breve sucção de sangue em sua garganta.

Ela tinha uma arma de fogo e atinge o vampiro não "mortalmente" que foge.

Um aliado de Paul e Helen, Turgut morador de Istambul - que pertencia  à "Guarda do Crescente do sultão" (!) agora com poucos membros -  inimigo secular de Drácula - também o perseguia chegando a dizer que quando criança fora ele, o vampiro,  exposto à tortura praticada por soldados inimigos, seus "mestres" que o vigiavam. Drácula fora entregue por seu pai aos inimigos numa troca de guerra.

Ora, Helen era húngara e não poderia ser a filha do professor. Mas, na Bulgária Paul que viajara com ela descobrira que realmente Rossi era o pai  de Helen que a negara porque poderia ter ingerido uma droga em suas andanças que afetavam a memória.

Para evitar a vergonha na família no lugarejo, a jovem mãe que tivera por pouco tempo um relacionamento apaixonado, foge para a casa da irmã, na Hungria, onde nasceria Helen.

Mas, o professor Rossi desaparece e ambos viajam juntos em busca do paradeiro do professor e pai e, estabelecendo-se uma correlação com a busca do próprio túmulo de Drácula.

Eles se apaixonam aumentando o interesse pelas buscas. Mais tarde se casam.

Nasce uma filha.

Chegam numa remota localidade da Bulgária, num mosteiro medieval no qual alguns monges habitavam, depois de escaparam por um tempo de Renov, guia "obrigatório" e agente do governo autoritário (soviético).

"Na Bulgária nunca se esta longe das montanhas... - Balkan é uma palavra turca que significa montanha."

E no mosteiro na escuridão e à luz de velas descobrem um "relicário", um túmulo, um sarcófago entreaberto mas com tampo pesado e lá estava o professor Rossi, já transformado por Drácula num vampiro.

Rossi explica com muita dificuldade que Vlad o havia dominado para ser bibliotecário do imenso acervo de livros que possuía, mas pela sua relutância, fora transformado num morto-vivo. Então, Paul e Helen providenciam sua morte nos rituais consagrados para casos daquela natureza (a introdução de uma estaca no coração do vampiro). 

O que disse Vlad sobre o bem e o mal:

- A História nos ensina que a natureza do homem é perversa, de uma perversão sublime. O bem não é aperfeiçoável o mal sim.

Tempos depois, Paul e Helen visitam o velho mosteiro em Les Bains na França e lá se hospedam. Pela manhã ele constata que ela havia desaparecido. 

Só saberia mais tarde. Ela revelaria que fora atacada pela segunda vez pelo vampiro. Não cuidara em ter dentes de alho em suas roupas e o crucifixo havia caído do seu pescoço. Dai o ataque.

A terceira sucção a transformaria, também, numa morta-viva. 

Haveria, então, que destruir o inimigo demoníaco.

Tendo a pista de cartões postais da mãe, a filha e seu namorado Barley viajam para a França, se dirigindo também para Les Bains e ali buscam o antigo mosteiro. Ela procurava por seu pai que havia dias não dava notícias.

Paul também estava dentro da cripta do mesmo mosteiro a procura de Drácula que poderia ter se mudado para lá fugindo da Bulgária - ele se escondia nesses mosteiros porque em vida , a despeito de sua crueldade, ajudara na construção deles.

Helen também estava no mesmo local. Tudo coincidência...

E é nessa cripta que todos se encontram, até mesmo o mestre James diretor da Universidade que apoiava as pesquisas de Paul e naquele ambiente sem iluminação, a luz de velas, se deparam com Drácula. Tem início uma luta corporal. James na luta é jogado longe mas Drácula abre a guarda o que permite que Helen, eximia atiradora, com arma carregada com balas de prata acerte o coração de Drácula. A bala de prata (tinha que ser desse metal, para ser mortal) faria o vampiro se reduzir ao pó? 


O livro não é só isso. O volume contém  900 páginas. Sobretudo um passatempo para quem gosta de "cenas" de terror e suspense.




segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS de Lewis Carroll

 LIVRO 98



Esse livro é ou não é infantil?  Ele foi escrito em 1865. A história  inspirou filmes e desenhos animados. (*)

O enredo descreve um sonho infantil e com ele, no desenvolvimento, o que há de confuso, de fantasias (aqueles imagens oníricas). O sonho de Alice apresenta "aventuras" próprias de sua idade naqueles idos há quase 160 anos e ela acaba por ter algumas lições de vida. A história tem forte apelo ecológico, mesmo que o Autor no seu tempo não tivesse se dado conta disso.

                                         /●/

Os sonhos me empolgam e me desafiam. Quem "escreve" os enredos do que assistimos e participamos durante o sono - não apenas reflexos do cotidiano? Aquelas situações desencontradas: num pântano aparece um braço estendido, esse braço é puxado, parece que alguém foi salvo, mas quem e do quê? "Viajando" a um local remoto, precário, rodeado de pessoas amáveis ou reticentes sem saber como voltar para o "lar"...onde deixei o carro? "E onde encontramos os mortos" (**).

                                            /●/    

Bom, se algum interessado chegou até aqui, certamente não está interessado nas variáveis dos sonhos que explano. 

Então, Alice começou a se cansar do livro lido por sua irmã que não tinha gravuras.

Ela estava sobre um galho de uma árvore com sua gatinha Dinah e de repente vê um coelho apressado com um relógio repetindo apressado, "estou atrasado..."

Surpresa, ela persegue o coelho até sua toca e quando lá entra, cai suavemente  num vosso até alcançar o mundo das maravilhas.

Nesse mundo assim que chega chora copiosamente preocupada em não sair dali a ponto de alagar tudo em sua volta.

E todos molhados, Alice começa a se relacionar com um rato e com outros animais de modo harmônico. Principalmente com o dodô. No livro a ave é tratado no masculino, o Dodô.

Dodô, uma ave da "família" dos pombos que não voava que vivia na Ilha Maurício - localizada no Oceano Índico - e não fugia dos seres humanos porque não ameaçada por predadores (logo de quem essas aves não fugiam!). Presas fáceis dos marinheiros holandeses famintos que se alimentavam de suas carnes, "saborosas", cruéis, sem qualquer ato de preservação essas aves foram extintas pelos idos de 1668.

Então, o que faz o dodô na história, ave extinta há cerca de 200 anos antes da publicação do livro?

A lembrança dum personagem num sonho bom? Uma homenagem do Autor à ave indefesa extinta pela insânia do homem?

Mas, é com o gato Cheshire que Alice recebe, digamos, uma lição de determinação, mas não tanto "filosófica". 

O diálogo:

- Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui? pergunta Alice.

- Isso depende muito de para onde que ir - respondeu o gato.

- Para mim, acho que tanto faz... - disse a menina.

- Nesse caso, qualquer caminho serve - afirmou o gato.

- ... contanto que eu chegue a algum lugar - completou Alice para se explicar melhor.

- Ah, mas com certeza você vai chegar, desde que caminhe bastante.

Afinal de contas, qual caminho, mesmo aquele que leve a algum lugar determinado ou não, não exige longa caminhada? E quantos sem saber qual caminho trilhar não chegaram a algum lugar compensador?

Alice naquele país dos sonhos, mudava de tamanho e passou a controlar sua altura a conselho da lagarta, com pedaços de cogumelo que de um dos lados dele aumentava sua altura e do outro lado, a diminuía. 

Essa lagarta, lacônica meio arrogante era fumante de um ...narguilé...

E assim vai Alice se relacionando com diversos animais amistosos: com dois coelhos, cachorro, com uma pomba preocupada com seus ovos achando que a menina fosse uma cobra e os devoraria, com um porco, com a "lebre de março" e o chapeleiro, num chá maluco...

Com o grifo (uma figura mitológica - metade águia metade leão), com a "tartaruga falsa" e a "quadrilha" das lagostas. 

Então, Alice adentra no "reino" das cartas (de baralho) e se depara com a rainha  e o rei de Copas. A rainha, muito mandona, a qualquer contrariedade, não perdoava a vítima e gritava aos guardas:

- Cortem-lhe a cabeça.

Assim com os jardineiros que pintavam de vermelho rosas brancas que a rainha não gostava.

Mas, claro, tudo um sonho.

Nos contatos com a rainha, Alice foi colocada a jogar croquet num campo cheio de protuberâncias e buracos. As bolas eram ouriços vivos e os bastões flamingos vivos. A menina teve muita dificuldade em controlar tanto o seu "bastão" como a "bola".

No reino das cartas, a própria Alice foi condenada pela pena máxima ao criticar os  procedimentos do tribunal que julgava o roubo de tortas (?) - presidido pelo rei - houve risos. A rainha furiosa grita:

- Cortem-lhe a cabeça. 

Mas, Alice desprezou a ordem da rainha:

- Vocês não passam de cartas de baralho!

E acordou de um sono pesado aos apelos de sua irmã.

E Alice: 

- Nossa tive um sonho tão esquisito.

No geral, esse o sonho da Alice no país das maravilhas, um sonho como todos os sonhos, geralmente, confusos, sem sentido que, de regra se o esquece assim que se acorda.

O Autor Lewis Carroll, inglês, nasceu em 1832 e faleceu em 1898.

As ilustrações da edição são originais de autoria do inglês John Tenniel (1820-1914). 


Referências

(*) Para mencionar, o desenho animado de 1951 de Walt Disney bem feitinho. Não sei se nos dias de hoje, as crianças para as quais foi o filme produzido há mais de 70 anos, despertaria interesse. O filme tem  duração de 75 minutos. Há outros filmes.



(**) Marguerite Yourcenar no livro "Memórias de Adriano". Acessar:

MEMÓRIAS DE ADRIANO