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segunda-feira, 8 de abril de 2019

A VIDA MÍSTICA DE JESUS de H. Spencer Lewis

Livro 57


O Autor de "A Vida Mística de Jesus" fora “Imperator da Ordem Rosacruz - AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosacruz)”. (*)

Nos meus tempos de juventude estive engajado à AMORC e em termos de encaminhamentos e até autoajuda num nível de meditação e exercícios superiores, aquele período foi satisfatório.

No tocante ao livro, não é "fácil" sua leitura se considerarmos os evangelhos e a visão diferente do Autor em muitos episódios da vida de Jesus.

Pede o Autor, por isso, que "aqueles que, levados por uma sinceridade ortodoxa rejeitarem grande parte do que este livro contém, só posso dizer: "guarde, apenas, o que bem lhe parecer".

Toda a pesquisa, revela o Autor, fundara-se em viagens a Jerusalém, Galileia e revelações encontradas em documentos antigos a que teve acesso, registrados pela Grande Fraternidade Branca que tivera origem no Egito, nos tempos do faraó Aknaton - que impusera o deus único, reverenciando o sol - e também da Fraternidade dos Essênios, grupo místico  que prestava caridade aos necessitados, inclusive de cura mas internamente, na sua essência, se constituía numa escola de iniciação e ensinamentos.


O Autor se refere mesmo ao Tibete que poderia Jesus ter visitado se a sede da Grande Fraternidade Branca estivesse já lá instalada. Historicamente a constituição do Tibete se dera nos tempos do nascimento de Jesus. A capital Lhassa, histórica, de onde teria recebido Jesus manuscritos de um templo budista existente na cidade só seria fundada séculos depois do seu nascimento. 

Porém, no livro "Mistérios e Magias do Tibete" o Lama Kazi, entre os ensinamentos que ministrava à Autora Chiang Sing diz: "Esse sexto raio cósmico (dourado) é regido pelo bem-amado Mestre Ascensionado Jesus Cristo que - segundo provam nossos livros santos - foi iniciado nos templos tibetanos".
Nesse livro há também referências à Grande Fraternidade Branca (**)


Ensinamentos budistas fizeram parte da instrução de Jesus, quando ainda jovem e chamado de José.

Mas, a sua instrução mística se dera fundamentalmente na Índia, na cidade de Jaganate, atual Puri, que fora o centro do "budismo puro". Seus estudos, inclusive com o aprendizado de línguas, também na Índia, se deram em Benares.

Diz um dos artigos de fé essênios que Deus é essência e que "o ego humano provém de Deus e é uno como Deus. Por conseguinte é eterno e imortal." 

O Autor qualifica Jesus como o maior dos mestres, o avatar que nenhum outro superou em divindade, espiritualidade e conhecimento.



















Naqueles tempos, antes da vinda de Jesus, os judeus tinha influência, até porque no seu meio havia os banqueiros e comerciantes mas muitos e a maioria iletrada se ressentiam da opressão de Roma, eles que eram "o povo escolhido de Deus".

A religião era o judaísmo. 

Então esperavam um libertador, um messias.

Afinal, Moisés os libertara do jugo egípcio.

Os pais de Jesus viviam na Galileia pelo que rejeita o Autor que seja Ele, nazareno. 

Isso porque nos tempos de Jesus, na Galileia, não havia nenhuma cidade denominada Nazaré que só surgiria posteriormente.

Quanto aos "nazarenos" defende o Autor, que eram assim chamados pelos judeus todos os estrangeiros que não professavam sua religião que poderiam pertencer a uma seita secreta. 

Rejeita também a ligação dele como descendente da casa de David. Jesus jamais fizera essa ligação como seu descendente.

Os pais de Maria foram Joaquim - sumo sacerdote da Grande Fraternidade Branca - e Ana que ao engravidar, estabelecera-se que se fosse uma menina seria considerada uma futura vestal.

Aos doze anos, dando mostras de que poderia gerar, os Sumo Sacerdotes da Fraternidade convocaram viúvos que poderiam desposar Maria.

José foi o escolhido, até porque era membro da comunidade essênia.

Protestou pela sua idade.

Voltou ao trabalho na construção de uma casa, era marceneiro e pedreiro, e depois de seis meses, quando retornou, Maria estava grávida. José se desesperou, mas, à noite ouviu do Mestre:

"Nada receies, porque o que ela concebeu, do Espírito Santo é, e terá um filho e as Hostes Celestiais o chamarão Jesus porque nele estará o Espírito Santo, por obra da palavra de Deus."

Mas, José para fugir de más interpretações resolveu viajar e nas proximidades do dia do parto, se refugiara com a mulher numa caverna.

A essa caverna vieram os Magos perguntando do "Grande Rei", ao que José respondeu:

"Vou a Judeia com o Filho de Deus, não o Rei, porque seu Reino não é deste mundo, mas sim dos corações humanos."

Ao saberem os Magos das ameaças de Herodes, preocupado com o nascimento de um grande rei, avisaram a José e Maria, oferecendo-lhes ouro, incenso e mirra. 

E José e Maria seguiram a viagem por outro caminho.

Então Jesus não nasceu numa manjedoura como preconizaram os "primeiros Santos Padres da Igreja". Aquela gruta do nascimento era um local preservado pelos essênios.

A estrela anunciando o nascimento de um Avatar foi observada por certo tempo antes do nascimento e os Magos, Iniciados,  compreenderam o seu significado, saindo, então, em busca do recém-nascido, que seria considerado, o Mestre dos Mestres. 

Naqueles tempos os judeus tinham poder por terem em seu meio, banqueiros e comerciante, mas muitos – e a maioria iletrada – se ressentiam da opressão de Roma, eles que eram um “povo escolhido por Deus.”

Então, esperavam um libertador, um Messias. Não fora Moisés quem os libertara do jugo egípcio?

Os pais de Jesus eram gentios, isto é, não judeus e não descendentes, como ele próprio, como afirmam as escrituras, da “Casa de Davi”. Afirma o Autor que não há na Bíblia qualquer afirmação de Jesus sobre essa ascendência.

E a sempre questionada data de nascimento de Jesus…
No Evangelho de Mateus, ele nascera no tempo de Herodes. Em Lucas nos tempos em que Cirênio governava a Síria…

Mas, o reinado de Herodes terminou em 4 AC e Cirênio foi governador da Síria entre 4 anos mais 1 AC e posteriormente até 6 anos DC.

Haveria nessas datas um diferença de cerca de cinco anos a frente da data aceita do nascimento de Jesus e o mês seria abril ou maio.

O 25 de dezembro foi adotado como data simbólica do nascimento porque nessa data nasceram figuras históricas destacadas. Mencionando um exemplo: “Osíris, filho da santa virgem e deusa Nut, nasceu em 25 de dezembro e nesse mesmo dia celebravam os gregos o nascimento de Hércules. Também Baco e Adônis nasceram em 25 de dezembro.”

Então era data marcada pelo nascimento de outros Avatares.

A Bíblia nada informa sobre os primeiros anos da vida de Jesus.

A despeito de ser um personalidade divina, a maior de todas, ele precisaria receber educação “para que pudesse empregar a palavra...” e transmitir as mensagens que deixaria para o mundo, uma espécie de “divisor de águas”, sem prazo para serem superadas ou esquecidas.

Essa instrução foi ministrada no Grande Colégio e escola superior, mantidos pelos nazarenos e essênios situados no monte Carmelo: “A crônica de Seu ingresso na escola de Carmelo revela que Ele para lá fora com o nome de José, filho de Maria e José, e reencarnação de Zoroastro, o Filho de Deus.”.

Nesses tempos de estudo sua sabedoria já com pouca idade surpreendia os sábios eruditos judeus. E também foi adquirindo Jesus, o poder de cura.

Ao passar por todas as provas e mantida a fé inabalável, na condição de Grande Mestre passou a ser chamado de Jesus. Mais tarde, numa solenidade da qual participaram os Mestres Supremos da Fraternidade Branca fora ele proclamado o Cristo, o Salvador tendo início a missão de Redenção.

Relata o Autor a cena seguinte durante o batismo de Jesus, por João:

“Quando Jesus se levantou (das águas), e antes que João pudesse falar, um vivo fulgor desceu dos céus, envolvendo Jesus e nele permanecendo como aura grandiosa, ofuscante, de iridescente iluminação. João recuou, mais por medo do brilho intenso do que por espanto, e a multidão ficou aterrorizada, muda, fascinada pela visão que tinha ante seus olhos.”

A crucificação não fora obra dos judeus mas por ordem de Roma. E fora ele apontado aos soldados romanos por Judas, já que ele e seus apóstolos, vestiam-se de branco.

Pilatos vacilou muito em ordenar a crucificação de Jesus e tentou adiar o castigo. 

Mas, ao ser crucificado, chegou ordem provinda de Tibério que instruía Pilatos a revogar a ordem e adiar todo o processo até que Cireneu fizesse investigação mais completa. Enquanto isso, Jesus deveria ser colocado em liberdade.

Por causa disso, os membros de Jesus não chegaram a ser quebrados.

Fora retirado da cruz muito ferido na madrugada por José de Arimatéia e outros essênios sob forte chuva.

Foi cuidado pela comunidade essênia embora Jesus tenha usado todos os seus poderes para recuperar a energia e a consciência de seu corpo.

Não houvera, então, a ressuscitação corporal e a subida aos céus.

Depois de recuperado voltou a instruir seus apóstolos até se afastar definitivamente da vida pública, permanecendo num dos aposentos do monte Carmelo.













Poderá ter vivido até aos 70 anos.

Para o Autor, a cruz se tornou um símbolo que traduz as experiências a serem enfrentadas pelos homens e a rosa vermelha no seu centro desabrochando à medida que a alma evolui no sentido da divindade.

Resultado de imagem para a cruz dos rosacruzes


 (*) O livro está disponível no mercado livreiro.
(**) Sobre "Mistérios e Magias do Tibet", acessar livro 10, no link abaixo:







segunda-feira, 18 de março de 2019

RAZÃO E SENSIBILIDADE de Jane Austen

Livro 56


A Autora Jane Austen nasceu em 1775 na Inglaterra; não teve vida fácil porque, teve desilusão amorosa e morreu cedo, aos 41 anos por “complicações pulmonares”. É assim que exprime o livreto que acompanhou o livro, cuja edição é de 2002.


A indagação que se tem feito sobre a Autora é o seu talento de escritora, mesmo sendo “tímida e reservada, filha de um clérigo protestante do interior da Inglaterra viria a produzir livros tão sofisticados, como uma mulher de temperamento doce...”

Razão e Sensibilidade” foi publicada em 1812. (*)

Sim, é um livro de fácil leitura, com 360 páginas, “discursivo”, textos longos, cuja exposição dos eventos e caracteres dos personagens revela o modo (parcial) de vida dos ingleses no seu dia a dia, numa busca intensa de ocupação, de diversão incluindo a música, busca de amizades, de convivência.
































Quando me refiro a “ocupação”, não vi nada explícito sobre “trabalho”. 

O enredo, então, segue a linha de que todos têm alguma renda herdada e vivem uns com mais recursos que outros.

No primeiro volume os personagens principais, são a sra. Dashwood casada com Henry Dashwood e suas filhas Elinor (a mais velha), Marianne e a menina Margaret.

Henry era pai de um filho do primeiro casamento, John.

Henry falece e deixa a fortuna para o filho John, incluindo a magnífica propriedade em Norland Park.

A esposa de John, demonstrando personalidade forte e avara, dominadora, o convence a não transferir à madrasta e suas filhas, suas segundas irmãs os valores adicionais que recomendara seu pai antes do falecimento.

Ele e esposa Fanny eram apegados ao dinheiro.

Depois de um tempo, madrasta e filhas deixam a magnífica residência e se mudam para um chalé distante cerca de seis quilômetros dali em Devonshire.

Essa mudança faz com que Elinor fique distante do seu possível pretendente que amava, Edward, sujeito comedido, sóbrio – cujo amor era correspondido, pelo que demonstrava.

Marianne conhece Willoughby após um acidente, sendo levada em braços até sua casa.

Ela tinha um outro pretendente, o coronel Brandon, apaixonado. Tivera desilusão amorosa antes – a mulher que amava se casara com o seu irmão - e que era considerado “velho” com seus 35 anos.

Nesse momento ele sai de cena, sem muitas explicações ao receber uma carta. Mas, o motivo fora acudir sua sobrinha abandonada.

Também, sem muitas explicações Willoughby, informa constrangido que precisaria se ausentar para desempenhar algumas missões ordenadas por sua tia e viaja sem dizer quando voltaria

Marianne chora muito, por dias, e o espera.

Elinor é informada por Lucy que Edward era seu noivo havia quatro anos. Ela tem profunda decepção mas se contém.

Há então, nessas primeiras 130 páginas, muitas reuniões, jantares, jogos de baralho e os homens eram todos gentis e muito comportados.

O sentido desse primeiro volume era a “necessidade” de casamento às heroínas.

No segundo volume (do mesmo livro) destacam-se além de Elinor e Marianne, os personagens: a sra. Jennings, suas filhas sras. Middetlon e Palmer. Sir John era genro da sra. Jennings e alugara o chalé à viúva Dashwood e suas filhas.

E também Lucy, prima da sra. Jennings suposta noiva de Edward Ferrans.

A sra. Jennings convida as irmãs Elinor e Marianne a a acompanharem por algumas semanas em sua casa em Londres.

Marianne fica por demais ansiosa porque poderia reencontrar Willoughby. Manda-lhe bilhetes quando já em Londres, sem que ele responda.

Numa noite de festas, ela o vê com outra mulher e estranha muito. Pede explicação que não vem até que Willoughby lhe manda uma carta dizendo que se casaria com outra mulher, aquela que o acompanhara naquela noite.

Ela fica desnorteada, doente, chorando muito, afastando-se de todos. Todos que sabem do ocorrido lamentam a sorte da linda Marianne que se torna impaciente com todos.

O coronel Brandon, pretendente de Marianne conta a verdade sobre Willoughby que seria um aproveitador e mau caráter. Ele seduzira sua sobrinha Eliza e a abandonara grávida.

John ressalta a beleza de Elinor pretendendo que Brandon se interessasse por ela e não por Marianne, muito jovem.

Lucy, noiva de Edward, de todos os modos tenta a amizade de Elinor que, por delicadeza, a trata bem.

Os dias vão se passando repleto de intrigas, mexericos, desfeitas até que numa recepção, a mãe de Edward trata Lucy muito bem mostrando-se indiferente em relação a Elinor.

Elinor passa a admitir, então, que a aproximação entre Edward e Lucy pode se fortalecer.

No 3º volume (do mesmo livro)

Mas, a irmã de Edward, Fanny, ao saber pela irmã de Lucy, Anne, do noivado, tem uma reação inesperada e de repúdio. A mãe de Edward o deserta e transfere ao seu irmão mais moço os direitos que lhe pertenceria por ser o filho mais velho, dando-lhe a título de renda mil libras e praticamente nada ao outro.

Edward afasta-se da família, mantém o noivado com Lucy e resolve seguir vida religiosa ligando-se a algum presbitério.

Marianne em Londres, adquire forte gripe, muito doente, corre sério risco de morte mas se recupera.

Enquanto doente Marianne, recolhida em seu quarto, Willoughby vai à residência da sra. Jennings que estava ausente e emocionado revela a Elinor o amor “eterno” à sua irmã.

Dando valor às relações sociais e ao dinheiro, por imposição de sua tia que o perdoaria de tudo, se se casasse com outra mulher, rica, assim agira com muito sofrimento. Arrependido pelos abusos que praticara à sobrinha do coronel Brandon, atos de um libertino conforme classificara a sra. Dashwood (mãe de Marianne e Elinor).

Então, um dia, Edward vai ao chalé onde moravam as Dashwood, explica que Lucy se casara com seu irmão Robert que dera um “golpe” na sua mãe, sra. Ferrars, que lhe garantira renda antes de se casar.

Por fim, Elinor se casa com Edward, tem início o noivado do velho Brandon, agora com 37 anos com a linda Marianne, agora com 17 anos.

Todos os casais com o casamento vivem felizes para sempre.


(*) A história foi filmada em 1996 sob direção de Ang Lee, com elenco de astros.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER de Milan Kundera

Livro 55




















Houve momentos em que encarei o livro como uma colcha de retalhos. (*)

Do ponto de vista filosófico, logo na primeira página se refere a uma “ideia misteriosa” de Nietzsche sobre o “eterno retorno”.

Não me proponho a aprofundar teses de Nietzsche até porque nunca cheguei a compreender conceitos do filósofo alemão.

Mas, páginas a frente diz que a Terra significa uma experiência e que não há outros planetas para avançar em outros graus pelo que concluo que o “eterno retorno” não tem possibilidade de ocorrer. Mas, e se existissem planetas onde fosse possível renascer de tal modo que as experiências pudessem prosseguir? E se houvesse outros?

Não, o Autor não insinuou a reencarnação….

Na proposição do título do livro, a “leveza do ser insustentável”, no decorrer do livro há ambiguidades de conceitos, mas o que me pareceu mais aproximado dela, a leveza, se dá num momento de paz, aquelas situações que a vida impõe reflexões… exatamente aquelas situações em que os pesos da sobrevivência estão ausentes.


O livro conta a história do médico Thomas, sua amante e depois esposa Tereza. Thomas entre dezenas de amantes, tem Sabina como referência que, por sua vez, tem como amante, também, Franz. 

Thomas é um “maníaco sexual consentido” porque desfrutava de dezenas de amantes, traia Tereza de modo a não disfarçar, incluindo Sabina como amante - um verdadeiro privilegiado porque nunca contraíra qualquer doença sexualmente transmitida.

Nesse ponto, o livro cansa.

O erotismo, porém, na maior parte do livro é “soft”, mas depois já assume algum desvio.

Tereza também traiu uma vez Thomas, uma história mal contada ocorrida num ambiente sórdido. O parceiro seria um agente da governo comunista?

Thomas era médico cirurgião, conceituado, prestigiado no hospital onde trabalhava conhecera Tereza numa pequena cidade da Boêmia, se amaram e passaram a viver juntos.

Embora infiel ao extremo, o final do livro revelará que, entre alto e baixos, eles se amavam: “Sentado na cama, olhava a mulher deitada a seu lado que, dormindo, apertava-lhe a mão. Sentira por ela um amor inexprimível”.

Episódios não muito explorados no livro, uma pena, envolvem os personagens nos eventos da “Primavera de Praga”, um movimento que eclodiu em 1968 na Tchecoslováquia, que na sua essência defendia princípios de liberdade e democracia no reduto socialista, mas trucidado pela invasão soviética com seus tanques e soldados, submetendo o líder Alexander Dubcek à humilhação e ao ostracismo.

Outros adeptos da “Primavera de Praga” foram perseguidos. Uma maneira de tirar eventual influência desses dissidentes, era impedir que trabalhassem em suas profissões.

Foi o caso do próprio Thomas. Escrevera ele uma carta a uma revista, que foi publicada como artigo, no qual, nas linhas não perdoava os comunistas pela truculência praticada pelo partido contra seus opositores, mesmo que desconhecessem tais atos de violência.

Thomas faz uma analogia, considerando o personagem da mitologia grega da obra de Sófocles, "Édipo", que não se perdoou ao saber que matara seu pai e desposara sua mãe. 

O castigo que se impusera, fora vazar seus próprios olhos.

Por isso, os comunistas "inocentes", que nada sabiam não poderiam ser perdoados como Édipo não se perdoara.

Procurado por prepostos do governo, não se retratou dessa proposição metafórica, perdeu o posto médico, para sobreviver passou a lavar vidros e, finalmente, refugiou-se com Tereza numa cidadezinha do interior, trabalhando como motorista de caminhão e ela, pela manha, cuidando de novilhas nos pastos: “não existe nada mais comovente do que vacas brincando”.

Uma novilha se aproxima de Tereza, para, e olha para ela longamente com grandes olhos castanhos”.

O livro apresenta momentos de tédio, como a insistência em se referir ao chapéu coco de Sabina - não pretendi "interpretar" essa passagem - e, de repente, num capítulo praticamente inteiro, se valendo da palavra kitsch para isso é para aquilo, explicando o Autor: “O kitsch é a estação intermediária entre o ser e o esquecimento”. (!)

E também a seguinte proposição: se o homem foi criado à imagem de Deus, as suas necessidades fisiológicas seriam inadmissíveis. Uma discussão inútil nesse nível.

As páginas finais foram pungentes em explanar sobre a violência contra os animais: “O direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa sobre a qual a humanidade inteira manifesta acordo unânime, mesmo durante as guerras mais sangrentas.”

Emocionante o relato dado ao câncer que vitimou a cadelinha Karenin (nome inspirado em Anna Karenina de Tolstoi) (**) ser sacrificada por falta de qualquer outra opção.

Há um relato no livro sobre reação controversa de Nietzsche já afetado pela loucura: sai o filósofo alemão de um hotel em Turim, ano de 1889, no momento em que um cocheiro espanca seu cavalo com um chicote: “Nietzsche se aproxima do cavalo, abraça-lhe o pescoço, e sob o olhar do cocheiro, explode em soluços.” (...) Nietzsche veio pedir ao cavalo perdão por Descartes – que considera o animal um autômato, uma máquina animada...” Quando um animal geme, não é uma queixa, é apenas o ranger de um mecanismo que funciona mal.”

E uma frase do Autor:

A verdadeira bondade do homem só pode se manifestar com toda pureza, com toda a liberdade, em relação àqueles que não representam nenhuma força. O verdadeiro teste moral da humanidade (o mais radical, num nível tão profundo que escapa ao nosso olhar) são as relações com aqueles que estão a nossa mercê: os animais. É aí que se produz o maior desvio do homem, derrota fundamental da qual decorrem todas as outras”.

Franz um intelectual, amante de Sabina e depois de jovem estudante, de compleição forte, fora assaltado nas ruas de Bangkok - estivera no Camboja em missão humanitária frustrada -, reage é atacado e morre num hospital de Genebra pelos ferimentos da agressão.

Tomas e Tereza morrem num desastre com o caminhão. O caminhão sem freios caíra num barranco.

(*) O livro inspirou filme do mesmo nome, de 1988, dirigido por Philip Kaufman, com os atores Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche e Lena Olin.
(**) Leitura - “Anna Karenina” de Leon Tolstoi - Livro 4 - neste blog.
Acessar: https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2017/06/4-ana-karenina-de-leon-tolstoi.html


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS de Machado de Assis

LIVRO 54












Partam do princípio de que eu não conhecia a obra nem por fragmentos e no conjunto sou obrigado a confessar que não gostei da obra.

Como o próprio festejado Autor revela, a “obra foi feita aos pedaços na Revista Brasileira pelos anos de 1880”.
Esses pedaços compuseram mais tarde o livro…

Por causa disso é que encontrei capítulos que no meu conceito, apenas preenchiam páginas, destoando da narrativa.

O narrador que conta sua história post mortem fora batizado com o nome de Brás Cubas. Seus pais, descendentes da família Cubas, deram-lhe o prenome de Brás, o mesmo nome do capitão-mor que fundou a Vila de São Vicente em São Paulo: “Brás Cubas”.

De família rica, adorado pelo pai, a vida de Brás Cubas fora dum desocupado, dum parasita como se disse nas páginas de introdução do livro (*).

Mas, na maturidade, sonhava em produzir o “emplastro Brás Cubas” ideia que não prosperou porque morreu antes, por causa da moléstia que o vitimou.

No seu leito de morte, às vezes assistido por sua antiga amante, Virgília, Cubas teve um delírio aparecendo para ele um hipopótamo que o “arrebatou” começando então uma viagem no seu dorso cujo destino seria, na verdade, “à origem dos séculos”.

Este ingênuo leitor de poucas letras imaginou que o nome Virgília de Virgílio e o hipopótamos, um animal poderoso poderia ser um cicerone caricato em relação ao privilegiado guia de Dante Alighieri, o filósofo, na Divina Comédia que o guiou nas plagas do inferno e do purgatório (**)

Teria Virgília algo com Beatriz a musa de Alighieri que o conduziu pelo céu?

Seria esperar demais, ora.

Nessa sua vida de prazeres e riquezas conheceu a linda Marcela, “dama espanhola” por que se apaixonou.

Vendo as dívidas pelos presentes caros que Brás lhe dava, seu pai interveio e o obrigou a estudar em Coimbra.

Ele tentou levar Marcela na viagem, mas foi frustrado por seu pai.

Já no navio, algo incomum: o capitão que tinha sua esposa a bordo muito doente era dado a recitar poesias tendo Brás como ouvinte (!)

Ao retornar ao Rio, um dia reencontrou Marcela, numa pequena loja. Com dificuldade a reconheceu, então com rosto inchado por moléstia, envelhecida. Tão logo pode Brás se afastou para encontrá-la anos depois nos momentos de sua morte.

E é aí que a Virgília se destaca porque apresentada como sua futura esposa, dentro do que pensara o pai de Brás, em arranjar um casamento e introduzi-lo na política.

Mas, Virgília pensava em obter títulos de nobreza e por isso casou-se com Lobo Neves político, indicado para um ministro, cuja nomeação não se efetivou porque se deram algumas coincidências com o número 13 do qual era supersticioso.

O amor entre Virgília e Brás se materializaria numa relação adúltera intensa.

Para facilitar os encontros, Brás aluga uma casinha na Gamboa, de bom padrão e lá o romance floresce.

Esse romance, então, se dá entre duas pessoas da sociedade, embora Brás fosse um bon vivant, desocupado.

Depois de algum tempo, o romance adúltero começa a ser percebido ou desconfiado. Só o marido, Lobo Neves nada desconfia (!).

Brás, começa a ouvir indiretas. Houve uma carta anônima remetida a Lobo Neves que Borba e Virgília desmentem vigorosamente.

[Esses rumores me lembram um pouco o que ocorre no romance de 1857 “Madame Bovary” de Gustave Flaubert. Madame Bovary frequentava seus amantes às claras; a comunidade sabia de seu adultério menos o marido médico Carlos Bovary que ela desprezava.] (***)

Outra noiva lhe é apresentada, D. Eulália mas ela falece prematuramente aos 19 anos de idade.

Mais tarde já nas páginas finais, a obra apresenta Brás Cubas como deputado, sem explicar como guindara ao posto.

E insere um novo personagem Quincas Borba, que pregava uma nova filosofia, o humanitarismo.

Borba quase um indigente, ao se encontrar com Brás, furta seu relógio. Mais tarde, após receber uma herança devolve outro relógio, não o mesmo que subtraíra de Brás, porém.

O humanitarismo exposto é constituído de frases interessantes e um tanto mundano:

— Imagina, por exemplo, que eu não tinha nascido, continuou o Quincas Borba; é positivo que não teria agora o prazer de conversar contigo, comer esta batata, ir ao teatro, e para tudo dizer numa só palavra: viver.

Quincas Borba passa a exercer forte influência sobre Brás.

Depois de viajar para Minas, quando volta revela distúrbios mentais e tempos depois morre semidemente na casa de Brás Cubas.

Brás Cubas, por sua vez, morre externando amarguras por não ter concretizado o sonho do emplastro que levaria o seu nome, o “divino emplastro” que lhe daria o “primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza porque era a genuína e direta inspiração do céu.”

Pelo que, “o acaso determinou o contrário e aí vos ficais eternamente hipocondríacos”.

E também, nas últimas linhas do livro, ao chegar a “este lado do mistério” (porque falecido) achou-se com um “pequeno saldo” no derradeiro capítulo de negativas:

- Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.



Machado de Assis pelo seu personagem dândy pouco fala da escravidão, apenas uns comentários esparsos — nos tempos de criança fora maldoso com eles — e se apresenta um tanto preconceituoso com uma moça bonita, que lhe chamara a atenção e até se beijam, mas por ser coxa ele se afasta. Brás insiste em ressaltar essa deficiência.
Livro "realista" e fantástico? Nem pensar!


(*) A edição do livro foi promovida por um cursinho (“Objetivo”) no qual em notas de rodapé foram inseridos sinônimos de palavras sem ou de pouco uso e também sobre autores da literatura “universal” que Machado de Assis, mencionou à exaustão. Na introdução assinada por Francisco Achcar ele afirma que Machado de Assis é o maior escritor do Brasil na opinião de estudiosos da literatura brasileira… não sei!

(**) Acessar:  A DIVINA COMÉDIA

(***) Acessar: MADAME BOVARY