LIVRO 122
Nesta resenha há desfechos que podem ser considerados "spoiler".
A
edição que li, de "bolso" contém 750 páginas.
O
livro foi lançado em 1957, possibilitando que o Autor recebesse o
Prêmio Nobel em 1958 mas obrigado a recusar porque eram os tempos da
União Soviética ditadura comunista fechada e porque a obra trazia
momentos amargos da Revolução de 1917 não sendo para o regime uma
referência enaltecedora.
“Para
lá da janela estava a Moscou muda, escura e faminta.”
A
Revolução de 1917 extinguira com violência a dinastia russa do
czar Nicolau II. (*)
Parece
que o Autor avançou um pouco nos tempos mais
sombrios dos
tempos de Stalin para enfatizar as mudanças para pior da vida das
pessoas comuns do povo — ninguém
disse isso mas eu conclui assim.
O
livro só foi publicado, como explica a contracapa porque os
originais foram "contrabandeado" para a Itália e lá
publicado em 1957.
A
obra inspirou um filme de muita beleza, Dr. Jivago de 1965 estrelado
pela linda atriz Julie Christie (Lara) e Omar Sharif (Jivago). A
música "Tema de Lara", inspiradora, também fez muito
sucesso e até hoje, ocasionalmente, se a ouve.
Os
atores principais do filme de 1966
O
livro não tem muito a ver com o roteiro do filme nele baseado. Há o
romance entre Jivago e Lara interrompido pelos fatores políticos mas
o fim da história, no livro, é diferente.
A obra se esmera em descrições poéticas de cidades mesmo que abandonadas, de
florestas e da neve intensa na Sibéria, uma dificuldade de viver
sobre e sob ela.
Outra
particularidade: mesmo com suas 750 páginas (na edição que está
comigo) o livro é fácil de ler porque, a despeito de longos
capítulos, o Autor os dividiu em textos curtos.
Aos
personagens, o Autor usou o patronímico (sobrenome) e não o nome e
usou mesmo o diminutivo do nome dos personagem.
As referências históricas são imprecisas na obra, mencionadas ocasionalmente sem referência clara das causas e efeitos.
Os
principais personagens e a participação na história, são estes:
Iuri
Andreevitch (Dr. Jivago):
Médico
bastante preocupado com seus pacientes, a partir da Revolução de
1905, movimento pacífico de trabalhadores que reivindicavam ao czar
direitos pelo trabalho exaustivo, reforma agrária, tolerância
religiosa, liberdade de manifestação.
Essa
manifestação resultou num massacre pela guarda do czar, começando
aí a desorganização da vida comum do povo russo, que eclodiria em
1917, com a revolução bolchevique comunista liderada por Lenin.
Jivago
se casara com Tônia, tivera filhos e trabalhava normalmente no
hospital mas se deslocava para outras cidades.
Às
vésperas da Revolução de 1917 reencontra Larissa
Fiodorovna (Lara) lindíssima que
procurava pelo marido. Com ela
teria, tempos depois, relacionamento amoroso intenso numa
vida conturbada por dificuldades e apreensões pelos rumos que o país
seguia.
Muitos os deslocamentos para vilarejos remotos. Nesses
deslocamentos, Jivago foi sequestrado por guerrilheiros sob argumento
de que deveria cuidar de um ferido do grupo. Mas, não seria
libertado, permanecendo confinado por mais de dois anos até que, num
dado momento, foge.
Chega
ao Vilarejo (Iuriatin) em andrajos, cabeludo e barbudo como um
mendigo. Mas, é reconhecido e recebe apoio, indo morar num cômodo
abandonado como tantos outros.
Com
pendores literários, redigindo textos e poesias, mas deprimido pela
situação em que vivia distante da família e da amada Lara, nesse
período de solidão, quase em fuga pela situação política grave
da Revolução transmitindo a sensação de insegurança, de ameça
velada que afetava mesmo as pessoas simples que abandonavam suas
casas e fugissem sem muita clareza do quê.
Dava-se
por ordem oficial, o confisco de grãos e alimentos pelo que havia
dificuldades de obter comida, obrigando até clandestinamente, a
plantação de hortas.
Lá
pelo ano de 1929 Iuri distante de sua família e de Larissa se une a
Marina, telegrafista, com quem teve duas filhas, vivendo
precariamente, embora apoiado ou protegido pelo irmão Ievgraf que
demonstrava influência no noel regime bolchevique.
A
morte de Jivago deu-se de modo inesperado nesse tempo.
Marina
entrou em desespero.
Lara
discretamente acompanhada do irmão de Iuri, Ievgraf estiveram
presentes homenageando o morto que amavam
Larissa
Fiodorovna (Lara)
Jovem
muito bonita, aplicada nos estudos, inteligente, sofre violação
sexual, é o que deixa entrever o livro, por Komarovski, advogado, personagem
influente no meio social e político.
Num
baile, em Moscou, tal o seu ódio por ele, Lara tenta o matar com um tiro mas
erra, ferindo apenas sua mão de outrem. E foi nessa dia que Iuri voltou a ter contato com ela.
Mas, Komarovski decidiu
abafar o escândalo, preservando sua reputação e cuidando de Lara
que poderia até mesmo ser condenada à prisão.
A
“proteção” de Komarovski Lara perdura em boa parte da obra.
Ela
tinha um pretendente apaixonado, Pavel Antipov (na obra chamado pelo
diminutivo Pachenka ou Pacha).
Lara
confessara a Pacha que fora violada mas o amor que tinha por ela não
impediu que se casassem.
Não
demora muito, Pacha resolve ingressar no movimento revolucionário
como voluntário, abandona a família para desespero de Lara.
Em
1917 Pacha (também chamado Strelnikov!) desempenhava posto de
comando na Revolução bolchevique (da maioria):
“Este
novo (anseio)
era a revolução, mas não aquela idealizada nas universidades em 1905, mas esta,
atual, presente, nascida da guerra sanguinária, dirigida por peritos
nessa tempestade, os bolcheviques”.
Mas,
ele resolve se afastar da Revolução porque fora denunciado por
alguma ação não divulgada e estava em vias de prisão ou punição
mais severa.
Nessa
preocupação em se esconder, encontra Iuri, falam de Larissa fazem
planos de partida mas numa manhã, estirado na neve é encontrado
morto. Se suicidara.
Embora
Iuri (Dr. Jivago) se correspondesse com Lara tal a paixão, eles não
chegaram a se reencontrar.
O
destino de Tônia a esposa de Iuri não é revelado, mas a filha
Tânia, envolvida nos trabalhos de campo como roupeira, é
reconhecida pelo tio Ievgraf
-— “que cuidará dela”.
Porque
Tânia fora uma criança abandonada e seu tio ao conhecê-la diria:
“Não
a abandonarei assim. Só tenho que acertar alguns detalhes. E, então,
quem sabe, ainda vou me constituir como seu tio e darei a você um
titulo de sobrinha de general. E ainda farei estudar em uma
universidade. Onde você quiser.”
Nas
páginas finais do livro, uma série de poemas que o Autor atribui a
autoria a Iuri Jivago.
A
vida é um instante fugaz,
Não
passa da dissolução
do
que nós somos nos demais
como
perene doação.
FRASES
●
Marxismo
é ciência? Discutir isso com uma pessoa que mal conheço seria no
mínimo imprudente. Mas tudo bem. O marxismo não possui autodomínio
para ser considerado uma ciência.
● Então chegou mentira à terra russa. A maior desgraça, a raiz da maldade futura, a perda da fé no valor da opinião própria.
●
A
mulher traz sozinha ao mundo seus filhos, sozinha transporta-se para
um segundo plano da existência onde tudo é mais tranquilo e onde se
pode colocar o berço, sem medo. Ela, sozinha em sua resignação,
alimenta e cria os filhos.
●
Oh,
como é doce existir! Como é doce viver no mundo e amar a vida! Oh,
como sempre se deseja dizer obrigado à própria vida, à própria
existência, e dizer isso para elas frente a frente.
●
A
floresta livre do homem, embeleza-se em liberdade, como prisioneiros
libertados do encarceramento.
●
O
reino das plantas é fácil de ser imaginado como o vizinho mais
próximo do reino da morte. Lá, na vegetação da terra, entre as
árvores dos cemitérios, entre os rebentos das flores saídos dos
canteiros talvez estejam concentrados os segredos da transformação
e dos enigmas da vida, que tanto nos atormentam. Maria Madalena, não
reconhecendo imediatamente Jesus, saído do túmulo, confundiu-o com
o jardineiro.
O livro é bom, fácil de ler.
► A tradutora foi Zoia Prestes, filha mais nova do notório comunista Luis Carlos Prestes que viveu na Rússia por 15 anos. Mas, isso é uma outra história.
► Mais informações sobre o regime comunista da União Soviética e o domínio político violento que prevaleceu acessando:
RUMO À ESTAÇÃO FINLÂNDIA
STALIN NOVA BIOGRAFIA DE UM DITADOR