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segunda-feira, 24 de julho de 2017

A HORA DA ESTRELA de Clarice Lispector

Livro 14

O livro é consagrado e já virou filme. Bem, eu não gostei do enredo, ironia sem concessões, mas é interessante o modo da narrativa.


O narrador em muitos momentos se insere na própria história, sofre com a própria personagem Macabéa – e esse ponto é o diferencial do livro. Ela é uma nortista alagoana, totalmente desprovida de consciência, da realidade em que vivia, do seu dia a dia desde que chegou ao Rio de Janeiro. Quem sabe desde que nasceu.

Veio para a cidade não se sabe bem com qual propósito, mas se empregou como datilógrafa que errava muito e ainda sujava o papel.

O patrão ameaçou demiti-la mas a perdoou depois que ela se desculpou pelo aborrecimento.

Morava num quarto com outras quatro moças que trabalhavam no comércio.

Consideravam-na encardida, cheirava mal, porque pouco se lavava.

Sua aparência e modos: “nunca olhavam para ela na rua, ela era café frio”.

Seus fragmentos de informação eram colhidos na Rádio Relógio, que ouvia de madrugada, baixinho, para que não incomodasse as outras que dormiam.

De um jeito ou outro, arrumou um namorado, Olímpico, que proviera do sertão paraibano, metalúrgico e que dizia um dia se tornar deputado pela Paraíba.

Disse ele ao saber do nome da namorada:

- Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.

Nos encontros seguintes, choveu sempre, e ele disse:

- Você só sabe chover.

Macabéa foi ao médico que constatou início de tuberculose. Tão desentendida com tudo, até o médico foi impaciente com ela:

- Sabe de uma coisa? Vá para os raios que te partam.

Sua amiga Glória rouba seu namorado, o Olímpico.

Por remorso lhe paga uma consulta numa cartomante, Madame Carlota, para saber sobre o seu futuro.

Carlota desde logo percebe a fragilidade da consulente:

- Mas, Macabeazinha, que vida horrível a sua! Que meu amigo Jesus tenha dó de você, filhinha. Mas que horror!

E faz a seguinte previsão: “um dinheiro grande vai lhe entrar pela porta” e “vai conhecer um estrangeiro alourado, de olhos azuis”...cujo nome poderia ser Hans.

E manda embora Macabéa para encontrar o seu destino.

Mal coloca o pé na guia, é atropelada por um caminhão Mercedes amarelo e “nesse mesmo instante em algum lugar do mundo um cavalo como resposta empinou-se em gargalhada de relincho”.

Lá estava ela, a alagoana, prostrada à morte, num beco escuro, na cidade inconquistável.

Não lhe fora dada nenhuma chance. 


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