Livro 14
O livro é consagrado e já virou filme. Bem, eu não gostei do enredo, ironia sem concessões, mas é interessante o modo da narrativa.
O livro é consagrado e já virou filme. Bem, eu não gostei do enredo, ironia sem concessões, mas é interessante o modo da narrativa.
O narrador em muitos momentos se insere na própria história, sofre com a própria personagem Macabéa –
e esse ponto é o diferencial do livro. Ela é uma
nortista alagoana, totalmente desprovida de consciência, da realidade em que
vivia, do seu dia a dia desde que chegou ao Rio de Janeiro. Quem sabe desde que nasceu.
Veio para a cidade não se sabe bem com qual propósito, mas
se empregou como datilógrafa que errava muito e ainda sujava o papel.
O patrão ameaçou demiti-la mas a perdoou depois que ela se desculpou
pelo aborrecimento.
Morava num quarto com outras quatro moças que trabalhavam no
comércio.
Consideravam-na encardida, cheirava mal, porque pouco se
lavava.
Sua aparência e modos: “nunca olhavam para ela na rua, ela
era café frio”.
Seus fragmentos de informação eram colhidos na Rádio
Relógio, que ouvia de madrugada, baixinho, para que não incomodasse as outras
que dormiam.
De um jeito ou outro, arrumou um namorado, Olímpico, que
proviera do sertão paraibano, metalúrgico e que dizia um dia se tornar deputado
pela Paraíba.
Disse ele ao saber do nome da namorada:
- Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.
Nos encontros seguintes, choveu sempre, e ele disse:
- Você só sabe chover.
Macabéa foi ao médico que constatou início de tuberculose.
Tão desentendida com tudo, até o médico foi impaciente com ela:
- Sabe de uma coisa? Vá para os raios que te partam.
Sua amiga Glória rouba seu namorado, o Olímpico.
Por remorso lhe paga uma consulta numa cartomante, Madame
Carlota, para saber sobre o seu futuro.
Carlota desde logo percebe a fragilidade da consulente:
- Mas, Macabeazinha, que vida horrível a sua! Que meu amigo
Jesus tenha dó de você, filhinha. Mas que horror!
E faz a seguinte previsão: “um dinheiro grande vai lhe
entrar pela porta” e “vai conhecer um estrangeiro alourado, de olhos azuis”...cujo
nome poderia ser Hans.
E manda embora Macabéa para encontrar o seu destino.
Mal coloca o pé na guia, é atropelada por um caminhão
Mercedes amarelo e “nesse mesmo instante em algum lugar do mundo um cavalo como
resposta empinou-se em gargalhada de relincho”.
Lá estava ela, a alagoana, prostrada à morte, num beco
escuro, na cidade inconquistável.
Não lhe fora dada nenhuma chance.
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