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sábado, 24 de março de 2018

A DIVINA COMÉDIA (Purgatório) de Dante Alighieri

Livro 41

NOTA IMPORTANTE NO FINAL DO TEXTO

Continuando na leitura de “A Divina Comédia”, agora na sua segunda parte, “O Purgatório”.





















O “Inferno” e "Paraiso" serão encontrados nas indicações abaixo (*).

Há uma mudança no modo de identificar os pecadores que tiveram “a sorte” de se arrependerem dos pecados antes da morte, pelo que foram aceitos no Purgatório.

Também uma montanha em cuja base se aglomeravam os “eleitos” tentando galgar em caminhos ríspidos, os primeiros “terraços” até atingirem as vizinhanças do céu.

Mas, os castigos aos pecadores no Purgatório não eram menos estranhos, algo realmente digno de comédia.

Pareceu-me até que o estilo da redação mudou um pouco em relação ao “Inferno”, mas a leitura é continua densa, inserindo Dante, para interagir com ele e Virgílio, figuras mitológicas.

“Ah! Quão diversos são estes círculos daquele outros infernais! Aqui, cantares divinos; lá gritos irados!”

E há a presença de anjos que ajudam os poetas nos caminhos inóspitos.

No Purgatório já há referência a questões mais “reais”:

O peso da oração:

“Mas nenhum anátema [excomunhão] é tão poderoso que deserde a alma do amor divino enquanto a esta alma restar a confiança no Sumo Amor. Essa alma deve permanecer fora do Purgatório trinta vezes o tempo em que na Terra viveu apartado da Santa Igreja, se preces do mundo não lograrem encurtar tal período”.

Mas também “cenas” como esta:

“Um delas (alma), adiantando-se, esboçou o propósito de abraçar-me, e com tal ímpeto que de entusiasmo igual fui tomado. Vã tentativa, pois a sombra era verdadeira só em aparência! Três vezes querendo estreitá-la, três vezes ao peito eu trouxe apenas as minhas mãos”.

Pecados e penitências:

⦁ Os soberbos curvados carregando grandes pedras segundo o peso de seus pecados: ”Dessa soberba aqui se paga a pena. Estaria em pior lugar, não houvesse mostrado a Deus que de meus pecados, no extremo momento me arrependera. É gloria vã dos ímpetos humanos!” declarou um penitente.

 ⦁ Os invejosos nada viam porque suas pálpebras estavam costuradas nos olhos por fios de metal...

 ⦁ Os iracundos [irados] eram envolvidos por fumaça que provocava escuridão “tal que nem no inferno eu vira”. E esses espíritos cantavam. Virgílio, o guia de Dante confirma e explica: “E por esse modo desatam os nós da ira que os ataram ao passado.”

⦁ Os avarentos deitados com o rosto voltado para a terra: “Havendo a avareza extinguido em nós a intenção do bem, a justiça divina que nos punir com fazer-nos olhar as coisas terreais”.

⦁ Os gulosos e que se entregaram à bebida, agora esqueléticos sentem o aroma dos frutos e o frescor da água, sem poder comer ou beber: “Felizes os que a graça divina livrou dos estímulos da gula e que só com o necessário se contentam.”

[São penitentes também os que negligenciaram as obras da fé e caridade.]

Os luxuriosos e os lascivos: “O primeiro grupo era dos luxuriosos de acordo com a natureza; o segundo, de lascivos contra a natureza”

Esses todos caminhavam sob fogo, cumprindo sua penitência porque também se arrependeram a tempo de seus graves pecados.

Um dos interrogados cumprindo a penitência:

“Ditoso és, pois de nossa experiência, podes colher a lição de viver melhor para bem morrer! Os que marcham em sentido contrário ao nosso purgam o pecado de haver César de Rainha”.

Essa a explicação do texto acima em nota de rodapé: “Júlio Cesar, segundo Suetônio, mantivera relações carnais com o rei oriental Nicomedes. A fim de aborrecê-lo, seus soldados após a vitória contra os galos, saudaram-no aos gritos de “Viva a Rainha”.

Há outras aberrações de cunho lascivo relatadas no Purgatório.

Já naqueles tempos, o escárnio...

Beatriz e despedida de Virgílio




















A partir dai, aproximando-se dos ares celestes, Virgílio deixa seu discípulo sem mais seu apoio embora outro poeta se aproximara. Estácio.

Virgílio retorna ao Limbo, local dos não batizados e pagãos virtuosos.

E ao ascender às alturas da montanha do Purgatório, Dante encontra Beatriz sua musa angelical lembrança dos tempos de infância que lhe diz:

“Dirigiu assim os passos por caminho errado, seguindo o que do bem era apenas falsa imagem – enganadora promessa de constância. Em vão, por meio de sonhos, procurei guiá-lo, e em vigílias fiz com que divisasse o verdadeiro bem. Com nada disse se importou. Tão fundo mergulhou no pecado que, para reerguê-lo, não havia senão um remédio: mostrar-lhe as penas que no Inferno aguardam as almas danadas.”


(*) Resenhas:



NOTA DE REDIRECIONAMENTO: 
Esta resenha e comentários foram atualizados e republicados conforme o livro de Dante Alighieri num único texto, a saber: Inferno, Purgatório, Paraiso.

segunda-feira, 5 de março de 2018

O PROCESSO de Franz Kafka

Livro 40



Livro complexo com suas quase 300 páginas, lançado em 1925. Kafka nasceu em Praga (República Checa) em 03.07.1883.

Li o processo a primeira vez entre aulas na Faculdade de Direito da PUC. Pela sua densidade e desatenção, tive que o ler novamente.

Naqueles idos da década de 60/70 assistira num cine cultural em São Paulo ao filme dirigido por Orson Wells baseado no livro “O Processo”. Esse filme é de 1962.

De Kafka foi cunhada a palavra “kafkiano”. Um dicionário “on line” a define entre outras definições:

“Que se assemelha à obra de Kafka, buscando expressar um ambiente de pesadelo, de irrealidade, de angústia e de absurdo; diz-se do que, no âmbito burocrático ou na civilização atual, se afasta da lógica ou da racionalidade.”

Sim, esse é o melhor conceito da palavra e da própria obra.

Numa leitura minha, embora não queira necessariamente o Autor, me parece que o personagem Joseph K. nestes tempos de modernidade seria diagnosticado com séria depressão.

E, além disso, senti no texto todo um sentido de esquizofrenia de K.  já no início da obra quando dois supostos policiais ou agentes da lei invadem seu quarto, tomam seu desjejum, se apropriam do quarto de outra moradora da pensão e o informam que ele está sendo processado.

“Mas, processado por qual crime?”

Então, Joseph K. fora comunicado de um processo sem saber qual o crime, qual a acusação e, pior, qual o setor da justiça onde tramitava o seu processo.

De início despreza a acusação, porque nada de criminoso praticara. Procurador de um banco, cargo de destaque continuou com sua vida normal, por um tempo.
Mas, o processo passara a ser, num dado momento, uma preocupação.

Não tinha acesso a ele, não obtinha informações, não sabia do juiz da causa, eram inacessíveis  e, pior num momento dado da obra, começa a ser indagado do processo por personagens que rigorosamente não poderiam nada saber.

Ouve que funcionários da justiça poderiam ajudá-lo de tal maneira que podesse ser absolvido.

Mas, absolvido do quê?

Há cenas surreais, como o açoite aos dois agentes da justiça que em primeiro estiveram no seu quarto, castigo que se dá numa instalação reservado do próprio banco.

Mantendo contato com outros processados vai se aproximando de supostos personagens que poderiam ajudá-lo, como o pintor que era contratado pelos juízes para lhes pintar o retrato.

Saindo por uma porta secundária do apertado atelier, após a conversa inútil, soube que ali também era uma divisão da justiça (!).

Como se nota, há a descrição de um ambiente opressivo, de pesadelo que vai se fechando, num dia a dia depressivo.

E o livro caminha nessa trilha com longos discursos, de certo modo uma crítica a procedimentos da própria justiça, com sua burocracia e juízes inacessíveis.

Dispensa o advogado soberbo que seu tio contratara porque ele nada fizera para resolver o processo.

O desfecho começa com sua visita à catedral porque o banco o designara para acompanhar um cliente italiano importante e que queria conhecer os detalhes artísticos do templo cristão naquele momento escurecido e sem nenhum fiel.

O italiano não aparece – fora propositado -, de maneira que K. conhecesse o padre que o esperava na catedral. Ele é o religioso que presta serviços à justiça e diz que seu processo é grave, estando K. em vias de ser condenado.

Por fim, numa noite, quando K. completaria 31 anos, dois agentes sem identificação vieram buscá-lo e num local remoto o assassinam com facadas no coração. Comentário de um dos assassinos ao desenlace trágico:

- Como um cachorro! – era como se a vergonha fosse sobrevivê-lo.

...

O livro é denso, não é de leitura fácil mas o esforço compensa porque se descobre o “processo kafkiano” sem crime.




terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

GERMINAL de Émile Zola

Livro 39

Querem conhecer um livro repleto de lances inesperados e até mesmo suspense em meio a tragédias? Então “Germinal” é um prato cheio.  Publicado em 1885, o livro detalha a vida inumana dos mineiros em minas de carvão, que desciam a 700 metros até o fundo dos poços. E nesse ambiente de insalubridade absoluta cavavam o carvão numa jornada exaustiva, na escuridão, enfrentando calor intenso, recebendo a água preta nos rostos que vazava de todas as frestas dos estaqueamentos.

A preocupação com o grisu um composto de metano e gás natural, uma mistura explosiva perto de chamas.

Na apresentação do livro, a informação é que Zola visitou minas, desceu ao fundos do poço, viveu num cortiço, bebeu cerveja nos botecos e, sobretudo, constatou a pobreza imensa pelos baixos salários e, nesse quadro desolador, a fome. 













O romance começa descrevendo exatamente essa pobreza, a busca por “pão”, a preocupação em alimentar toda a família, geralmente numerosa, as sopas ralas. As moradias pertenciam às usinas que cobravam aluguel, eram pequenas e todos se acomodavam como podiam, amontoados um sobre os outros, sem muito pudor na intimidade entre irmãos e irmãs.

Do outro lado, do lado do sócio-empresário de uma das minas, ele recebia dividendos suficientes para não trabalhar, viver no luxo duma mansão juntamente com sua família, servido por criados que se serviam, até, da caleça dos patrões.

Tudo era suportado, os mineiros expostos àquelas condições de trabalho degradantes e os patrões usufruindo dos lucros, até que começa a trabalhar na mina, nas mesmas condições, Etienne até então um desempregado rebelde que fora com seus superiores em outros empregos.

Num dado momento a administração da mina decidiu que os reparos no estaqueamentos não faziam parte da jornada de extração fato que reduzia os salários já minguados.

A revolta é geral. Etienne que agora residia na casa de Maheu e família, dormindo num cama num aposento minúsculo vinha se cultuado em teses socialistas e anarquistas, misturando conceitos nietzchinianos:

“Já que Deus estava morto a justiça asseguraria a felicidade humana, fazendo reinar e igualdade e fraternidade. Uma sociedade nova surgiria em um dia, como nos sonhos, uma sociedade imensa, esplêndida como uma miragem, onde cada cidadão viveria do seu trabalho e teria o seu quinhão nas alegrias comuns.”

Com essas ideias e a fome aumentando a cada dia, eclodiu a greve em todas as minas, muito forte, com o apoio, ainda que distante da Internacional e não poderia faltar até mesmo um padre que criticava os patrões acerbamente.

Os grevistas às centenas saem em passeata, gritando por “pão, pão, pão” sem que houvesse a reação dos patrões.

[Um aspecto que me chamou a atenção: havia uma usina de açúcar nas proximidades que se utilizava da beterraba como matéria prima. Ela também foi afetada pela greve. Não saberiam os grevistas que as folhas da beterraba engrossariam a sopa rala? O furto famélico das próprias beterrabas não seria aceitável? O Autor não se referiu a esse ponto. Talvez complicasse a história].

A greve resulta no confronto entre policiais armados e a massa esfomeada. Os tiros matam 14 grevistas, incluindo o aliado de Etienne, Maheu, aumentando a tragédia de sua família e o desespero de sua esposa corajosa.

O tratamento dado ás mulheres era ríspido. Meninas sem perspectiva se entregavam aos namorados e muitas engravidam e tinham filhos precocemente. A tragédia com mais destaque fora Catherine, filha de Maheu que, deflorada por Chaval, era tratada a pontapés por ele que, na história, é o vilão que morre pelas mãos de Etienne.

Com o passar dos dias, os mineiros envergonhados voltam ao trabalho, inclusive Etienne – que deixara de ser hostilizado pelos mineiros. Ele acompanhava Catherine que decidiu trabalhar para diminuir a fome da família, agora sem o pai.

Suvarin, um polonês taciturno, que ironizava os ideais de Etienne por fim desabafa falando do enforcamento de sua esposa na Rússia que explodira uma linha de ferro, atingindo um trem de passageiros e não o trem imperial como era o plano.

Suvarin: “Você nunca serão dignos da felicidade enquanto possuírem alguma coisa, enquanto esse ódio aos burgueses for apenas o desejo desesperado de serem burgueses também.”

Nessa noite o polonês sabotou a mina onde Etienne voltaria a trabalhar. Arruinara as escoras e os estaqueamentos de tal modo que a água passou a verter pelas frestas e a descer sobre o poço da mina com muita força. O desbarrancamento atingiu um riacho perto que passou a despejar água no mesmo poço enquanto não estancada.

Salvaram-se os que puderam, mas Etienne, Catherine e Chaval ficaram retidos num beco em perigo porque a água avançava. 

O ciúme de Chaval por Catherine provocou Etienne - que já haviam brigado - que o matou com uma pedra.

Duas semanas depois fora resgatado porque a turma de socorro ouvira as batidas de Etienne. Poucas horas antes Catherine falecera.

Tragédias.

Etienne, salvo, grisalho, teve que se acostumar à claridade, deixa a região rumando para Paris, chamado pelo dirigente da Internacional que o conhecia.

Mas, em sua mente não perdera a esperança de dias melhores para os trabalhadores, “crescendo para as colheitas do século futuro.”

O livro tem muito, muito mais. Gostei bastante.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

HORIZONTE PERDIDO de James Hilton

Livro 38

Quem não leu este livro ou já ouviu falar dele? Do mito de Shagri-Lá, um paraíso perdido numa montanha pelos lados do Tibete? (*) Um local de pureza ambiental, de monges que cultivam a cultura e a espiritualidade? Que não envelhecem?

O livro foi lançado em 1933. Os diálogos entre os personagens são até ingênuos, simples, pelo que facilita muito a leitura.















Não sei quantas vezes li o livro, assisti ao filme de 1973, estrelado por atores de primeira linha, musical, com composições de Burt Bacharach mal recebido pela crítica, porém.

Quanto ao nome Shangri-Lá, tentei achar a origem da palavra. Não encontrei nada significativo e, de regra, todas as conceituações se referindo à obra de Hilton:  um recanto místico, de paz e tranquilidade, perdido nas montanhas do Tibete.

Mas, em tibetano significa "desfiladeiro".

Disse um dos personagens, já se acostumando com a vida em Shangri-la:

- Meu Deus, quando se pensa em toda essa gente que daria tudo o que tem para sair da balbúrdia e vir descansar num lugar como este e não pode sair! Seria o caso de perguntar quem está preso: nós (em Shangri-Lá) ou eles.

Os personagens são: Hugh Conway, cônsul britânico, Roberta Brinklow, missionária, Henry Bernard, cidadão americano procurado pela polícia porque dera um golpe financeiro no seu país e Charles Mallinson, vice-cônsul.

Estão em Balkul, no Irã, quando explode uma guerra. Esses quatro personagens fogem num avião já com tecnologia para voar a grandes alturas. O destino seria Peshawar no Paquistão.

Mas, o avião fora sequestrado sem que percebessem no tumulto e a rota foi desviada para um longínquo ponto no Tibete.

Ao pousar o avião, são recebidos por uma comitiva comandada pelo monge Tchang.

São conduzidos ao monastério e lá são instalados. Sentem-se bem, logo se acostumam com o ar rarefeito e se surpreendem com o conforto “europeu”, além de biblioteca e música, oferecida um exímio pianista que interpretava músicas inéditas de Chopin.

Para eles o mistério do sequestro permanecia.

Tchang, que lhes dava apenas as informações permitidas dissera que as regras de Shangri-la eram a moderação e essa modo de vida significava a felicidades mesmo para os habitantes que viviam montanha abaixo do monastério. E disse:

- E creio poder afirmar que nossa gente é moderadamente sóbria, moderadamente casta e moderadamente honesta.

[“Moderadamente honesto” não guarda certo equilíbrio com “moderadamente desonesto”?]

Sem perspectiva de deixarem Shangri-Lá a curto prazo, porque seria necessário contar com os carregadores que para lá se dirigiam ocasionalmente, levando encomendas, excluindo o jovem Mallinson, todos os outros resolveram ficar no pequeno paraíso.

Não demora muito e Conway é chamado para uma entrevista com o Lama Superior. E então ele descobre que esse monge tinha cerca de 250 anos e já esperava a morte. É que em Shangri-Lá a velhice era retardada por décadas, séculos...

O pianista se dizia discípulo de Chopin.

Também, exímia pianista, a bela chinesa Lo-Tsen que apaixonara os três sequestrados, incluindo Conway.

Mas, quem de lá saísse, com a perda do poder místico que havia no paraíso, a idade se mostraria real até a morte se fosse muito avançada.

O Lama escolhera Conway como seu substituto em Shangri-Lá , após essa revelação, morre.

Confuso, Conway deixa as instalações do Lama recém falecido e é convencido num longo apelo de Mallison a deixar Shangri-Lá com ele revelando que carregadores estavam próximos, subornados para que os levassem de volta por orientação de bela Lo-Tsen. Ela também fugiria.

Conway então revela o segredo da longevidade que gozavam os habitantes de Shangri-la e os efeitos que se dariam com a saída de Lo-Tsen.

Mallison não acreditou admirado que Conway tivesse acreditado que Lo-Tsen, deixando o paraíso, assumiria sua idade real com todas as consequências.

A saída de Shangri-Lá era demasiada difícil.

As últimas referências a Conway se deram num hospital, internado febril e com perda de memória.

O médico que o atendeu tinha leve lembrança, até mesmo de uma mulher, chinesa, que o levara até lá.

Indagado o médico sobre essa mulher chinesa, se se lembrava de alguma coisa a respeito dela, se era jovem, respondeu:

- Oh! Não, ela era muito velha, a mulher mais velha que vi até hoje.

De Conway não mais se ouvir falar. Teria retornado a Shangri-Lá?

...........

(*) O Autor se refere a alguns aspectos místicos do Tibete. O livro “Horizonte Perdido” foi escrito no início da década de 30 do século passado. O livro “Mistérios e Magias do Tibete” de Chiang Sing tem bastante informações sobre o Tibete antes da invasão da China, em 1950.
Acessar:
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2017/07/misterios-e-magias-do-tibete-de-chiang.html







sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A ESCOLHA DE SOFIA de Willian Styron

Livro 37

Essa obra não é nova.  A edição aqui comigo é de meados da década de 70, grosso volume impresso em fonte pequena, 576 páginas.

O livro já foi homenageado com um filme protagonizado por ninguém menos do que Meryl Strieep.

Não sabia nada da escolha de Sofia pelo que me deu mais interesse pelo livro, já que o filme, de 1982 nem tenho certeza se assisti inteiro.

O narrador da história é Stingo, um candidato a escritor que se hospeda numa pensão barata, no Brooklyn, Nova York, porque em Manhattan era muito caro, toda cor-de-rosa, casa de Yetta Zimmerman e é nesse ambiente que conhece o casal Sofia – Nathan, barulhentos na hora do amor no andar de cima.














Viera Stingo do sul dos Estados Unidos e, à medida que se relaciona com Nathan é insultado por ele, que imita o sotaque daquela região do sul americano, uma provocação.

Mas, assumindo algo parecido com dupla personalidade, num outro momento Nathan elogia muito o futuro escritor e se tornam, juntamente com Sofia, grandes amigos.

O livro está cheio de pieguices e histórias dentro da história, fatos que não o desmerecem.

Curioso, entre os americanos homens, não é incomum se ouvir, “I love you”. Essas declarações normais e heteros se dá muito nos filmes de Hollywood. E esse sentimento se dá entre Stingo e Nathan.

Sofia de modo gradativo vai contando sua história a Stingo: polonesa, poliglota (falava alemão, francês e polonês) foi presa pelos nazistas e levada a campos de concentração apenas porque fora surpreendida convivendo com membros da resistência. Ela não compactuava com o movimento.

Por falar o alemão tão bem, estenógrafa, passou a trabalhar para um comandante nazista no campo de concentração de Auschwitz (comandante Höos).

“Pergunta: Diga-me: em Auschwitz onde estava Deus?”
“Resposta: Onde estava o homem?”

Em meio a todo o sofrimento nesses campos de concentração, um dia teve que escolher, perante um médico bêbado que pensara em ser padre no passado, qual dos seus filhos, seu filho ou sua filha deveria entregar para os fornos de extermínio para que o outro sobrevivesse.

Completamente cega de dor, entrega um dos seus filhos (não diria, mas vou dizer que foi a filha) e, por todo o tempo, mesmo quando chegou aos Estados Unidos pensava em encontrar aquele que sobrevivera. Não o encontraria. Nem poderia afirmar que sobrevivera.

Até o terço final do livro, a crueldade de Nathan em momentos diversos de loucura contra Sofia deixava a impressão que sendo ele judeu, esses destemperos poderiam significar um contraponto à própria crueldade nazista que sabia.
Mas, descobre-se por seu irmão, que Nathan tinha problemas psiquiátricos sérios. Esquizofrênico. Dai a violência.

Naqueles tempos do pós-guerra havia no ar, ainda, aquele sentimento de perplexidade, revolta e ainda os horrores da violência praticada por todos os lados no conflito.

Na sequência das páginas, aproximando-se do final se avoluma o erotismo.

Sofia era linda. Stingo se apaixona por ela de modo descontrolado.

Por não conseguir consumar sua primeira relação sexual com suas namoradas virgens e que a ele não se entregaram, chegou a duvidar de sua masculinidade até que, salvando Sofia das reações esquizofrênicas de Nathan fogem para a Virginia, o sul,  para a fazenda do pai de Stingo.

É nessa viagem que Sofia premia Stingo pelo sexo oral.

E depois disso, sem que Stingo acordasse, ela foge para Nathan, para o Brooklyn e para o duplo suicídio, o que considero a segunda escolha de Sofia.

O livro “A Escolha de Sofia” é muito bom.

Agora preciso assistir ao filme. 


quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A DIVINA COMÉDIA (Inferno) de Dante Alighieri

Livro 36

NOTA IMPORTANTE NO FINAL DO TEXTO

Vou comentar e brevemente resenhar a primeira parte, ao “Inferno” de Dante que, seja por esse título, tem sido sempre referido – no cinema, em especial -, mas pouco conhecido nas suas linhas.

Purgatório e Paraíso comentarei em outras próximas oportunidades (*)

Estas minhas impressões, SÃO MINHAS. Não procurei nenhuma referência à considerada obra prima do autor que se situaria entre as mais importantes da literatura italiana.

Achei o “Inferno” uma leitura depressiva pouco a acrescentar, só levada a termo porque assumi que as obras que leio ou releio tenho que ter em mente pelo menos sua essência. Ou será que o inferno é assim mesmo, desagradável ao extremo?

Há que mencionar que correntes espíritas o veem com médium pela sua genealidade. Afinal, como teria imaginado essas imagens tenebrosas do inferno contidas em sua obra.

Obscura como é a narrativa, me levou a pensar se o "inferno" de Dante não tem muito a ver com a doutrina católica da Idade Média, a inquisição brutal cujos métodos de tortura e sacrifício infligidos aos “pecadores”, nos detalhes, causam tanta emoção e perplexidade (!)

Sim, “O Inferno” de Dante é brutal. Ao identificar os condenados ao fogo eterno (e até ao gelo eterno) há um momento em que ele, autor, se vinga de desafetos. Mas, nesse bem descrito clima de horrores, converte Deus num agente cruel, imperdoável, pelo que dominam os demônios e a própria figura horrenda de Lúcifer.

“Ó justiça divina, quão dura sois que tamanhos golpes desferis na punição extrema dos pecados!”

Pelo inferno, foi cunhada a palavra "dantesco" que significa toda tragédia repleta de incidentes, incêndios principalmente.


O título do livro, em princípio, fora “Comédia”, somente mais tarde se tornado “Divina Comédia”.

Dante nascera em 1265 de família abastada e se tornou membro da administração de sua cidade, Florença.

Talvez seja pelos dissabores políticos que Dante enfrentara – ele nunca pode voltar a Florença, sua cidade natal, porque condenado - levou-o que carregasse nas cores tenebrosas do inferno.

Faleceu em 1321, na cidade de Ravena.


O próprio Dante é o personagem central do livro. Perdido numa local inóspito, uma selva e por ali vaga sem possibilidade de dele se livrar, em desespero, num momento dado reconhece à sua frente a figura do grande poeta Virgílio, uma sombra ou um espírito como na obra é referido e passa a guiá-lo.

[Virgílio fora o poeta da obra “universal” Eneida. (*)]

Virgílio chegara até Dante atendendo a um pedido da pura Beatriz, menina de nove anos de quem ele, Dante, se apaixonara, pelo seu rosto angelical, pela sua pureza.

[Na “vida real”, Dante não a desposou, mas aquela imagem de pureza feminina jamais esqueceu].

Virgílio, um pagão não condenado ao inferno porque sua conduta não o levara a esse castigo extremo, foi autorizado a conduzir Dante aos círculos do inferno e ao Purgatório. No Paraíso, proibido o acesso do poeta, Dante fora conduzido pela própria Beatriz.

Logo na entrada do Inferno Dante se depara com um letreiro escuro que dizia: "Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais."

Então à indagação de Dante, Virgílio responde: "Aqui convém deixar de lado toda suspeita, toda debilidade."

E porque "nos encontramos no lugar onde verás a gente atormentada que não pôde conservar a luz do bem"

Sobre as queixas e lamentos em meio à escuridão que Dante ouve:

“Tal horror espicaçava-me a mente, e eu disse a Virgílio: Mestre, que ouço agora? Que gente é esta, que a dor está prostrando?

"Queixa-se dessa maneira”, tornou-me ele, “quem viveu com indiferença a vida, sem ter nunca merecido nem louvor nem censura ignominiosa. Faz-lhes companhia um grupo de anjos mesquinhos, que a Deus não manifestaram nem fidelidade nem rebeldia, expulsos dos céus; nem o inferno profundo os acolhera, pois os anjos rebeldes se jactariam de lhes serem superiores em algo.” 

O inferno é constituído por nove círculos seus abismos e fossos que destacam todos os tipos de pecados e castigos eternos:


Ali, além de Virgílio estavam Platão, Sócrates, Hipócrates, Homero – rei dos poetas.

“São os escolhidos, respondeu o mestre, do Céu, que recompensou fama alta e preclara com que na Terra, foram engrandecidos.”   
    

Aqui cumprem o castigo eterno homens e mulheres que se sofrem com vento fortíssimo, seus vícios com a luxuria. Viram os poetas ali a libidinosa Cleópatra, também Helena. Páris e Aquiles. “E mostrou-me mais um bando de sombras que o amor conduzira à sepultura, nomeando-as”

Amor!


“Todos lá chamava-me Ciacco. Pelo vício da gula eu sofro à chuva, miseravelmente, enregelado e fraco, Entretanto, não peno sozinho, pois os que aqui estão com castigo foram punidos por igual pecado.”


Lá estavam também clérigos, cardeais e papas que se dedicaram ao desperdício e todos aqueles dominados pela avareza. Condenados a “rolar  enormes pesos e a se injuriarem mutuamente.”


“As almas que pela ira foram vencidos”. Permaneciam sob água imunda. Tristes eram pela ira sob os ares que o doce sol aquece e mais tristes agora imersos no negro lodo.


“Mestre”, disse eu, “que gente é esta que desse modo deixa ouvir seu sofrer imenso?” E ele: “Aqui estão reclusos os heresiarcas e seus seguidores. Bem mais do que podes julgar, estão cheias estas tumbas. Aí se encontram iguais com iguais, réus dos mesmos crimes; as tumbas queimam segundo a gravidade da heresia feita.”


A violência contra o próximo; os assassinos, os tiranos cozinham no sangue fervente: “São os tiranos, os que viveram da pilhagem e do sangue derramado. Aqui são pagos impiedosos danos.
Num outro recinto do 7º círculo foram encontrados os sodomitas que sob fogo intenso, eram vítimas de “horríveis chagas”.


Os pecadores andavam nus, sujeitos aos açoites de seres demoníacos corníferos.
“Fui aquele que induziu sua irmã, a bela Gisola, a satisfazer os desejos do marquês...Ia dizer mais quando um demônio o golpeou, gritando: “Em frente, rufião, aqui não há mulheres a que possa explorar”.
Em outras valas do 8º círculo, encontraram Dante e Virgílio enterrados de cabeça para baixo...
Este círculo, com diversas valas, contém todo tipo de fraudadores e falsários.


Com muito rigor são punidos todos os traidores. Mas, esses pecadores não fiavam sob calor e fogo dos infernos, mas sob frio intenso.
E foi aí, nessas geleiras que se depararam Virgílio e Dante com Lúcifer e sua figura tenebrosa.


O “Inferno” de Dante não fica só nisso. Há descrições horrorosas e em alguns momentos beiram realmente à comédia. Há muito de figuras mitológicas, monstros, que participam do inferno.
TODAS as criticas são bem vindas.

(*) "A Divina Comédia" edição em prosa da  L&PM Pocket.

O quadro de Sandro Botticelli (Florença, 1445/1510) 

O pintor Sandro Botticelli, autor de obras primas, como é o caso da delicadeza refletida no “Nascimento de Vênus”...










...pintou esse quadro "horroroso" dos círculos e abismos do "Inferno" imaginando a obra Dante Alighieri. 
Até hoje, séculos depois, estudiosos das artes se debruçam sobre esse quadro tentando desvendar seus detalhes. 





(*) Resenhas:



NOTA IMPORTANTE DE DIRECIONAMENTO:
Esta resenha e comentários foram atualizados e republicados conforme o livro de Dante Alighieri num único texto, a saber: Inferno, Purgatório, Paraiso.