EDIÇÃO ESPECIAL
TRAGÉDIAS GREGAS - O DESTINO ESTAVA ESCRITO
ÉSQUILO: "PROMETEU ACORRENTADO"
Ésquilo nasceu por volta de 525 AC em Elêusis, próximo de Atenas e faleceu em 456 na Sicília.
A obra, escrita em 470 AC é mais uma tragédia grega.
Nas três obras a predominância do cumprimento inexorável do destino.
Nesta obra de Ésquilo o destino tem a ver com o castigo de Zeus tal qual proclamam correntes espirituais que falam na "lei do retorno", na "lei da causa e efeito."
Mas, há que se afirmar que Zeus é um deus pagão e se envolve como se constata em outras obas com certa paixão na vida dos mortais.
Essa tragédia tem os personagens seguintes além de Prometeu:
Poder e Força: Sob cujas ordens é executada a punição a Prometeu;
Hefesto: designado para acorrentar Prometeu numa "rocha varrida", que lamenta muito cumprir a missão imposta mas a executa, deixando Prometeu numa situação "ultrajante".
Oceano: Aliado de Prometeu que dele se aproxima em seu local do castigo e demonstra o desejo de interceder perante Zeus para minorar seus sofrimentos. E chega a aconselhar: "E por inteligente que sejas, desejo dar-te o mais salutar conselho. Conhece-te a ti mesmo e adota modos novos, pois um novo senhor reina sobre os deuses". Prometeu, porém, rejeitou a ajuda porque receava que Zeus fizesse contra o Oceano, algum tipo de retaliação.
Io: filha de Ínaco: que Zeus amava, mas pelo ciúmes de Hera (esposa de Zeus) foi expulsa pelo pai de casa e deixada à própria sorte no deserto, por terras estranhas, habitantes perigosos. Ela chega até Prometeu mas segundo as profecias dele, Io finalmente, pelo "capricho do Destino, uma grande colônia será fundada por ti Io e pelos teus filhos".
Hermes: filho de Zeus que vai até Prometeu para saber de suas previsões sobre a perda do trono pelo pai, após um casamento...
Coro das Oceânidas: Aliado de Prometeu que sofre com ele o castigo que lhe impôs Zeus.
Prometeu fora duramente castigado por Zeus por ter dado aos mortais, aos homens, ensinamentos e segredos conforme explana já acorrentado nas rochas. Ele se refere ao que ensinou e inventou em benefício dos mortais:
● A construir moradias com tijolos e madeira para que saíssem os mortais das cavernas escuras;
● A distinguir as estações de inverno e a das flores , dos frutos e da colheita;
● Inventou o sistema de números e o alfabeto;
● A subjugar os animais para fazerem os trabalhos mais pesados;
● Os navios para os marinheiros correrem os mares;
● A utilização do fogo...
"Vede como está preso em correntes o miserável deus que sou, o inimigo de Zeus, que incorreu no ódio de todos os que frequentam a corte de Zeus porque amou demasiado os homens."
Mas, Prometeu exalando o ódio contra Zeus, declara que ele perderá o trono depois de um casamento do qual se arrependerá, porque a esposa lhe dará um filho mais forte que ele.
Então, a tais presságios se apresenta Hermes a mando de seu pai Zeus para saber "que casamento é esse que fazes tanto barulho".
Prometeu, ao ser acusado por Hermes de que delira e está doente, ele responde:
"Se estar doente e odiar os inimigos, então, sim, estou doente."
Então, Hermes, agrava o castigo de Prometeu informando que o "cão alado" de Zeus, o "abutre sanguinário", devorará "com voracidade grandes pedaços do seu corpo (...) que virá todo o dia fazer seu repasto e o dia inteiro vai mastigar a negra iguaria que é o teu fígado".
No dia seguinte, o fígado recuperado era novamente devorado.
E Hermes não lhe dá esperança de breve reparo ao castigo, mas lhe diz:
"Então olha ao teu redor, reflete, e não acredites que a teimosia valha mais que uma sábia deliberação."
E o Coro aliado de Prometeu, no final, sob ameaça de Hermes a possíveis retaliações de Zeus contra ele, Coro, diz:
"Usa de outra linguagem e dá-me conselhos que eu possa escutar. Acaba de dizer frases intoleráveis. Como podes ordenar que eu cometa uma covardia? O que ele deve sofrer, quero sofrer com ele. Aprendi a odiar os traidores. De nenhum outro vício tenho mais horror."
E a frase final de Prometeu:
"Ó minha venerável mãe e tu, Éter, que fazes rodar ao redor do mundo a luz comum a todos, vede o tratamento ultrajante que me infligem?"
Em Prometeu Acorrentado, o destino dele está ligado aos desígnios de Zeus que o castiga pela ajuda aos mortais e mesmo ao ódio externado ao deus.
Há excessos?
Depois de 2500 anos, até hoje, com tanto "progresso" sabemos ou controlamos o essencial da vida? Como explicar tantas diferenças entre os semelhantes, as dores físicas, morais? Seriam castigos? Se sim, por quê? Por quem?
O essencial da vida não entendemos ou não nos é dada a compreensão.
SÓFOCLES: "ÉDIPO REI"
Sófocles nasceu em 496 e faleceu em 406 a.C
Além de dramaturgo premiado na Grécia, ocupou altos cargos políticos pela amizade com Péricles, este um estadista influente, orador emérito e líder da democracia na "era de ouro" de Atenas.
"Édipo Rei" de Sófocles. escrita lá pelos anos 427 antes de Cristo constitui-se amarga tragédia grega.
Essa peça teria inspirado Sigmund Freud no desenvolvimento de sua teoria psicanalítica do "complexo de Édipo", por esta frase proferida por Jocasta na peça:
"Não tenhas medo da cama de tua mãe:
quantas vezes em sonho um homem dorme com a mãe!
A lenda de Édipo que antecede a peça teatral de Sófocles contém estes episódios conhecidos:
Édipo era filho do rei Laios e de Jocasta, reis de Tebas.
A profecia obtido no oráculo de Delfos, dera ao menino um destino horrível: mataria seu próprio pai e desposaria sua mãe.
Por isso , fora ele atirado ao abandono numa várzea do Citerão pela própria mãe, Jocasta, com um grampo que prendia seus dois pés para ser morto.
Mas salvo por um pastor e depois adotado como filho legítimo pelos reis de Corinto, Políbio e Mérope que não tiveram filhos.
["Édipo" tem o sentido de "pés inchados", exatamente pelos grampos que prendiam seus pés, quando encontrado].
Édipo soube da profecia e imaginando que fosse Políbio e Mérope, seus pais verdadeiros deixa Corinto e ruma para Tebas.
No trajeto, por um motivo fútil, uma rusga, Édipo mata quatro dos cinco viajores.
Tebas era atormentada pela esfinge, monstro com cabeça de mulher e corpo de animal que devorava a todos que não desvendassem seus enigmas.
Na vez de Édipo o enigma proposto pela esfinge já se preparando para o banquete:
“Qual o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite”?
Édipo dá esta resposta:
— É o homem. Pela manhã ele engatinha com quatro ‘patas’; ao meio-dia é o adulto que anda com as duas pernas e à noite (na velhice) ele se vale de uma bastão, três pernas.
Vencida, a esfinge se destrói atirando-se num precipício.
Havia a promessa de desposar Jocasta e se tornar rei de Tebas aquele que vencesse a esfinge.
E Édipo casa-se com Jocasta tornando-se rei de Tebas.
ÉDIPO REI
A tragédia de Sófocles, escrita em 430 AC tem os seguintes personagens principais:
● Édipo, rei de Tebas
● Sacerdote
● Creonte, irmão de Jocasta
● Tirésias, o adivinho cego
● Jocasta, rainha de Tebas
● Emissário de Corinto
● Pastor da casa de Laios
● Arauto do palácio real
● Coro dos anciãos de Tebas.
Édipo se depara com multidão nas suas portas e indaga os motivos daquela aproximação.
O sacerdote ressalta as tragédias que assolam Tebas e acentua:
"Com seu archote flamejante a peste lança-se sobre nós e dizima a cidade; fica vazia a casa dos tebanos e o reino tenebroso dos infernos vai-se enchendo de lágrimas e gritos."
Édipo respondeu que esperava por Creonte, seu cunhado, que fora consultar o oráculo de Delfos.
Creonte se aproxima e diz que os males de Tebas se devem à morte de Laios, o rei que Édipo sucedeu pelo que haveriam que ser descobertos os seus assassinos e punidos severamente.
Acreditava-se que Laios fora morto por um bando de ladrões.
Édipo ordenou que fossem os assassinos descobertos.
Então, fora chamado Tirésias, um vidente que poderia desvendar o assassinato de Laios.
Édipo o interroga e ancião Tirésias que reluta em fazer revelações mas é de tal modo desafiado que acaba dizendo que o rei teria um grande revés e que o homem procurado "passa por estrangeiro mas se verá que é natural de Tebas e essa descoberta lhe será cruel..."
Édipo se revolta e ataca Creonte por ter trazido Tirésias e diz que ele conspirava e desejava conquistar o trono.
Creonte diz,
"Que caia sobre mim a maldição de Zeus, se fiz alguma coisa do que dizes".
Quando Jocasta entra em cena tentando apaziguar o marido e o irmão, repete a versão de que Laios fora assassinado numa encruzilhada por salteadores.
Édipo então indaga da compleição de Laios e se era grande sua comitiva ao ser morto.
À resposta de Jocasta de que Laios tinha semelhança com ele e de que eram apenas cinco na comitiva, Édipo passou a se preocupar.
Jocasta informa que um servo se salvara do massacre.
Era um pastor que ao ver Édipo como rei antes pedira para se afastar de Tebas.
Foi, então, chamado para explicar o que vira naquele dia do assassinato.
Entra o emissário vindo de Corinto e informa que a cidade deseja que também seja de lá, Édipo, o rei, porque Políbio falecera de velhice.
Acreditando que Políbio fora seu verdadeiro pai, Édipo revela sua "libertação" da profecia trágica poque não fora ele quem provocara a morte do rei de Corinto.
O emissário informa a Édipo que Políbio e Mérope eram seus pais adotivos e revela que ele salvara o bebe recém nascido abandonado na várzea do Citarão entregue por um pastor.
Jocasta, a partir daí começa a ficar preocupada,
"Pelos deuses! Se tens amor à vida, põe fim a essa busca! Eu não suporto mais!"
Chega o pastor e depois de muito ameaçado diz a verdade.
Recebera das mãos da rainha o menino para ser morto porque dele havia grave profecia.
Amaldiçoa Édipo aquele que o salvara, que desprendera seus pés propiciando que a profecia se cumprisse e que,
"Eu não viria a assassinar meu pai
nem seria culpado como amante
da criatura que me pôs no mundo...
Agora não há deus que me redima:
sou filho de uma mulher corrompida,
rival do homem que me deu a vida.
Foi então informado de que Jocasta estava morta.
Édipo em desespero,
"Onde está minha esposa que não é esposa alguma, é um útero danado que me pariu e pariu filhos meus!"
Ela praticara o suicídio por enforcamento e Édipo ao ver a cena fura os próprios olhos que sangram.
Então é chegada a hora de sair de Tebas, no cumprimento de seu castigo.
Creonte não consente que com ele, cego, vão suas filhas:
"Vai, mas deixa as meninas!
Édipo:
"Não! Não me tirem minhas duas filhas!"
Creonte:
"Não queiras dar mais ordens, obedece! Teu poder terminou."
E o Coro conclui melancólico:
"Concidadãos de Tebas, pátria nossa,
olhai bem: Édipo, decifrador de
intrincados enigmas, entre os homens
e de maior poder - aí está!
Quem, no país, não lhe inveja a sorte?
E agora, vede em que mar de tormento
ele se afunda! Por esta razão,
enquanto uma pessoa não deixar
esta vida sem conhecer a dor,
não se pode dizer que foi
feliz."
"Moral da história": Ninguém escapa do que está escrito a passar na vida, o destino; a busca implacável pela verdade, qualquer que fosse; os mistérios da vida humana a serem desvendados pelo simbolismo da esfinge e as benesses e os castigos a receber e a enfrentar, cada um segundo o seu merecimento. Mas, quem dita essas regras, Zeus?
Esse rigor do destino, afinal de contas não é uma constante até hoje, a despeito do livre arbítrio? O livre arbítrio interfere em experiências essenciais da vida?
EURÍPEDES: "MEDÉIA"
Eurípedes nasceu na Grécia a data que parece a mais consentânea seria 484 AC. A tragédia "Medéia" fora escrita em 431 AC.
Trata-se de uma tragédia, sem exageros, "superlativa".
É a narrativa de ciúmes doentio de Medéia, porque seu marido Jasão a abandonou pela "cama" de uma princesa, Glauce, filha de Creonte, rei de Corinto.
Os personagens da peça, são além de Medéia, Jasão, Glauce e Creonte:
● A Ama
● Escravo que conduz as crianças, filhos de Medéia e Jasão
● Coro das mulheres de Corinto
● Egeu, rei de Atenas
● Mensageiro que traz a notícia da morte de Glauce e Creonte;
● Filhos de Jasão e Medeia
A Ama num longo prólogo explica o ódio de Medéia por ter sido abandonada e seus filhos pelo marido e pai, Jason, O casal exilado em Corinto, vivia bem ali e que "tudo está salvo, quando nenhuma dissensão separa a mulher do marido".
Ela revela que, além do ódio que nutre pela marido que a abandonou, odeia os próprios filhos e ameaça os assassinar.
Diz ela rejeitando a vida isenta de perigos como dizem os homens das mulheres, que "preferiria tomar parte em três combates a dar à luz uma só vez."
O Coro das mulheres lhe dá razão pela revolta, mas aconselha Medéia e não macular de sangue de seus próprio filhos.
Tais queixas e ameaças ao casamento de sua filha com Jasão, faz com que o rei Creonte expulse de suas terras a "intratável" Medéia, dando-lhe um dia para partir com seus filhos.
Jasão insiste que se Medéia se conformasse, poderia viver em Corinto, porque o exílio lhe será caro. E diz que a abandonara pela princesa para garantir o futuro dela própria e dos filhos.
Mas, Jasão é repreendido pelo Coro por ter abandonado Medéia,
Então, surge Egeu, rei de Atenas (*)
Diz ele que por lá estava em busca de respostas para ter filhos tendo consultado mesmo o oráculo de Apolo que lhe dera uma resposta que precisava ser desvendada por um sábio, Piteu, e Egeu seguia até ele.
Medéia diz a Egeu sobre a traição do marido e, então, promete ele protegê-la em Atenas.
Essa promessa de Egeu incentiva Medéia ainda transtornada pelo ciúme doentio a praticar sua vingança cruel.
Então, demonstrando falsamente que se conformava com a traição do marido, amenizando o seu ódio presenteia a princesa Glauce um vestido e joias preciosas para persuadi-la a manter seus filhos em Corintos, sendo somente ela, Medéia, exilada.
Jasão promete que interviria por seus filhos de modo a que ficasse, em Corinto sendo desnecessários os presentes que oferecia à princesa Glauce.
Medéia não aceita e remete os presentes
Mensageiro, então, a informa de que seus filhos estariam a salvo em Corinto, mas o veneno nas vestes presenteadas e as joias envenenadas mataram tanto a filha como Creonte.
"Do que te toca, não quero dizer nada; aprenderás suficientemente por ti mesma que o mal recai sobre aquele que faz".
E Medéia mantém o ódio aos seus filhos e os assassina.
Diz o Coro das mulheres: "Miserável! Tens então um coração de pedra ou de ferro, para ferir com tua mão teus próprios filhos, fruto de tuas entranhas?"
Segue-se uma discussão entre Medéia e Jasão exalando ódios, de acusações mútuas mas foi a mulher que atingiu o auge da insânia.
A peça se refere ao destino que se cumpre até porque "Zeus, do alto do Olimpo, determina o rumo de muitos acontecimentos, e muitas vezes os deuses enganam nossas previsões na execução dos seus desígnios,"
O destino e as tragédias.
Depois dessas obras (Prometeu, Édipo Rei e Medéia) filósofos gregos tentaram mudar os rumos adotando a liberdade de pensar se afastando dos desígnios do destino.
Referência no texto:
(*) Mitologia: Egeu deu nome ao mar Egeu, em sua homenagem, por nele se atirar e se afogar, julgando que seu filho Teseu fora devorado pelo monstro Minotauro. Teseu fora a Creta para matar o monstro nos labirintos da Ilha.