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segunda-feira, 25 de maio de 2020

RUMO À ESTAÇÃO FINLÂNDIA de Edmund Wilson

Livro 71







Para mim um livro importante. Eu já o lera há décadas e resolvi pela releitura, considerando a polêmica e o "medo" do comunismo que grassa em países do 3º mundo porque nas suas bases, permanecem os mesmos problemas do século XIX quando eclodiu o marxismo pela publicação em 1867 de "O Capital" de Karl Marx. Esses problemas são: a pobreza absoluta, trabalhos degradantes e mal remunerados, falta de saneamento, falta de assistência digna a esses marginalizados pela sociedade que a eles é indiferente.

Marx e seu parceiro Friedrich Engels amadureceram o marxismo tendo por princípio essas aberrações sociais, No seu tempo, além de um salário de escravidão, os operários passavam fome com sua famílias e crianças na tenra idade trabalhavam em fábricas até à exaustão.

Bom que se diga que no livro e de um modo geral, as palavras "comunismo" e "socialismo" são empregadas como sinônimas, mas no seu conceito há diferenças: o socialismo pode existir ao lado de atividades capitalistas e num processo que pode ser mais lento, os trabalhadores vão se assenhorando dos meios de produção e do poder que pode se dar num processo democrático.

O comunismo por sua vez insere no seu bojo, a revolução do proletariado pela tomada do poder extinguindo por esse meio, as fórmulas capitalistas de produção, a extinção da propriedade e a implantação da "ditadura do proletariado" na qual se sobressaem a igualdade e a a plenitude das relações de trabalho. Trabalhadores irmanados no "bem comum".

E de onde pode se encontrar de modo expressivo a origem da palavra "comuna".

Um exemplo significativo pode ser a "Comuna de Paris", de 1871. Essa Comuna fora constituída por trabalhadores que se opuseram ao armistício entre a Franca e a Prússia, cujos soldados cercavam Paris. A Comuna, apoiada pela Guarda Nacional se destacara por um governo operário, de igualdade entre eles, até que massacrada pelas forças ditas oficiais - da burguesia expulsa da cidade pela comunidade que assumira o poder, vitimando mortalmente milhares de seus defensores e presos outros tantos. Não chamados de comunistas, mas de comunardos. Mas, "comuna" de comum, comunidade. A Comuna de Paris teria sido elogiada por Mark-Engel como uma experiência de sociedade comunista ainda que durasse pouco.

O subtítulo do livro "Rumo à Estação Finlândia" é este: "Escritores e Atores da História".

Então, o autor antes de chegar a Marx-Engels, fez uma explanação sobre os escritores Michelet, Renan, Taine e Anatole France e suas ligações contra e pró-socialismo.

Michelet: um autor brilhante, contemporâneo de Marx, rejeitara o socialismo, porque "a propriedade na França já foi demasiadamente subdividida, e o sentimento de propriedade do francês é muito forte."

Renan: não encontrei laços fortes nas obras analisadas por Wilson no tocante ao socialismo, sim ou não, observando-se que "o objetivo de Renan é nos levar a percorrer os textos religiosos e filosóficos da antiguidade - muito embora, graças ao encantamento da imaginação que ele induz à medida que lemos, a atmosfera da época em que tais textos foram escritos seja recriada. Há a menção ao livro de Renan, "As origens de cristianismo".

Taine: na sua mente, as multidões da grande Revolução e o governo revolucionário de Paris identificaram-se com a revolução socialista da Comuna cujos membros, é bom que se ressalte, foram massacrados. Todavia, "Taine defende a lei e a ordem da burguesia assim que sente ameaçadas pela espécie errada de homem superior". Homem superior é aquele que mais integralmente representa o povo.


Anatole France: ele politicamente era socialista, mas em suas últimas obras "têm como único objetivo mostrar que as revoluções terminam gerando tiranias pelo menos tão opressoras quando aquelas que visaram derrotar".

No tocante aos nomes que o autor já qualifica como socialistas, dois se destacam, Graco Babeuf e Saint-Simon.

Babeuf, no leito de morte, seu pai o fez jurar sobre sua espada que defenderia até a morte os interesses do povo.

No cumprimento desse juramento manteve intensa atividade política, denunciou lá pelo fim do século XVIII que o povo perdera a liberdade de reunião e de imprensa. Descobriu no exercício de cargo no Depto. de Subsistência da Comuna uma falha contábil, concluindo que as autoridades estavam deliberadamente  criando uma situação de fome para explorar a demanda por alimentos. Pelas suas atividades acabou sendo preso deixando sua família sem quaisquer recursos numa época de fome terrível na França a ponto de morrer de inanição sua filha de sete anos e muito magras suas outras crianças. "A maior parte da população de Paris" andava pelas ruas cambaleando pela fome.

Foi guilhotinado.

Saint-Simon que tentara o suicídio, nos seus escritos, invocara Deus aos "príncipes, que ouçam a Sua voz e se tornem bons cristãos (...) e que o cristianismo obriga aos poderosos a tarefa de melhorar o mais depressa possível a situação dos miseráveis!"
"Toda a minha vida pode ser resumida numa única ideia: garantir a todos os homens o livre desenvolvimento de suas faculdades."

Morreu com a mão à cabeça que fora baleada na sua tentativa de suicídio.


O livro de Edmund Wilson explana, também, na linha das origens do socialismo, as comunidades de Fourier e Owen.

Ambos pensaram numa nova fórmula de convivência, após assistirem o sofrimento impostos aos trabalhadores. Fourier vira a população de Lion "ser reduzida à mais abjeta degradação com o desenvolvimento da indústria têxtil e viu, num quadro de população esfomeada, carregamento de arroz ser inutilizado pelos patrões para que o preço aumentasse. 

Owen, por sua vez notou que as novas máquinas de tecer tinham toda a atenção, enquanto desprezada a "máquina humana".

De se notar que o pensamento socialista sempre esteve ligado ao sofrimento da massa trabalhadora.

Fourier imaginou uma sociedade não de igualdade absoluta, mas premiando aqueles trabalhadores mais talentosos com algumas vantagens a mais. Os trabalhos desagradáveis teriam melhor compensação como também os trabalhos necessários. Mas, essa comunidade de capital privado - os investidores receberiam porcentagem sobre a renda auferida - não foi avante. Não houve interesse capitalista nos seu projeto.

Owen pensava na igualdade absoluta e enquanto administrador de um cotonifício na Escócia, converteu trabalhadores miseráveis, em profissionais bem remunerados, que trabalhavam menos horas, pelo que era adorado.

Owen em declarações públicas passou a atacar a religião, a propriedade e a família. "Uma força idealista subversiva". Então viajou aos Estados Unidos em 1824 na esperança de instituir por lá sua comunidade. Foi enganado por interessados e sócio desonestos e a despeito de seu idealismo as coisas não andaram bem. Comunidades owenistas surgiram. Mas, voltou em 1838 e morreu pobre em País de Gales.

O livro relata outros comunidades semelhantes nos Estados Unidos destacando-se a Comunidade de Oneida, havida no estado de Nova York que durou 30 anos (1847-1879), fundada por  Humphrey Noyes gerida por princípios coletivistas-socialistas. Do ponto de vista da procriação na comunidade, um grupo de administradores escolhia os casais que não poderiam se unir, para conseguir sempre crianças melhores. A comunidade foi se extinguindo à medida que Noyes foi envelhecendo, enfrentando críticas quanto aos métodos adotados e porque não havia um líder que o substituísse.

Socialismo utópico, mas expressivo nos seus ideais.

KARL MARX e FRIEDRICH ENGELS

Karl Marx era judeu, alemão, nascido em 1818 de uma família tradicionalista e religiosa. Ele escapou dessa influência, enveredou para a literatura desde jovem e estudou direito. 

Escreve artigos para jornais, busca a pesquisa ao mesmo tempo em que desvenda os filósofos alemães. E diria: "Até agora, os filósofos só fizeram interpretar o mundo de maneiras diferentes; cabe transformá-lo".

Karl Marx aos 25 anos se casou com a linda Jenny von Westphalen, quatro anos mais velha que ele de quem era apaixonado. Jenny ao lado dele e dos filhos, passaram as maiores privações, humilhações porque o marido não tinha aptidão para um trabalho regular, ganhava valores esporádicos com os artigos que escrevia.

Foi sustentado Engels amigo e parceiro inseparável quase sua vida toda.

Passou a estudar filosofia, principalmente o pensamento de Hegel além de se aprofundar nas teses socialistas desenvolveu conceitos que se projetariam no futuro. E nesse objetivo, com seus estudos e artigos e então sob a influência do amigo Engels 
conhecendo a miséria das classes trabalhadoras pensou uma revolução que desse a eles sua importância real, derrubando os capitalistas e a burguesia que dominavam os meios de produção e os oprimia com total indiferença.

O seu amigo e parceiro inseparável fora,

Friedrich Engels
, alemão, nascido em 1820, filho de industrial da indústria têxtil era entusiasmado pela literatura e a música, mas se deparara com a miséria absoluta dos trabalhadores explorados nas fábricas e que, na sua infelicidade, enveredavam para o alcoolismo. Não tinham, afinal, o direito à felicidade como proclamara Saint-Simon, com o desenvolvimento de suas faculdades?

Engels começara um romance com Mary Burns, uma operária da fábrica Ermen & Engels que fora promovida a manejar uma nova máquina automática de fiar. Ela recusou a oferta de Engels em sustentá-la para não mais trabalhar mas aceitou que ele a instalasse com a irmã numa casinha suburbana modesta.

Marx se aproximou de Engels após receber dele um artigo para publicação num jornal alemão no qual era este colaborador. Marx gostou do artigo.

A partir dai as ideias e os ideais de ambos se uniram num trabalho intenso pensando numa revolução que mudasse a vida dos trabalhadores.

Mas, Marx não era dado a trabalho fixo. Claro que ocasionalmente recebia compensações pelo que escrevia. Esse ócio profissional que não fosse a atividade intelectual, levou sua família e seus filhos em épocas frequentes à miséria absoluta, a ponto de serem penhoradas até roupas de Jenny e filhas.

Então, sem se preocupar muito como Engels poderia obter renda e ajudá-lo Marx o cobrava de modo constante que lhe enviasse recursos para sobrevivência dele próprio e de sua família.

Em artigos a serem escritos em inglês, idioma que Marx não dominava bem, quem os escreveu foi Engels, mas a remuneração foi recebida por seu amigo.

Nessa parceria sobretudo intelectual escreveram o "Manifesto comunista" divulgado em 1848 um documento que deu uma direção ao pensamento de Marx-Engels, com os seguintes princípios básicos da proposta, a "derrubada à força de toda a ordem social vigente":

1. Expropriação da propriedade fundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado;
2. Imposto de renda fortemente progressivo;
3. Abolição do direito de herança;
4. Confisco da propriedade de todos os emigrados e sediciosos;
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um banco nacional com capital do Estado e monopólio exclusivo;
6. Centralização dos meios de transporte nas mãos do Estado;
7. Multiplicação das fábricas e meios de produção nas mãos do Estado, aproveitamento das terras incultas e melhoramento de terras cultivadas, segundo um plano geral;
8. Trabalho obrigatório para todos; organização de exércitos industriais, particularmente na agricultura;
9. Combinação de trabalho agrícola e industrial, de modo a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre cidade e campo;
10. Educação pública gratuita para todas as crianças, abolição de trabalho de menores e na indústria tal como é praticado atualmente. Combinação da educação com a produção material.

["Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar."] 

E então o mote: "proletários de todos os países, uni-vos".

Ate chegar ao "O Capital" de Marx, os parceiros do comunismo abriram debates em relação ao pensamento do filósofo Georg W. F. Hegel (alemão, nascido em 1818 e falecido em 1883) especialmente a dialética que significa o estabelecimento de fases de mudança do mundo. Em três fases: a tese - um processo de unificação; a antítese - um processo de negação da tese e a síntese - a conciliação da tese com a antítese.


Para a dupla Mark-Engels, então, a tese era a sociedade burguesa que mantinha uma mentalidade feudal desagregadora, a antítese, o proletariado que nascera com o desenvolvimento industrial aviltado por esse sistema e a síntese a sociedade comunista que resultaria do conflito entre a classe proprietária e patronais e os operários mas o controle passaria a ser da classe operária, harmonizando os interesses de toda a humanidade. 

Um outro conceito não bem resolvido por Marx-Engel se refere à "mais-valia", segundo a qual o operário vende sua capacidade de trabalho como qualquer outra mercadoria: e esse valor é mínimo o tanto para mantê-lo vivo, numa jornada de 6 horas, mas obrigado a trabalhar oito ou dez horas. Então o empresário "rouba" do trabalhador de 2 a 4 horas sendo essa margem o seu lucro, ou o que denominava "mais valia", tornando-o rico e arrogante.

Mas, qual a polêmica não resolvida? É que no preço de um produto pode conter outros elementos e não somente a "mais-valia". Essa equação não chegou a ser resolvida nem por Marx nem por Engels.

Sustentado por Engels, pode Marx concluir sua obra "O Capital" que influenciaria decisivamente os meios sociais e políticos no final do século XIX e XX com discussões chegando mesmo ao século XXI.

O que disse Mark ao concluir a obra que se constituíra numa "tarefa pela qual sacrifiquei minha saúde, minha felicidade e na vida e minha família" 

"O Capital" foi publicado na Alemanha em 1867 e depois se espalhou pela Europa. Na Rússia em 1872.

NOTA: na grande "aventura" socialista na qual se destacaram Marx e Engels, há outros atores importantes mencionados pelo autor Wilson contemporâneos dos parceiros comunistas a saber: Ferdinand Lassalle, precursor da social-democracia", autor de uma obra, "A Essência da Constituição", de 1862, ainda hoje estudada e Mikail Bakunin um grande defensor do anarquismo, isto é, um sociedade sem governo porque todo governo oprime a sociedade. 


E foi na Rússia que não demoraria muito teria o marxismo e efeitos políticos graves.

LENIN e TROTSKI

Lenin

Vladimir Ilyich Ulianov nascera em 1870, na Rússia. Tivera como pai um educador dedicado e sua mãe influenciava bastante os filhos. 

Naqueles tempos do império russo, no qual o czar detinha poderes absolutos não foram poucas as conspirações com o objetivo de assassiná-lo. Numa dessas conspirações descobertas a tempo de interrompê-la foi preso seu irmão Alexander que preparava explosivos para tornar eficaz o golpe. Fora ele enforcado.

Claro que a comoção na família foi grande inclusive para a mãe, Maria Aleksandrovna que por um mês estivera São Petersburgo visitando o filho.

Com a morte do irmão, coube a Vladimir dar apoio maior à família. Estudou direito em Kazan, teve dificuldades em obter a certificação pela 'fama' deixada por seu irmão, até que conseguisse o documento.

Sua mãe o afastou desse borborinho conspiratório, com medo de que Vladimir tivesse o mesmo fim de Alexander, Mas, ele não se adaptou na vida rural.

E Vladimir conheceu a obra de Mark, "O Capital".

Enquanto isso, e não pode ser deixado de lado um evento interessante patrocinado pelo famoso escritor Leo Tolstoi nessa época de ideias novas que eclodiam: o autor da obra "Guerra e Paz" tentara em 1880 se desapossar de suas propriedades e estabelecer uma forma de vida cristã, pela ausência de posses, não resistência, abstinência sexual e trabalho braçal.


Vladimir Ulianov avança nos estudos do marxismo, envolve-se com conspiradores, e "liberto", muda seu nome para Vladimir Lenin.

Torna-se líder influente e respeitado, lidera greves, participa de convenções e movimentos conspiratórios contra a czar, um imperador que se valia da truculência para coibir atos contra seu poder absoluto. 

Lenin é preso por essa atuação política, na celas da Sibéria. Casado com Nadejda Krupskaya, mudam-se para Genebra.

Trotski

Lev Davidovitch Bronstein, russo, judeu, nascera em 1879, filho de um agricultor que, pelos seus próprios esforços enriquecera.

Emocionara-se com as dificuldades enfrentadas pelos camponeses na sua luta pela sobrevivência. Chorara quando viu o desespero de um camponês implorando pela devolução de uma vaca que invadira a propriedade de seu pai que relutava em devolvê-la.

Rejeita o marxismo porque significaria tirar a liberdade individual das pessoas. Seguindo a ideologia do populismo, pela sua eloquência é posto em confronto com Aleksandra Lvonvna, quatro anos mais velha que ele, marxista.

Argumento de Lev: "Não consigo entender como uma moça tão cheia de vida pode aguentar aquela coisa árida e teórica". Argumento dela: " Eu não consigo entender como uma pessoa que se considera tão lógica se contenta em andar por aí com a cabeça cheia de vagas emoções idealistas". Porque o conceito de populismo é vago.

Mas, Lev, mais tarde por tentar organizar trabalhadores, distribuindo panfletos proibidos, foi preso, permanecendo três meses numa solitária imunda e fria e depois de dois anos libertado teve que cumprir ainda pena de exílio por mais quatro anos.

Mas, no período de ida à Sibéria ouviu falar de Lenin  e leu sua obra "O desenvolvimento do capitalismo na Rússia". Já na Sibéria leu "O Capital" e se tornou marxista convicto.

Quando deixou a prisão, agora com sua companheira Alexsandra e aconselhado por ela, resolveu fugir e em 1902 no passaporte falso que amigos lhe apresentaram, ao o preencher usou o primeiro nome que lhe ocorreu: Trotski - o nome do carcereiro da prisão de Odessa.

E, então, mais a frente, aliou-se a Lenin de quem recebeu elogios. Estavam em Londres, Lenin o leva a passeio pela cidade. Ao se deparar com à abadia de Westminster diz: "Essa é a famosa abadia de Westmeister deles" (*)


Lenin e outros exilados em 1917 após a notícia da queda do czar resolveram em abril voltar à Rússia. Da Suiça chegaram de trem à Suécia e de lá chegaram à Estação Finlândia de Petersburgo na Rússia em abril de 1917.

Antes, em março após revoltas e greves, recrutas se unindo aos grevistas deu-se a deposição do czar Nicolau II. Em outubro com Lenin já no poder foi destituído o Governo Provisório constituído após a deposição do czar.

Não é atribuído a Lenin o fuzilamento de toda a família Romanov (do czar Nicolau II) que se deu em julho de 1918.

Lenin, em outubro de 1917 depois de voltar da Finlândia onde se refugiou para escapar de acusações de adversários de que seria um "agente alemão",  implantou o regime comunista, com distribuição de terras aos camponeses, nacionalizou bancos e empresas. Governou a Rússia e depois a União Soviética (constituída em 1922) de 1917 a 1924 quando faleceu.

[O "castigo" é que seu cadáver, embalsamado, até hoje não foi sepultado, permanecendo exposto num mausoléu em Moscou.]

Na disputa pelo poder entre Trotski e Stalin, venceu a proposição deste que defendia, entre outros princípios, que o socialismo deveria se fixar na União Soviética enquanto Trotski defendia que o socialismo deveria se expandir pelo mundo. Há outros elementos que resolveram essa discussão entre ambos.

Com o poder nas mãos de Stalin, foi estabelecido o partido único, não sendo aceita a oposição. Um regime de terror e assassínio que  fez milhões de vítimas em nome do regime. Seu governo perdurou até 1953.

Repetindo Anatole France: embora socialista, revelou em suas obras que "tinha como único objetivo mostrar que as revoluções terminam gerando tiranias pelo menos tão opressoras quando aquelas que visaram derrotar". 

Trotski foi expulso da União Soviética em 1929. Depois de exilar-se em outros países, fixou-se no México, sendo assassinado em  1940. (**)


APÊNDICE

Leão XIII e a Encíclica "Rerum Novarum" (alguns aspectos em relação ao tema)

Com a explosão dessas ideias na Europa, reafirmadas em inúmeros congressos operários, como uma resposta ao comunismo proposto por Mark e Engels, em 15 de maio de 1891, o papa Leão XIII, difundiu a Carta Encíclica “Rerum Novarum”(Condição dos Operários).

Nesse documento, o papa refutava com veemência as teses comunistas, além de explanar com clareza todas as questões que então preocupavam: a propriedade privada, a questão social, as condições subumanas de trabalho, a longa jornada diária, a greve, os salários, o conflito entre o capital e o trabalho, etc. 

Como se constata nestes trechos:

"A teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles mesmos a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública. Fique, pois, bem assente que o primeiro fundamento a estabelecer para todos aqueles que querem sinceramente o bem do povo é a inviolabilidade da propriedade particular”.

O papa Leão XIII preconizava por uma jornada de trabalho compatível com a dignidade do homem, pois “não é justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo”. 

Recomendava ainda jornada mais curta para os que trabalhavam na extração de pedra, ferro, chumbo e “outros materiais escondidos debaixo da terra”.

O salário deveria ser suficiente “para acorrer com o desafogo às suas necessidades e às necessidades da sua família” e, “se for avisado, seguirá o conselho que parece dar-lhe a própria natureza: aplicar-se-á a ser parcimonioso e obrará de forma que com prudentes economias, vá juntando um pequeno pecúlio, que lhe permita chegar um dia a adquirir modesto patrimônio”. Pois, “a terra produzirá tudo em maior abundância pois o homem é assim feito: o pensamento de que trabalha em terreno que é seu redobra o seu ardor e sua aplicação”.

Incentivo ao entendimento entre operários e patrões: 

“Façam, pois, o patrão e o operário todas as convenções que lhes aprouver, cheguem inclusivamente a acordar na cifra do salário: acima da sua livre vontade está uma lei de justiça natural, mais elevada e mais antiga, a saber, que o salário não deve ser insuficiente para assegurar a subsistência do operário sóbrio e honrado”.

As associações operárias deveriam ser livre e prudentemente organizadas ponderando: “se, pois, como é certo, os cidadãos são livres para se associarem, devem sê-lo igualmente para se dotarem com os estatutos e regulamentos que lhes pareçam mais apropriados ao fim que visam”. E mais adiante: “É necessário ainda prover de modo especial a que em nenhum tempo falte trabalho ao operário; e que haja um fundo de reserva destinado a fazer face, não somente aos acidentes súbitos e fortuitos inseparáveis do trabalho industrial mas ainda à doença, à velhice e aos reveses da fortuna”.

Quanto à greve, o papa Leão XIII a entendia danosa aos interesses comuns, propondo ao Estado, como remédio mais eficaz e salutar “para prevenir o mal”,(...) “a autoridade das leis (...), removendo a tempo as causas de que se prevê que hão de nascer os conflitos entre os operários e patrões”. 

Propunha o papa para aqueles “embebidos de máximas falsas e desejosos de novidades”, que “procuram a todo custo excitar e impelir os outros à violência”, devem ser refreados pelo Estado que, “reprimindo os agitadores, preserve os bons operários do perigo da sedução e os legítimos patrões de serem despojados do que é seu.”


MORAL DA HISTÓRIA

1. O surgimento do socialismo nasceu da tragédia operária nos séculos XVIII ao XX. Trabalhadores explorados, vivendo miseravelmente, sem assistência, sem condições mínimas de higiene. 

Todos os apontamentos nos rumos do socialismo culminando com o comunismo de Marx-Engels tem esse fio condutor, qual seja a de dar à época, o poder e a dignidade ao operário, com ideais de igualdade;

2. O comunismo / socialismo é até hoje invocado e preocupa porque há legiões de esfomeados, vivendo em condições precárias, inimagináveis, sem saneamento mínimo, sem vida digna. Os "sem vida" não têm nada a perder dai a aceitação do discurso próprio dessas ideologias à esquerda ou radicais;

3. Para mim, todavia, o comunismo como praticado, foi um fracasso. Com efeito, na União Soviética um ditador assassino, para manter-se no poder executou milhões de opositores ou apenas suspeitos. A Rússia hoje é um misto de república mas ainda com a cultura da manutenção no poder de presidente "eleito" mas que, pelos meios legais oficiais, vai se mantendo no comando, talvez, até o fim da vida, como se deu com Stalin. Putin está no poder desde 1999.

4. A China nos primeiros anos da década de 80, anunciou que se abriria para o mundo...capitalista. Hoje é uma potência econômica, faz sombra aos Estados Unidos, tornou-se uma referência tecnológica, mas parece que aqueles nichos de população perdidos no seu imenso território tem uma vida meio bárbara, pelo fome que passaram nos tempos de Mao Tse-Tung pelos alimentos que consomem. No que se transformará a China seguindo nessa marcha semi-capitalista? Não otimista, pode ser uma ameaça imperialista no futuro não tão distante. E, então, como se comportará?

5. A Coreia do Norte tem um povo infeliz que é obrigado a rir ou a chorar segundo o ânimo do seu ditador. Uma ditadura fechada que assim se mantém até pelo apoio e proteção chinesa.

Cuba perdeu aquele influxo comunista. Os cubanos fugitivos em Miami não pensam em voltar à pátria. Os poder cubano continua culpando o embargo americano para de certa maneira justificar sua decadência material;

6. Urge, principalmente no Brasil, resolver as tantas dificuldades de milhares de cidadãos que sobrevivem sem um minimo de recursos que lhe deem dignidade, negando a felicidade de viver. Ao propor tais medidas, não significa que se envereda pelos princípios do comunismo, mas de Humanidade.

7. Filosofando, espiritualmente ou não, não vejo muito possibilidade para a vida igualitária neste planeta, porque é o planeta das desigualdades e das penitências que tende a entra em crises profundas com o aumento maior da população e com a devastação ambiental. Não é aqui que atingiremos a Civilização mas temos ainda que por caridade menor o sofrimento de quem sofre.

Referências (*)

(*) No Brasil governado pelo Partido dos Trabalhadores, os políticos desse partido, ao se referirem aos adversários, diziam "eles", algo assim "nós" e "eles" separados no mesmo território. O modo de separar as ideologias, como se vê, vem de longe.

(**) Um filme de 1972, "O assassinato de Trotsky" dirigido por Joseph Losey, com Richard Burton ("Trotski"), Alain Delon (Ramon Mercader, espanhol, assassino de Trostski) e Romy Scheneider (amante do assassino), na sua introdução, informa que o enredo tenta mostrar a verdade dos fatos ocorridos no tempo em que o líder comunista estava exilado no México com sua companheira Aleksandra Lvonvna. O assassinato se deu em 21 de agosto de 1940.

O assassino foi apresentado claramente com distúrbios de personalidade, com timbres de homossexualidade e histérico. Quando é interrogado "quem era ele" apenas disse: "eu matei Trotski". A arma utilizada foi uma picareta de alpinista, um golpe na cabeça. Trotski resistiu ao grave ferimento, foi hospitalizado, mas faleceu. 

Historiadores informam que a ordem de assassinato partir de Stalin. O assassino seria um espião de ditador russo, espanhol, mas o filme deixa no ar se a ordem partiu mesmo de Stalin. Bom filme. 

Acessar: https://youtu.be/OLK6C6ekS-8