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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

ZANONI de Edward Bulwer-Lytton

 LIVRO 87


INTRODUÇÃO E IMPRESSÕES

I
O livro foi publicado, a primeira vez, em 1842.

A edição recente aqui publicada contem 480 páginas.

Diz a contracapa que se trata de um obra de "ocultismo fantástico".

E, como explicitado nas primeiras páginas do livro, o Autor interessado nos ensinamentos rosacruzes, recebe um manuscrito com linguagem cifrada. Decifrada a linguagem, lê o relato de uma história de dois personagens misteriosos que obtiveram a imortalidade.

A história se encerra na queda do sanguinário Robespierre, na França, que tinha como cumprimento de julgamentos contra seus opositores, a guilhotina.

No tocante ao mencionado "ocultitsmo fantástico", com efeito, não se pode dizer que assim não seja.

Li alhures, aliás, que aqueles que se envolvem com o ocultismo dele não mais se livram. Ficaria um resíduo qualquer, uma lembrança que poderá aflorar num momento especial que pode nem significar muito mas lembra sutilmente sua origem pelo menos na visão daqueles que acreditam nessas influências.

II

Nas paginas finais do livro, há uma nota que tenta explicar a posição do autor sobre o seu romance. Talvez uma defesa às críticas que podem ter se dado ao longo de quase dois séculos do livro para mim um texto sem sentido.

Ora, o livro teve sua mensagem, um propósito que pode ou não ser aceito.
Digo que gostei do "Zanoni", mais nesta segunda leitura. 


O LIVRO "ZANONI"

Zanoni é um homem, descrito no livro, de rara beleza que vive em Nápoles, que dizia-se, muito rico sem registro de sua origem e, muitos acreditavam vivia já há séculos, uma figura imortal que desvendara os segredos insondáveis da existência, iniciado nos mistérios mais elevados do espírito humano.

Além dele, sempre presente quando chamado por Zanoni, Mejnour distante das contradições humanas, indiferente a elas. Mas, com idade imprecisa, dominando os mistérios da existência, com seus poderes a serem invocados sempre que as situações  exigissem.   

Como obtiveram esses poderes e a imortalidade?

Há referências ao Rosacrucianismo, mas há quantos séculos se dava a iniciação nessa Ordem? Fica por conta do leitor, até porque uma delas informa que sua origem remonta ao Egito Antigo.

E assim, 

"Não é do conhecimento das coisas exteriores, mas no aperfeiçoamento da alma interior que está o império do homem que aspira ser mais que homem."

Pois bem, Zanoni, a despeito de sua existência excepcional, era humano. Esse sentimento é despertado quando se depara com Viola, uma jovem com pureza de alma, aquele ideal feminino que certamente predominava mais intensamente nos tempos em que o livro fora escrito.

Ela se tornara cantora de opera e estava nervosa na sua primeira apresentação como tal e exatamente na obra de seu pai, Caetano Pisani, que passara a ser reconhecido.
 
Zanoni por um olhar a tranquiliza e sua estreia se torna um sucesso.

Ele se apaixona por ela e se mantinha sempre por perto, a salvando de muitos transtorno, inclusive de rapto de um pretendente violento.

Sendo um homem acima dos padrões humanos, ele percebe que sua paixão não poderia ser alimentada, Então, Zanoni tenta convencer o inglês Glyndon a se casar com Viola, mas ele gostava muito dela mas não para casar...

Então, Zanini depois de muitos enfrentamentos com rivais se casa com Viola e passam a viver numa ilha paradisíaca. 

Nessa ilha, Zanoni que gostava de caminhar sozinho a noite quando a lua estivesse clara, colhia "ervas e flores que ele acumulava com cuidado zeloso".

Nasce um filho.

E, então, Zanoni, percebe que como homem comum começa a perder seus poderes. 

Apela para Mejnour mas sabe que já não seria o mesmo, um imortal com poderes premonitórios e outros (ele não fazia mágicas, mas seus atos eram praticados com as possibilidades materiais que dispunha - tal qual se dá na vida cotidiana de cada com os eventos que ocorrem, graves ou não).

Adonai em todo o seu esplendor divino, não podia mais ajudar Zanoni.

Mesmo com a interpretação que o próprio livro contém dos personagens, parece que o Autor quis dizer que a vida humana, comum, com amor, com a paternidade e a maternidade, vale a pena ser vivida, mesmo que se vislumbre a mortalidade nalgum dia.

Mejnour, na sua vida mística, imortal é apresentada como personagem indiferente aos homens. Na interpretação nas páginas finais do próprio livro ele é qualificado como a "ciência", o que não me parece adequado. Afinal, a ciência não trata os homens indiferentemente. Compreende-se que não tão contemporâneos, mas que existiam, havia os filósofos e alquimistas que se encerravam em seus laboratórios em busca de fórmulas superiores pelos experimentos repetidos na matéria e mesmo nos vegetais. (*)

O próprio Majnour tinha o seu local secreto de experiências.

Com a perda gradativa de poderes, Zanoni vai até Mejnour em busca de algum apoio,  deixando Viola e filho sozinhos, em Nápoles.

Glyndon a visita e ainda sob o assombro daquela figura horrenda que o perseguia, desde que tentara desvendar os segredos de Mejnour e a convence a se "libertar" de Zanoni, um homem dotado de poderes malignos tanto que ele era atormentado pelas sombras horrendas.  

Zanoni, mesmo para ela era um homem estranho e convencida por Glyndon, foge para Paris numa época de terror político, na qual a punição de culpados ou inocentes desde que contrários ao governo, era a guilhotina inapelável sob as ordens de Robespierre. 

Já em Paris, Glyndon e Viola são traídos por Nicot, um pintor tanto quando Glyndon, com deformações físicas, vingativo, rancoroso que pretendera se casar com Viola, mas rejeitado.

Ambos são denunciados por Nicot como conspiradores a Robespierre sendo incluídos na lista de execuções que se daria dois dias depois.

Viola e os prisioneiros não seriam executados porque Zanoni previra que o governo do terror de Robespierre cairia antes. Mas, o tirano, antecipa em um dia essas execuções.

Glyndon é salvo por Zanoni antes da prisão. E ele exorcizado por Zanoni livrando-o da figura demoníaca que o atormentava mas antes, ao enfrentá-la e a repudiá-la já vinha amenizando sua influência negativa.

No tocante â Viola por uma série de manobras Zanoni chega à cela da esposa que a questiona por tê-lo abandonado.

O amor entre ambos renasce. Fica, porém,  a dúvida do amor de Viola porque ela acreditara na versão de Glyndon e seguiu com ele para Paris, abandonando o marido.

Zanoni a substitui na lista dos condenados e é executado juntamente com outros 79 "condenados" para salvar Viola. Mas, esta falece na prisão certamente que por desgosto. Seu filho é acolhido por uma mulher que chegara à prisão com a queda de Robespierre poucas horas depois.


Esse é o livro, mas não é só isso. Estas linhas são um esboço. Como disse, são quase 500 páginas, e o desenvolvimento da história apresenta momentos empolgantes, sem faltar reflexões filosóficas.

Há uma sutil mensagem que as forças do mal atuam com os descuidos daqueles que enveredam por essa senda mística.

Valem a pena as quase 500 páginas. 


Referências 

(*) "Imagens de magia e de ciência" obra de Maria Helena Roxo Beltran (Educ - Fapesp): "Também costuma-se extrair quintessência dos diferentes materiais considerados medicinais, Para isso o material era diretamente destilado ou, então, poderia ser primeiramente putrificado (fermentado) e, em seguida, destilado várias vezes" (quintessência).